Os bonitões do "Fique Em Casa" não estão recomendando às pessoas que fiquem em casa; eles estão lhes dando uma ordem, em cujo seio está implicíto que aqueles que não a acolherem maquinalmente são irresponsáveis, e dizendo-lhes: "Eu posso ficar em casa. Sou rico, tenho, no banco, uma boa reserva de dinheiro, que me sustentará pelos próximos seis meses (ou um ano; ou dois anos), e sei que receberei, todo mês, o meu salário." Tais pessoas ainda não entenderam (ou já entenderam, mas não se preocupam, pois acreditam que sairão ilesos da crise) que, com a deterioração da economia brasileira, e ao caos social que dela resultará, não terão a garantia de receberem o salário que, acreditam, já lhes está reservado pelos próximos doze meses, e que as suas condições de vida serão enormemente prejudicadas, pois, instalada a crise, aumentará a insegurança, a violência, o aumento dos casos de assassinatos. Instalada a crise econômica, acreditam, ela será controlada pelos três entes da federação, que com seus recursos atuarão na contenção da corrosão econômica, para reduzir o seu impacto nefasto; e, parece, ignoram (e muitos ignoram, de fato) que os governos têm recursos limitados, e podem atender apenas um certo número de pessoas durante um determinado período de tempo, e não todo mundo até o dia-de-são-nunca; e também não comprendem que os governos das três esferas do poder (municipal, estadual e federal), durante a crise, enquanto despejam recursos públicos para manter a vida de milhões de pessoas - e com a atividade econômica em queda -, recolhem menos impostos, o que lhes reduz os meios de que dispõem para atender às pessoas prejudicadas pela crise, pessoas que irão, em massa, recorrer a eles em busca de apoio - e quanto mais se aprofundar a crise, menos tributos os governos arrecadarão, o que lhes reduz o seu poder de minorá-la. É uma bola de neve. Haverá constante e ininterrupto, se não houver nenhum movimento em sentido contrário, aumento da procura por serviços públicos, e redução considerável da atividade privada, e os governos não poderão atender a todos, a menos que imprimam dinheiro (e o governo federal é o único ente da federação que dispõe de tal poder), o que terá impacto negativo nos índices de inflação, ou contraindo empréstimos com bancos nacionais e internacionais, privados ou públicos, o que redundará no aumento da dívida interna e externa, o que aumentará, obviamente, os gastos dos governos com pagamento de juros - gastos que correspondem a recursos que, em circunstâncias favoráveis, os governos investiriam em atividades produtivas e em serviços essenciais. E muitas empresas endividadas, ou irão reduzir, ou cessar, as suas atividades, o que ocasionará a concentração do mercado, em diversos setores da economia, nas mãos de poucas empresas (as maiores, capazes de, se em necessidade, acessarem fontes de recursos e se recapitalizarem), ou contrair empréstimos - e o custo correspondente ao pagamento dos juros elas irão repassar ao preço de seus produtos e serviços, aumentando, com tais medidas, a inflação, e reduzindo, consequentemente, o poder aquisitivo dos brasileiros. E dar-se-á a redução do consumo, e a escassez de produtos. E haverá desestimulo aos investimentos privados. E... Trocando em miúdos: Os bonitões do "Fique Em Casa" estarão na corda bamba.
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