Temos de fazer
algumas considerações a respeito da justiça eleitoral brasileira.
Há, no Brasil,
muitas regras, e absurdas em sua maioria – para não dizer que todas o são. No
que concerne à justiça eleitoral, quase todas as regras impedem os brasileiros
de conhecerem, durante o processo eleitoral, a verdadeira face dos políticos
Por que digo
isso?
Explico:
Muitas das
regras que controlam a conduta dos candidatos estabelecem certas exigências que
visam impedir que eles incorram em atos que possam exibir, deles, ao povo
brasileiro, a verdadeira face. Muita gente pensa que a lei eleitoral propõe a
elevação do debate político ao obrigar os candidatos a esclarecerem aos
eleitores as suas (dos candidatos) políticas. Mas não é isso o que se ouve. O
que se ouve são promessas vazias, polidez artificial... Em resumo, uma farsa,
uma simulação de debate, todos os candidatos a tratarem de irrelevâncias, e a
esquivarem-se do que é importante para a vida de duzentos milhões de patrícios.
A lei eleitoral
poupa os candidatos dos seus erros, do seu caráter, da sua postura corrupta e
corruptora. Se os candidatos tivessem a liberdade, ampla e irrestrita, de se
manifestarem sem cerceamento legal, apresentar-se-iam com a verdadeira face
deles. Seria uma maravilha. Além de se divertirem com o ridículo, o absurdo,
com a ignorância e o despreparo dos candidatos, os brasileiros conheceríamos,
deles, a mentalidade sem peias. Os que são pérfidos, corruptos, maus caráter,
se apresentariam como o são, e não como as propagandas os apresentam. A lei
eleitoral, posso declarar, protege os maus políticos, que, impedidos de se
exibirem como são, contratam marqueteiros para deles melhorarem a imagem. E os
brasileiros caímos na ladainha toda eleição. Os candidatos não se esforçam para
se apresentarem aos brasileiros com uma imagem favorável; a justiça eleitoral
os obriga a isso; e eles, em atendimento à lei, assumem conduta que não lhes é
natural.
Prestaria a
justiça eleitoral brasileira um inestimável serviço aos brasileiros se
permitisse que os candidatos se ofendessem, se engalfinhassem, se insultassem uns
a mãe dos outros, se levantassem insinuações sobre a sexualidade uns a dos
outros, e sobre a dos filhos, a da esposa, a da (ou do) amante (ou amantes).
Que os candidatos se trucidem ao vivo e em cores. Só assim os brasileiros
conhecê-los-íamos em sua integridade. Mas, em nome do bom tom, das políticas
propositivas, é-nos negada a verdade.
Agora,
imaginemos um debate eleitoral sem as regras da justiça eleitoral, que são
absurdas, supostamente estabelecidas em nome da civilidade:
Em um debate,
dois candidatos - sem um intermediador - sentados, à mesa retangular, cada um
em um lado dela, de frente um para o outro. Sobre a mesa, duas facas calibre
38, dois revólveres afiadíssimos... aliás, dois revólveres calibre 38, duas
facas afiadíssimas, dois machados, dois tacos de beisebol, dois socos-inglês,
duas foices, duas serras-elétricas, duas metralhadoras HK-47, duas bananas de
dinamite e duas Bíblias.
E os dois
candidatos principiam o debate.
Decorridos
vinte minutos, a discussão acalorada, ambos os candidatos com os nervos à flor
da pele, os olhos injetados de cólera, furiosos, bufando de raiva, olhos nos
olhos, rosto rubro congestionado de sangue, as veias intumescidas, a arrostarem-se,
a insultarem-se, a ameaçarem-se, com o dedo em riste um na cara do outro.
E o que eles
fazem, descontrolados, os instintos animais a lhes governarem o comportamento?
Eles avançam
às Bíblias, e cada um deles pega uma delas, e com elas golpeiam-se um ao outro
até a morte.
É esse o único
uso que os políticos brasileiros dão a Bíblia.
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