quarta-feira, 29 de julho de 2020

Histéricos

- Oitenta mil brasileiros já morreram de Covid, e você, insensível, indiferente ao sofrimento alheio, fez um churrasco, neste final de semana, com os amigos, na sua casa.
- Carinha, no ano passado você fez churrasco várias vezes, comemorou o seu aniversário numa festa de arromba, foi a festas de aniversário de familiares, parentes e amigos, comemorou o carnaval, as festas juninas, o dia das mães, o dia dos pais, o dia das crianças, e encerrou o ano com chave de ouro, no reveillon, em Copacabana. E no ano passado, mais de um milhão de brasileiros morreram. Quanta sensibilidade! Que respeito ao próximo! E neste ano já morreram, no Brasil, mais de quinhentas mil pessoas, e você não 'tá nem aí para as que não morreram de Covid. Em 2019, e nos anos anteriores, você deixou de viver a sua vida, carinha!? Todo ano morrem mais de um milhão de brasileiros, e você... Preciso continuar, carinha?
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Há uma "vacina" que cura da aids? Há uma "vacina" que cura do câncer? Não. Não há. Nestes dois casos, usa-se o que se tem às mãos: coquetéis de remédios, no primeiro caso; quimioterapia e radioterapia, no segundo. Ninguém rejeita aos que sofrem de aids e câncer tratamento à espera de uma vacina milagrosa. Por que, então, quem está sofrendo e quem sofrerá de Covid-19 tem negado o tratamento que se tem à mão e deve esperar por uma vacina milagrosa? Que se use o que se tem à mão: um coquetel de remédios.
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Nos longínquos dias de março e abril deste ano de 2020, os histéricos e paranóicos, no alto de suas humildade e sensatez, disseram que as pessoas que não acreditam que o Covid mata e que não se previnem do contágio por tal vírus deveriam assinar uma declaração rejeitando um leito de UTI caso adoecessem de Covid.
Ora, diz-se que são mais suscetíveis de contrair aids pessoas de vida sexual desregrada e pessoas que, drogando-se, usam seringa descartável, e a compartilham umas com as outras. Aids mata, e mata muita gente. Mas alguém disse às pessoas que não se cuidam, as que, para satisfazerem sua luxúria, mantêm, sem precauções, relações sexuais com vários parceiros, e às que, drogando-se, compartilham a seringa com outras pessoas, que elas têm de assinar uma declaração rejeitando o tratamento e o coquetel de remédios e leito de UTI que o Estado lhes oferece elas vindo a adoecer de aids?!
Recomenda-se às pessoas que não bebam bebidas de teor alcoólico, se forem dirigir algum veículo. É uma recomendação sensata. Infelizmente, muita gente, ignorando-a, enchem a cara de cerveja, vodka, e entram num carro, e sentam-se ao volante, e vem a provocar um acidente do qual sai machucada, às portas, com um pé na cova. Mas alguém diz para tal gente insensata que ela tem de assinar uma declaração rejeitando tratamento médico-hospitalar?
Não se aconselha quem enfrenta sérios problemas com colesterol, e que seja hipertenso, a comilança, que não se empanturre de carne vermelha, gordura, açúcar, pois pode vir a ter sérios problemas cardiovasculares. Mas há pessoas que ignoram tais conselhos, e se empanturram, todo dia, num banquete fradesco, com o néctar, assim dizem, dos deuses, uma boa picanha mal-passada dela sangue a escorrer em cachoeira. E alguém diz a tais comilões que eles têm de assinar uma declaração recusando tratamento médico, operação, leito de UTI, caso venham a ter graves problemas cardiovasculares?
Se nos três casos acima, não se pede aos insensatos a assinatura, de próprio punho, num documento em que se declara a rejeição de tratamento médico-hospitalar e leito de UTI, por que as pessoas sensatas e corretas pedem tal assinatura àqueles que, negligentes, não se cuidam de prevenir contágio pelo Covid?

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