quarta-feira, 29 de julho de 2020

Histéricos

- Oitenta mil brasileiros já morreram de Covid, e você, insensível, indiferente ao sofrimento alheio, fez um churrasco, neste final de semana, com os amigos, na sua casa.
- Carinha, no ano passado você fez churrasco várias vezes, comemorou o seu aniversário numa festa de arromba, foi a festas de aniversário de familiares, parentes e amigos, comemorou o carnaval, as festas juninas, o dia das mães, o dia dos pais, o dia das crianças, e encerrou o ano com chave de ouro, no reveillon, em Copacabana. E no ano passado, mais de um milhão de brasileiros morreram. Quanta sensibilidade! Que respeito ao próximo! E neste ano já morreram, no Brasil, mais de quinhentas mil pessoas, e você não 'tá nem aí para as que não morreram de Covid. Em 2019, e nos anos anteriores, você deixou de viver a sua vida, carinha!? Todo ano morrem mais de um milhão de brasileiros, e você... Preciso continuar, carinha?
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Há uma "vacina" que cura da aids? Há uma "vacina" que cura do câncer? Não. Não há. Nestes dois casos, usa-se o que se tem às mãos: coquetéis de remédios, no primeiro caso; quimioterapia e radioterapia, no segundo. Ninguém rejeita aos que sofrem de aids e câncer tratamento à espera de uma vacina milagrosa. Por que, então, quem está sofrendo e quem sofrerá de Covid-19 tem negado o tratamento que se tem à mão e deve esperar por uma vacina milagrosa? Que se use o que se tem à mão: um coquetel de remédios.
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Nos longínquos dias de março e abril deste ano de 2020, os histéricos e paranóicos, no alto de suas humildade e sensatez, disseram que as pessoas que não acreditam que o Covid mata e que não se previnem do contágio por tal vírus deveriam assinar uma declaração rejeitando um leito de UTI caso adoecessem de Covid.
Ora, diz-se que são mais suscetíveis de contrair aids pessoas de vida sexual desregrada e pessoas que, drogando-se, usam seringa descartável, e a compartilham umas com as outras. Aids mata, e mata muita gente. Mas alguém disse às pessoas que não se cuidam, as que, para satisfazerem sua luxúria, mantêm, sem precauções, relações sexuais com vários parceiros, e às que, drogando-se, compartilham a seringa com outras pessoas, que elas têm de assinar uma declaração rejeitando o tratamento e o coquetel de remédios e leito de UTI que o Estado lhes oferece elas vindo a adoecer de aids?!
Recomenda-se às pessoas que não bebam bebidas de teor alcoólico, se forem dirigir algum veículo. É uma recomendação sensata. Infelizmente, muita gente, ignorando-a, enchem a cara de cerveja, vodka, e entram num carro, e sentam-se ao volante, e vem a provocar um acidente do qual sai machucada, às portas, com um pé na cova. Mas alguém diz para tal gente insensata que ela tem de assinar uma declaração rejeitando tratamento médico-hospitalar?
Não se aconselha quem enfrenta sérios problemas com colesterol, e que seja hipertenso, a comilança, que não se empanturre de carne vermelha, gordura, açúcar, pois pode vir a ter sérios problemas cardiovasculares. Mas há pessoas que ignoram tais conselhos, e se empanturram, todo dia, num banquete fradesco, com o néctar, assim dizem, dos deuses, uma boa picanha mal-passada dela sangue a escorrer em cachoeira. E alguém diz a tais comilões que eles têm de assinar uma declaração recusando tratamento médico, operação, leito de UTI, caso venham a ter graves problemas cardiovasculares?
Se nos três casos acima, não se pede aos insensatos a assinatura, de próprio punho, num documento em que se declara a rejeição de tratamento médico-hospitalar e leito de UTI, por que as pessoas sensatas e corretas pedem tal assinatura àqueles que, negligentes, não se cuidam de prevenir contágio pelo Covid?

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Covid 19 2.0 Ultra Plus

No combate ao Covid Dezenove Dois Ponto Zero Ultra Plus, a Organização Global da Saúde decreta:
Para evitar o colapso do sistema de saneamento básico e o desflorestamento todo ser humano fica proibido de cagar enquanto durar a quarentena.

Exame de fezes

João foi ao médico saber do resultado do exame de fezes que ele lhe pedira:
- E então, doutor, qual é o veredicto?
- João, a sua merda 'tá uma bosta.

História com Final Feliz

- Vou contar para você uma história com final feliz: Hoje cedo, morreram, na Avenida Pedro Álvares, quatorze pessoas.
- Final feliz! E essa história tem final feliz?!
- Tem. É claro que tem. Eu sou o dono da agência funerária.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

A Lotação dos Bondes – de França Júnior


Desencontra-se num bonde lotado, durante a agitação de um dia de carnaval, Joaquim Pimenta de sua esposa Josefa Pimenta; e Ramiro de Elvira, sua filha. E Joaquim procura por sua esposa, que vai ter a uma casa; e Ramiro, por sua vez, à procura de sua filha, que fôra a mesma casa. O destino providenciou a ida das duas mulheres à mesma casa. E foram ambos os homens, que estavam à procura, um, Ramiro, de sua filha, outro, Joaquim Pimenta, de sua esposa, à mesma casa.
No desenrolar da trama, saiu da casa uma turma de foliões carnavalescos, integrantes do grupo Tenentes do Diabo, Vitorino, Ernesto, Gonzaga, Magalhães e Carneiro, menos um deles, Camilo, que, pretendente à mão de Elvira, conserva-se na casa, na companhia dela.
E na casa, Joaquim Pimenta, ao se deparar com Camilo e Josefa, juntos, conclui que ele a requestava, e ele, Camilo, acredita que Joaquim Pimenta é o pai de Elvira. Dá-se uma confusão, que se desfaz assim que Ramiro, encontrando-se com Elvira, na presença de Camilo, a este se dá a conhecer como o pai dela, esclarecendo-se o caso.
Esta peça, de um ato desenrolado em dezesseis cenas, não contêm elementos que lhe conferem humor, não faz rir; foi escrito num momento de nenhuma criatividade; nem sequer a cena que narra a confusão entre Joaquim Pimenta e Camilo lhe confere teor cômico. É desprovida dos elementos cômicos que França Júnior, com desembaraço e desenvoltura, fez bom uso nas suas melhores peças “Defeito de Família”, “O Tipo Brasileiro”, “Maldita Parentela” e “Dois Proveitos em um Saco”.

Dois Proveitos em um Saco – de França Júnior


Em um ato, desenrolado em seis cenas, nesta divertida, despretensiosa e bem realizada comédia, França Júnior prova que a mulher, quando quer ludibriar os homens, ludibria-os com uma facilidade estonteante, atuando com uma sagacidade admirável, invejável. Amélia Teixeira, a protagonista desta surpreendente, em sua simplicidade, peça, participa, com seu marido, Luís, de um jogo, o Philippina, que consiste em: duas pessoas participam: na entrega de um objeto de um deles para o outro, ganha o jogo quem primeiro diz: “J’y pense”, e o perdedor fica obrigado a atender ao desejo do vencedor, desejo previamente definido. Amélia gabava-se da infalibilidade das mulheres em tal atividade lúdica. Antes de se retirar de sua casa para ir ao Rio, Luís aceitara o pedido que sua esposa lhes fizera, o de participar do jogo; ele deveria, portanto, ao regressar à sua casa, e assim que recebesse de Amélia, ou desse para ela, um objeto, se lhe antecipando, dizer “J’y pense.” Revelo, aqui, o fim do jogo, não da peça: Amélia vence Luís. Aqui, nenhuma surpresa. Ao revelar tal informação, não estou a destruir de quem me lê o prazer da leitura de Dois Proveitos em um Saco, pois o ponto principal da peça eu não revelo.
Em uma cena, apresenta-se ao proscênio um coadjuvante desabusado, Boaventura Fortuna da Anunciação – o nome contrasta com a postura de quem o carrega –, que entra, sem se anunciar, na casa de Luís e Amélia, dá notícia da sua estadia, praticamente obrigando Amélia a acolhê-lo. A entrada em cena de tal personagem causa estranheza a quem lê a peça, estranheza equivalente a provocada em Amélia. É Boaventura Fortuna da Anunciação um celibatário; ele apresenta à Amélia um livro, “Manual Prático do Celibatário”, cujo teor, diz, consiste em apresentar todos os recursos que as mulheres empregam para enganar os homens. Mal sabia Boaventura Fortuna da Anunciação que Amélia lhe iria ensinar um outro recurso, desconhecido do autor do livro.

