domingo, 31 de dezembro de 2023

Piruás e farelos

 Piruás e Farelos - volume 23.

A bela mulher e o olhar atrevido.

A bela mulher, exuberante espécime feminil, de atavios naturais de embasbacar todo macho da sua espécie e inspirar inveja e admiração às outras mulheres, trajada com vestes sumárias, uma camisa que dela deixava descobertos os braços, a barriga e metade das costas, e um short azul que lhe respeitava as formas maravilhosamente esculpidas pelo Criador e não se preocupava em cobrir-lhe as cochas carnudas, andava, melhor, desfilava, pela calçada, à frente de uma lanchonete, e atraia olhares de todas as pessoas. Ia, altiva, nariz empinado, até que, de repente, deteve-se, e encarou um homem, que, de queixo caído, boquiaberto, a lamber os beiços, alumbrado, fitava-a, e disparou-lhe à queima-roupa:

- Por que me olhas?! Nunca viste mulher?! Para de me olhar!

- Só estou a olhar...

- Tu não tens a minha permissão para me olhar.

- Não estou te olhando.

- Tu me encaravas!

- Encarava-te eu?! Eu não olhava para a tua cara.

- Tu fitavas o meu corpo. Não te dei permissão para me olhar, para olhar para o meu corpo.

- Eu não olhava para o teu corpo.

- Não te dei permissão para me olhar.

- Eu não te olhava. Eu olhava para o teu shorts. É bonito. Onde o compraste? Vou comprar um igual para a minha namorada.

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Eduardo, o julgador maledicente.

Dia 1: "Aquele tal de Marco Aurélio é um garganta, convencido pra dedéu. Acredita ser a última bolacha do pacote. O sujeito é meio burro, e se acha o Einstein. Pensa que é o rei da cocada preta, mas é apenas o escravo do serviçal do criado do bobo da corte. Tipinho sem noção."

Dia 2: "Encontrei-me, ontem, com a Manuela. Que mulher! E que marido ela tem! Ela, um peixão! Pula a cerca, a moça. E o Paulo mal desconfia, coitado! Disseram-me umas e outras dela, histórias de pôr qualquer pessoa de cabelos em pé, histórias de fazer Calígula morrer de vergonha. E o Paulo?! Meu Deus! Ele é dos mansos. E os mansos herdarão o reino dos céus. O Paulo é um trouxa, um paspalho. Cego que só ele. Dizem que o marido é sempre o último a saber das aventuras da mulher. Só sei que o Paulo, metido à besta que só ele, é um banana. Até da Manuela ele apanha."

Dia 3: "O Emerson, vagabundo de primeira, que só quer saber de sombra e água fresca, sujeitinho que não chove e nem molha, e não ata e não desata, de férias, vai a Ubatuba pegar onda, banhar-se ao Sol, bronzear-se,descansar. Descansar?! Está cansado de que aquele morcego?! Trabalha num escritório, sentado, o dia todo, numa cadeira confortável, diante de um computador, a digitar letras e números sem conta. Que trabalhão! Eu gostaria de estar no lugar dele. E ele diz que trabalha! Trabalha?! Ficar o dia inteiro digitando letras e números é trabalho?! Só se for na terra daquele vagabundo!"

Dia 4: "O vizinho meu, o da direita, é um besta quadrada. Vendeu o carro pela metade do preço de mercado. Burro! Diz ele que o carro lhe dava muita despesa, que ele não podia manter, daí vendê-lo por preço abaixo da tabela. Papo furado. Ele fez besteira, mas não quer dar o braço a torcer. Sendo filho de quem é, não me surpreende que faz o que faz. Uma besta de gente."

Dia 5: "Se não me segurassem, hoje de manhã, eu arrebentaria a cara do Sérgio, aquele desgraçado, aquele zé-mané que não tem nem onde cair morto. Quem ele pensa que é?! Quem?! Aquele imbecil falando de mim pelas costas! Acheguei-me à porta do bar no Chico Bigode de Bode bem na hora de ouvir o Sergio dizer: "O Eduardo, mexeriqueiro e bisbilhoteiro que só ele, e todos lhe conhecemos a proverbial maledicência, fala cobras e lagartos de todo mundo. É um maldito embusteiro que vive de difamar, de infamar, de caluniar, de maldizer meio mundo. Tem peçonha na língua, aquele diabo. Ontem, ele..." Não aguentei ouvir mais uma palavra saída da boca daquele ser ridículo, patético, desmazelado, que não tem onde cair morto! Entrei como um furacão no bar do Bigode, fui para cima do Sérgio, jogando-lhe na cara palavrões e mais palavrões. Se não me segurassem... Quem me segurou, não sei. Mas se não me segurassem eu não responderia por mim. Com um soco bem encaixado nas fuças do Sérgio eu o mandaria, aquele estrume! desta para a melhor! Ah! Se mandaria! Para a sorte dele, seguraram-me! Quem ele pensa que é para falar de mim o que fala?! Quem?!"

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Adão e Eva, a história verdadeira, que a Bíblia não conta.

Deus esculpiu Adão, um tipo grosseiro, rústico, mal acabado. Depois, Eva, e tão belamente que ela ficou do jeito que o Diabo gosta.

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Dom João VI.

Ao contrário do que dizem os mexeriqueiros de má-fé, Dom João VI é um herói brasileiro. É o que nos ensina Oliveira Lima no livro Formação Histórica da Nacionalidade Brasileira.

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Brasil

Desemprego

Em 2.018 = 12,3 %.

Em 2.022 = 7,9 %.

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Brasil

Assassinatos

Em 2.018 = 57.956.

Em 2.022 = 47.500.

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Os Seguidores da Ciência seguem a ciência de tão longe que nem conseguem vê-la.

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O fascista Mussolini, o nazista Hitler e o comunista Stalin jamais concederam aos italianos, aos alemães e aos russos o direito à posse e ao porte de armas e à legítima defesa.

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Na Itália de Mussolini, na Alemanha de Hitler, na União Soviética de Stalin e na China de Mao os italianos, os alemães, os russos e os chineses não tinham o direito de estudarem, à margem do Estado, em casa.

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Raphael Lamkin, advogado judeu-polonês, o criador da palavra "genocídio", entendia que genocídio é uma política organizada, sistemática, cujo fim precípuo é, a própria palavra ensina, o extermínio de um povo.

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Quatro comédias antigas de fazer chorar de tanto rir: de Harold Lloyd, duas: Hey There! (1918) e An Eastern Westerner (1920); de Buster Keaton: One Week (1920); de Charlie Chaplin, One AM (1916).

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Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrascesco Guarnieri, é um panfleto ideológico da pior espécie. Seus personagens, rasos, unidimensionais; o roteiro, esquemático.

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Martini Seco, conto que Fernando Sabino conta, é divertidíssimo. Dir-se-ia uma paródia dos livros de Agatha Christie.

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Não é correto chamar a Linguagem Neutra de Linguagem Neutra porque Linguagem Neutra é feminino. E feminino é masculino. Que confusão dos diabos!

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Por que sempre que um avião cai em terra firme diz-se que ocorreu um acidente aéreo se o acidente aconteceu no chão?! O mesmo se diz quando o avião cai no mar ou no rio ou no oceano. Não faz sentido algum.

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Bolsonaro e Lula.

Dizem os críticos do Bolsonaro, desdenhosos, que ele é inculto, ignorante, apenas um paraquedista.

E o Lula? Ora, o Lula nem paraquedista é.

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É possível escrever uma frase usando linguagem neutra?

Uma frase preconceituosa, machista: "O homem comprou um carro."

Vamos convertê-la para uma linguagem que não contenha nenhum ingrediente desprezível, preconceituoso, machista, isto é, vamos escrevê-la em linguagem neutra.

Assim, logo de início substitui-se o artigo "o", que é masculino, por um artigo que, não sendo masculino, e feminino tampouco, seja neutro, isto é, que não aponte para um sujeito nem masculino nem feminino. Neste caso, usamos o artigo... o artigo... "o artigo" é masculino, diabos! Qual artigo?! Não há um que seja neutro. Então, neste caso, especificamente neste caso, substitui-se o artigo por um numeral. Qual?! O "um". Mas "um" é masculino; se é masculino, não serve. Então... então... então... Eureka! Suprimamos o artigo da frase; e não ponhamos um numeral no seu lugar. E fica a frase sem um artigo. Pra que artigos, se artigos foram inventados por gente preconceituosa?!

Agora, o substantivo "homem", que é masculino, e, porque masculino, não serve. Então, substituamo-lo por "pessoa". Mas "pessoa" é feminino. Então, fica "ser humano". Mas "ser humano" é masculino. Então, o substantivo, que é o sujeito da frase, "homem", se não tem um substantivo neutro que possa substituí-lo, fica de fora da frase. Pra que substantivos, se os substantivos foram inventados por gente preconceituosa, machista?!

Agora, o verbo "comprar" no pretérito, isto é, "comprou". "Comprou" é neutro; então fica. Estamos indo bem.

Agora, o numeral "um", que é masculino. Não havendo um numeral que, indicando o singular, seja neutro, então... Pra que numeral singular, se numeral singular foi inventado por gente preconceituosa, machista?! Suprimamos o "um".

Agora, o substantivo "carro", que é masculino. Substituamo-lo por "veículo", que é masculino. Por "automóvel", que é masculino. Melhor excluí-lo. Pra que perder tempo, que é precioso?!

Encerramos o nosso heróico trabalho.

Vejam que beleza!

A frase original, constituída de cinco palavras, reduziu-se à uma frase, e frase sem preconceitos e sem machismos, de uma palavra só, "Comprou.", e assim, facilitando a comunicação entre as pessoas, une o útil ao agradável. Não tenho dúvidas: linguagem neutra é coisa de gênio!

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