segunda-feira, 4 de setembro de 2023

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Piruás e Farelos - volume 5.

Franz Kafka, e o ráquer, e as câmeras do Oito do Um, e o gópi-de-estado-atrapaiado.

Eita! Agora vai! Aonde vai o que está indo para algum lugar, não sei. Sei que estamos numa distopia kafkiana elevada à enésima potência, e tão atrapaiada ela é, que não sei se rio, se choro, se choro de tanto rir, se rio de tanto chorar.

Chegou-me ao conhecimento, leitor, que me é muito caro, e ao teu conhecimento também, presumo, que o governo brasileiro desconhece a tecnologia do backup. Sim. Vê, leitor querido e amado: o nosso amicíssimo ministro da justiça disse, há pouco, com a sua proverbial eloquência ática e barroca, pingada de alguns elementos, raros, para o nosso bem-estar, gongóricos, que ele, vê! não pode apresentar a quem de direito as imagens que as onipresentes câmeras de vigilância do interior das instituições mais caras, caras porque dispendiosas, do Brasil gravaram devido a um senão técnico absurdamente importante que, não se sabe exatamente porque cargas-d'água, negligenciaram as autoridades competentes, que se revelaram incompetentes: as câmeras conservam na memória do agádê as imagens gravadas por no máximo quinze dias, e vencido este prazo são substituídas por outras imagens, que por sua vez... Tu me entendeste, leitor. Memória fraca tem o agádê das câmeras do governo, né, não?! Se os elefantes as houvesse inventado! Sabe-se que eles têm boa memória - se é verdade, se história da carochinha do arco-da-arco do tempo do onça, não sei.

Mas... Vê! Bem que o governo, ciente da escassa memória do agádê das câmeras, poderia providenciar, já no dia nove do um, uma cópia das imagens que elas gravaram. Cópia, ou, em vernáculo castiço de Shakespeare, bécape. Tal tecnologia está à disposição de todo ser vivente que não tenha penas, seja mamífero, e bípede, e conte, caso saiba contar, com trinta e dois dentes dentro da boca.

E como é que fica, agora, a tal da Cepeí, esta senhora barraqueira e mexeriqueira, que mais do que ninguém sabe rodar a baiana e arremessar substâncias fétidas no ventilador, do dia Oito do Um?! Quem sabe?! Não havendo imagens que possam vir a pôr cada pingo do seu respectivo i e dar para cada boi o nome que lhe compete, fica a dito pelo não dito, e que se dane o Benedito, e o J. Pinto Fernandes, que entrou na história sem que alguém o tivesse chamado. Enxerido sem ser querido ele é!

- E o ráquer, mané?! - pergunta-me o leitor.

Ah é! Esquecia-me dele! Perdoa-me, leitor. Tenho memória fraca. Meu cérebro já está gasto de cinquenta anos. Paciência.  Do que o passarinho me contou, sei que o ráquer e o seu adevogado, um abacate - piada infame, que aprendi com o Foggy Nelson - são bem atrapaiados, de fazerem rir Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.

E cá entre nós, leitor: o gópi-de-estado que os bozinhos planejaram foi bem atrapaiado, não foi, não?! Se querem aprender a executar um golpe-de-estado, e dos bem dados, que eles consultem os nigerinos e os gaboneses.

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O equino taradão. Brasil, terra de boas escolas.

Não quero, aqui, neste piruá, dar a entender que entendo o que não entendo, e que não entendo o que entendo tampouco.

Veio-me - de onde me veio não anotei a placa - a saber que em algum canto do Brasil há gente que acredita que o mal do Brasil está onde não devia estar: na escola. Quem poderia imaginar, hein?! Na escola?! Ora, sabemos todos os seres viventes que tem o Brasil o melhor sistema educacional de que se tem notícia, sistema educacional que os japoneses, e os finlandeses, e os sul-coreanos invejam. Eles morrem de raiva sempre que lhes contam que tem o Brasil um sistema educacional melhor do que os deles. E de raiva eles morrem por quê?! Ora, porque eles sabem que o que sabem é a mais pura verdade, a verdade verdadeira. Só as más-línguas, só os espíritos-de-porco, só os de má-fé recusam-se a reconhecer a majestade do sistema educacional brasileiro, que conta, todo ano, indefectivelmente, com investimentos da ordem das centenas de bilhões de Reais.

