domingo, 3 de março de 2024

Piruás 33

 Piruás e Farelos - volume 33.


Avenida Paulista, um símbolo.


Quantas eram as pessoas aglomeradas, na Paulista, dia 25 de Fevereiro, chamadas pelo presidente Jair Messias Bolsonaro?! Trinta mil?! Cento e oitenta e cinco mil?! Seiscentas e cinquenta mil?! Um milhão?! Um milhão, trezentos e sessenta e duas mil, e mais quarenta e oito cachorros, dezenove gatos, trinta e duas lagartixas, cento e vinte sete pombos e quatrocentos e oitenta e duas maritacas?! Não sei. Eu não estava lá. Além do mais, suspeito, ninguém se deu ao trabalho de contar, uma por uma, as pessoas que lá se acotovelaram. Penso eu que não importa quantas pessoas estiveram na Paulista, e quantas brotam na Paulista sempre que lá se promove manifestação seja de que tema for; penso que importante é o que a manifestação representa.<br>Além das pessoas que, no dia 25, pisaram na Paulista, quantas, que não aparecem nas fotos, estiveram nas ruas e avenidas transversais, e nas perpendiculares mais próximas à Paulista? E quantos são os brasileiros do Oiapoque ao Chuí irmanados com os que, de verde e amarelo, na Paulista exibiram a beleza, mesmo os que não são belos, para todo o mundo ver? Não nos esqueçamos que no último pleito eleitoral o presidente Jair Messias Bolsonaro ganhou mais de cinquenta e oito milhões de votos. É erro, portanto, supor que dezenas de milhões de brasileiros em espírito estiveram, domingo, dia 25 de Fevereiro, na Paulista? Não, não é. E todo comentário que não considera este detalhe tem de ser arremessado na lata de lixo.

E não erra quem pensa que muitos brasileiros, mesmo não sendo bolsonaristas, assistindo aos desmandos da nossa democracia relativa, e com os bolsonaristas compartilhando de muitos valores nobres, estão a rilharem de raiva os dentes. São dezenas de milhões os descontentes.

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Damares Alves, exploração sexual de crianças na Ilha de Marajó, Aymeê Rocha. E os yanomamis. E os fazoeles.


Há um pouco mais de um ano, ainda sob o governo Bolsonaro, a então ministra, hoje senadora, Damares Alves falou, enérgica, veemente, emocionada, de casos de abusos sexuais de crianças na Ilha de Marajó. Bastou suas palavras ganharem corpo, que elevaram-se vozes indignadas a lhe difamarem de tudo quanto é nome, de espalhadora de mentiras; e até pediram-lhe a cassação do mandato de senadora antes mesmo de ela o assumir. Voltou-se contra ela gente poderosa, artistas, e outras gentes, comuns, direi, que lhe dispararam na cara deboches, chacotas e xingamentos, a transparecerem desprezo pelos evangélicos, preconceitos pelos cristãos.

E hoje, após uma canção, Evangelho dos Fariseus, de Aymeê Rocha, ganhar mundo, volta o assunto à baila.

A exploração sexual de crianças é questão da qual muito se fala, e ninguém há no mundo que, em sã consciência, declara ser inexistente o crime contra crianças. Pergunta-se, no entanto, porque se toma de antemão como inverídica a denúncia de crimes contra crianças na Ilha de Marajó?! Por que se diz que foram dadas levianamente notícias a respeito?! Por que se diz que não se pode tratar do assunto, assim, abertamente, em público, sem que o caso não esteja nos interiores dos tribunais?! Damares falou dos crimes contra as crianças, e voltaram-se contra ela. Achincalharam-la. Vilipendiaram-la. Cabe perguntar quantas pessoas poderosas abusam sexualmente de crianças, quantas estão envolvidas até o pescoço com tráfico sexual de crianças. Muitas, é provável. A reação às palavras da hoje senadora Damares Alves - e também ao filme Sound of Freedom (Som da Liberdade) - prova que há muita gente a querer conservar o assunto embaixo do tapete. Chama-me a atenção o silêncio dos fazoeles a respeito. E a dos isentões também, não posso me esquecer deles. Fazoeles e isentões, irmãos siameses.

E os yanomamis estão a morrer no governo do tal Éle. O amor pelos yanomamis, declarado pelos fazoeles, vê-se, era apenas retórica política que servia para difamar o odiado Bolsonaro, e não sincero, autêntico - fosse diferente, os fazoeles estariam, hoje, esbravejando, contra o atual governo, com igual energia que os impeliram a cuspirem contra o governo anterior. E digo mais: fossem os fazoeles coerentes com os valores que dizem defender, estariam, hoje, a condenar o descaso do governo com as crianças do Marajó, e com os yanomamis, e com a floresta amazônica, e com o cerrado, e com os atingidos pelas enchentes no Sul, e com as famílias dos policiais que criminosos assassinaram, e com os países amigos, e com os ajudantes gerais, e com...

