Há muito, muito
tempo, antes dos primórdios das civilizações, e nas primeiras civilizações em
seus primórdios, os líderes de um povo (um simples grupo de pessoas, ou um
grupo numeroso) eram aqueles homens que se despontavam ao provar a sua
superioridade durante a execução de atividades que lhes eram exigidas. Os
líderes dos exércitos eram aqueles homens que revelavam aos outros de seu povo,
em campo de batalha, a coragem, a destreza no uso das armas, um talento nato
para a liderança, inteligência estratégica e tática, desenvoltura nos
requisitos que a atividade guerreira lhes exigia, e só provando o seu valor os
do seu povo, diante de demonstrações inegáveis de superioridade, reconhecia-os
como valorosos, dignos de confiança e preparados para comandá-los, e
submetiam-se a eles, admitiam-los como líderes guerreiros. E os líderes da caça
eram aqueles homens que, na arte venatória, revelavam mais destreza do que
todos, e todos lhes reconhecendo o talento inegável e a superioridade em tal
atividade, nomeavam-lo o líder. E eram líderes conselheiros aqueles homens que,
no uso das palavras, revelavam, em comparação com os seus rivais, sabedoria
inata, inteligência apurada, raciocínio rápido, sensatez, talento para captar a
essência das coisas do mundo, e fortalecer em todos as virtudes, a consciência
das coisas do mundo, o bom-senso. E eram os líderes administrativos aqueles
homens que, no exercício de suas atividades, revelavam pendores superiores para
congregar todas as pessoas, harmonizar todas as diferenças, reduzir, ou
eliminar, os atritos entre as pessoas, e pô-las sob um mesmo valor, dando-lhes
um mesmo propósito. E eram os líderes das leis aqueles homens, que, no uso de
sua inteligência, sempre tomavam as decisões que produziam justiça, e de suas
decisões resultava a harmonia entre as pessoas em litígio, a punição aos
criminosos, davam razão àqueles que tinham razão, e tiravam a razão daqueles
que não a tinham; tratavam como inocentes os inocentes, e culpados os culpados.
Naqueles tempos
áureos, que antecederam o advento das civilizações, e durante os primeiros
estágios das primeiras civilizações, tinham posição de preeminência os homens
que, no exercício das suas atividades revelando superioridade, que era por
todos reconhecida e admirada, assumiam, naturalmente, os cargos de liderança.
O que se vê,
atualmente, é o oposto do que se via naquelas eras antediluvianas. Hoje em dia,
assumem os postos superiores da hierarquia de governos aqueles que jamais
provaram-se providos de dons imprescindíveis para o exercício das atividades
que os cargos que ocupam lhes exigem; para ocupá-los, basta mostrarem-se
adeptos dos mesmos valores dos que têm poder para alcá-los ao cargo, e nele
conservá-los; são desprovidos de talento, de valores; são medíocres. Na
burocracia do Estado, onde vale mais as relações de parentesco, os contatos com
gente influente, do que a vocação, o talento para o exercício das tarefas que
lhe exigem os cargos almejados, ocupam os cargos do topo os servis, os
fantoches. Não são, hoje em dia, os melhores que ocupam os cargos de liderança;
são os que têm os melhores e mais poderosos amigos. A ascensão de homens aos
postos mais elevados das instituições públicas não se deve à exibição, pelos
candidatos, de talentos superiores, tampouco à prova de que são dotados dos
requisitos indispensáveis para o exercício das atividades que os cargos lhes
exigem. Não é indispensável dar provas de superioridade diante de outros
rivais. Galgaram os cargos mais elevados os homens que contaram com as
propagandas mais persuasivas a seu favor e gente poderosa e influente
financiando-lhe a carreira. Não se vive, hoje em dia, numa civilização em que
os melhores são premiados com os títulos e os cargos que a superioridade lhes
compete aos exercícios. Vive-se, hoje em dia, governados pelos medíocres,
muitos deles desprovidos do valor imprescíndel para o exercício do cargo que
ocupam no topo da burocracia de governos: A honra.
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