Qual outro país, queridíssimo leitor, tem, nas escolas, equinos tarados e outras criaturas mágicas?! Nenhum! Nenhum!

Oxalá um dia, num futuro próximo, os japoneses e os sul-coreanos e os finlandeses, dando mãos à palmatória, em vez de bufarem de raiva toda vez que ouvem falar da maravilha que é o sistema educacional brasileiro, que lhe copiem os métodos pedagógicos, foras-de-série e de outro mundo de tão perfeitos.

E tenho dito. E que se lasque o Benedito.

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Por que há brasileiros desgostosos com o Brasil, se temos picanha para dar e vender?!

Não vejo razão para a sem-razão, um tanto quanto irracional, do desgosto e da frustraçao e da desilusão daqueles seres viventes que estão a se empanturrar de picanhas metafóricas. Ora, metáforas são nutritivas. Não só de pão vivem os homens, e as mulheres tampouco. O que seria dos bípedes que não têm nem penas nem bico se não lhes nutrissem o espírito suculentas metáforas?! O que seria dos poetas se ninguém as houvesse inventado?! Homero não teria se ocupado com a sangrenta guerra de Tróia e com o périplo de Odisseu, e Dante não teria, Virgílio a ciceroneá-lo, descido ao inferno - e ao inferno dantesco, o mais infernal dos infernos! (E por que Virgílio ciceroneia o senhor Alighieri?! Tão ingente tarefa - um cacófato, que revela a minha malícia, meu Deus! - não seria da incumbência de Cícero?!), e Camões, o nosso magnífico Luís, nada escreveria acerca do grandioso Adamastor.

Agradeçamos aos céus as metáforas que nos dá a energia de que precisamos para arrostarmos, com galhardia, as vicissitudes da vida.

E que venham os poetas, que se multiplicam a olhos vistos, pois há, hoje, no Brasil, mais do que em qualquer outra época de sua pentacentenária - ou quinquicentenária, como queiram - história, metáforas suculentas e nutritivas!

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As terras do Brasil são dos índios.

Juro que não entendo uma idéia que, entendo, não é para ser entendida: As terras que estão, hoje, sob jurisdição do Estado brasileiro, pertenciam, antes de Pedro Álvares Cabral nelas pousar, há quinhentos e vinte e três anos e alguns dias, os pés, aos nativos, que os filhos, netos e bisnetos dele delas expulsaram, e, portanto, aos descendentes daqueles povos primitivos, hoje não tão primitivos como os seus ascendentes,  pertencem hoje, mesmo que sejam os seus donos outros bípedes implumes que não eles, e assim sendo a eles têm elas de serem entregues. O brasileiro que está de acordo com tal idéia já procurou saber se tem instalada a sua casa dentro do território brasileiro, e, não sendo descendente de nenhum dos povos que em terras brasileiras viviam antes da chegada dos lusitanos, e sabendo que sim, que está a sua casa em área tupi, já ajeitou numa trouxa, disposto a restituir aos verdadeiros donos das terras que ocupa, os trens, e já providenciou a passagem para uma viagem, só de ida, para terras do outro lado do Atlântico?! Ah! Entendi. As terras que têm de ser restituídas aos tataranetos dos homens e mulheres que viviam, como vieram ao mundo, antes das caravelas européias se anunciarem no litoral do continente que veio a ser o Novo Mundo, são as dos outros, as dos outros.

No desejo de ficarem bem na fita, muitos brasileiros estão a dar tiros nos próprios pés. Não lhes caiu a ficha, ainda - e talvez ela jamais lhes venha a cair tão refratários são ao bom-senso.

Houve uma época, de triste memória - e qual época não é de triste memória?! -, em que lusitanos, e tupinambás, e franceses, e tupiniquins, e espanhóis, e araras, e holandeses, e kanindés, e outros povos, viviam, em terras que os portugueses resolveram que à Coroa Portuguesa pertenciam, em pé-de-guerra, a trocarem socos e pontapés, e flechadas e espingardaiadas, a matarem-se uns aos outros. Enfim... Resumo da ópera: prevaleceu a força do mais forte, e não a fraqueza do mais fraco.

A história de antanho, do tempo do onça, de quando os humanos ainda não tinham inventado a lâmpada elétrica, e nem o navio a vapor, está escrita em livros sem conta, e possui versões que atendem a todos os gostos. E hoje está representado, em mapas geográficos, dentre os países da América do Sul, um país imenso, Brasil, terra em que se plantando tudo dá, principalmente tiriricas e traíras.

Que vivam, e vivam bem, em terras suas, do Brasil, os kariris, os canela apanyekrás, os mebengôkre kayapós, os pankararés, os uru-eu-wau-waus, os xakriabás, os cinta largas, os aranãs, e os outros brasileiros descendentes de povos que as terras brasileiras ocupavam antes de a caravela de Santo Antônio, e a de São Pedro e a de Nossa Senhora Anunciada apresentarem-se-lhes na linha do horizonte. Infelizmente, usa-se tais povos para prejudicar o Brasil e os brasileiros. E dentro do continente Brasil estão os genericamente denominados índios, que, usados como arma política, em favor dos quais dizem lutar pessoas que, pouco se lixando para eles, estão a defender interesses inconfessados, também serão imensamente prejudicados.

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Homens e mulheres são iguais?!

Se homes e mulheres são iguais?! Ora bolas! Homens têm coisas que as mulheres não têm e mulheres têm coisas que homens não têm. O que têm os homens que as mulheres não têm? Bobinho! Nunca viu mulher, não?! E o que têm as mulheres que os homens não têm?! Bobão!

Às vezes, talvez sempre, para tratar com seriedade as coisas sérias faz-se indispensável uma conversa ao estilo das de botequim, bebuns e manguaças a entortarem copos, a devorarem loiras geladas - não leve ao pé-da-letra esta frase, amado leitor -, a rodopiarem - melhor, a Terra a rodopiar, e eles, fortes e equilibrados, tais quais estacas fundamente fincadas em terra firme, em pé, verdadeiras fortalezas inexpugnáveis -, mas, como em tais colóquios, que contam com a inestimável, e infalível, participação de sábios socráticos, deitam-se a rolam-se os palestrantes a tagarelarem as suas asneirices - não raro divertidíssimas, digamos a verdade - vazadas num vocabulário que fere os ouvidos das pessoas de boa família, é-se obrigado a usar eufemismos e circunlóquios elegantes. E é o que proponho, aqui, neste farelo: um texto, que mais é a reprodução de um bate-papo franco e amigável contigo, leitor amigo.

Não raro, quem se põe a escrever um texto qualquer procura por um assunto elevado, e ao selecionar dentre os que lhe tangenciam a cachola um, o que entende saber superior aos outros, com o intuíto de dar-se ares de gente importante a tratar de coisa importantíssima, procura por vocábulos que empreste a importância que o assunto, entende, possui, assim fazendo-se de importante. Ora, toda pessoa já deve ter percebido, se dotada de um pingo de sensatez, que muita gente que se faz de importante importante não é, e os assuntos dos quais trata nenhuma importância têm, ou, se têm, dá-lhes um tratamento inapropriado.

Deixamos de lado o lero-lero, e vamos para o que interessa, sem meias-palavras, pois já enrolei demais a conversa - uma pergunta: Existe bom bate-papo que não tenha lero-lero?

Como esta nota nada mais é do que um farelo, então nela cabem poucas palavras, e as poucas palavras que lhe recheiam o ventre vêm a tratar do que está escrito em seu título: homens e mulheres são a mesma e única porcaria?! Não entenda, amigo leitor, que estou a dizer que são porcarias homens e mulheres; estou a querer dizer que são eles a mesmíssima coisa, simplesmente; a porcaria adicionada vai gratuíta, expressão corriqueira que nada mais expressa do que o quer dizer, isto é, nada.

Eis a celeuma: São iguais homens e mulheres? Iguais em que aspecto?! Físico?! Desconsiderando os braços, dois, que homens e mulheres têm, e as pernas, que os bípedes mamíferos e implumes também têm, e a cabeça, e as orelhas, e os olhos, e etecétera, homens e mulheres têm diferenças físicas bem significativas, bem salientes. A discrição em apreço à tua honra, leitor, impede-me de estender-me a falar do que tu já sabes. As diferenças entre homens e mulheres resumem-se aos aspectos físicos?! Toda e qualquer pessoa que já viveu mais de um minuto após a graça de vir à luz deve ter percebido que homens, via de regras, são mais violentos do que as mulheres, mais agressivos, mais inconsequentes, mais irresponsáveis, mais estúpidos. E quem diz tal sou eu, um homem.

