quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Uma nota, e um conto

 Médicos e cientistas, seres superiores.


Nestes dias de epidemia - e digo "nestes dias de epidemia" porque para muita gente a epidemia ainda não acabou, gente que viu os especialistas, que seguem o que as pesquisas indicam, declararem que a epidemia há de se perpetuar por todo o sempre, e eternizar-se além do fim dos tempos - não poucas pessoas entregaram-se de corpo e alma aos médicos e cientistas midiáticos, prosternaram-se diante deles, crédulos, certos de que estavam em boas mãos. É ingenuidade, e das mais insensatas, acreditar que todos os médicos e cientistas são famosos pela honestidade, pelo amor à vida, pela dedicação, e dedicação sincera, à nobre profissão que exercem. Nunca ouviram falar de médicos envolvidos com tráfico de órgãos e com quadrilhas de contrabando de drogas e com outros crimes, e tampouco sabem de casos de cientistas que burlaram as leis científicas para fraudar pesquisas? Muitas pessoas vêem nos médicos e nos cientistas seres superiores, imaculados. Mas quais sinais vêem neles, sinais que confirmam tal conceito? O jaleco branco e o título. É uma cultura fetichista. Em todas as profissões há pessoas honestas e desonestas; entre médicos e cientistas não é diferente.

Infelizmente, o endeusamento de tais profissionais faz com que muita gente lhes transfira a responsabilidade pela vida de todos. Não passa pela cabeça de quem assim pensa que há médicos e cientistas corruptíveis, a defenderem seus interesses pessoais, e políticos, e seus sonhos ideológicos, e sua ambição de acumular riqueza, seduzidos pelo vil metal, e ter em mãos incalculável poder.

Muitos problemas os humanos evitaríamos nestes anos de fraudemia, se as pessoas tivessem espírito científico em vez de, presunçosas, orgulhosas, soberbas e arrogantes, nomearem-se Seguidores da Ciência, e questionassem todas as medidas supostamente científicas dadas como apropriadas no combate ao mocorongovírus.


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É louco o louco?


Queria, porque queria, o filho, um vagabundo de marca maior, aos quarenta e oito anos de idade, pôr as mãos na fortuna de seu octogenário pai, homem já a exibir debilidade física, mas, para a infelicidade do amado filho, lucidez admirável. Roía-de de ódio o filho, que tinha olhos só para a fortuna de seu pai, viúvo havia dois anos, e que, parcimonioso - e não mão-de-vaca, segundo o filho, que o desprezava -, conservava bem abrigado o patrimônio que havia acumulado durante mais de setenta anos de labuta diária. Nem sempre os ditados "Filho de peixe peixinho é." e "Tal pai, tal filho." estão certos. Mas como iria pôr o filho as mãos na fortuna de seu pai? Pensou, pensou, e pensou, durante um, dois, três, quatro dias, até que "Eureka!". Encontrou a solução para o problema que tanto o perturbava: iria até um psicológo, e há alguns por aí que não se vexam de ganhar um dinheirinho extra, e lhe proporia uma irmandade: ele, usando de seus conhecimentos de id, ego e superego e de outras figurinhas encontradiças na mente humana, inventaria um diagnóstico da condição do valetudinário, dando-o como incapaz de responder por si mesmo, e assim transfeririam a responsabilidade pela administração da fortuna do velho ao filho, e este dela faria o uso que desejasse. Era tiro, e queda. Providenciaram o filho e o psicólogo todos os laudos psiquiátricos, todos os documentos pessoais, todos os exames médicos, sem esquecer de nenhum, e agendaram uma assembléia com o juiz. No dia aprazado ao tribunal compareceram o psicólogo, o filho e o ancião, este devidamente paramentado, isto é, com os cabelos despenteados, as unhas mal aparadas, brincos nas orelhas, batom nos lábios, olhar assustadiço (devido aos cachorros que o filho e o psicólogo lhe haviam soltado, minutos antes, em cima). Era o homem de oito décadas de vida um louco, um doido varrido, um maluco de primeira, um débil mental, ninguém haveria de negar. Parecia qualquer coisa, menos um homem, e menos ainda um homem de posse de suas faculdades mentais. O juiz, no entanto, sabe-se lá porque, coçou o cocoruto, uma pulga a atazanar-lhe a consciência, e matutou: "Há coelho neste mato." Alternou seu olhar entre o pai, o filho e o psicólogo, coçou o nariz, e tirou de um dos bolsos internos das suas vestes veneráveis uma carteira, e da carteira uma nota de R$ 100,00 e esta ele a entregou ao ancião, que tirou-lha, com toda a calma do mundo, da mão, dobrou-a cuidadosamente, e a abrigou, carinhosamente, em uma carteira que tirara do bolso da calça. Diante de tal cena, o juiz exclamou a plenos pulmões: "Louco?!?! Louco?!?! Velho louco?!?! Loucos são vocês, dois salafrários, que pensaram que poderiam me ludibriar!"

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