Entrei para o Clube Jácome – de França Júnior


Julião, o herói desta peça, adquiriu a mania, que transtornava sua esposa, Dorotéia, e que, suspeita-se, roubando-lhe, de Julião, a sanidade: a de adorar os cavalos, apreciar as atividades hípicas, o que o fez entrar para o Clube Jácome. Tão obcecado pela sua paixão hípica que admitiria para marido de sua filha, Francisca (Chiquinha) um homem que fosse sócio do Clube Jácome, daí rejeitar, terminantemente, a idéia de ceder a mão dela a Ernesto, cujo amor por Chiquinha era por ela correspondido, pois ele, além de não saber montar a cavalo, não era sócio do Clube Jácome.
É uma peça simples, cuja trama se desenrola, em dezoito cenas, num ato; despretensiosa, de desenlace destituído de surpresa; aos poucos personagens que a animam, Julião, Dorotéia, sua esposa, Francisca (Chiquinha), sua filha, Antônio, seu criado, Ernesto, o pretendente à mão de Chiquinha, e o Comendador Anastácio (inserido na trama, presumo, com o único propósito – que aflorou à mente do autor – de criar uma cena cômica) não se envolvem numa rede de cenas hilárias equivalentes às encontradas em outras peças de França Júnior; são pobres em suas caracterizações; suspeito que França Júnior, ao conceber tal peça, não estava em um momento de inspiração. A peça não correspondeu às minhas expectativas, que criei com a leitura das outras peças do autor. Não esperei, é óbvio, uma obra sofisticada, de estrutura complexa, personagens shakespereanos, pois as obras que dele li não me levaram a concluir que ele, neste Entrei para o Clube Jácome, tem para oferecer algo além do que oferece nas outras peças; além disso, tal gênero de obra tem a oferecer o que lhe é peculiar: uma trama simples, com personagens estereotipados, caricaturais, de cuja personalidade apenas um aspecto, destacado, é dado a conhecer ao público, para a criação de cenas divertidas numa aventura cômica; nesta peça, todavia, França Júnior não foi bem-sucedido em seu propósito.

Maldita Parentela – de França Júnior


Nesta peça, o autor trabalha um tema recorrente em sua obra: o desencontro entre pai e filha, aquele à procura de um consorte rico para esta, e esta apaixonada por um homem, que lhe responde à paixão, comum, sem posses, de baixa extração social, digno e correto. A trama ocorre na casa de Damião Teixeira e Raimunda; eles acolhem a nata da sociedade e parentes, para uma festa. Lá estão, para o prazer de Damião Teixeira, o Comendador Pestana, o Visconde, o Conselheiro Neves, o Chefe de Polícia da Corte, e outras personalidades da nata da sociedade fluminense, e, para o seu desprazer, e desespero, parentes de sua esposa, pessoas que ele, um homem que se tem na conta de pessoa sofisticada, mas que se revela um toleirão presunçoso, e que pede o convívio exclusivo da aristocracia, despreza. Basílio, irmão de Raimunda, e suas filhas, Laurindinha, que está sempre a achar graças de tudo e a gargalhar, e Cocota, moça ranzinza e grosseira, sempre a se queixar; e Cassiano Vilasboas, primo de Raimunda, estouvado e atrapalhado; e Desidério José de Miranda, tio de Raimunda, e sua filha, Hermenegilda Taquaruçu de Miranda, que, pernóstica, passa por ridícula com sua linguagem artificialmente sofisticada, são alguns dos parentes de Raimunda que comparecem à festa.
O dia em que se dá o evento festivo é chuvoso, e os parentes de Raimunda, todos simplórios, encontrados nas camadas baixas da sociedade, promovem cenas dignas de boas comédias, e contrastam com o ambiente social que Damião Teixeira quer emprestar à festa. Tais personagens se movem, desembaraçados, ingenuamente indiferentes à reação dos outros convidados.
Damião Teixeira deseja casar Marianinha, sua filha, com Joaquim Guimarães, homem de posses, que, segundo Damião Teixeira, é um tolo e ignorante, mas, por conveniência – ele é rico – quer dar-lhe a filha por esposa; Marianinha, por sua vez, contrariando a vontade de seu pai, quer se casar com Aurélio. Desidério José de Miranda apresenta Hermenegilda, sua filha, ao rico Joaquim Guimarães. E dá-se uma disputa silenciosa entre Damião Teixeira e Desidério José de Miranda, ambos a abordarem Joaquim Guimarães, para lançá-lo aos braços de suas filhas, aquele, nos de Marianinha, este, nos de Hermenegilda.
Durante a festa, dão-se cenas engraçadas, umas protagonizadas pelo desastrado Cassiano Vilasboas, outras por Joaquim Guimarães, e outras por Laurindinha, sempre a gargalhar, sempre a achar graça em tudo, até nos contratempos. E ao final da peça, de um ato, desembaraçado em vinte e duas cenas, França Júnior reserva ao leitor uma surpresa.

A Salvação da Alma (Contos de Aprendiz) – de Carlos Drummond de Andrade


Ao Carlos Drummond de Andrade poeta prefiro o contista. Eu não sou um bom leitor de poesias.
No primeiro conto do volume Contos de Aprendiz, narra Carlos Drummond de Andrade um relato de Augusto Novais, irmão de Miguel, o primogênito, Édison, Tito e Ester. É Augusto o mais novo dos meninos. Os quatro vivem às turras, sempre às voltas com brigas por qualquer miudeza; quando não havia razões para se estapearem, esmurrarem-se, arrumavam um pretexto qualquer, e socavam-se. As brigas, que se sucediam diariamente, não indicavam que os quatro meninos odiavam-se; gostavam-se, mas não se negavam o direito de se baterem. O mais velho deles, Miguel, é o modelo que os outros seguiam à risca; mais experiente, ele lhes ensinava valiosos palavrões e xingamentos. Dentre Miguel, Édison e Tito, este era o que mais se envolvia em brigas com Augusto, um ano mais novo, e quem mais lhe batia; era-lhe mais forte. E os quatro irmãos, ladinos, vendiam para Ester muitos dos objetos e guloseimas que ela apreciava, pastilhas de hortelã, caixas vazias de sabonete, extorquindo-lhe o dinheiro que o pai, generoso com ela, e jamais com os quatro meninos, dava-lhe com facilidade que os boquiabria.
Um dia, visita a cidade padres, que pregavam no púlpito e confessavam os munícipes. Os quatro meninos Novais eram “hereges”, que na linguagem local é sinônimo de cristãos desleixados, que não se dedicam aos rituais cristãos, não vão à missa, não promovem obras de caridade.
Miguel, Édison, Tito, Augusto e Ester se confessam com o padre. No início da viagem de regresso à casa, Tito puxa para junto de si Augusto, com ele entabula conversa, e  andam, tranquilos, os dois, pela única rua da cidade, afastados dos outros. Tito, então, diz ao seu irmão que não mais lhe bateria, e diante da incredulidade dele, promete-lhe não lhe bater e pede-lhe que ele o humilhe, que lhe faça algo de mal, pois quer ser humilhado. Augusto, após um momento de hesitação, decide pedir a Tito que este se pusesse de quatro e se fizesse de burro, e nele Augusto montaria, e Tito o carregaria até a casa. Tito aceita a proposta. Augusto serve-se dele de burro. Percorridos alguns metros, Augusto, deliciando-se com a humilhação que aplicava ao seu irmão - este, resignado, não se queixava, e cumpria, sem pestanejar, a promessa -, decide fazer a ele outra exigência: que a cada cinquenta passos, ele gritasse “Sou burro e quero capim! Sou burro e quero capim! Sou burro e quero capim!” Tito não reclama. E corresponde ao pedido, que lhe soa como uma ordem, do irmão. Augusto, entretanto, não se deu por satisfeito. Deliciava-se com a humilhação que infligia ao irmão. No desejo de aproveitar-se da situação que ele lhe propiciava para dele se desforrar de todas as surras que ele lhe dera, aplicou dois golpes simultâneos, com os calcanhares, como se o esporeasse, numa região do corpo, tão sensível, que fê-lo dobrar-se de dor, esbravejar, encolerizar-se, e esquecer-se da promessa feita.
Conto divertido. Carlos Drummond de Andrade descreve, com singeleza, além dos irmãos Novais, outros personagens, caracterizando-os com rápidas pinceladas, suficientes para apresentá-los, em sua inteireza, numa narrativa simples e cativante, ao leitor.

A Cigarra – de Tchekov


Conta Tchekov neste conto a história de Olga, mulher que apreciava o convívio com celebridades, pintores, músicos, literatos, atores de ópera. Casou-se com Ossip Dymov, médico legista, profissional dedicado, homem boníssimo, abnegado, marido exemplar, pacato, que, ao contrário de sua esposa, não primava pelo desembaraço no convívio com os artistas, não possuía nenhuma desenvoltura em tal meio. Tocava piano, pintava, e esculpia. Frequentava teatro e concerto, desacompanhada do marido, sempre ocupado com tarefas que lhe exigiam dedicação integral.
Não era rico o casal Ossip Dymov e Olga; todavia, sua renda permitia a Olga o gozo do prazer extraído do convívio com os atores de teatro, pintores, violoncelistas, literatos, ilustradores, pessoas que ela idolatrava, dentre elas Riabóvski, pintor de vinte e cinco anos, belo, que produzia quadros de paisagens, cenas de costumes e animais.
Tinha Olga vinte e dois anos; e Ossip Dymov, trinta e um. Nas primeiras semanas de vida conjugal, usufruíram de felicidade contagiante. Após alguns dissabores decorrentes de doenças que afetaram Ossip Dymov, a vida em comum do casal segue o seu curso natural.
Olga, e pintores, dentre eles Riabóvski, permanecem semanas, num chalé, dedicados aos estudos da pintura. Ossip Dymov visita-os, certo dia, surpreendendo, favoravelmente, a esposa. Semanas depois, a bordo de um vapor, Olga parte em uma excursão, pelo rio Volga, com pintores, excursão que duraria em torno de dois meses. E é nesta aventura que Riabóvski declara-lhe seu amor, e ela lhe corresponde; e inicia-se, então, um caso amoroso entre os dois. Passam-se os dias. Um entrevero, ainda em excursão pelo Volga, entre Olga e Riabóvski, faz com que ela antecipe o seu regresso à sua casa, para junto do seu marido, para quem pensa ela confessar seu caso com Riabóvski, mas retrocede em seu propósito, nada lhe revelando. Ossip Dymov, no entanto, desconfia que ela lhe estava traindo. Os dias seguintes, desconfortáveis para o casal. O convívio, desarmonioso. Ossip Dymov dedicava seu tempo a conversas com Korosteliov, médico, seu colega, acerca de casos relacionados com a medicina, conservando, assim, Olga excluída da conversa. E Olga atormentava-se, entre o seu amor pelo marido e o seu amor pelo amante. Enciumava-se ao suspeitar que Riabóvski mantinha relações amorosas com outras mulheres. Certo dia, ao visitá-lo no ateliê dele, notou a presença de uma outra mulher. Mordeu-se de ciúmes. Humilhou-se diante de Riabóvski. Fê-lo comparecer-lhe à casa, e na presença do marido e de Korosteliov, e com ele discutiu livremente, e as duas testemunhas não ignoraram a razão das discussões. Enfim, Ossip Dymov adoeceu de difteria. Acamou-se. Dedicaram-lhe cuidados o amigo Korosteliov e outros médicos. De nada adiantou. Ossip Dymov não convalescia. Seu destino já estava traçado. Encontraria a morte, na cama, em seu gabinete.
Atrai a atenção do leitor a passividade, dir-se-ia indiferença, de Ossip Dymov ante a exibição de amor de Olga por Riabóvski, na casa do casal, na presença dele. Ele se resignou ao caso, uma fatalidade contra a qual nada podia. Entende o autor que a bonomia de Ossip Dymov e a sua dedicação à medicina são sinônimos de tolerância à traição de Olga, sujeição à peça que a vida lhe pregava, correspondendo a ele a obrigação de aceitá-la. Não move nenhum dedo em defesa de sua honra. Faz a bondade um homem tão pacato, tão indiferente aos erros de sua esposa e ao descaramento do amante dela?

Os homens renomados irão salvar a humanidade


- Traga-me um machado.
- Por quê?
- Eu vou salvar a sua vida.
- Vai?!
- Sim. Vou. Eu tenho diploma universitário.
- Então você é uma autoridade, uma pessoa renomada.
- Sim. Tenho formação em ciências, medicina e na área de humanas.
- Legal! Você sabe das coisas.
- Sim. Sei.
- E você só precisa de um machado?
- Não. Preciso, também, de um tronco de árvore, um toco, grosso, de cinquenta centímetros de diâmetro e um metro de altura.
- Irei providenciar o machado e o tronco para você.
- E volte logo.
*
- Aqui estão o tronco e o machado.
- Dê-me o machado.
- Aqui está.
- Ponha o tronco em pé, aqui.
- Pronto.
- Agora, ponha sua cabeça sobre o tronco de modo.
- Por quê?!
- Eu vou afiar o machado no seu pescoço.
- O quê!? Não entendi.
- Irei cortar o seu pescoço.
- O quê?! Por quê você quer me matar?!
- Não irei matar você.
- Não?!
- Não. Eu tenho diploma universitário. Sou cientista renomado. Tenho formação universitária na área de humanas; e diploma de médico.
- Ah! É verdade! Esquecia-me. Você é uma pessoa renomada.
- Sim. Agora, ponha a cabeça sobre o tronco.
- Assim está bom?
- Está ótimo. Perfeito. Agora, feche os olhos, que irei salvar você.
- Enfim, encontrei alguém que se importa com a vida das pessoas. Que sorte a minha encontrar um homem que é cientista, médico e formado da área de humanas, um homem renomado, que tem títulos universitários.

