terça-feira, 14 de novembro de 2017

... como o diabo fugindo da cruz

Cientes de que, na leitura de certos livros, terão contato com idéias que contestam aquelas que defendem, ou simplesmente com idéias que com elas não estão em conformidade e que podem inspirar-lhes objeções às próprias idéias, obrigando-as a reconsiderá-las, e suspeitando que a força da argumentação dos seus autores pode persuadi-las a mudar as suas idéias, muitas pessoas (considerando o conhecimento prévio das idéias dos livros e de seus autores) preferem, para não entrarem em conflito consigo mesmas e não serem forçadas a reconsiderarem as suas próprias idéias, cientes da fragilidade delas e da força daquelas que estão nos livros, não os abrem, não os compulsam, fogem deles como o diabo foge da cruz, no temor de, vindo a conhecer-lhes o conteúdo, ser por ele persuadidas de que estão em erro, e no desejo de não terem de abandonar as próprias idéias, idéias que durante muito tempo de suas vidas defenderam, em alguns casos com unhas e dentes, a ferro e fogo, e não desejando mergulhar em dilemas que brotarão dos conflitos das idéias que defendem com as que os livros contêm, preferindo conservarem-se no erro, no fingimento, na mentira, no engano, rejeitam os livros que têm para lhes oferecer a verdade, e fazem inimigos os autores deles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário