domingo, 3 de março de 2024

Três notas

 A obrigação de ter uma opinião formada sobre tudo.


Tenho eu de ter uma opinião acerca do que não sei uma vírgula, e do que não sei do que se trata, e do que sei o que é, e há décadas, e do que vim a saber ontem, ou anteontem, ou transandontem? Não. Não tenho. Mas cabeçudo que sou dou-me ao direito de falar o que me dá na telha acerca de assuntos dos quais neca de pitibiriba entendo. Ora, se sou humano e Deus me deu o dom da fala e da escrita!

Esforço-me para me conter em minha natural propensão para tratar do que nada sei, nem sempre com sucesso. E sempre que me derrotam as minhas reprováveis veleidades, permitindo-me expor minhas idéias, procuro conter em meu íntimo a vontade de escrever pelos cotovelos os pensamentos que me brotam pelos cabelos e dar voz escrita apenas ao que me parece prudente expôr. Não sou dos que se acreditam de posse de idéias formadas sobre tudo, sobretudo as deformadas, e as transformadas de outras, estas piores do que as minhas, ou melhores.

De uma coisa eu sei, e sei porque pensei detidamente a respeito durante horas e horas de elucubração intelectual (mentira: tal pensamento se me aflorou à cachimônia há pouco, assim, do nada, como nascesse do ar): todas as pessoas, inclusive as pela natureza mais bem aquinhoadas com o dom da filosofia (presume-se que estas mais do que todas as outras), pensam muita bobagem, falam muita bobagem, escrevem (as alfabetizadas, claro - atenção: alfabetizadas, e não escolarizadas) muita bobagem, sem se vexarem, e muitas o fazem com ar professoral, com ar venerável, e têm muitas dentre elas cada qual seu nome incluído no panteão dos célebres heróis do pensamento humano. Se é assim, dou-me a liberdade de falar e escrever a cota de bobagem que me é de direito natural, universal.


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Leis e mais leis.


Quem escreve as leis?! Quem?! Não faço a mínima idéia.

Suspeito que muitas das infinitas leis que se evoca para torrar a paciência e gastar a beleza do homem comum brotaram de cabeças desmioladas e insanas.

Se estou certo, não sei: a Justiça é um ideal inalcançável. E homens que falam em seu nome, e não poucos deles, a esfaqueiam, traiçoeiramente, pelas costas.

É para se pensar se muitas leis as regurgitam cabeças sem miolos, cabeças que têm um propósito unicamente: fazer de toda pessoa um transgressor, um marginal.

Que toda pessoa tem os seus pecados, concordo. Mas nem todas cometem crimes contra a natureza, e nem contra Deus. Mas se toda ação humana, inclusive as mais corriqueiras, como esfregar com sabão de coco a calça e palitar os dentes, é reprovada por alguma lei tirada sabe-se lá de qual nariz, então toda pessoa, mesmo não o desejando, sem querer querendo, acaba por trangredir uma lei, ou inúmeras delas simultaneamente. A legiferância, que corre solta por estes dias, que ora vivemos, é um fenômeno doentio a assolar a nossa sociedade, é um produto de um projeto totalitário, ora em estágio embrionário, que querem implementar políticos e capitalistas em todo o orbe terrestre, quiçá em outros orbes.

Por que toda vez que escrevo quiçá vêm-me à mente içá?! Sei lá! Só sei que é de enlouquecer e endoidar e amalucar todo filho-de-Deus a montoeira de leis que regem a conduta dos homens.


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Criança no útero é objeto descartável?


Para muita gente a criança que está no útero de sua mãe é um feto, apenas um amontoado de células, e nada mais, um pedaço do corpo da mulher, tal qual uma unha, um fio de cabelo, e só. Pode a criança ser de sua mãe arrancada e arremessada numa lata de lixo. Muita gente assim pensa.

"Feto", palavra tão fria para se referir a um ser vivo! Por que não "criança"?! Criança tem rosto, tem mãos, tem orelhas, tem um corpo, um corpo humano; feto é uma coisa qualquer, coisa sem forma, coisa sem uma aparência reconhecível. Criança tem nome; feto, não.

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