terça-feira, 21 de julho de 2020

Apologia de Sócrates – de Platão


Sócrates é um emblema do homem do povo que, conhecedor de sua ignorância, melhor, buscando conhecer sua ignorância, descobre-se, no confronto com os reputados sábios, que ostentam títulos e fortuna, para sua surpresa, que é ele o sábio, e eles os tolos, que não se dedicam ao cultivo da sabedoria, pois criam de si mesmos uma imagem que lhes satisfaz a vaidade, imagem irrealista, e que fogem à tarefa de se dedicarem ao estudo de si mesmos, para se conhecerem, e ocupam-se de avaliar os outros – mas o fazem, claro, sem inteligência, pois não se conhecem, e acabam por projetar nos outros o que são, escudando-se atrás dos títulos e da fortuna que tão orgulhosamente ostentam.
Na sua apologia, Sócrates, segundo Platão, declara que ouviu da pitonisa de Delfos palavras que lhe soaram oraculares, palavras que, em síntese, o apontam como o mais sábio dos homens. Intrigou-o tal revelação. Seria Sócrates, um ignorante, ele assim se entendia, o sábio dos sábios? Ele, um homem sem títulos; ele, apenas um cidadão de Atenas, o mais sábio dos atenienses? Sábios, sabia ele, eram aqueles homens que, nas praças, apresentando-se ao público, vendiam seus conhecimentos para aqueles que lhos pudessem comprar por um bom punhado de moedas. Mas ele, Sócrates, um sábio!? Ora, foi a pitonisa do oráculo de Delfos que lhe dera tal notícia; ela transmitira-lhe uma revelação do Oráculo de Delfos. E o Oráculo de Delfos era infalível. Sempre revelava aos homens o que destes os deuses conservavam oculto. Errou o Oráculo de Delfos, que era infalível? Sócrates encasquetou-se; intrigado, coçou a cabeça. Cabia a Sócrates, agora, e a ele apenas, tirar a prova dos nove. Se o Oráculo de Delfos disse que era Sócrates o mais sábio dos homens, então era Sócrates o mais sábio dos homens. Sócrates, então, impelido pelo demônio que lhe animava o espírito, decidiu ir à praça abordar os sábios da Grécia e submetê-los à sabatina, usando de um instrumento, o diálogo, mas não um diálogo proposto de uma forma qualquer, desordenado, como se os que dele participassem jogassem as palavras ao vento; ele, Sócrates, tinha de extrair a verdade das questões discutidas; e tinha um meio, meio só seu: fazer-se de parteiro da verdade, e o recurso que usou foi a maiêutica, obra de seu demônio interior. E abordava Sócrates um dos doutores da época, reputado sábio, e com ele entabulava, despretensiosamente, uma conversa, e à pergunta que lhe fazia ouvia-lhe a resposta, e seguia-se outra pergunta, e outra pergunta, e outra, até que o caso se esclarecesse, e a verdade acerca do tema tratado se lhes revelasse. E abordava Sócrates outro de seus contemporâneos reputados sábios, e fazia a vez de um ignorante em busca da compreensão das coisas do mundo. E abordava outro cidadão ateniense respeitável, dono de conhecimento das coisas do mundo físico e metafísico. E outro. E outro. E assim, sempre no papel de ignorante, Sócrates revelava a ignorância alheia, a dos reputados sábios, pessoas que sabiam falar, e falar bem, e persuadir as que as ouviam de que o que lhes falavam era a sabedoria dos deuses. E tais sábios, feridos no ego, deparando-se com um homem que ousava, destemido, revelar, deles, a ignorância, ressentidos, rancorosos, enraivecidos, ensandecidos, arquitetaram-lhe a morte, a de Sócrates, homem que os desmascarava em praça pública, constrangendo-os, enodoando-lhes a reputação. Jamais admitiriam que um joão-ninguém se lhes sobressaísse na arte na qual eles se consideravam lídimos representantes e seguisse a arregimentar um exército de admiradores, um sem número de seguidores, que, lhe reconhecendo a superioridade, desdenhavam-los; os pretensos sábios, feridos na vaidade de homens reputados superiores, em razão da aventura intelectual de Sócrates, e no confronto com este revelando-se tolos, tinham de dar-lhe cabo.
No confronto com os sábios revelou-se Sócrates sábio, não porque era o seu desejo sobressair-se aos seus rivais, mas porque desejava, unicamente, intrigado, entender o teor da revelação, para ele enigmática, do oráculo de Delfos; e sobressaindo-se, repito, não porque era esse o seu propósito, aos seus oponentes, estes, afamados sábios, que, ao emularem-lo, revelaram-se pequenos, risíveis, conquistou-lhes a inimizade, e a de muitas outras personagens, que nele identificaram uma ameaça à ordem por eles estabelecida. E Sócrates, caluniado, foi acusado, por Meleto, de ser hostil aos deuses da cidade de Atenas e corruptor dos jovens atenienses. E secundaram Meleto Anito e Lícon.
E Sócrates usa, em sua defesa, a mais poderosa arma à disposição dos homens: A palavra. E a palavra de Sócrates é poderosa. Tão poderosa que, mesmo não conquistando o coração do júri, que não o inocentou dos crimes que Meleto lhe imputara e condenou-o à morte, obrigando-o a ingerir cicuta, sobreviveu a vinte e cinco séculos. E hoje a façanha de Sócrates está, registrada em todos os idiomas, à disposição de todos os homens que se movem pelo mesmo espírito que o animava.
Além de, ao reconhecer-se ignorante, e revelar-se um sábio, era Sócrates audaz, corajoso, um modelo de abnegação, de vida dedicada a algo maior do que a sua existência; e era tal a sua consciência do valor, autêntico valor, da liberdade do homem que preferiu ele morrer a suplicar aos juízes que lhe poupassem a vida; não se traiu; não se curvou diante de seus algozes. Honrou-se ao conservar-se altivo em sua humildade. E outro de seus talentos revelou Sócrates, segundo o relato de seu mais famoso discípulo: o da profecia: vaticinou sofrimento indizível aos homens que o condenaram. E a história ensina que o destino deles corresponde ao profetizado pelo mais sábio dos homens.
É Apologia de Sócrates um livro indispensável para quem deseja conhecer o que é a coragem de um homem talentoso diante dos medíocres, de um homem que prefere, por amor à verdade, a morte, e sabe que, obtendo-a, conquista a liberdade.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Limpa chaminés (Dirty Work, 1933) – um filme de O Gordo e o Magro


