Um dia como
outro dia qualquer. De manhã, o Sol a despontar no horizonte. E a luz afugenta
a escuridão. As trevas recolhem-se às profundezas da Terra. E o Sol reina. A
cidade desperta. É um dia como qualquer outro dia, que se sucede a outro dia,
que foi, como qualquer outro dia, um dia qualquer. E a vida segue, cada dia um
capítulo, e o capítulo de hoje ainda está para ser escrito. E o seu teor,
desconhecido, a Deus pertence. Infinitos eventos, que nos são desconhecidos,
poderão vir a se suceder no decorrer deste dia. As pessoas preocupam-se com as
contas a pagar; os desempregados saem à procura de emprego; os jovens alunos, a
estudarem, nas escolas, as lições que os professores lhes exigem; os pais a
conduzirem seus filhos à escola; os trabalhadores a desincumbirem-se dos seus
deveres.
Retiram-se das
garagens os veículos. O tráfego, cada vez mais intenso, cada vez mais barulhento,
cada vez mais caótico. Pessoas jogam palitos de sorvete, papéis, latas de
refrigerante, folhetos, frascos, nas ruas e nas calçadas, nos jardins e nas
praças. As pessoas, no seu afã, não reparam na sujidade das ruas e das
calçadas, dos jardins e das praças. Passam por imundas calçadas esburacadas. Os
administradores públicos deveriam investir os impostos, que são extorquidos aos
cidadãos pelos órgãos públicos, em benefícios à sociedade, mas sustentam
instituições ineficientes e a parentela dos políticos apaniguados, que se
locupletam, imersos numa rede, intrincada e inextrincável, de corrupção e
favores. E as pessoas que sustentam os órgãos públicos e de cujos rendimentos
uma parcela lhes é extorquida, não atentam para um detalhe: São assaltadas no
direito de usufruir dos benefícios que uma cidade bem administrada
proporcionaria. São indiferentes ao que se passa ao redor. Pagam os impostos, e
calam-se. Não exigem dos administradores públicos prestação de contas.
Sustentam vagabundos, preguiçosos e funcionários fantasmas. Vêem a sujidade e o
péssimo estado de conservação das calçadas pelas quais passam e das ruas pelas
quais trafegam, e dão de ombros. Ocupam-nas outras questões. Têm de pagar a
mensalidade da escola particular, a do convênio médico-hospitalar particular, a
da parcela do carnê...
Reinam,
absolutos, a indiferença, o descaso, o desinteresse, o desleixo. De mentes
embotadas, as pessoas não reconhecem a injustiça que se oculta na calçada
esburacada, na rua imunda.
No final de
semana, as pessoas saem de casa, para se distraírem. Sem o açodamento dos dias
úteis, andam, calmas, passos lentos, pelas ruas da cidade. Tropeçam em buracos,
pisam em estrume de cachorros, de cavalos, sentem hálito miasmático proveniente
da boca dos bueiros. E advêm-lhes a frustração, o desgosto. É impossível
namorar na praça, onde o chafariz, seco, não arremessa água cristalina, e o
tanque ao redor, cheio de água suja, é um criadouro de micróbios. E o fedor é
insuportável. As ruas, sujas, campos minados. Alimentam a indignação das
pessoas a usurpação, pelo poder público negligente e corrupto, de um direito
inalienável: o de usufruir de lazer na cidade que sustentam com o dinheiro
suado que os administradores públicos lhes cobram.
E encerra-se o
final de semana.
E principia-se
outro dia. Segunda-feira. Um dia como outro dia qualquer. As pessoas ocupam-se
com os seus afazeres: Trabalhar, pagar a mensalidade da escola particular...
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