domingo, 17 de março de 2024

Trinta e cinco

 Os comunistas são as pessoas mais inteligentes do universo?

Não sei se dizem certo, se errado; sei que há quem diz que os comunistas são inteligentíssimos, daí eles estarem a dominar meio mundo e a deixar de cabelos em pé a outra metade; sei, também, que há quem diz que os comunistas só fazem o que fazem porque os capitalistas lhes enchem as burras de ouro; e sei, digo, também, que há quem, a depender de para qual ponto seu nariz aponta e qual parte de seu corpo está voltada para a Lua, ora diz que os comunistas são os maiorais, ora que eles são uns paspalhos, ora que eles não são nem uma coisa nem outra.

Lembro-me que li, não me recordo onde, que para se fazer uma revolução têm os comunistas de usar de dinheirama a perder de vista, daí eles, em tempos não muito distantes no espaço, assaltarem diligências, bancos, carros-forte e cofres públicos. Mas não é assim ainda hoje?! Tire-lhes a grana dos capitalistas, e que os capitalistas não os sustentem, e os impeçam de se apossarem do dinheiro público, e veremos no que dá. Sem dinheiro, qual é a inteligência dos comunistas?! Está a inteligência deles diretamente proporcional à grana que têm eles à disposição?! É provável. Ou não?!

Para encerrar este farelo: conquanto eu jamais tenha me dedicado ao estudo do movimento comunista e ao do anticomunista, vejo-me a me perguntar se o que os livros de história falam dos comunistas, inclusive os escritos por anticomunistas - aqui, exclusivamente os que lhes enaltecem a coragem e a bravura e lhes aquilatam favoravelmente a inteligência -, têm pé na realidade, se não é mera propaganda, que os pintam com tintas brilhantes, e qual é a data de nascimento oficial do movimento comunista e a do anticomunista, e porque os anticomunistas sempre levam a pior, e se estes estão a, juntamente com os comunistas, conservarem em funcionamento um maquinismo revolucionário de movimento perpétuo que a ambos abrange.

São apenas questões, indagações unicamente, as minhas palavras acima.

Sempre que leio um texto e sempre que escuto alguém dizer que os comunistas são os reis da cocada preta coça-me a língua a vontade irresistível de dizer, ou escrever, a depender do caso, que é verdade o bilete.

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Que se domine os espaços para se vencer a guerra cultural.

Assim não dá! Quem ensina que se faz urgente dominar os espaços nas universidades e nas empresas jornalísticas e nas instituições públicas e nas paraestatais para se derrotar os comunistas também ensina que não se deve ocupar espaços nas universidades e nas instituições públicas e blablabla, mas encontrar outros espaços, novos, escolas em casa, sites independentes, e coisa e tal. Afinal, o que é para fazer?! Dominar os espaços, assim tirando aos comunistas espaço, ou abrir novos espaços, deixando aos comunistas os espaços, digo, convencionais (os das universidades, estatais, sindicatos, órgãos de classe, e etecétera, e tal)? Ou deve-se fazer de tudo um pouco, junto e misturado?!

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Os da direita subestimaram o Lula?

Disse-me um passarinho, aquele de sempre, que dia sim e outro também, de vez e quando e sempre me traz notícias do balacobaco, muitas delas a ilustrarem o folhetim rocambolesco do qual participamos sem que o queiramos, que há gente por aí e por aqui a declarar que a direita bolsonarista subestimou o Lula, daí ele ganhar as eleições. Será?! Será que a direita bolsonarista subestimou o Lula?! Será?! Ou será que ela superestimou o brasileiro?! Ora, quantos brasileiros votaram no Lula porque ele prometeu picanha para todos?! Quem podia imaginar que não se sabe quantos trilhões de brasileiros lamberiam, diante da urna, os beiços, a imaginarem uma picanha?! E o que falar dos aliados do presidente Jair Messias Bolsonaro que o esfaquearam pelas costas antes, mesmo, de ele vergar a faixa presidencial?! E o que falar dos sábios criticoconstrutivistas, que se desdobraram para debilitá-lo?! Não sei, não, mas penso que a direita bolsonarista tinha ciência do que se passava; infelizmente, o desencontro de interesses de muitos da chamada direita e os aliados de ocasião de Jair Messias Bolsonaro debilitaram o forte movimento direitista original, que nasceu sob a liderança - goste-se ou não, aceite-se ou não, esta verdade verdadeira - de Jair Messias Bolsonaro, para quem convergiram várias forças políticas e ideológicas e religiosas que não encontravam eco na estrutura do poder nacional.

Não sei se me expresso com as palavras apropriadas; é o que o leitor leu nas linhas acima o que tenho para oferecer neste momento.

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Nem Bolsonaro, nem Lula: pró-Lula.