Neste curta-metragem, de um pouco menos de vinte minutos, dirigido por Lloyd French, e com roteiro de H. M. Walker, a dupla mais engraçada, atrapalhada e divertida do cinema universal, depara-se, ao entrarem num casarão, com o doutor Travão (Lucien Littlefield), cientista, proprietário do casarão, e com Jequié (Samuel Adams), o mordomo. As figuras destes dois coadjuvantes contrastam-se: cada uma segue a do figurino pitoresco estereotipado: a do doutor Travão, a do cientista louco; a de Jequié, a do mordomo esnobe, pernóstico. A do doutor Travão é encantadoramente hilária (e a voz do dublador cai-lhe bem): mirrado, careca no topo da cabeça, e de trejeitos que lembram a de um doido-varrido.
As cenas alternam-se: no laboratório, o doutor Travão está ocupado com as suas experiências, que o levam a criar a fórmula do elixir da juventude, à qual ele se dedicava havia vinte anos; e na sala da lareira, Ollie (Oliver Hardy – o Gordo) e Stan (Stan Laurel – o Magro). E Jequié transita entre as duas cenas. Na execução do trabalho de limpeza da chaminé, Ollie e Stan organizam-se – ao modo deles, obviamente; e Ollie sobe ao telhado, e vai até a boca da chaminé; e Stan permanece, no interior da casa, na sala da lareira. E a confusão, tão disparatada, tão aguardada por quem assiste ao filme na expectativa de ver cenas hilárias, dá-se num ritmo, tão alucinante! que faz o expectador perder o fôlego, e chorar, de tanto rir. As cenas, impagáveis. E é Stan, o Magro, o atrapalhado da dupla, e é Ollie quem recebe tijolos na cabeça e quase tem a cabeça arrancada por tiro de espingarda.
Em certo momento da aventura rocambolesca dos dois atrapalhados e desastrados limpadores de chaminés, está Ollie, no telhado, à boca da chaminé, e Stan, no piso, no interior da casa, à lareira. Stan, a escova enfiada na lareira, e na escova conectada um cabo, e neste cabo outro cabo, e um cabo neste – mas a escova não chega até Ollie, à boca da chaminé, no teto -, para encompridar um pouco mais o cabo conecta, na extremidade que tem consigo uma espingarda. O absurdo da cena é tal que é impossível quem assiste ao filme não antever o desastre que irá se suceder. Um pouco antes do desenrolar desta cena, Ollie, puxando pelo cabo, erguera, pela chaminé, Stan, e, em seguida, soltara-o, e ele despencara, pelo interior da chaminé, até a lareira.
Enquanto tais cenas ocorrem no telhado e na sala da lareira, no laboratório o doutor Travão segue com as suas experiências: corta, em duas, com uma tesoura, uma gota; põe um pato numa banheira cheia de água; e, com um conta-gotas pinga uma gota da solução rejuvenescedora na água da banheira, e ao final desta experiência está o pato transformado num patinho. Encerradas as suas experiências, o teste com o pato provando-lhe que a fórmula rejuvenescedora estava criada, convida Ollie e Stan para assistir, no laboratório, à uma experiência; e rumam os três personagens ao laboratório; lá chegando, o cientista explica aos seus dois apalermados convidados a experiência; e na banheira cheia de água está o patinho; e o doutor Travão pinga, com o uso de um conta-gotas, na banheira, uma gota da poção rejuvenescedora, e o resultado põe embasbacados e boquiabertos, e de queixocaídos, Ollie e Stan. E na sequência, o doutor Travão sai do laboratório, para ir em busca de Jequié, para usá-lo na experiência seguinte, que desejava realizar, e no laboratório deixa Ollie e Stan, que, na ausência dele, decidem fazer uma experiência, cujo resultado é de um nonsense de arrancar gargalhadas do mais sisudo e mal-humorado dos homens.
Na versão original do filme, o doutor Travão chama-se Noodle; e o mordomo Jequié, Jessup. E com o nome do mordomo, Jequié, na versão brasileira faz-se um trocadilho com a cidade de Jequié, bahiana.
Uma curiosidade: Nos Estados Unidos, a série estrelada pro Oliver Hardy e Stan Laurel recebe o nome destes dois atores, Laurel & Hardy; e no Brasil o de O Gordo e o Magro; e em Portugal, Bucha e Estica.

A roupa nova do imperador – de Hans Christian Andersen


Esta é uma das histórias mais famosas de todos os tempos. E não é a única de Hans Christian Andersen que fê-lo conquistar admiradores nos quatro quadrantes do universo. O enredo é conhecido de todos: Em um reino, um imperador vaidoso, que adora roupas deslumbrantes, caras, ouve a notícia da chegada de dois talentosos tecelões capazes de tecer tecidos invisíveis aos olhos dos tolos e dos incompetentes. Logo pensou o imperador que, se os dois tecelões confeccionassem uma roupa com tal tecido, e a exibissem para os cortesãos, secretários e ministros, estariam desmascarados os que, incapazes de a ver, se revelariam faltos de sabedoria, indignos, portanto, dos cargos que ocupavam na Corte. Não perdeu tempo o imperador. Contratou os dois tecelões, e entregou-lhes tear, fios de seda e fios de ouro, e à disposição deles deixou uma sala para eles trabalharem no maravilhoso tecido, que apenas eles poderiam confeccionar. Mal sabia o imperador que eram dois vigaristas os dois tecelões. Estes aproveitaram-se da vaidade de todos os da Corte, que, ao ver, na sala, o tear vazio, diziam ver um tecido deslumbrante. A notícia da confecção da nova roupa do imperador espalha-se pela cidade, chegando aos ouvidos de todas as pessoas. Impaciente, o imperador, em visita aos tecelões, disse ver o maravilhoso tecido, mentindo, pois, certo de que no tear havia um tecido, não podia confessar que o não via; se o fizesse, estaria provado que era ele, imperador, um tolo, e indigno de seu título. Conservou a mentira, e encomendou aos tecelões uma roupa para com ela ir, domingo, à praça do torneio. Todos os da comitiva do imperador subscreveram-lhe os comentários de louvor, de admiração, ao fabuloso tecido, invisível, acreditavam, para os tolos e os indignos de seu cargo na Corte. Ninguém disse que não via o tecido, pois quem o fizesse se confessaria tolo e incompetente. Todos, então, mantêm a mentira. E chega o domingo. E os dois tecelões vestiram no imperador a roupa inexistente; o imperador, fitando-se ao espelho, e vendo-se nu, teceu louvores à roupa que não via, fingindo vê-la. E os cortesãos subscreveram-lhe os elogios à roupa que os tecelões não confeccionaram. Enfim, saiu o imperador à rua; vergava a roupa que não existia; estava sob um dossel de seda carregado por soldados de gala. Exibia-se, orgulhoso de sua nova roupa, à multidão, que, já conhecedora dos dons mágicos da roupa, finge admirar o imperador trajado com a mais exuberante veste imperial. E o cortejo segue em direção à praça do torneio. No trajeto, um menino, surpreendendo a todos, diz que o imperador está nu. E prorrompe a multidão em gargalhadas e apupos que vão ter aos ouvidos do imperador, que se apruma, conservando a rigidez de sua postura orgulhosa, ciente de que fôra enganado por dois vigaristas, que se haviam passado por tecelões. E segue o cortejo imperial até a praça do torneio.