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Lula e a Vale do Rio Doce e a Petrobras. E o Uber.

Não sei o que está a se dar, mas sei que o que está a se dar não cheira bem - e fede, e quanto mais se mexe na coisa mais a coisa fede.

Há poucos dias, li uma daquelas histórias que parecem saídas de um livro de terror, de terror bem terrível, daqueles trash (tréche, ou tréxe, em vernáculo lusitano): o tal senhor Éle, cujo nome de batismo é Luifináfio, quer porque quer que a Vale do Rio Doce nomeie seu presidente o tal Margarina (ou é Manteiga? - não sei), e os donos da Vale, contrariando-o, disseram que não, não o nomearão seu presidente (ou diretor, sei lá eu), e que não é não, e à insistência do homem sem pecados, a alma mais honesta do Brasil, o marido da primeira-dama, pendulando-lhe diante dos olhos e do nariz o indicador direito, modulando a voz, a ela emprestando tom ligeiramente agudo e infantil, disseram-lhe, terminantemente: "Na na ni na não." E o tal Éle, aquele que melhor interpreta o sentimento de esperança do povo brasileiro, fez bico, ou beiço, não sei ao certo -&nbsp; as informações que me chegaram ao conhecimento, mas não ao entendimento, são desencontradas -, bateu pé, mostrou a língua para a Vale, e jurou vingança: "Não querem fazer o que eu quero que façam, então deixa estar jacaré: a lagoa há se secar." E desde então a Vale está a enfrentar algumas inexplicáveis dificuldades. Este é o sinal que o Homem de Nove Dedos está a exibir para todos os empresários brasileiros: Submetam-se à minha vontade, ou terão sarna para se coçar.

E a Petrobrás, caro escritor? - pergunta-me o leitor, meu querido e estimado leitor. Da Petrobras pouco sei. O que me veio a saber eu soube, assim, por cima, ao assistir a um vídeo: não sei quem, parece que o atual diretor da Vale, ou ministro sei lá eu das quantas, e o nosso querido marido da primeira-dama disseram o que não deviam dizer, e a Petrobras perdeu, assim, da noite para o dia, num piscar de olhos, num estalar de dedos, antes que qualquer pessoa pudesse dizer "a", uns não sei quantos bilhões de Reais. O valor das ações da maior empresa brasileira caiu, despencou, precipitou-se no precipício, foi ao chão.

Quem diria?! Quem poderia imaginar que o tal Éle faria das suas (e as das suas são dele, não nos esqueçamos).

E chegamos ao Uber. Melhor: o Uber chegou até nós. Embarquemos no Uber.

Não sei se já foi, se será: está para se decidir - ou já se decidiu - se há vínculo trabalhista entre as empresas de aplicativos de transporte de pessoas e os motoristas, estes empregados daquelas. E regras, decididas em acordo sindical coletivo, sob a luz de famigerada lei getulista, inspirada em lei mussolinista, terão de ser respeitadas pelas empresas: jornada de trabalho de não sei quantas horas diárias e quantas semanais, recolhimento de fundo de garantia, remuneração mínima mensal, férias e outras coisinhas mais. Em quanto tempo estará no Brasil o mercado de transporte de pessoas exterminado?! Não sejamos apocalípticos. Sobreviverão os taxistas,e as grandes - dentre elas a Uber, a maior delas - empresas do setor de aplicativos de transporte de pessoas. Não me sai da cabeça um pensamento, que me coça o cérebro, irritantemente: é do interesse das grandes do setor as regulamentações estatais, que dificultam a vida das pequenas, que, não podendo assumir os compromissos legais, quebrarão. E assim forma-se mais um monopólio, ou oligopólio, o Estado, declarando-se bom samaritano, a atuar em favor do povo, e a favorecer, sem que os desavisados percebam, os grandes empresários, que, presumo, não querem saber de livre-mercado.

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Uma frase de sabedoria implícita.

Se tudo der certo, nada dará errado.

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Recruta Zero - O Touro do Baile (Mort Walker's Beetle Bailey - The Bull of the Ball) - desenho animado.

Os recrutas também amam. Parece título de filme, mas não é, entretanto, porém, todavia; é a síntese de um capítulo da vida do mais famoso recruta americano, o Zero, que, apaixonado pela bela Pany, que, além de rejeitá-lo - é ele, nada mais, nada menos, do que um recruta, e ela, muita areia para o caminhãozinho dele, merece mais, muito mais do que ele lhe pode oferecer -, lança-se aos braços de um ricaço, que a vai buscar, num carro luxuoso, um castelo sobre quatro rodas, para levá-la ao baile de máscaras. Rejeitado, cabisbaixo, recorre o recruta a Cosme, tal qual ele um recruta, e solicita-lhe um conselho para conquistar as mãos da mulher amada, retirá-las das do ricaço, este, um inimigo que o bravo Zero decide enfrentar. E ambos os recrutas ao baile, fantasiados, dirigem-se; e no salão aparece um touro, um touro extraordinariamente estranho, galhado, que de bovino, melhor, de tourino, nada tem, e que, ao contrário do que se possa imaginar, a ninguém impõe medo, mas riso.

