Divertida comédia de França Júnior, um mestre do humor. O autor deveria figurar no panteão dos heróis das letras nacionais. Ele sabe, com a desenvoltura dos mestres da comédia, desenrolar, graciosamente bem, uma simples, despretensiosa trama animada por tipos hilários. Espirituoso, nesta peça de um ato, desembaraçado em vinte e cinco cenas, França Júnior presenteia os seus leitores com um conto de humor, um, pode-se dizer, causo folclórico, que se resume à gostosa confusão originada de suspeitas infundadas. Protagonizam a aventura três pessoas de uma família, Matias Novais e Gertrudes Novais, marido e mulher, e Josefina Novais, a filha do casal, e um criado da família, de nome impronunciável, Ruprecht Somernachtstraumenberg, e Artur de Miranda, noivo de Josefina Novais, e André Barata. Há, para se revelar, indica a peça no seu título, um defeito de família, na família dos Novais, defeito que é conservado oculto do público a sete chaves.
França Júnior urdiu, inspirado, uma trama simples, divertidíssima, sem ingredientes que lhe emprestem ar artificial. É a trama simultaneamente verossímil e inverossímil.
Criador de personagens inesquecíveis sobrecarregados de traços facilmente identificáveis em tipos singulares encontrados na sociedade, dando provas de sua perspicácia de observação, e de seu talento para avaliar as pessoas, e destacar, delas, os aspectos que melhor as identificam para transfigurá-las em personagens de suas comédias, França Júnior apresenta, nesta peça, Matias Novais, homem de hábitos simplórios, pouca formação intelectual, dotado de escassa, ou nenhuma, inteligência, inculto, bom marido e bom pai. É do elenco pequeno a personagem mais cativante, desenhada pelo autor com poucos traços, os suficientes para apresentá-lo ao leitor em toda a sua integridade.
E o desfecho desta comédia, impagável, parece saído dos filmes do Gordo e o Magro, e de Os Três Patetas.
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