As Vespas – de Aristófanes


Conta o comediógrafo eventos que se sucedem na casa de Filoclêon, confinado este à sua casa por seu filho, Bdeliclêon e os escravos Xantias e Sosias. No princípio, está Bdeliclêon, no terraço, mergulhado no sono, e, à frente da porta, guardando-a para impedir que por ela saísse Filoclêon, os dois escravos, um a dormir, o outro entre a vigília e o sono, e assim que o que estava a dormir desperta, entabulam ambos um diálogo, e narram cada qual o seu sonho, vindo a receber o de Xantias interpretações contrastantes. Logo, Filoclêon trata de tentar a fuga, já ciente o leitor de que o filho dele conserva-o na casa, suprimindo-lhe a liberdade, que ele tanto estima, para poupá-lo de chafurdar-se no vício que tanto lhe reprova, o de frequentar, com assiduidade, o tribunal, servindo de juiz nos julgamentos, para receber os três óbolos de pagamento pelo trabalho prestado à cidade, e, infalivelmente, condenar o réu, atendendo, assim, um vaticínio que lhe fizera o deus de Delfos: Filoclêon morreria se um acusado lhe escapasse das mãos, absolvido. Tinha Filoclêon, portanto, de ir ao tribunal, depositar, na urna, seu voto, pela condenação de Dracontidas, que viria a ser absolvido do crime que lhe imputavam. Usa de uma artimanha para escapar ao confinamento ao qual o filho o obrigara: enveredou pelos canos e calhas. Impedem-lo de empreender a fuga. Persiste Filoclêon: Entra no forno da chaminé. Num diálogo hilário com seu filho, que lhe pergunta quem ele é, diz ser fumaça de lenha de figueira. Bdeliclêon não se deixa ludibriar por artimanha tão absurda. Persiste Filoclêon, que urdiu outro estratagema: Diz que irá vender jumentos. E esconde-se sob o jumento. E aqui se dá a paródia à Odisséia. Indagado quem é, responde ser Ninguém, tal qual Ulisses responde ao Ciclope, no épico Odisséia, de Homero, vate helênico cuja existência é controversa.
Na sequência, anunciam-se os velhos juízes, as vespas, que recorrem a Filoclêon para eles irem ao tribunal assistir ao julgamento de Laques, e depositarem, na urna, um voto, de condenação. À frente da casa de Filoclêon pronunciam-se os juízes, que à ela não têm acesso, e clamam pela presença de Filoclêon. Bdeliclêon intervêm, e segue uma briga – homérica, digo, com um sorriso a enfeitar-me o rosto – entre Bdeliclêon e escravos contra os juízes. Para dar fim à contenda, propõem um debate entre Filoclêon e Bdeliclêon, aquele argumentando em defesa de seu trabalho, nobre, essencial para a conservação da ordem, este, em oposição ao trabalho de juiz, que são, entendia, escravos dos homens que de fato detinham em suas mãos o poder. Ficou acertado que se Bdeliclêon os persuadisse de que eram os juízes escravos, insignificantes, os juízes reconhecer-lhe-iam a vitória e abandonariam o projeto de conduzir Filoclêon ao tribunal. Contrastam as duas teses, a do pai e a de seu filho. Filoclêon, orgulhoso de suas incumbências, enaltece sua profissão, e é nítida a sua soberba, e o tom despeitado que emprega em sua exposição. É clara a sua arrogância; e o seu apreço pela profissão de juiz resume-se ao que dele auferia: prestígio, poder; nenhuma palavra ele pronuncia em favor da dignidade do cargo que ocupa; seu amor ao seu trabalho resume-se às exterioridades, ao título e à riqueza, ao poder adquirido, à proteção e aos favores que recebia dos soberanos, e à sua reputação, que se equivalia à dos deuses do Olimpo. Opõe-se-lhe à tese Bdeliclêon a sua: O juiz é apenas escravo, e é mal remunerado, recebendo mísera parcela dos impostos que os poderosos extorquiam ao povo, e ele, Filoclêon, limitava-se a obedecer quem lhe pagava o salário, isto é, as pessoas que dele exigiam o voto de condenação aos acusados, voto que ele jamais lhes recusava; era, portanto, Filoclêon, um serviçal, um insignificante serviçal, uma peça de um maquinismo cujas dimensões ele desconhecia. Ao encerramento da exposição de Bdeliclêon, reconhece-lhe o coro a vitória. Ainda assim, deseja Filoclêon ir ao tribunal; agora, seu filho reconhecendo-lhe o desejo indomável, propõe-lhe, no que ele concorda, simular, na casa dele, um julgamento. Providencia Bdeliclêon as urnas, as plaquetas, e ramos de incenso e de mirto para a invocação dos deuses, para que Filoclêon seja clemente com os acusados, e não com os acusadores. E dois homens pronunciam-se, ambos fantasiados de cachorros; destes, um é acusado de roubar queijo da Sicília. E a pena seria a de submetê-lo a uma coleira bem apertada. E teria Filoclêon de proferir a sentença, ou de condenação, ou de absolvição, após ouvir os argumentos de defesa e os de acusação. A cena que se desenrola é de humor impagável. E é sucedida por outra cena de equivalente teor cômico, agora Filoclêon, embriagado, exibindo um espetáculo de indecência e insolência de ruborizar Calígula, a vilipendiar e a maltratar os convivas. Livre de um vício, cai Filoclêon em outro vício, apesar das sábias exortações de seu filho.
Encerra-se o leitor a leitura desta antiga comédia grega certo de que Aristófanes não reconhecia virtudes nos juízes, que para ele eram apenas criaturas tolas a serviço de homens poderosos, e acreditava na imutabilidade dos tipos humanos, sendo os propensos aos vícios insensíveis aos apelos da razão e da sabedoria.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Pandemia Covid-19: Narrativas, e narrativas. Ou: É o Covid-19 o Usain Bolt do mundo dos vírus?

Pelos idos de Março, diziam renomados médicos e cientistas que o Covid-19, o Usain Bolt do mundo dos vírus, iria se espalhar, e rapidamente, e mais do que rapidamente, de humanos para humanos, e logo atingiria 60% da população brasileira, causando, infalivelmente, o colapso do sistema pública de saúde (ou de doença, dependendo do ponto de vista). E já estamos em meados de Julho, e eles, agora, dizem que o Covid-19 só infectou 2% da população brasileira, e que o surto pandêmico está longe de acabar. Para um vírus tão veloz quanto o Usain Bolt, o Covid-19 está se revelando uma lesma, uma lesma daquelas bem lerdas.
Conversando com os meus botões, perguntei-lhes: "Por que nos idos de Março cientistas e médicos renomados disseram que o Covid-19 se disseminaria rapidamente, e mais do que rapidamente, e agora eles dizem que ele só infectou 2% da população tupiniquim?" Não sei qual é a resposta certa para tal pergunta; só sei que um dos meus botões supôs qual seja: "Nos idos de Março era o objetivo capital dos potentados locais quebrar, e rápido, e mais do que rápido, a economia nacional, para gerar caos social, e assim desalojar o Bolsonaro da cadeira presidencial - e trancafiando, acreditavam, todo cidadão em sua casa (e a teoria da hipervelocidade da transmissão do vírus chinês de humanos para humanos vinha bem a calhar) executariam tal empreendimento. Bolsonaro, todavia, contrariando-lhes a vontade, conservou-se, firme e forte, sentado na cadeira que lhe é de direito, esquentando-a. Agora, têm os potentados o propósito de estender, indefinidamente, uma quarentena insana para, se não empurrar Bolsonaro para escanteio, criar meios propícios para a criação de uma nova estrutura social, com a ampliação significativa de mecanismos de controle draconiano, que lhes atendam aos interesses - e torturando psicologicamente todo cidadão brasileiro, forçando-os a aceitar políticas que lhes são prejudiciais, serão, acreditam, bem sucedidos em seu intento". A suposição que me apresentou um dos meus botões dá-me o que pensar. E adiciono: Todo o auê criado em torno do Covid-19 (coronavírus, para os íntimos; vírus chinês, para os inimigos dele; mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira) atende a interesses inconfessados de criaturas bípedes da espécie humana que estão a coonestar suas ações criminosas, a todos prejudiciais. E tais criaturas modificam a narrativa sempre acordando-a com o projeto de controle da população, até deixar esta de joelhos diante delas. É o "novo normal" cantado em verso e prosa no admirável mundo novo da distopia orwelliana que se está a erguer diante de nossos olhos com o beneplácito de parcela considerável da população. Se certa, ou não, a suposição aventada por um dos meus botões, com adições de minha própria lavra, não sei. Só sei que a história intitulada Pandemia (ou Epidemia) do Covid-19 está muito mal contada.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Pandemia: estudando e aprendendo

Nos primeiros dias da pandemia, eu, ignorando o assunto, deste nada entendendo, vendo-me, então, mergulhado na ignorância, decidi estudá-lo. E estudei-o. Li, desde então, centenas de artigos, assinados, uns, por virologistas, por pneumologistas, outros, alguns, por políticos, por filósofos, muitos. Transcorridos três meses de dedicação ao estudo, a cabeça transbordando informações, detive-me, e ponderei acerca do que aprendi, em tal período, acerca do meu objeto de estudos, e conclui: Sei, hoje, acerca da pandemia, menos do que eu sabia antes de iniciar os estudos; ao constatar a minha ignorância a respeito, decidi dar fim aos estudos, e assistir filmes de O Gordo e o Magro. Por que eu perderia mais tempo ampliando ainda mais a minha já incomensurável ignorância?!!?