O que me inspirou o tema deste farelo foram dois vídeos, um, trecho de um podcast - ou pódecaste, em vernáculo camoniano -, que traz uma linda lutadora de MMA, brasileira, o outro, que contêm várias cenas, todas curtas, de competições esportivas, homens e mulheres a compartilharem o campo de futebol, a pista de corrida, a quadra de tênis, o tablado (é assim que se diz?!) de um luta greco-romana (acho eu, ou outra modalidade de luta marcial).

Vamos, então, ao teor do primeiro vídeo: a lutadora, bela! divina! muita areia para o teu caminhãozinho, amado leitor, disse que gosta de treinar com homens mas, porém todavia, entretanto, há um porém: sendo, palavras da atraente lutadora, os homens mais fortes, mais rápidos, ela habituou-se a, nas lutas oficiais, contra mulheres, ficar na defensiva, o que lhe prejudicou o desempenho.  Para remediar o que, felizmente, ainda lhe tinha remédio, dispensou de seus treinos os homens. Saliento este ponto: uma lutadora, mulher lindíssima do meu coração, e não um lutador, afirmou, sem meias palavras, que os homens são mais fortes e mais rápidos do que as mulheres.

Agora, ao segundo vídeo: num campo de futebol, um homem, e um homem só, de uns sessenta anos, dribla várias mulheres, e manda a gorduchinha para o fundo das redes, e uma, duas vezes, e sem tomar conhecimendo das suas oponentes, incapazes de lhe fazerem frente. É patente a diferença de força e vigor físico, agilidade e rapidez entre ele e as mulheres. No trecho que exibe uma pista de atletismo, vê-se - e até os cegos conseguem ver - que os homens têm uma explosão muscular superior à das mulheres, e são muito mais rápidos do que elas. E na quadra de tênis, num outro trecho do vídeo, duas duplas, cada uma delas constituída de um homem e uma mulher, em lados opostos da rede, digladiam-se (atenção: não entenda "digladiar" com o seu significado comum), e os homens destacam-se: são mais rápidos, mais fortes - e as mulheres lhes não conseguem aparar o saque: a bolinha, após a raquetada masculina, passa como um foguete pelas orelhas delas. E, por fim, o trecho que exibe três lutadores, um homem e duas mulheres, num tablado, a lutarem, as duas mulheres contra o homem, e este a sobrepujá-las e pô-las para dormir - estou a usar uma hipérbole aqui. Encerrando, uma informação importante: as competições contaram com homens e mulheres que recebem igual treinamento.

Ora, sempre que desejamos saber de algo devemos observar o algo que está diante de nossos olhos, ou dar ouvidos a intelectuais que têm muita caca de galinha na cabeça?! Toda e qualquer ser pensante sabe o que tem há um palmo do nariz, mas se diz que vê o que está vendo é tachado, pelos sabidões e sabidinhos, de ignorante, preconceituoso, discriminador, pessoa que nada entende, pessoa que está ideologizada com esta e aquela ideologia, e coisa, e tal. E há quem insista que homens e mulheres têm equivalente potencial físico e, portanto, merecem igual tratamento nas quadras, nos campos, nos tablados, nos ringues, nos octógonos. Asneirice das grandes, não?! Mas, se a dizem doutores disto e daquilo, muita gente nela vê coisa verdadeira. É, ou não?! Se um doutor, e dos renomados, a ostentar títulos e mais títulos, prêmios e mais prêmios, diz que tatu é um peixe crocodiliano que voa, muita gente acredita.

E vivas às diferenças entre homens e mulheres!

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Da bestice.

Se o pai-dos-burros conhece a palavra bestice, não sei. Sei, todavia, no entanto, entretanto, que a bestice existe, é uma virtude da qual trilhões de homens sapiens e mulheres sapiens dela detentores - alguns, certos de a possuírem com exclusividade, irritam-se ao saberem que outros seus iguais com eles a compartilham - orgulham-se, justificadamente, de haverem com ela sido agraciados, no berço uns, outros no exato instante da concepção, ou pela natureza, ou por uma entidade celestial, mesmo que esta seja do inferno. E neste mundo de gente agraciada com tal virtude, há coisas do arco-da-velha, novas, coisas, estas, que os virtuosos seres presenteados com a bestice empreendem à exaustão, conquanto jamais se esfalfem ao empreendê-las, afinal é-lhes natural o exercício de tão ingentes empresas, para eles brincadeiras de criança.

