Cientes de que, na
leitura de certos livros, terão contato com idéias que contestam aquelas que
defendem, ou simplesmente com idéias que com elas não estão em conformidade e
que podem inspirar-lhes objeções às próprias idéias, obrigando-as a
reconsiderá-las, e suspeitando que a força da argumentação dos seus autores
pode persuadi-las a mudar as suas idéias, muitas pessoas (considerando o
conhecimento prévio das idéias dos livros e de seus autores) preferem, para não
entrarem em conflito consigo mesmas e não serem forçadas a reconsiderarem as
suas próprias idéias, cientes da fragilidade delas e da força daquelas que
estão nos livros, não os abrem, não os compulsam, fogem deles como o diabo foge
da cruz, no temor de, vindo a conhecer-lhes o conteúdo, ser por ele persuadidas
de que estão em erro, e no desejo de não terem de abandonar as próprias idéias,
idéias que durante muito tempo de suas vidas defenderam, em alguns casos com
unhas e dentes, a ferro e fogo, e não desejando mergulhar em dilemas que
brotarão dos conflitos das idéias que defendem com as que os livros contêm,
preferindo conservarem-se no erro, no fingimento, na mentira, no engano,
rejeitam os livros que têm para lhes oferecer a verdade, e fazem inimigos os
autores deles.
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