segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Três notas

 Uma das questões mais controversas que ora envolvem a política diz respeito ao combate às notícias falsas. Para um dos candidatos a presidente, as notícias falsas se combate com mais liberdade, e não menos, pois, entende, a verdade sempre prevalece; para o outro, se faz indispensável a regulamentação da mídia e a reeducação de jornalistas. O que significam, na novilíngua esquerdista, "regulamentação da mídia" e "reeducação"?


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Sempre que constrangido a tratar de um assunto que o incomoda o esquedista muda o eixo do debate. "Aborto de feto humano", sabe toda pessoa decente, nada mais é do que assassinato de pessoas em seu estado intra-uterino. Ninguém em sã consciência há de dizer que dentro do útero da mulher humana concebe-se um bloco de concreto ou uma geladeira. É incômodo falar do assunto considerando-se a vida em si mesma. Afinal, quando se inicia a vida de uma pessoa? Na concepção, depois de um mês de gestação, ou depois de três meses, ou assim que ela vem à luz? Na impossibilidade de tratar do assunto sem se revelar desumano, jogam para escanteio a questão da vida, e concentram-se na questão econômica e social e populacional. Dizem que a mulher pobre tem de abortar o feto porque, pobre, não tem meios de criar a criança, que, dada à luz, irá sofrer durante sua vida de miséria e participar do caos social. Se não fazem da questão econômica seu argumento, mas da populacional, afirmam que, mais pessoas vindo ao mundo, os recursos naturais exauridos, haverá escassez de alimentos - que se aborte, então, os fetos que, nascidos, irão pedir por recursos que excedem a capacidade da Terra de produzi-los. Nos dois casos, reconhecem que do feto origina-se um ser humano - mas jamais dizem que tal processo de mutação se dá.


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Pouco me importo se o Fulano, ou o Sicrano, ou o Beltrano, é ignorante, se ele jamais leu um livro, se ele sofre de dissonância cognitiva, se ele é um analfabeto, se analfabeto funcional, se a mídia o manipula facilmente, se é ele pessoa de pouca ou nenhuma inteligência, se é ele dedicado aos estudos. Pouco me importo. Ocupo-me com a minha formação moral, cultural, intelectual, e não com a alheia. Esforço-me para mensurar a minha ignorância - e já entendi, resigno-me, que jamais o farei com exatidão. Tenho em mente que devo saber quais sãos os meus limites intelectuais, e que idéias sou capaz de apreender, e quais não. Entendo que, estudando-me, observando-me, avaliando-me, poderei, talvez, algum dia, conhecer-me a ponto de acerca de mim mesmo nenhuma ilusão alimentar. Já percebi algumas de minhas falhas cognitivas. Tento corrigi-las. Não sei se um dia serei bem-sucedido em tal tarefa, que, já me convenci, terei de desempenhar durante toda a minha vida, não vindo ao caso quantos anos eu venha a viver. Debruço-me sobre mim mesmo, e comigo me ocupo, sem a severidade emasculante e sem a complacência pusilânime. Enfim, acredito que cabe à cada pessoa ocupar-se de si mesmo, dedicar-se a se conhecer, seguindo o preceitos dos Filósofos.

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