quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Um dia como outro dia qualquer

Um dia como outro dia qualquer. De manhã, o Sol a despontar no horizonte. E a luz afugenta a escuridão. As trevas recolhem-se às profundezas da Terra. E o Sol reina. A cidade desperta. É um dia como qualquer outro dia, que se sucede a outro dia, que foi, como qualquer outro dia, um dia qualquer. E a vida segue, cada dia um capítulo, e o capítulo de hoje ainda está para ser escrito. E o seu teor, desconhecido, a Deus pertence. Infinitos eventos, que nos são desconhecidos, poderão vir a se suceder no decorrer deste dia. As pessoas preocupam-se com as contas a pagar; os desempregados saem à procura de emprego; os jovens alunos, a estudarem, nas escolas, as lições que os professores lhes exigem; os pais a conduzirem seus filhos à escola; os trabalhadores a desincumbirem-se dos seus deveres.
Retiram-se das garagens os veículos. O tráfego, cada vez mais intenso, cada vez mais barulhento, cada vez mais caótico. Pessoas jogam palitos de sorvete, papéis, latas de refrigerante, folhetos, frascos, nas ruas e nas calçadas, nos jardins e nas praças. As pessoas, no seu afã, não reparam na sujidade das ruas e das calçadas, dos jardins e das praças. Passam por imundas calçadas esburacadas. Os administradores públicos deveriam investir os impostos, que são extorquidos aos cidadãos pelos órgãos públicos, em benefícios à sociedade, mas sustentam instituições ineficientes e a parentela dos políticos apaniguados, que se locupletam, imersos numa rede, intrincada e inextrincável, de corrupção e favores. E as pessoas que sustentam os órgãos públicos e de cujos rendimentos uma parcela lhes é extorquida, não atentam para um detalhe: São assaltadas no direito de usufruir dos benefícios que uma cidade bem administrada proporcionaria. São indiferentes ao que se passa ao redor. Pagam os impostos, e calam-se. Não exigem dos administradores públicos prestação de contas. Sustentam vagabundos, preguiçosos e funcionários fantasmas. Vêem a sujidade e o péssimo estado de conservação das calçadas pelas quais passam e das ruas pelas quais trafegam, e dão de ombros. Ocupam-nas outras questões. Têm de pagar a mensalidade da escola particular, a do convênio médico-hospitalar particular, a da parcela do carnê...
Reinam, absolutos, a indiferença, o descaso, o desinteresse, o desleixo. De mentes embotadas, as pessoas não reconhecem a injustiça que se oculta na calçada esburacada, na rua imunda.
No final de semana, as pessoas saem de casa, para se distraírem. Sem o açodamento dos dias úteis, andam, calmas, passos lentos, pelas ruas da cidade. Tropeçam em buracos, pisam em estrume de cachorros, de cavalos, sentem hálito miasmático proveniente da boca dos bueiros. E advêm-lhes a frustração, o desgosto. É impossível namorar na praça, onde o chafariz, seco, não arremessa água cristalina, e o tanque ao redor, cheio de água suja, é um criadouro de micróbios. E o fedor é insuportável. As ruas, sujas, campos minados. Alimentam a indignação das pessoas a usurpação, pelo poder público negligente e corrupto, de um direito inalienável: o de usufruir de lazer na cidade que sustentam com o dinheiro suado que os administradores públicos lhes cobram.
E encerra-se o final de semana.

E principia-se outro dia. Segunda-feira. Um dia como outro dia qualquer. As pessoas ocupam-se com os seus afazeres: Trabalhar, pagar a mensalidade da escola particular...

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