De que tais coisas estou a falar neste artigo que, de espírito joco-sério, é mais sério do que jocoso?! De asneiras, isto é, ações nobres, que os agraciados com a bestice executam a três por dois, com a sem-cerimônia que a natural desenvoltura lhes permite. Ditas as palavras que estão acima desta, palavras que nada dizem, pois estão no texto para encher linguiça, unicamente, digo que, encerrando a conversa para boi dormir, dentre as ações nobres que a bestice inspira aos homens dela possuídos, seres superiores, estão a manifestação de apoio incondicional aos que têm na supressão de opiniões conhecidamente prejudiciais às liberdades democráticas, aquelas que os excelsos democratas sabem em prejuízo da harmonia social, uma política correta, e a defesa de política favorável às sofredoras vítimas da sociedade - sabidamente injustiçadas por seres iníquos -, em especial às que desapropriam dispositivos de telefonia móvel em mãos de pessoas contaminadas pela peçonha do capital e, apanhadas por quaisquer agentes inescrupulosos dos serviços de manutenção da ordem por estes são vergastadas tais quais os habitantes da senzala, no pelourinho, ao tempo do Imperador, e outras de igual quilate, inclusive a que morde, mas não late (rimou - é sem graça, eu sei, mas rimou).

Neste piruá, que, tal qual outro piruá qualquer, não  desenvolveu todo o seu potencial, estão as palavras que achei por bem escrever, às pressas, acossado pelas impaciência e ansiedade, digitando-as ao teclado de um esmartefone de um século de existência. E aqui ponho o fim desta peça de sabe-se-lá-o-que que vai assim, sem pé, nem cabeça, certo de que é a bestice uma virtude universal. Fosse um filósofo francês, eu escreveria com mais elegância.

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O Primeiro Comando da Capital fatura R$ 5.000.000.000,00 por ano.

Não entendo o busílis!

Não entendo o busílis!

Juro: Não entendo o busílis!

Confesso: Não entendo o busílis!

Nas quatro linhas acima, escrevi, em cada uma delas, um verso, os quatro, unidos, a constituírem uma, e a única, estrofe da poesia que eles encerram e que ao final do último encerra-se. E a embelezam as rimas. E dizem que sou desprovido de talento poético! Se rimas sei fazer! Gonçalves Dias e Álvares de Azevedo que se cuidem! 'tô na área! "Álvares" termina com ésse?! Termina. Então, escrevi certo. Quero dizer: escrevi Álvares com a ortografia correta.

- E o Primeiro Comando da Capital com a tua poesia e com os dois poetas?! Qual elo os une?! Qual vínculo os vincula?! - pergunta-me tu, impaciente leitor.

E digo-te, em resposta:

- Nenhum elo os une, e vínculo os vincula tampouco. O assunto deste farelo é o Primeiro Comando da Capital, que também atende pelo cognome Pecece, ou Pessesse, ou Peçeçe, ou... Para escanteio tal questão, que é do interesse dos gramáticos.

E acrescento: estarreceu-me a notícia, que li, hoje, em mais de um canal de notícias, noticiosos todos eles, e estou, até o presente momento, a perguntar-me quais questões elas contemplam.

Pergunto-me: Quer dizer, então, que o Pecece fatura cinco bilhões de Reais por ano?!

- Cinco bilhões?! - pergunta-me tu, espantado leitor.

E respondo-te:

- Cinco bilhões, sim, senhor! Contaste os zeros?! À esquerda da vírgula e à direita do cinco, nove. Então, cinco bilhões.

E prossigo: Encasquetado, estou a me perguntar: Como é que sabem que o Pecece fatura, por ano, R$ 5.000.000.000,00?! Tal empresa - de fins lucrativos?! - emite nota fiscal, declara a renda para o voraz leão, regiamente, todo ano, sem jamais, e a temê-lo, sonegar-lhe um centavo que seja?! Apresenta o livro contábil às autoridades competentes?!

E completo: É tal organização ou uma sociedade anônima, ou uma de capital aberto que negocia as suas valiosas ações nas bolsas de valores?! Já caiu na malha fina da Receita?!