Trocadilhos e incorreções gramaticais

- Não se esqueça de comprar um quilo de tomate.
- Não esquecerei, se eu me lembrar. Se eu me lembrar, eu trago... trago uma cachaça no bar do Tião.
*
- Desobedeça sua mãe, que você apanha... apanha laranjas da laranjeira do pomar do seu avô.
*
Nota de rodapé: Ignore-se as incorreções gramaticais, propositais.

sábado, 11 de julho de 2020

O Bolsonaro é genocida?

- O Bozonaro é genocida.
- Ô, carinha, deixe de asnice. Pare de Bostejar. O que é genocídio, você sabe? Não sabe. Etimologa da palavra, cunhada por Raphael Lemkin, nos anos 1940, geno", raça, e "cídio", matar. Genocídio, vocábulo usado para designar matança sistemática de um povo, de uma raça, de um grupo étnico, de crentes numa religião. É política deliberada, de Estado, a de extermínio de povos. O Holocausto foi um projeto de extermínio, o dos judeus pelo Estado nazista; o Holodomor, o de ucranianos pelo Estado soviético, comunista. No início do século vinte, o mundo conheceu o de armênios pelo Estado turco-otomano; e, recentemente, o dos curdos pelo Estado iraquiano sob domínio de Saddam Hussein, e, em Ruanda, o dos tutsis pelo Estado hutu. E hoje toda pessoa minimamente informada, conhece o dos uigures pelo Estado chinês, comunista. E em diversos países, em, praticamente todo o mundo, o dos cristãos por Estados comunistas e Estados islâmicos.
- Ele não! Mariele Vive! Força, covid! Lula livre! Resistência é sobrevivência!
- O Bolsonaro, nosso presidente, usa o Estado brasileiro para perseguir algum grupo étnico, ou religioso, ou racial?
- Bozo nazista! Bozo fascista! Bozo genocida! Viva as girafas amazônicas! Força, covid! Lula livre!

Bolsonaro ou Dória?

Em respeito à liberdade, determina-se:
1, Quem quiser tomar o Remédio do Bolsonaro, tome-o.
2, Quem quiser tomar a Vacina do Dória, tome-a.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Poder Global e Religião Universal – de Juan Claudio Sanahuja – Ecclesiae – 1ª edição – Maio de 2.012