E quem é a rainha do baile?E quem é o rei? Deixo estas perguntas no ar.

Quem ao episódio assiste se surpreende com esta extraordinária aventura da história militar americana.

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Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda - Verei se eu estou lá ("I'll see if i'm there.").

Numa era de cavaleiros - não sei se andantes, pois a aventura não é da Mancha, e cervantina tampouco, todavia tem ares, dir-se-ia, quixotescos - e de magos e de reis e de princesas, quando todos os eventos históricos relevantes sucediam-se no interior dos castelos reais, principalmente nos seus recantos mais obscuros, o mais famoso dos reis bretões, o Arthur, vê-se às voltas com a encantadora Morgana Le Fey, e bate-se com o Cavaleiro Negro. Conhece da pérfida Albion, a escandir poemas escritos num inglês arcaico, gutural, selvático, uma reconstituição histórica magistral quem se põe a assistir a tão arrojado, iconoclasta, e divertido, e herético, relato dos heróis bretões dentre os mais dignos dos de seu panteão.

Na aventura estão, além dos já mencionados Arthur, o rei, e o Cavaleiro Negro, seu rival, e a feiticeira fatal diabolicamente sedutora, Morgana Le Fey, o mago Merlin - que só encontra rival no Mandrake, este do século XX - a bela rainha Guenevare - a mais bela de todas as rainhas, as reais - e o vaidoso e narcisista Sir Lancelot.

Nesta reconstituição, que se acredita fiel aos fatos históricos e aos poemas heróicos do povo bretão, vê-se de tudo e mais um pouco da era retratada, e retratada com espírito do Monty Python, e do que se vê ri-se, de tão hilário, e divertido, é o retrato que se dá das personagens que aqui cuidam os produtores do desenho animado tratar.

Alguém há de dizer, em tom de reprovação, ao buscar neste desenho animado informações para as inserir, em um trabalho escolar, cujo tema é a Inglaterra do período dos menestréis, das bruxas, dos magos, do rei Arthur, do Robin Hood, que ele não tem apuro histórico. E em que apuros irá se pôr quem tal observação ousar apresentar! É provável que Morgana Le Fey, com um dos seus feitiços magias e bruxarias, irá transformá-lo num sapo, ou em uma criatura ainda mais peçonhenta. E não terá Merlin para o proteger. Talvez Merlin alie-se à Morgana...

Eu só posso dizer que nesta aventura Guenevare, a mais bela das rainhas, perdeu sua beleza, e que o menestrel não pôde, a bordo de um barco, atravessar o fosso que circunda o castelo, e andando tampouco, e que há uma luta os contendores a fazerem de armas esfregão e sabonete....

Nada mais digo, para manter a discrição, e permitir que o leitor, caso ainda não tenha ao desenho assistido, e desejando assisti-lo, descubra por si mesmo o que no desenho há para se descobrir.

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Um gênio das Arábias.

Conta Manuel Beninger, no primeiro dia de Setembro de 2.023, em sua página facebookiana (ou devo regitrar feicebuquiana?), que há uns mil anos um tal de al-Biruni mediu o raio da Terra, a nossa querida Terra, que é quase toda água, o nosso estimado planeta azul, com acurária que resvala os 100%. E tal feito se fez há mil anos! E quase ninguém ouviu, em todo o orbe terrestre, e nem em outros orbes conhecidos e desconhecidos, diriam os jornalistas do maior hebdomadário digital de que se tem notícia, falar de tal homem, um gênio, um polímata, cujo berço está no Afeganistão, um poderoso intelecto, o al-Biruni, que estudou Geografia, Física, Matemática, Astronomia, História.

E de quantos outros homens ilustres não ouvimos jamais o nome?!

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Uma aula de Língua Portuguesa com Chico Viana: A tal Hipálage.

Aprendi, ao ler um texto de Chico Viana, publicado, no Facebook, dia 31 de Agosto do agitado ano de 2.023, o que é hipálage. Dá o autor um bom exemplo, que ilustra a explicação, esta, professoral, didática, na medida certa. É este o exemplo: "Enfiou o chapéu na cabeça." Não seria o correto dizer: "Enfiou a cabeça no chapéu."? Assim, há lógica, não há?! Quem usa da hipálage, mesmo usando da lógica elementar, natural, direi, ao expressar-se, fazendo-se entender por toda e qualquer pessoa, na frase não respeita a exposição lógica, correta, das palavras.

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