quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Quatro notas

 

Bolsonaro, o presidente que o Brasil precisa.

Era no tempo do rei.
Assim começa Manuel Antônio de Almeida a aventura de Leonardo Pataca, seu herói, no admirável Memórias de um Sargento de Milícias.
Mas a história que hoje contarei nesta crônica não se passou no tempo do rei; deu-se há três anos, na república, sob o governo Bolsonaro, e dela só ontem eu tomei conhecimento. Por que, então, ó, autor - pergunta-me, curioso, o leitor -, vós falais do Almeida e do Pataca? Por nada, não - respondo -, querido eleitor. Eu apenas gosto de tal frase; acho-a simplória e sofisticada, plebéia e aristocrática.
Encerrado o intróito desta crônica, que é curta, digo para o que vim.
É esta a história que o nosso querido Capitão Bonoro - Bomnosares, para os íntimos - protagonizou:
Estava o presidente Jair Messias Bolsonaro montado na sua motoca, tal qual um nobre cavaleiro de antanho, agaloado com exuberante indumentária, montado em seu alazão ricamente ajaezado, a parlamentar com seus eleitores, quando, de repente, surpreendo-o, chega aos seus ouvidos presidenciais, saída da boca de um seu inimigo, a pergunta: "E o Queiroz?" E o presidente, com a fleuma de um gentleman, para orgulho da Rainha Elizabeth, responde-lhe: "Ele 'tá com a sua mãe."

*

Aqui se faz, aqui se paga.

Aqui se faz, aqui se paga. Se aqui a pessoa se faz, então ela se faz, e se se faz faz-se a si mesma, e se aqui se paga, então paga-se a si mesma; portanto, caso a pessoa se faça umas e boas, cabe a ela pagar-se a si mesma, e se ela, que é a devedora de si mesma, não se paga a si mesma, sendo que é ela a sua credora, eu é que não vou me envolver em tal treta. Ela, que é branca, que se entenda consigo mesma.

*

Um e outro

Estava a mãe, à mesa, com seu filho e duas visitas, sobrinhos dela, e, consequentemente, primos dele.
A mãe pôs sobre a mesa uma bandeja com dois bombons do mesmo tamanho e do mesmo sabor, e de igual marca, dois bombons, enfim, idênticos, e disse para os seus sobrinhos, falando para o que lhe estava mais próximo: "Pegue um para você; o outro é do seu irmão." E assim que o sobrinho para o qual tais palavras foram ditas avançou a mão direita em direção ao bombom que de si estava mais próximo, o filho da sua tia, seu primo, perguntou-lhe, como que o reprovando: "O que você está fazendo?!" E o sobrinho da tia - ao qual tal pergunta foi feita - sobrinho que já prelibava do prazer de degustar o bombom, recuou a mão, surpreso, voltou para seu primo a atenção, a indagá-lo com o olhar o porquê de tal pergunta. Antes que alguém lhe fizesse alguma pergunte, o filho da mãe disse para seu primo, o que ia pegar o bombom: "Você não pode pegar este bombom, e nem aquele, pois minha mãe não definiu, dentre os dois bombons qual é o "um" e qual é o "outro"." A mãe, que conhecia muito bem seu filho, disse, apontando para um dos bombons: "Este é o "um". e para o outro: "E este é o "outro"." E assim que o sobrinho de sua mãe fez que ia pegar o "um", o filho dela falou-lhe, num tom elevado: "Não. Não. Você não pode pegar esse bombom, e nem aquele. Os dois são iguais. A minha mãe tem de nos dizer de quais critérios científicos, filosóficos e linguísticos lançou mão para definir, dentre os dois bombons, qual é o "um" e qual é o "outro." Enquanto ela não apresentar os conceitos..." Neste momento, os dois sobrinhos de sua mãe avançaram cada qual ao bombom que lhe estava reservado e com ele encheram a boca.

*

O gordo e o magro.

Conversavam os dois amigos, um deles, Arnaldo, magro, um varapau, o outro, Ulisses, gordo, quase obeso. Em um momento da conversa este disse: "Estou muito acima do peso. Meu colesterol 'tá muito alto. O médico pediu-me, melhor, mandou-me cortar do cardápio a salsicha e a linguiça. Não pensei duas vezes. Não quero morrer aos trinta e dois anos. Sou jovem demais para morrer. Cortei salsicha e a linguiça." Mal havia concluído sua fala, Arnaldo tratou de informar: "Eu também cortei a salsicha e a linguiça; cortei-as em fatias, e as comi no almoço."

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