É esquiva a linguagem que os Senhores do Universo, que ambicionam o poder absoluto, usam com o fim de ocultar, dos povos de todo o mundo, seus verdadeiros objetivos, criminosos, assassinos, que eles escondem atrás do véu das, assim dizem, boas intenções, políticas humanitárias. Tais potentados jamais são explícitos em seus propósitos, pois, se o fossem, os revelariam ao mundo, e sofreriam a rejeição imediata, contrária, hostil daqueles que eles almejam submeter aos seus desejos recrimináveis; daí empregarem artifícios semânticos para de suas vítimas escondê-los, coonestando-os, e assim persuadindo-as a abandonarem suas crenças milenares, seus valores mais estimados, seu amor pela família, sua paixão pelo chão que pisa, do qual retira o alimento que as sustenta, cooptando-as a ingressarem, sem que o percebam, no exército que irá roubar-lhes tudo o que elas têm de mais precioso, destruí-las, matá-las.
Ao ouvirem o canto das sereias politicamente corretas de indivíduos que se proclamaram Senhores do Universo, muitas pessoas, ingênuas, sugestionáveis, pelo canto politicamente correto seduzidas, entregam-lhes a própria vida. E tal canto vem protocolado por organizações globais que gozam de autoridade moral, conquistada por meio de sórdida campanha midiática mundial, que delas vendem ao mundo, que o compra sem barganhar, uma imagem falsa, mentirosa. E povos de todo o mundo, crentes que terão o paraíso que tanto desejam, viverão no inferno que os Senhores do Universo lhes reserva.
Juan Claudio Sanahuja, neste pequeno livro de duzentas páginas, bosqueja a estrutura do poder global totalitário, numa apresentação recheada de informações, indispensáveis para, se não o total entendimento da ação em curso de uma política desumana, assassina, um vislumbre de compreensão dos meios sutis que os trilionários universais, que, se achando acima do comum dos mortais, pretendem concentrar em suas mãos o poder de vida e morte sobre todas as pessoas e reservar pra eles unicamente todos os bens da Terra, empregam com destreza exemplar, obtendo resultados que lhes são favoráveis, e um dos recursos que eles, desinibidos, empregam é o da corrupção semântica; higienizam o vocabulário, adornam-lo com um requinte falso, com uma sofisticação inexistente não para esclarecer um assunto, expor a essência de suas políticas, nefastas, assassinas, mas para subverter valores, confundir as pessoas, induzi-las a irem contra os próprios princípios ao adotarem a linguagem corrompida, deturpada, como se fosse a reprodução fiel das ações promovidas pelos Senhores do Universo - e as pessoas, viciadas por um vocabulário espúrio, por uma linguagem que perdeu o seu sentido real, verdadeiro, sem perceberem a ruptura aberta entre o significado das palavras e o das ações que elas supostamente designam, compram políticas assassinas certas de que estão, na inocência de seus corações, promovendo o bem.
O autor não economiza, considerando-se as pequenas dimensões do seu livro, informações acerca do vocabulário que organizações mundiais empregam, na promoção de suas políticas desumanas, para a concretização de um projeto de poder global, que visa a imposição de um discurso único, de raiz anti-cristã, com o objetivo de submeter as pessoas a um credo universal, a uma religião biônica, mistura exótica de inúmeras religiões milenares, retiradas, delas, a essência, e delas conservadas apenas aspectos insignificantes, e incontáveis práticas místicas esotéricas. Querem estabelecer os Senhores do Universo um mundo onde estão excluídos os valores transcendentes, o amor pela família, o apego à pátria, e destruídas as soberanias nacionais, e convertidos os Estados nacionais em títeres deles, representantes, não do povo sob sua guarda, mas dos homens, os donos do mundo, que de fato governam as instituições globais; os presidentes, os primeiro-ministros, os deputados, os senadores, os governadores, criaturas sem liberdade de ação, são, neste cenário, mantidas nos altos escalões da burocracia estatal nacional com um único objetivo: o de chancelar as políticas elaboradas pelos não-eleitos da organização global, centrada na ONU; os presidentes locais, neste cenário, já real, estão convertidos apenas em carimbadores de documentos redigidos, no exterior, por homens cujos nomes são desconhecidos de todos e cujas figuras ninguém imagina quais sejam; e os povos de todo o mundo, à revelia de todo processo político, acreditam, ingênuos, que os políticos que elegeram com o voto são seus representantes, legítimos defensores de seus valores, de seus princípios, de seus desejos.
As palavras sofrem tal mutação, que seus significados originais desaparecem, e elas adquirem significados espúrios que servem de instrumentos de sustentação, em nome do bem-estar dos povos, de uma política desumana, assassina; e assim altera-se o consenso social, para tornar as pessoas refratárias aos bens espirituais, aos valores e sentimentos que as beneficiam, e dóceis aos que as prejudicam; e estão criados novos consensos, fabricados, por engenheiros sociais, em laboratórios nos quais os ratos-de-laboratório são os seres humanos. Os engenheiros sociais falam de “autonomia reprodutiva”, “direitos sexuais”, saúde psíquica da mãe”, “saúde sexual”, “livre orientação sexual”, “paternidade responsável”, “saúde sexual e reprodutiva”, para vender, como ato meritório, um direito inalienável, o do assassinato de seres humanos que, ainda no interior do ventre de suas mães, indefesos, em seu estágio embrionário uns, outros já formados, não são, na ótica dos defensores de tal política, seres humanos; são, unicamente, coisas, pedaços do corpo das mulheres que os carregam dentro de si, fetos, um amontoado de células, e não seres que, dependentes de um corpo adulto feminino, são únicos, outros corpos, de outros seres humanos. E dá-se, numa linguagem profilática, cientificista, o nome de feto ao ser humano em formação, e o de aborto à prática assassina, que o rouba à vida antes de ele vir à luz – e tal política não atende ao bem comum, como salientam os seus defensores, os seus promotores, os seus financiadores, mas aos interesses de quem almeja o controle absoluto de todos os bens que a Terra pode ofertar. A política de controle populacional, de “desenvolvimento sustentável do planeta”, no jargão politicamente correto, é um artefato bélico de destruição em massa apontado contra o homem comum. E para os donos do mundo, e seus empregados bem-remunerados, a eutanásia é “morte digna”. E as religiões milenares, “religiões dogmáticas”, “fundamentalistas” - daí proporem, sabe-se lá no uso de quais mecanismos, um sincretismo religioso, que irá criar, com a mistura de práticas da New Age (Nova Era), a maçonaria, profecias de Zoroastro, o Alcorão, Confúcio, budismo, taoísmo, xintoísmo, Bhagavad-Gita, uma “ética cósmica”, e estará criada, neste mundo de paz entre as religiões, uma “sociedade tolerante” centrada na religião universal, e deste mundo estará excluída a transcendência das religiões milenares.
Outro dado interessante, que o livro de Juan Claudio Sanahuja apresenta aos seus leitores, diz respeito às políticas ambientalistas, que, em nome da salvação do planeta, promovem o assassínio, por meio de políticas de “controle de natalidade”, “saúde reprodutiva da mulher”, de pessoas ainda no ventre de suas mães, e o estímulo ao sexo desenfreado, descompromissado, irresponsável, e a ereção de novos tipos de família. A Carta da Terra, aponta o autor, ataca, frontalmente, a religião cristã; vende uma religiosidade sem transcendência, panteísta, uma “ética universal da vida sustentável” para o “desenvolvimento sustentável”, a “sustentabilidade”; é o ecologismo, cujos agentes, partindo de uma preocupação legítima, que alerta para a saturação dos recursos naturais, propõem uma reformulação das religiões, das leis, das culturas, num movimento forçado, destruindo os humanos no processo, para a formação de um sincretismo religioso de laboratório, de uma mentalidade relativista disruptiva, com a consequente aniquilação das religiões milenares.
O livro dá preciosas informações a respeito do papel da ONU, de ongs, e de fóruns de debates e congressos financiados pelos Rockfeller, nas políticas de uma “ética universal”, uma religião universal, que cria seres dóceis, sugestionáveis, manipuláveis.
E Juan Claudio Sanahuja fala do “Report of the Comitte of Inquiry into Human Fertilization and Embriology”; do comitê de monitoramento de “Convenção Internacional para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (CEDAW, 1979); do comitê de monitoramento do “Tratado Internacional contra a Tortura”; e do “Diálogo das Civilizações”; e da Anistia Internacional; e do Clube de Roma; e do Human Rights Watch; e do World Wide Fund for Nature (WWF); e da UNESCO; e da “Cúpula Mundial de Líderes Espirituais e Religiosos para a Paz”; e da “United Religions Initiative (Iniciativa das Religiões Universais – URI); e da participação, no esforço de ereção da sociedade global, de Kofi Annan, Desmond Tutu, Fernando Henrique Cardoso, Jimmy Carter, Nelson Mandela, George Soros, Noam Chomsky, José Saramago, Gabriel Garcia Márquez, Ted Turner, Leonardo Boff, Isabel Allend, Barack Obama, Tony Blair, e outras personalidade de fama mundial.
E presenteia os seus leitores com a reprodução, em dois anexos, de textos de outros autores, o primeiro, “Obama e Blair. O messianismo reinterpretado”, conferência de Michel Schooyans, proferida, em 2.009, no dia 1 de março, na Cidade do Vaticano; e o segundo, “A Terra e seu caráter Sagrado”, da Irmã Donna Geernart, SC, conferência realizada, em 2.007, no mês de Maio, em Roma, no Plenário da União Internacional de Superioras Gerais, acompanhada de comentários.
Poder Global e Religião Universal, de Juan Claudio Sanahuja, traz inestimáveis informações acerca do movimento anti-cristão que move o mundo, faz a cabeça dos poderosos dotados de insaciável sede de poder, inimigos figadais dos seres humanos.
Conclui-se da leitura do livro que nos altos escalões das organizações globais estão seres humanos que se têm na conta de deuses, dotados de poder de vida e morte sobre todas as pessoas – eles excluem Deus da história, do universo, para se fazerem de deuses, e entre estes deuses de carne e osso persiste uma auto-imagem favorável, falsa, que muito os envaidece, a de seres superiores, inestimáveis, imprescindíveis para a ereção, na Terra, de um mundo perfeito, o “outro mundo é possível” dos discursos politicamente corretos, e o que eles criam é apenas caos, miséria, sofrimento e mortes.
Nas primeiras linhas desta resenha, falei da linguagem esquiva dos donos do poder, os Senhores do Universo; e é só alterando o significado das palavras, vendendo aos povos uma nova linguagem, um novo vocabulário, novas expressões, palavras antigas com significados deturpados, que eles conseguem subverter valores, e, com a subversão dos valores, produzir pessoas dóceis, sugestionáveis, obtendo, destas, a lealdade, e expulsar do convívio social os indomados, e indomáveis, que, firmes na defesa dos valores que herdaram de seus ancestrais, resistem à agressão psicológica, à manipulação semântica.
A linguagem é o campo de batalha dos Senhores do Universo. Deturpando-a, e impondo a linguagem deturpada aos povos de todo o mundo, eles podem coonestar suas politicas desumanas, assassinas, criminosas, e explorar os humildes, que não lhes impõem resistência, pois deles foram arrancados, por aqueles que se dizem seus libertadores, os instrumentos que lhes dariam meios de ponderar a respeito das coisas do mundo dos homens.

É Poder Global e Religião Universal, de Juan Claudio Sanahuja, um livro de valor inestimável.

sábado, 4 de julho de 2020

Biobibliografia de Rui Barbosa, por Zeca Quinha - publicado na íntegra

Rui Barbosa nasceu, viveu, e morreu.

Nota de rodapé: Após ler dezenas de livros de Rui Barbosa e de biógrafos dele e documentos antigos e entrevistar inúmeros historiadores, conclui que a biografia dele, do mesmo modo que a de todas as pessoas, resume-se ao nascimento, à morte e às ações que ele praticou entre o nascimento e a morte. Após ler estas devidas explicações, o leitor concluirá que eu da vida e da obra de Rui Barbosa escrevi os únicos dados relevantes.
Outra nota de rodapé: Caso o leitor queira ler dados irrelevantes da vida e da obra de Rui Barbosa, que procure uma biografia dele, uma daquelas bem extensas, repleta de fotos e informações detalhadas.