domingo, 16 de setembro de 2018

Orquestra tucana

O PSDB está aplainando o terreno para, num segundo turno entre o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, e Fernando Haddad, do PT, apoiar este, contra aquele, justificando tal apoio de modo a afastar todas as suspeitas dos eleitores de Geraldo Alckmin quanto à aliança dele com o PT.
Retrospectiva:
Há meses, Fernando Henrique Cardoso declarou que, havendo segundo turno, o PSDB apoiará o PT; e na semana passada, reiterou tal declaração. Em nenhuma das duas ocasiões, Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à presidência da República e presidente do PSDB o desautorizou. Ora, se Fernando Henrique Cardoso faz tais declarações públicas, e Geraldo Alckmin não o desautoriza, há de se concluir que este lhe concedeu licença para falar em nome do PSDB; e se questionado a respeito, Geraldo Alckmin poderá alegar que Fernando Henrique Cardoso apenas expressou um pensamento pessoal, e não o do PSDB, atenuando, assim, críticas que porventura filiados do PSDB e eleitores seus apresentem.
Desde o início da campanha eleitoral na televisão, as inserções publicitárias da candidatura de Geraldo Alckmin ataca, exclusivamente, Jair Bolsonaro, desfechando-lhe golpes abaixo da linha da cintura.
Há dias, em entrevista ao UOL, Folha e SBT, Geraldo Alckmin disse que Jair Bolsonaro é o passaporte do PT ao poder, pois, no segundo turno, Fernando Haddad o derrotará, segundo pesquisas de intenções de votos de institutos de que não poucas vezes incorreram em erros proverbiais, grosseiros, já lendários.
E recentemente, numa entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Tasso Jereissati, ex-presidente do PSDB, disse que o PSDB cometeu erros imperdoáveis no seu percurso até o poder, sendo a oposição que promoveu ao PT, em particular na área econômica, uma delas, e outra o apoio que deu ao PMDB.
Observações:
O Fernando Henrique Cardoso, ao dar a público a intenção do PSDB de apoiar, no segundo turno, o PT, o faz com o propósito, presumo, de conhecer a reação dos eleitores do PSDB, se eles, não admitindo, em nenhuma hipótese, a aliança do PSDB com o PT, 
se voltam contra o Geraldo Alckmin desde já, no primeiro turno, e votam no Jair Bolsonaro, ou se, rejeitando tal aliança, decidem pela neutralidade, ou se deixam de lado as diferenças que entendem existir entre PT e PSDB e decidem votar no Fernando Haddad. E é significativo o espaço de tempo entre as duas declarações públicas de Fernando Henrique Cardoso acerca da possível aliança, no segundo turno, entre PSDB e PT. E entre elas, as propagandas eleitorais da campanha de Geraldo Alckmin, rasteira, sórdida, contra o Jair Bolsonaro, apresentando-o como um tipo vil, desprezível, mudando a respeito dele a percepção dos eleitores do PSDB, servem de amortecedor às críticas que eles podem vir a fazer contra o apoio do PSDB ao PT. Suspeito que as declarações de Fernando Henrique Cardoso serviram para estudar a reação dos eleitores do Geraldo Alckmin, se eles lhe são fiéis, ou não; se a fidelidade a ele é maior, ou menor, do que a oposição que fazem ao PT.
O PSDB prevê, penso, que, havendo segundo turno, Geraldo Alckmin dele estará de fora; e não é por outra razão que ele declara que Jair Bolsonaro é o passaporte do PT para o poder, pois, no segundo turno, diz, Fernando Haddad o derrotará. Dá a entender Geraldo Alckmin que o PT, na pessoa do Fernando Haddad, representa uma ameaça ao Brasil, maior o que a representada por Jair Bolsonaro; se é assim, por que em sua campanha Geraldo Alckmin ataca o Jair Bolsonaro, e não o Fernando Haddad? São duas as razões, suponho: aumentar a rejeição dos eleitores de Geraldo Alckmin, a dos do Ciro Gomes, a dos da Marina Silva, a dos dos outros candidatos e a dos eleitores indecisos ao Jair Bolsonaro, induzindo-os a votarem no Fernando Haddad; e, justificar o apoio seu e do PSDB ao Fernando Haddad.
Por que Geraldo Alckmin, que dá a entender que é o PT o mal a se combater, pensando num possível segundo turno do qual participará, não ataca o Fernando Haddad, e desde já, para desconstruí-lo, aumentando a rejeição dos eleitores por ele? Porque, penso, ele escolheu para si um adversário: o Fernando Haddad; e o fez, presumo, por duas razões: não terá de usar, contrangido, de malabarismos verbais para justificar a aliança, num confronto com Jair Bolsonaro, do PSDB com o PT; e, os debates seus com o Fernando Haddad serão similares a conversas de comadres, pois, ambos da Esquerda, cujo poder estará assegurado durante os próximos quatro anos, ou oito, o que não seria improvável, simularão divergências em questões irrelevantes, evitando desgastes pessoais.
Geraldo Alckmin, para angariar votos, não ataca nem o Guilherme Boulos, nem o Ciro Gomes, nem a Marina Silva, e nenhum outro de seus concorrentes, pois, se o fizer, aumentará, supõe-se, a rejeição dos eleitores indecisos a eles, muitos dos quais talvez decidam votar no Jair Bolsonaro.
Ao declarar que o PSDB errou ao se opor ao PT, principalmente nas políticas econômicas do governo do PT, e também ao aliar-se ao PMDB, Tasso Jereissati passa três mensagens: o PT promoveu política benéfica ao Brasil; o PMDB é um partido que não merece crédido (o que dá elementos para reforçar uma idéia, falsa mas cara à Esquerda: a de que Dilma Roussef, traída pelo seu aliado, foi vítima de um golpe); e, o PSDB, numa demonstração de humildade, reconhece seus erros. Tal declaração serve para atenuar as críticas que os eleitores do PSDB irão fazer ao apoio que, num segundo turno, antevendo que dele Geraldo Alckmin não participe, o PSDB oferecerá ao Fernando Haddad; para induzir os eleitores a concluir que o PT não é o diabo que todos pintam e que o PSDB, agindo de má-fé, sua conduta reprovável, prejudicou, imensamente, o Brasil, sendo, portanto, merecedor de censuras; e para transferir ao PMDB (atual MDB) a culpa pelos males promovido pelo PT.
Geraldo Alckmin, da Esquerda, trabalha para a Esquerda; se não eleito presidente, que outro candidato da Esquerda o seja, pois, num governo de Esquerda, seja do Fernando Haddad, seja do Ciro Gomes, seja da Marina Silva (estes três candidatos estão, segundo pesquisas de intenções de voto, embolados no segundo lugar), Geraldo Alckmin terá o seu espaço, talvez um ministério; no do Jair Bolsonaro, não.

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