quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Duas notas

 É a Rússia que aponta armas nucleares para a OTAN, ou é a OTAN que aponta armas nucleares para a Rússia?


Tem a história, que ora assistimos, um herói? E um vilão, um daqueles malévolos, comuns em filmes de espionagem exageradamente aventurescas, dispostos a destruir o universo, e exterminar os humanos, para escravizá-los, e colonizá-lo?

Nestes meses que correm desde que se deflagrou a guerra, em Fevereiro, no território ucraniano, e mesmo antes, li artigos, de inúmeros autores, cada qual a dar, dela,observando-a de uma perspectiva, um parecer, alguns sensatos, outros insensatos - todavia não eu não soube dos insensatos distinguir os sensatos, e inclinar-me a ver nestes sensatez, e naqueles insensatez, e muitos dos sensatos, avaliando-os em retrospectiva, aparentemente revelaram-se-me sensatos, e os sensatos insensatos -, todos a entenderem cada qual que era a sua tese a correta e a esculacharem quem defendia uma que dela distinguia-se. E ouvi muitas pessoas, acadêmicos, historiadores, estrategistas militares, todos, em palavras faladas, a externarem muitas idéias que se assemelhavam, e muitas que se identificavam em tipo e grau, com o que estava escrito nos artigos que li.

Não sou correto ao afirmar que toda pessoa que falou da guerra na Ucrânia defendeu com unhas e dentes sua tese, dando-a a correta, e negando-se a ouvir, e atentamente, e respeitosamente, uma que seja, que se lhe opusesse, ou que simplesmente que lhe negasse a correção de certas análises. Ouvi alguns militares, e li alguns textos, de intelectuais, de historiadores, de simples leigos curiosos, a teceram comentários sensatos, deveras sensatos, acerca do que se passa no coração da Europa, pedindo àqueles que do assunto tratam que tenham cautela ao do assunto tratar, pois as infornações que nos chegam não sabemos se correspondem aos eventos, e eventos reais, e não fictícios, sucedidos na área em conflito e nos bastidores dos edifícios dos governos de Moscou, Kiev, Londres, Wasghington, Berlim, e dos de outras nações diretamente envolvidos no arranca-rabo global. Cautela e caldo de galinha nunca são demais, disse, num texto, um dos personagens que trataram do assunto. Sensato. Pediu prudência aos que se ocupam da questão, e recebeu, em troca, ofensas e o desprezo dos que estão certos de que de tudo que a ela se relaciona estão inteirados.

Desde o prefácio, vi gente a defender Putin, e gente a defender Zekenski, e gente a dizer que é a guerra um conflito entre a Rússia e a Ucrânia, e gente a dizer que ela se dá entre a Rússia e a OTAN; e gente a declarar que não passa o entrevero de uma farsa, o discurso belicoso de todos os agentes envolvidos matéria fictícia de um teatro de marionetes de mal gosto; e vi gente a dizer que iria a Rússia dominar, devido a sua superioridade militar, em poucos dias, a Ucrânia, e gente a declarar que a Rússia iria à bancarrota, os russos se sublevariam contra Putin, e os magnatas russos lhe encomendariam o caixão e lhe preparariam as exéquias, as carpideiras a executarem sua tarefa dramática; e gente a afirmar que as sanções econômicas teriam um bom fim, isto é, o fim da Rússia, e gente a declarar que Zelenski seria abandonado pelos que o sustentam em Kiev. E agora estou a ver que pairam sobre as nossas cabeças as armas nucleares, que, se atendessem ao desejo dos cavaleiros do Apocalipse, já teriam se detonado em 2.021.

Li, e ouvi, que o Putin ameaçou a OTAN: vai disparar armas nucleares contra Berlim, Paris, Londres, Kiev, Washington, e outras capitais de países membros da OTAN. Li, e ouvi, que Biden ameaçou a Rússia: vai disparar um bom punhado de armas nucleares contra Moscou e outras metrópoles russas. Quem está com a verdade? Quem está com a mentira? Não sei, não quero saber, e tenho raiva de quem sabe.

Eu só posso lamentar pelas vidas que se perdem nesta guerra entre gente poderosa que em defesa, não apenas de seus interesses mesquinhos, mas de seu sonho em moldar o mundo cada qual à sua imagem e semelhança - e para tanto tem tal gente de assumir o controle absoluto de tudo o que há, da vida de todos os seres vivos.

