sábado, 10 de setembro de 2022

Três notas

 Cuscuz Clã, e Impotência é Morte. Vivendo e aprendendo.


Dá-nos a vida lições edificantes, o tempo todo, desde que estejamos abertos aos ensinamentos que ela tem a nos dar. E sempre que quer nos ilustrar, ensinar-nos valiosas, inestimáveis lições, ela escolhe, dentre os bilhões de seres humanos que habitam a Terra, aqueles que são os mais bem capacitados para no-las ensinar. E hoje, após o espetacular 7 de Setembro deste histórico ano de 2.022, festa cívica que contou com a participação de dezenas de milhões de brasileiros de todos os universos, a vida, por intermédio de duas pessoas extraordinárias, uma jornalista, a outra um político dos mais conhecidos dos brasileiros, ensinou-nos que está na Bandeira Nacional escrito "Independência ou Morte" e que há, no Brasil, um grupo racista chamado Cuscuz Clã, ou Cuscuz Clan, ou Kuskus Klan (desconheço a ortografia correta). O primeiro ensinamento deu-nos a vida pela boca da jornalista em alusão, jornalista que, dizem as más-línguas, quis, ao falar, após a inestimável lição, Impotência é Morte, fazer graça e pisar no presidente Jair Messias Bolsonaro: quis ela, com um trocadilho, Impotência é Morte, que remete a "imbrochável", ou "imbroxável", do folclórico e proverbial presidente brasileiro, homem de irrivalizado talento poético nativo que tem apenas um êmulo, Gonçalves Dias, e que com o dom poético que herdou, no berço, dos aedos, dos bardos e dos menestréis, já nos presenteou com imagens poéticas a evocarem jacarés e casamentos e ovos queimados na frigideira, o presidente reprovar, mas em vez de dizer que foram as históricas palavras "Independência ou Morte" saídas da imperial boca do donjuanesco Dom Pedro I, o Rei Cavaleiro de um livro de Pedro Calmon, disse que elas estão impressas na Bandeira Nacional. Ignoremos as más-línguas, e aprendamos a lição que a vida, por meio da premiada jornalista, nos deu.

A segunda lição, que a nós seres ignorantes deu-nos a vida, por via daquele político que melhor reflete, interpreta, o sentimento de esperança do povo brasileiro, faz evocar uns tipos muitos desprezíveis, os racistas, supremacistas brancos da Cuscuz Clã, que ora invadem a terra do povo gentil, miscigenado, povo de caboclos, cafuzos, mamelucos, sertanejos, mulatos, morenos, caipiras, gaúchos, barés, capixabas, e outros tipos humanos que por estas terras em que se plantando tudo dá encontram-se aos punhados.

Oxalá dê-nos a vida outras lições que nos elevem às culminâncias da cultura universal!


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É o Joe Biden doido-de-pedra?


Maurício Alves, num artigo de sua autoria, Uma Farsa Chamada Biden, publicado, em sua newsletter da Substack, no dia 7 de Setembro de 2.022, faz ver seus leitores se é Joe Biden (ou Brandon) o louco que quem acompanha as coisas do Tio Sam pensa que ele é, ou se ele está a fingir-se de lelé para humilhar o povo americano. Levantou tal conjectura o autor após assistir a um vídeo no qual o presidente americano (ou seu avatar, vá saber!), num cenário que remete à famosa cena do filme V de Vingança, desempenhar com invejável desenvoltura o papel para ele escrito. Entende o autor do artigo que uma pessoa inegavelmente maluca, senil, jamais representaria, com a perfeição com que o Joe Biden o fez em tal vídeo, o seu personagem.

Ficamos assim, dada correta a tese que Maurício Alves esposou: Joe Biden, o presidente americano, e não o Brandon, encenou suas quedas ao subir em aviões, sua queda de bicicleta, suas saudações a fantasmas, enfim, suas atitudes amalucadas. Tese verossímil?! Tese inverossímil?! Conjectura de um terraplanista teórico de conspiração?! Ora, penso que o que é entendido como inverossímil pode não o ser, e o que é visto como verossímil talvez não o seja.


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Dois criminosos na cadeia


Batiam os relógios vinte e duas horas. Era o dia uma sexta-feira. Estava a cadeia calma, naquele dia, àquela hora, até que, de repente, invadiram-la policiais, seis, a empurrarem dois homens, um, abrutalhado, o outro, franzino, ambos a espernearem, aquele a ameaçar de morte os policiais, este a dizer-se injustiçado e a afirmar que era absurdo o que faziam com ele. Com nenhum esforço, os policiais conduziram o homem franzino, que não lhes impunha resistência, à cela, e nesta o largaram; tal facilidade eles não encontraram ao conduziram à cela o sujeito abrutalhado, um brutamontes de uns dois metros de altura, a pesar uns cento e vinte quilos, e cuja figura evocava um homem das cavernas, neandertalesco; e este homem, de espírito asselvajado, impunha aos seis policiais, que o tinham agarrado pelos braços, pelo pescoço, pelas pernas, resistência que eles, tudo indicava, não iriam, sem que recebessem ajuda de mais uns dois ou três homens, sobrepujar. De fato, os policiais só se saíram bem em tal empreitada após receberem a ajuda, inestimável, de outros três policiais, sendo um destes um grandalhão quase tão espesso e poderoso quanto o brutamontes. Assim que este encerraram na cela, os policiais, esfalfados, quase sem fôlego, dela afastaram-se, enquanto ele esbravejava e ameaçava de morte todos eles e os familiares deles. Era de trovão a voz do homem, tipo assustador, de petrificar todo homem comum. Ele paralisou o seu companheiro de cela ao encará-lo, e rilhar os dentes, e bufar de raiva. O prisioneiro, o franzino, anteviu as peludas e imensas mãos de dedos grossos, nodosos, calosos, de seu companheiro de infortúnio em seu pescoço, esmagando-o, quebrando-o. Viu-se morto o homem franzino; seu corpo, no chão, a escorrer sangue de todos os poros. Engoliu em seco. Seus olhos, arregalados. O brutamontes não lhe dedicou sequer um minuto de atenção; para ele, aquele tipo franzino, pálido, era insignificante. Com um rápido olhar, avaliou-o, mensurou-o, e retornou às pragas que lançava aos policiais. Enfim, cansou-se o brutamontes. E sentou-se. Na cela, reinou o silêncio. Estavam sentados, a poucos metros um do outro, o brutamontes e o franzino. Após uns poucos minutos de silêncio, cortando-o, o brutamontes resmungou consigo mesmo, em voz alta: "Tolo! Burro! Traidor! Pegarei, pelo pescoço, aquele vagabundo; e lhe quebrarei o pescoço, e lhe enfiarei a faca no peito, na barriga, e a torcerei, para fazê-lo sofrer. Vagabundo! Traidor! Ele não me escapará! Sabe com quem mexeu, aquele pulha! Pensa que me escapará!? Eu já matei uns dez homens, já estuprei umas vinte novinhas, já assaltei bancos, já invadi casas, já roubei carros-forte. E aquele filho-da-mãe entrega-me à polícia! Ele assinou o próprio atestado de ôbito. Não ficarei muito tempo preso. Logo sairei.", e aqui, tornando à consciência de seu lugar, interrompeu-se, e voltou-se para o homem franzino que lhe fazia companhia, e perguntou-lhe, num tom de voz que fê-lo arregalar os olhos e suspender a respiração: "Ei, cara. Você sabe quem eu sou?" Recebeu de seu colega de cela, como resposta, um mover de cabeça que indicava que não, não sabia quem ele era. "Não tenha medo de mim, não, bróder.", retomou o grandalhão. "Não sou um homem mal. Não morderei você. Ao contrário do que dizem de mim, eu não sou um assassino de coração de pedra. Não mato gente todo dia; só de vez em quando, uma vez ou outra. Eu sou o Pequeno Boy. Nas redondezas de onde moro, não há quem não me conheça. E aqui estou, amigão, porque um cabra safado enganou-me, traiu-me. Mas deixe estar! Sairei daqui dentro de três anos. Ora, fui condenado a dezesseis anos; mas não ficarei, mofando, nesta espelunca, todo esse tempo: daqui sairei, por bom comportamento, em três anos. Conheço o sistema. De que me acusam? De assassinato, de estupro, de roubo, de assalto. Não nego as acusações. Matei uns vinte, estuprei sei lá quantas donzelas, assaltei não sei quantos carros-forte... Pouco importa. Em três anos estarei livre. E você, chefia, pegou quanto de xadrez?" O homem franzino, gaguejando, com voz quase sumida, respondeu-lhe: "Vinte anos." "Vinte?!", perguntou-lhe o brutamontes, sinceramente surpreso. "Vinte?! Não se preocupe, camarada. Com bom comportamento, você sai em três." "Não terei, por bom comportamento, comutação da pena.", informou o homem franzino. "Já está decidido: terei de cumprir vinte anos de prisã." "Quê!? Absurdo, amigo! Absurdo!Todo preso tem direito a sair logo, se se comporta bem." "Eu não." "O que você fez de tão grave, ô, fera?! Eu matei, estuprei, roubei, assaltei, e sairei em três anos. E você ficará, apodrecendo, nesta pocilga, vinte anos!? Qual foi o seu crime, meu querido?" "Ontem, na loja perto de casa, uma certa mulher esbarrou-se em mim, ou eu esbarrei nela, não sei, e ela me chamou de palhaço, tarado, idiota, e eu, pobre de mim! sem pensar no que lhe dizia, a perder o controle de meus nervos, a ofendi, a difamei, a maltratei, a humilhei. Chamei-a de feia." "Mas... Mas ela é feia?" "É."

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