quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Piruás e Farelos - volume 21

 

Piruás e Farelos - volume 21.

Há socialistas socialistas?

Estou para conhecer um socialista, esquerdista, marxista, comunista, o diabo-a-quatro, que queira o ideal que ama de paixão, o socialismo-esquerdismo-marxismo-comunismo-diabo-a-quatro, para si mesmo e não para os outros. Vê-se por aí e por aqui e por acolá e além gente a defender tal ideal e a jamais viver de acordo com ele. Tal gente, que é de ver o diabo encarnado nos capitalistas e uma desavergonhada desumanidade consumir coisas e mais coisas que eles produzem e vendem, vive de consumir coisas que eles produzem e vendem, e coisas aos punhados, e não apenas uma ou duas. Não sabe tal gente idealista que ao comprar coisas está a enriquecer os capitalistas?! Não sabe, não, pois é incapaz de unir lé com cré. Ora, se tal gente acredita que arroz nasce em gôndolas de supermercados!

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É rica a literatura brasileira? O quão rica ela é?

Não sei se é rica, maravilhosamente rica, a literatura nossa, a brasileira, escrita em língua de Camões e Padre Vieira e João de Barros, venha ela bem ou mal cuidada, não importa. Não sei se se ombreia a literatura brasileira, a nossa, com a portuguesa, mais antiga de séculos, e com a francesa, a inglesa, a alemã, a italiana, tão antiga quanto à lusitana, ou mais - as antigas conservam o vigor, o viço da juventude, ou estão valetudinárias? Sincero, afirmo que não tenho formação literária, tampouco talento, para empreender a tarefa ingente, a de comparar as literaturas nacionais, e avaliá-las, e detectar nestas valores superiores àquelas. Ora, já vi críticos literários se baterem porque não se entendem quanto ao valor literário, cultural, histórico, estilístico, daquele e deste livro, e difamarem-se, esmurrarem-se porque não têm o mesmo apreço por este e aquele escritor. E estou a falar de críticos literários de formação invejável, e não de qualquer zé-mané que, porque aprendeu, ontem, o be-a-bá da literatura, se tem, hoje, na conta de gênio universal da crítica literária.

Independentemente de ser, ou não ser, eis a questão, a literatura brasileira, que é nossa, das maiores que há, tem ela, não se pode negar, e sabe quem já leu um bom punhado de livros de escritores brasileiros, obras de valor inestimável, que, não erra quem tal afirma, rivaliza-se com os seus similares portugueses, franceses, ingleses, italianos, russos e os de outros povos igualmente antigos, ou mais. Ninguém há de negar valor às obras de Machado de Assis, Herberto Sales, Graciliano Ramos, Josué Montello, Lúcio Cardoso, Clarice Lispector, Gustavo Corção, e tantos outros.

Não temos, é verdade, uma Odisséia, uma Divina Comédia, um Dom Quixote, um Crime e Castigo, um Hamlet, mas temos Brás Cubas, Angústia, O Fruto do Vosso Ventre, Lições de Abismo.

E há literatura policial escrita por brasileiros? E de terror? E de espionagem? E de fantasia? E de ficção científica? E romance histórico? E de aventuras? Verdade: nestes gêneros, a literatura brasileira deixa muito a desejar.

E nos contos está a literatura nossa bem representada, ninguém há de dizer o contrário. É nosso o Machado de Assis, um dos melhores contistas que o mundo já viu.

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Adão e Eva.

Desperto de uma prolongada soneca - dizem as más-línguas que após uma carraspana dos infernos -, Deus, estremunhado, a espreguiçar-se distendendo-se a ponto de romper os ligamentos, e a bocejar longamente, olhou, inadvertidamente, para o Éden, e viu Adão a andar cabisbaixo, desenxabido, caídos seus ombros, a pontapear pedrinhas inocentes. Ia o primeiro homem tão desanimado, tão tristonho, tão angustiado, que Deus, dele se condoendo, viu por bem arrancar-lhe uma costela e com ela esculpir uma mulher - que na pia de batismo viria a receber o nome Eva - a qual lhe daria para companheira e com a qual ele viveria para todo o sempre, amém. Eva foi mais uma das divinas obras de Deus, que foi tão perfeccionista ao esculpi-la que fê-la do jeito que o diabo gosta.

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Educação em casa e Bolsonaro e o anti-bolsonarista.

- E aí, bozominion, cê viu o desastre que é a educação em casa, idéia ridícula que o seu mito, o Inominável, o Inelegível, defende, e que você, dele um gado, também defende?! Viu?! Mais de setenta por cento dos alunos que se formam à conclusão do fundamental não sabem da Matemática o básico e mais de cinquenta por cento de Português o mínimo. 'tá feliz com a idéia de educação em casa que o Mito quer para todos os brasileiros, 'tá?!

- Tu és uma besta, e das bem quadradas. Antes de qualquer outra coisa, carinha, tu, na altura de tuas quarenta velas apagadas no teu mais recente aniversário, de Matemática não entende um pingo. Quem foi que, enroscando-se, ontem, com uma divisão, recorreu à calculadora?! Tu. E tu ganhaste o teu precioso diploma universitário em dois mil e bolinhas, em algum ano qualquer do governo Lula. E não és tu que desconheces a ortografia de "sucessão"?! Não foste tu que escreveste, num rascunho, "sucessão" com dois cedilhas, um no lugar do ce e um no dos esses?! E "açucar", como se escreve?! Com dois esses no lugar do cedilha, não é mesmo?! Agora, vem aqui, cabeça-de-ostra: o presidente Jair Messias Bolsonaro jamais quis impor a política da educação em casa, que em inglês recebe o nome homeschooling, a todos os brasileiros; para ele, e por extensão para os bolsonaristas, tal política é optativa: quem quiser estudar em casa, tendo meios para o fazer, que o faça. E o que se viu durante ao que se convencionou chamar epidemia do covid (era histórica que de um amigo meu, que eu quero muito bem, ganhou um sugestivo, e apropriado, nome, Triênio da Histeria)? Todos os alunos foram obrigados a estudarem em casa, quem quis e tinha os meios para o querer, e quem não quis porque meios não tinha. Há uma grande diferença entre a proposta do presidente Jair Messias Bolsonaro e o que se promoveu nos anos do Triênio da Histeria. Percebes a diferença?!