Li aqui e ali, e aqui e ali ouvi, que de um lado da guerra, e guerra a nível global, estão os metacapitalistas, os donos do Grande Capital, pessoas que têm mais grana do que duzentos Tio Patinhas, seres cujo objetivo primordial é erigir um governo global totalitário, criar a Nova Ordem Mundial, os globalistas financistas ocidentais, e, do outro, as pessoas que lhes resistem ao avanço, pessoas que defendem as soberanias nacionais, o direito dos povos. Para uns, estão Trump, Putin, Xi, e, correndo pelas beiradas, Bolsonaro, unidos, contra os banqueiros internacionais que mandam e desmandam em países inteiros, homens poderosos, herdeiros de fortunas dinásticas, que têm nas suas mãos, nelas comendo migalhas, presidentes de repúblicas e reis e príncipes.

Sigamos a acompanhar os próximos capítulos desta emocionante novela, cientes de que não conhecemos o roteiro, e não sabemos quem são os personagens principais, os coadjuvantes, os figurantes, e tampouco qual é o papel de cada um deles na trama.


*


Cancelaram o Dilbert. Abaixo o humor!


Há um quadrinho, o do Dilbert, que eu mal conheço, que entrou na mira dos patrulheiros da galáxia, gente que vive de infernizar os homo sapiens deste e de outros universos. Já cancelaram as distintas e abnegadas criaturas o Pica-Pau, o Tin-Tin, o Pato Donald, e o Shakespeare, o Cervantes, o Tolstói, e o James Bond, e o Borba Gato, e músicos, e cantores, e jogadores de futebol, e jornalistas, e desenhos animados, e filmes, e músicas, e estátuas, e pinturas. E agora cancelaram o Dilbert. Não sei que motivo racional alegaram para o cancelarem. Motivo racional?! Para os canceladores qualquer motivo é racional, e justo, e correto, e meritório, pois todos os motivos que eles têm para cancelarem o que eles cancelam atendem a um bem maior: o novo mundo, o possível, sem injustiças, sem desigualdades econômicas, sem preconceitos, sem racismo, sem discriminação, sem gente feia, sem gente de pouca, ou nenhuma, inteligência, sem o que quer que seja que eles entendem que no mundo ideal que eles conceberam em pensamento não pode existir. Parece-me que o humor do Dilbert, que, digo, não sei de que gênero é, incomodou, e atormentou, a turminha que deseja o bem da humanidade. Não sei se é o humor do Dilbert engraçado. Não sei. Das tirinhas dele, eu li, se muito, umas dez, e há uns dois séculos: se não me falha a memória eu as li ainda no tempo em que Dom Pedro I, aquele safadinho, ia em visita à Domitila de Castro. Mas é o humor, que, dizia um antigo filósofo do tempo dos Césares, fazendo rir os humanos, educa-os, o ingrediente que atormenta os que lutam por um mundo melhor. O humor! O humor! O humor! Por que odeiam o humor, e quem faz do humor sua virtude, sua arma, as criaturas que se têm em alta conta, se levam muito a sério, se entendem a corporificação do Bem, das Virtudes, da Verdade, da Justiça? Penso que a resposta está na pergunta, e em palavras que já escrevi: o humor, fazendo rir os homens, educa-os. Os autoritários, sejam eles governantes poderosos, sejam eles toda e qualquer pessoa de espírito hostil à divergência, refratário ao contraditório, odeiam, e odeiam de morte, o humor, venha de onde ele vier, tenha ele em mira qualquer pessoa, qualquer religião, qualquer cultura, qualquer ideal.

O mundo já conheceu Aristófanes, Swift, Boccaccio, Rabelais, Machado, Gogol, Shakespeare, Cervantes, Fielding, Daudet, e Chaplin, Cantinflas, Oscarito, Grande Otelo, Harold Lloyd, e tantos outros gênios da arte de fazer rir, cada qual ao seu modo, com o seu estilo, único e inconfundível, submissos cada qual ao seu temperamento, uns amargos, alguns doces, e outros agridoces, uns fatalistas, e mal-humorados, conquanto bons e divertidos humoristas, outros esperançosos, uns sutis, outros nem tanto, uns poéticos, elegantes (eu ia escrevendo elefantes), outros brutos, bárbaros, todos, enfim, a fazer rir quem lhes conhece a obra.

O humor incomoda, é fato. E afia a inteligência dos bípedes implumes, ninguém há de negar. Daí o desejo dos tolos, dos idiotas, dos autoritários pedirem pela sua extinção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário