sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Uma resenha e três contos

 Silêncio, hospital! (County, hospital - 1932) - com O Gordo e o Magro


Neste filme da dupla mais atrapalhada do universo, um hospital é o cenário animado, e divertidamente animado, por Stan Laurel e Oliver Hardy. Stan visita seu amigo Oliver, que está acamado, e tem a perna direita engessada, num quarto, quarto que ele compartilha com outro paciente, um homem histriônico, expansivo, de gargalhada fácil. Ollie não transparece ânimo à chegada do seu amigo de aventuras, que lhe leva de presente ovos cozidos e nozes; transparece contrariedade, já antevendo dores de cabeça. Stan põe-se a degustar os ovos cozidos. E não demora muito tempo, emborca uma jarra, despejando água no leito em que está Ollie deitado. E logo sucedem-se cenas tipicamente burlescas, Stan a socorrer um médico que ele mesmo pusera em apuros e a oferecer ajuda a Ollie. Dividida a sua atenção entre os dois outros personagens, enrosca-se em suas trapalhadas. A cena encerra-se com o desmantelamento da cama em que estava Ollie deitado e a entrada, no quarto, de enfermeiros. E Stan incorre em outras hilárias insanidades, até que, enfim, retiram-se do hospital os dois toleirões, Stan sob efeito de sonífero. E entram em um carro. E põe-se Stan ao volante. Se Stan em seu estado natural de consciência comete os atos mais absurdamente atrapalhados que se possa imaginar, que tolices ele irá cometer, ao volante de um carro, sob efeito de sonífero?


*

O Filho que Viaja Demais


De São Paulo, capital, à noite, o filho telefona para seu pai, em Pindamonhangaba:

- Pai, a benção.

- Deus te abençoe.

- Estou em São Paulo. Daqui a pouco, no aeroporto, embarcarei no avião. Irei para o Sul, para perto do Uruguai.

- Embarcar num avião? Não seria num barco?

- Já estou atrasado, pai. Tenho de correr, ou perderei o avião. A benção.

- Deus te abençoe, filho. Chegando lá, no Sul, avise-me. Vá com Deus.

Na manhã seguinte, telefona o filho para seu pai:

- Pai, a benção.

- Deus te abençoe.

- Já cheguei em Pernambuco.

- Quê!? Pernambuco!? Pernambuco!? Filho, Pernambuco fica, no Sul, perto do Uruguai?!

- E eu sei!? Dormi durante a viagem.


*


Porcos e porcarias


Renato saiu da sua casa, e rumou, em linha reta, até o açougue, distante uns trezentos metros, e nem bem havia posto um pé dentro do estabelecimento, anunciou-se, em alto brado, chamando para si a atenção de Rafael, o açougueiro:

- Ô, corinthiano, hoje tem você porcaria para me vender?

- Não me falte com o respeito, palmeirense. Aqui não é a casa-da-mãe-joana. Vendemos carne de primeira, suína, de porco engordado com filé mignon e caviar.


*


Bons Amigos


Edson e Renato são dois bons amigos. Jovens, ambos de dezessete anos, são, dizem seus pais, unha e carne. A Dupla, referem-se a eles, assim, familiares, parentes e amigos. Edson, extrovertido, brincalhão, expansivo, de rosto rechonchudo, carrega consigo, desde que veio à luz, nariz empinado de ventas largas, queixo pontudo e sobrancelhas espessas. Não é feio; bonito também não é. É excêntrico. Renato, de um metro e setenta e cinco de altura, atlético, de boa estampa, é dono de olhos azuis que encantam as mulheres. É tímido, introvertido. Ninguém entende como os dois jovens se entendem tão bem. Saídos da escola, à hora do almoço, passaram pela frente de uma lanchonete. Ao ver, à mesa, na calçada, cinco mulheres, todas bonitas, quatro, sentadas, uma, em pé, duas, morenas, duas, loiras, uma, branca de cabelos pretos, Edson perguntou-lhes assim que delas se aproximou:

- Bom dia, princesas - e elas interromperam a conversa, e voltaram-se para ele. - Alguma de vocês deseja se casar com um homem pobre, burro e feio?

- Não - responderam, em uníssono, sérias, as cinco mulheres.

E Edson voltou-se para Renato, e disse-lhe:

- Danou-se, Natão. Você ficará pra titio.

Renato meneou, encabulado, a cabeça, e seguiu caminho. Edson, a gargalhar, ia-lhe logo atrás.

- Natão, você é bobo, mesmo. 'tá vermelho igual pimentão!


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