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Lula disse uma verdade, e jornalistas apressam-se, celeremente, açodados, para dizer que o que ele disse não é bem o que ele disse. E agora, José?!

Lula disse com todas as letras do seu rico repertório, uma cornucópia de abundantes figuras de retórica, e com outras que os homens sapiens e as mulheres sapiens jamais desconfiaram que

existem, com sua voz argentina, conquanto não seja ele um argentino, com o talento que herdou de Demóstenes, que o Flavio Dino é um comunista e que ele, o excelentíssimo senhor Lula, está extraordinariamente feliz, sentindo-se no sétimo céu, ao tê-lo nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal. E mal havia encerrado a sua festiva manifestação pública, os bolsonaristas e os olavistas, grupos, ambos estes dois, que, não se bicando, vivem de se estapearem, trataram, como quem diz "Ouviram?! O que foi que eu disse?! O comunismo não acabou! Os comunistas vão destruir o Brasil!", de esculachar os esquerdistas. E desavergonhadamente, e constrangedoramente, jornalistas apresentaram-se ao proscênio do teatro político nacional para explicar o que o Lula disse: o Lula não disse o que disse com a seriedade que se pede ao se dizer o que se diz publicamente se se está a falar de uma coisa, tal qual o comunismo, deveras importante e que envolve infinitas singularidades e contrastantes interpretações, que decorrem, as singularidades e as interpretações, da inabarcável complexidade da coisa da qual se diz o que se diz sem a seriedade que se pede ao se falar dela, sem a ciência de sua existência e da possibilidade da sua concretização, isto é, da implementação de uma política, a comunista, que, sabe-se, não é de realização possível, no Brasil, afinal, não existindo o comunismo, e desde que lhe decretaram os comunistas a sua morte, não pode haver comunismo, nem comunistas, nem um ministro comunista, nem idéias comunistas, pois o comunismo não é possível de fincar raízes no Brasil porque o comunismo não pode se estabelecer devido às peculiaridades culturais e históricas da sociedade brasileira e às idiossincrasias ontológicas do homem brasileiro.

Se entendi bem o que os jornalistas disseram, foi isso. Se não entendi, paciência.

Com toda franqueza, neca de pitibiriba, nadica de nada, nem uma vírgula entendi do que os jornalistas que se precipitaram a declarar que o que o Lula disse foi mal interpretado pelos brasileiros, e coisa e tal, e que ele, ao dizer o que disse, alimenta uma paranóia bolsonarista, aquela que ensina que o comunismo, não estando morto, ameaça a existência do Brasil.

O quão servil, o quão boçal, o quão pusilânime, o quão asquerosa, é a pessoa que se presta a fazer um papel tão constrangedor, tão patético, o de sair em defesa do... Do Lula?! Os jornalistas que disseram que ele disse o que disse apenas por brincadeira estão a defendê-lo, ou estão a receber ordens do chefe dele?! Já não entendo mais nada! Aliás, eu já não entendia nada, mesmo, e agora, após presenciar episódio tão vergonhoso, que faria as delícias de Aristófanes e Moliére, entendo menos ainda.

E não posso encerrar este farelo sem dizer que os fazoéles, ao conhecerem o teor das palavras presidenciais do molusco mais famoso da terra dos papagaios e das maritacas, gelaram de medo, certos de que teriam de se explicar, especial, e principalmente, os militantes dados a sabido que entendiam que o comunismo deixou de existir assim que puseram o muro de Berlim abaixo.

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Homo sapiens, parem de respirar! A respiração provoca o Aquecimento Global.

E não deu outra: respirar aumenta em não sei quantos por cento as chances de ocorrer um cataclisma apocalíptico de pôr o Ragnarok no chinelo. Respirar?! Sim. Respirar. O ser humano respira. E há oito bilhões de seres humanos na Terra - e sabe-se lá quantos em outros planetas. E todos, estando vivos, respiram; se respiram, produzem ceódois; se produzem ceódois, intensificam o efeito estufa, que deveras estufa a Terra, que de há muito está enormemente estufada, e que, por consequência automática e inevitável, acaba por aumentar a temperatura terrestre, isto é, a favorecer o Aquecimento Global. Acreditava-se, até há pouco tempo, que os militantes ecochatos se resumiriam a sacrificar as vacas flatulentas no altar da Mãe Gaia. Agora, querem eles o sacrifício dos humanos, tanto dos homens sapiens quanto das mulheres sapiens, todos a saudarem a mandioca, muitos deles flatulentos.

Entendo que até o presente momento dizem que a contribuição ao Aquecimento Global do ceódois que os humanos expelem na atmosfera é ínfima, insignificante, desprezível. Mas daqui quanto tempo as pesquisas, que cientistas renomados empreendem, indicarão que é da ordem de uns 50% o ceódois expelido pelos humanos na composição do total de gases que causam o Aquecimento Global?! Se a carruagem ir na toada que vai, não estará longe o dia em que políticos irão propor um sorteio a decidir quem sacrificará a própria vida pelo bem da Terra. E ai de quem se recusar a participar de tão justo sorteio - de cartas marcadas, é claro.

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