Cansei-me de ouvir e de ler gente sabida - as mais exuberantes pavoneavam-se intelectuais sapienciais a descarregarem, não raro verborrágicas, a três por dois as suas críticas construtivas - empinar o peito e a se vangloriar de seus conhecimentos ímpares e de sua elevada cultura a reprovarem, indiscriminadamente, toda e qualquer ação do presidente Jair Messias Bolsonaro. E também aquela gente que, seguindo o caminho do meio, jamais se enveredava pelo campo dos radicais da direita e pelo dos da esquerda, e vivia de se gabar de ser superior a todos, porque pelo Brasil, contra o Bolsonaro e contra o Lula, e que passou os quatro anos do governo Bolsonaro a fazer a caveira de Jair Messias Bolsonaro e a pegá-lo para Cristo. E desde há um ano nem uns e nem outros tecem quaisquer comentários ao governo Lula, nem abonadores, nem desabonadores - alguns até se atrevem a externar seus pensamentos, mas contra o Bolsonaro, sempre, e quando falam dos males do governo Lula os debitam na conta de Jair Messias Bolsonaro porque este, que malvado! perdeu as eleições.

Só respeitarei os criticoconstrutivistas e os isentões nem-Lula-nem-Bolsonaro se eles bravamente comentarem os, como se diz?! descuidos do Lula, suas gafes, suas brincadeiras fora de hora, com eloquência heróica e sem alfinetar Jair Messias Bolsonaro.

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Brasil: povo que nada lê, professores que nada lêem, cultos incultos. Ou: Eu tenho diploma.

Um passarinho, e não o que vira e mexa me agracia com a sua adorável presença, trouxe-me uma notícia que dá o que pensar, uma notícia com duas informações, ou duas notícias cada uma delas com uma informação, não sei ao certo. Ele, um tanto quanto tagarela, a matraquear pelos cotovelos, falando mais do que a boca - quero dizer: mais do que o bico - disse o que tinha para me dizer com a sem-cerimônia comum aos da sua espécie, e foi-se deixando-me uma sensação enormemente desagradável, incômoda, não dele, passarinho, criaturazinha simpática, amável, conquanto não saiba, mantendo a língua sob seu estrito controle, que ele em nenhum momento esforçou para impor-lhe, organizar, ao falar, o que lhe vai na cabeça, mas do objeto de sua eloquente explanação: o Brasil. A sua elocução, de uma loquacidade espantosamente atraente.

Disse-me ele que... 'pera lá! Por que iria eu dizer o que o meu emplumado amigo me disse se o que ele me disse ele me disse melhor do que eu poderia dizer?! Então, faço bem se eu reproduzir o mais fielmente possível as palavras dele, mas não todas as que ele me disse, pois são elas muitas, mas as do trecho que mais me deu o que pensar, e o que me deu a pensar foi muito.

Aqui vai, então, a palavra do passarinho meu amigo:

- O futuro do Brasil, meu caro, se não será um inferno, e um dos de torrar a alma dos espíritos malévolos, fazer churrasquinho dos malvados, não será o céu. E cá entre nós, se tu me permites, digo: vós brasileiros ireis sofrer à beça nos anos vindouros. E não é o meu desejo, não, ver o povo brasileiro sofrer. Convenhamos: vós brasileiros estais a pôr tudo a perder. Digo bobagem?! Não?! Sim?! Não é o Brasil a terra em que se plantando tudo dá?! É. Mas, o que se planta em tal terra?! Terra tão fértil precisa de fertilizante extraído de outras terras?! É para se pensar. E não é o Brasil o país do futuro?! Dizem que é. Até um livro escreveram com tal título. E é o futuro do Brasil cantado em prosa e verso. E cadê o futuro do Brasil?! Oh, futuro esquivo, que dos brasileiros escapais! Ou o futuro do Brasil já veio, já foi, e ninguém viu. Perderam os brasileiros o bonde?! É provável. Mas vês, meu caro: o brasileiro, o brasileiro típico, o brasileiro brasileiro, orgulhoso de o ser, o brasileiro, como se diz, médio, o brasileiro afegão médio, o brasileiro é aquele tipo de gente que sabe tudo de tudo, nasceu sabendo, e, porque nasceu sabendo, dispensa-se de estudar o que quer que seja: tem horror aos livros, aos bons livros, que se saliente este ponto, que é de suma importância para se entender o brasileiro. E é o brasileiro típico o encontradiço em qualquer canto, em qualquer cidade, de qualquer escolaridade, de qualquer família, seja a família rica, seja a pobre, seja a nababesca, seja a miserável. O brasileiro que se orgulha de o ser tem o dom de desprezar o conhecimento, de torcer o nariz para a cultura. Não é assim, não?! Não é o que se vê por aí?! Não é o que tu vês, caro colega?! Ora, brasileiro não lê livros, bons livros. Histórias homéricas?! Poesias de Gonçalves Dias?! Romances balzaquianos?! Tolstoianos?! Porque perder tempo com tais bobagens?! A Bíblia?! Meu Deus! Só tem histórinhas para assustar crianças! História?! Por que aprender o que quer que seja da guerra do Peloponeso?! De que serve saber de tal guerra?! As guerras napoleônicas?! Napoleão que se lasque! Canudos?! Malês?! Sabinada?! Não se sabe nada, mas têm-se orgulho de nada saber. Que orgulho! Um trocadilho legal! Ser ignorante, inculto, nada saber, e desprezar quem sabe... Vês: li: cada brasileiro lê, em um ano, se muito, um livro, qualquer livro. Ah! E os Diálogos?! Por que perder tempo lendo conversa alheia?! E dos gregos! Ler Euclides, Descartes, Leibniz... Perda de tempo! Um livro! Meu caro, o brasileiro afegão médio lê, em um ano, um livro. E olha lá! Se há um brasileiro que lê trinta livros, então vinte e nove nenhum livro lê. Captou a mensagem?! No Brasil, gente diplomada lê um livro, unzinho só, com muito sacrifício e suor! Estou tentando encaixar um trocadilho... Que trocadilho... Logo o ouvirás. Logo. Se não lê, e não lê bons livros, o brasileiro não amplia a sua imaginação e os seus conhecimentos, daí ser a imaginação do brasileiro tão pobre e os seus conhecimentos tão empobrecedor. Brasileiro não sabe falar nada além do que lhe toca o umbigo. Nada lê, nada sabe, mas tudo acredita saber. Se não tem idéia das dimensões de sua ignorância... E sabes o que é pior, amigo? Não?! Os professores brasileiros também nada lêem. Não estou a brincar. É de suma importância a leitura de bons livros, e que suma quem nada lê. Achei o espaço, que eu procurava, para encaixar o trocadilho, que me animava a cabeça há um bom tempo. E devido ao desprezo pela leitura de bons livros e o horror ao conhecimento, o brasileiro não tem meios de aproveitar as oportunidades, que se lhe oferecem, para fazer do Brasil um país melhor, infinitamente melhor. É, ou não é?! Não é o Noé, eu sei. Tu me perdoas a piada... Não resisti. "É, ou não é?!", "É o Noé?!" Entendeste?! Não?! Tudo bem. Não faz mal. Eu só te peço que penses no que eu te disse. Conversaremos a respeito em outra ocasião.

