No referendo que se
deu na Inglaterra (o que consultou o povo britânico acerca da permanência ou
retirada da Inglaterra da União Européia) e nas duas eleições presidenciais que
se seguiram, nos meses subseqüentes, uma, a primeira, no ano de 2016, nos
Estados Unidos, e a outra, a segunda, neste ano de 2017, na França, ficou
visível, nos três países, Inglaterra, Estados Unidos da América e França, o
descompasso e a desarmonia entre as metrópoles, para muitos cosmopolitas,
abertas ao mundo, modernas, e cujos moradores assimilam, sem receio e sem
desconfiança, os produtos modernos, e acolhem, de braços abertos, os
estrangeiros, e as pequenas cidades, do interior, fechadas ao mundo, atrasadas,
cujo povo é caipira, avesso aos bens que o mundo oferece, chauvinistas e
xenófobos, isto é, exageradamente nacionalistas e hostil aos estrangeiros.
A imprensa vendeu
duas idéias: A voz das metrópoles é aberta ao mundo, aberta ao estrangeiro,
isenta de preconceitos, inteligente, sábia, sensata; e a voz das pequenas
cidades e do campo é a do atraso, a dos caipiras, que temem o que lhe é
diferente, apegada ao chão, e não quer compartilhar com os estrangeiros de suas
riquezas, delas ciumentas. Há duas visões de mundo, a da metrópole e a das
pequenas cidades. E a imprensa e os intelectuais tratam de salientar-lhes as
diferenças, emprestando à primeira aspectos positivos, e à segunda, negativos,
assumindo uma posição favorável à das metrópoles e desfavorável à das pequenas
cidades, pintando aquela que defendem, a das metrópoles, só com aspectos
louváveis, e a que reprovam, a das pequenas cidades, só com aspectos
reprováveis. Mas seria a visão dos cosmopolitas, derrotados na Inglaterra e nos
Estados Unidos da América e vitoriosos na França, superiores à dos caipiras
interioranos das pequenas cidades, vencedores na Inglaterra e nos Estados
Unidos da América e derrotados na França? Segundo eu tive notícias, e eu as
recebi da imprensa, na Inglaterra os apoiadores do Brexit, isto é, os cidadãos
britânicos que decidiram pela saída da Inglaterra da União Européia, eram, em
sua maioria, cidadãos das pequenas cidades, velhos e menos escolarizados que os
cidadãos britânicos que votaram pela permanência da Inglaterra na União
Européia, e foram aqueles apresentados como representantes da voz do atraso, de
um mundo fechado, e estes, da voz do progresso, da modernidade, de um mundo
globalizado, aberto, sem fronteiras. Não é a correta esta leitura da realidade;
é a enviesada, a de uma visão de mundo cujos defensores, almejando impô-la a
todos, para tanto distorcem as idéias, criam personagens, representando aqueles
cuja visão de mundo corresponde à daqueles que foram a favor do Brexit como
pessoas de mentalidade atrasada, hostil à modernidade, fechada ao estrangeiro,
discriminadora, estúpida, preconceituosa, chauvinista e xenófoba, e aqueles
cuja visão de mundo corresponde à daqueles que foram em favor da permanência da
Inglaterra na União Européia como pessoas de mentalidade moderna, que abraça a
modernidade, aberta ao estrangeiro, sensata, acolhedora, cosmopolita, moderna,
virtuosa.
Tendo-se em vista que
estão nas metrópoles as pessoas que mais sofrem influência de idéias
disseminadas pela imprensa, a mesma imprensa que foi, e é, favorável à
permanência da Inglaterra na União Européia; tendo-se em vista que a imprensa é
favorável à supressão das identidades nacionais; tendo-se em vista que as
idéias contrárias às identidades nacionais são disseminadas nas escolas, nas
universidades; tendo-se em vista que é nas metrópoles que vivem as pessoas mais
esclarecidas (esclarecidas segundo os globalistas, que querem que os povos
renunciem às suas identidades nacionais e adotem uma identidade amorfa,
anômala, bizarra, mundial), há de se reconhecer que tais pessoas talvez não
sejam tão esclarecidas como se pensam e como a imprensa quer dar a entender que
elas sejam; talvez elas sejam aquelas que, de tão bombardeadas por idéias
relativistas, politicamente corretas, multiculturalistas, sem vínculo com a
cultura de sua terra, a qual elas renegam, adotam, numa postura de
superioridade moral inexiste, uma conduta imprudentemente aberta ao mundo,
inconsciente de que as suas idéias não são suas, foram-lhe injetadas por
aqueles que desejam eliminar toda objeção aos projetos globalistas
totalitários, e as pessoas das pequenas cidades, de menor escolaridade, o que
não é sinônimo de menor instrução, sejam as que estão conscientes das ameaças
que lhes sobrevirão se adotarem as idéias ditas modernas, avançadas,
cosmopolitas, abertas ao mundo, progressistas, politicamente corretas,
multiculturalistas, relativistas, todo o pacote, enfim, carregado pelos
defensores da permanência da Inglaterra na União Européia.
Os moradores das
metrópoles nenhum vínculo têm com o chão em que pisam, com a terra em que
vivem; cortaram o cordão umbilical com o berço em que deram os seus primeiros
vagidos; são indivíduos do mundo. Os das pequenas cidades, por sua vez,
conservam o vínculo com a terra em que nasceram e nas quais deram os seus
primeiros passos.
A guerra que se trava
hoje em dia, dentro de um país, dá-se entre os cidadãos que têm bem fincadas as
raízes que lhes permitem proteger os valores tradicionais, as relações de
amizade, a sua religião, ciosas de todo o seu patrimônio e os já desvinculados
da sua terra e que não mais se vêem íntimos de seu berço, o qual o embalaram
seus pais, e que admitem a diluição de sua cultura numa falsa idéia de
cosmopolitismo, dispostos, inclusive, a abrirem mão da independência
administrativa de sua nação e admitir perder, dela, a soberania, e torná-la
servil de burocratas, que não são eleitos por nenhum povo, de organizações
globalistas, que nenhum vínculo têm com nenhum povo e que têm por interesse o
rompimento de todos os laços dos povos com as suas respectivas terras e a
imposição de uma cultura biônica sem vínculo com o coração dos homens.
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