terça-feira, 11 de setembro de 2018

Exercício de imaginação

Geraldo Alckmin, em entrevista ao UOL, SBT e Folha de São Paulo, fez duas declarações: que Jair Bolsonaro favorece o retorno do PT ao poder (poder, aqui, é sinônimo de presidência da República), pois, em pesquisas de intenção de voto para o segundo turno - conforme institutos de pesquisas que já se notabilizaram por erros grosseiros - Fernando Haddad, candidato do PT, o derrotaria; e, que possui inúmeras diferenças de propostas entre si e Jair Bolsonaro. Considero o seguinte: no início do mês de setembro está indefinido o que ocorrerá no dia 7 de outubro: se Jair Bolsonaro será eleito presidente do Brasil, ou se irá ao segundo turno, tendo Fernando Haddad seu adversário - estes os dois mais prováveis cenários previstos por cientistas políticos. Sendo assim, por que Geraldo Alckmin toma como provável a ocorrência do segundo turno, e não a vitória do Jair Bolsonaro no primeiro? Aventando uma suposição, escrevo: se cogitar, em público, esta possibilidade, além de animar os eleitores do Jair Bolsonaro e estimular os indecisos a votarem nele, não terá como encaixar no roteiro que segue a sua tese: a de que Jair Bolsonaro é, reproduzindo palavras de Geraldo Alckmin, segundo reportagem publicada pelo site do UOL, passaporte do PT, na figura do Fernando Haddad, para o poder. Com tal discurso, sigo em minha suposição, apresenta o Jair Bolsonaro como uma ameaça ao Brasil, indiretamente o responsabilizando pelo poder que o PT irá readquirir. Ao mesmo tempo que explana tal idéia, dá Geraldo Alckmin a público as suas diferenças, no campo das propostas, com Jair Bolsonaro, assim, presumo, justificando, no segundo turno, o apoio que oferecerá ao Fernando Haddad, o que fará, não de imediato, mas simulando relutância, e ao noticiá-lo o fará num tom de pesar, para que os brasileiros acreditem que o fez a contragosto, após exaustivas negociações, afinal Fernando Haddad é do PT, e ele, Geraldo Alckmin, do PSDB, se lhe opõem, e irá evocar a história do PSDB, desde a sua fundação, e cujo antagonismo com o PT irá salientar; e não negligenciará um ponto: o apoio ao Fernando Haddad, traduzido em aliança com o PT, é passageiro, para evitar o mal maior, representado por Jair Bolsonaro, cujas propostas diz serem contrárias às que defende.
E vem a realçar as diferenças entre Geraldo Alckmin e Jair Bolsonaro o teor das propagandas do candidato do PSDB veiculadas no horário eleitoral, representando o candidato do PSL, numa campanha de assassinato de reputações, como um tipo asqueroso, machista, radical, violento, agressor de mulheres, colando-lhe rótulos difamatórios, que correspondem, em tipo e grau, aos que os esquerdistas lhe põem na cara, a eles se ombreando em baixarias. Assim, fazendo de Jair Bolsonaro um monstro, já se antecipando a um possível segundo turno entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, justificará o seu apoio a este. Se se concretizar tal cenário político, Geraldo Alckmin, apoiando o Fernando Haddad, justificará, por meio dele, seu apoio ao PT. O mal menor, irá dizer.
Serão muitos os malabarismos lógicos dos quais ele lançará mão para se esquivar dos questionamentos mais contundentes e das reprovações mais firmes. Que mal menor representa Fernando Haddad, do PT, sabendo-se o que o PT de mal já fez ao Brasil, e o mal que o Jair Bolsonaro poderá fazer está no campo da projeção especulativa? O mal produzido, por Lula e Dilma Roussef, no Brasil, e, na cidade de São Paulo, pelo Fernando Haddad, já concretizados, pertencem à história. E o do Jair Bolsonaro, antevisto, fica no campo das conjecturas. Se se tomar como real o espantalho que de Jair Bolsonaro construíram e cuja figura a propaganda eleitoral de Geraldo Alckmin reforça, o mal que os inimigos de Jair Bolsonaro antevêem é verossímil.
E acrescento: o figurino de Geraldo Alckmin, de timbre de voz calmo, fisionomia inexpressiva, transparecendo tranquilidade, interpretada, por muitos, como representação de moderação, sensatez, e até de sabedoria, emprestará ao ato - seu apoio ao Fernando Haddad - ares de nobreza.
E chamo a atenção para o contraste entre a figura serena de Geraldo Alckmin, suas palavras comedidas, seu tom de voz, bem pensado, seu apelo ao bom-senso, ao bom-mocismo, e as propagandas eleitorais tucanas veiculadas, em horário nobre, intempestivas, virulentas, difamatórias, agressivas. Já se reprova tais propagandas, cujo teor foi reconhecido como o que é: peças caluniosas, difamatórias. E não se as associa ao Geraldo Alckmin; atribue-se a responsabilidade pela criação delas aos marqueteiros, os bodes expiatórios. O contraste, portanto, entre a figura serena de Geraldo Alckmin e a virulência das propagandas é só um artifício para não se responsabilizar Geraldo Alckmin pela criação delas, afinal quem acredita que saiu de alma tão cândida propagandas tão violentas, tão apelativas!?

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