Deram-me o que pensar as palavras do meu amigo passarinho. E o que me deram a pensar não me agradou nem um pouco, não foi do meu gosto. Quem é que, sendo brasileiro, e mesmo não o sendo, no Brasil nunca se deparou com criaturas soberbas, de nariz empinado, peito estufado, num tom pra lá de presunçoso a descarregar as suas platitudes, bobagens sem fim, a arvorar-se intelecto privilegiado, ser cultíssimo, a esfregar seus diplomas universitários em nariz alheio? Ora, no Brasil, não pouca gente acredita, o diploma universitário - e o carro do ano na garagem, e os milhões nas contas bancárias, e as roupas com selos de marcas famosas - é atestado de exemplar formação cultural, literária, filosófica, histórica, científica, psicológica, antropológica, neurológica, paleontológica, geográfica, parapsicológica, sociológica, astronômica, futebolística, basquetebolística,automobilística, aeroespacial, química, biológica, etecétera, e tal. E pensar que tem o Brasil um dos piores sistemas educacionais do mundo, e que mais de sessenta por cento dos brasileiros recém-saídos das escolas, à conclusão do segundo grau, não alcançam o mínimo em Matemática, e nem em ciências, e mal compreendem o que lêem...

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O Lula odeia os lulistas?

Vi-me dia destes a me perguntar se o nosso querido e amado presidente odeia, e odeia de morte, os que o têm na conta de um herói brasileiro, mais, de um herói mundial, mais, de um herói mundialmente global, mais, de um santo, mais, de uma entidade autocriadora. Na verdade, não me vi a pensar tais pensamentos, pois eu não me olhava para mim, melhor, para a minha bela estampa refletida num espelho.

O Lula diz tantas e tantas bobagens que, mesmo que eu não queira, obrigo-me a pensar que está ele a querer constranger os lulafazoelistas a ponto de os emudecerem sempre que cobrados a respeito das falas dele, ou a desdobrarem-se para lhe explicar as palavras, ou a mudarem de pato para ganso, ou a se ocuparem de quaisquer outras tarefas que os afastam da questão que envolve as inusitadas palavras dele, as gafes dele, as dele brincadeiras fora de hora.

O Lula não toma Semancol? Não faz uso de um desconfiômetro?! Por que ele fala pelos cotovelos asneiras sem fim?! Para constranger os lulafazoelistas?! E ele o faz de propósito?! Ele despreza os lulistas?! Ele diz que o Agro é facista; e que a escravidão deu ao Brasil uma coisa boa: a miscigenação; e vê uma mulher negra e diz pensar que ela gosta de batucada e de tambor; e dispara asnidades contra Israel; e desdenha de ajudantes-gerais; e pergunta a um qualquer se de uma oliveira nasce uvas; e declara que motoboys usam fraldões; e afirma que as pessoas são chatos-de-galocha de tanto que reclamam de terem de pagar impostos; e que a Venezuela... É de propósito que ele deixa de sua boca escapar tolices e mais tolices?! Só pode ser.

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