E encerro: Tem caroço nesse angu, ah! se tem!

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As quatro personalidades mais importantes da História do Brasil.

É o Brasil um país lindo por natureza, sabemos, e agraciado com personagens históricos, que muito o engrandecem, de valor universal, em todos os ramos do saber, das ciências e das artes; dentre as centenas de nomes de seu panteão de heróis que eu poderia aqui elencar, após uma semana a listá-los em dez folhas de sulfite, e comparando-lhes as biografias, todas grandiosas, dentre outros, o de Rui Barbosa, o de Dom Pedro II, o do Barão do Rio Branco, o da Princesa Isabel, o de Machado de Assis, decidi-me por quatro, os quatro que, entendo, são, dentre todos, e que me perdõe o leitor se incorro em injustiças, os mais fantásticos, os mais fabulosos, lendários, mesmo, mitos nacionais; e aqui ao leitor dou a saber quais são: o Tiozão do Churrasco; a Tia do Zap; a Velha Vizinha Fofoqueira; e, o Pescador. Seria o Brasil terra hostil à existência humana, se tais personagens lhe não tivessem nutrido com seus nobres e dignos espíritos a alma.

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João Grandão (The Great Grape Ape Show) - Um astronauta-macaco quebra qualquer galho. - desenho animado.

É grandão o João Grandão. Imenso. Simiescamente gigantesco. De treze metros de altura. Ou é a sua altura maior?! Parece-me que ninguém sabe de fato qual é a sua real estatura. Sabe-se apenas, e unicamente, que é ele imenso, grandão. João Grandão. Primo, presumo, do King Kong, que ora tem cinco metros de altura, ora cem, é-lhe superior em força, em poder, e dá provas de sua superioridade, nesta aventura, a coadjuvá-lo, e coadjuvando-o, o canino Espirro, exímio motorista de um furgão - penso que seja um furgão o veículo motorizado que ele dirige, mas nada entendo de automóveis que se movem sobre quatro rodas. E que provas dá João Grandão de sua força superior?! Ora, com um pulo, um só, ele agarra a Lua! Tu não leste errado, leitor. João Grandão, um gorila grandalhão, joga-se para o alto, agarra a Lua, e com ela ao colo desce à Terra! Espantoso feito! Só João Grandão seria capaz de empreendê-lo. Uma façanha digna dos deuses do Olimpo.

Os dois heróis desta fantástica aventura, afortunados, vão ter à certa base militar de lançamentos de foguetes, para o infortúnio do responsável por ela, um tal de Erick von Erick, se entendi-lhe o nome - o áudio do desenho, antigo, não é lá essas coisas! Não posso deixa de dizer-te, leitor, que João Grandão e Espirro vestem botas de antigravidade, e João Grandão agarra um foguete impedindo-o de lançar-se ao espaço, e realizam outras façanhas extraordinarimente fabulosas. Mais não digo porque, recusando-me o título de estraga-prazeres, não quero, como se diz por aí e por aqui, dar espóler. João Grandão.

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Duas péssimas adaptações cinematográficas: uma, de O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson; outra, das façanhas do semidivino Hércules.

Que adaptações das obras antigas sejam feitas, nada a reprovar desde que respeitem elas a essência das obras adaptadas. É certo que tu, leitor amigo, sabes de adaptações absurdas de obras literárias, lendas, mitos, histórias do arco da velha às novas artes, o cinema, a revista em quadrinhos, o videogame - e à literatura também, e nesta era, a nossa, em que  Branca de Neve não é branca e os Sete Anões não são anões, vê-se absurdidades sem fim, em especial saídas da cachola de gente ilustrada, antenada com a mentalidade que, dizem, é a moderna, que faz a cabeça do povo de hoje em dia (embora jamais expliquem porque o povo a rejeita terminantemente), gente que está a reescrever, e a, há quem acredite, melhorar, a aperfeiçoar as obras antigas.

Para o meu desgosto assisti, dia destes, um filme, de produção britânica, acredito - não verifiquei se o é, de fato -, que traz no título os dois nomes que estão no título de uma das duas obras mais famosas de Robert Louis Stevenson, The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde (no Brasil, em algumas edições, simplesmente O Médico e o Monstro) - e a outra é A Ilha do Tesouro -, e uma das obras literárias mais emblemáticas do século XX, rival de três outras maravilhas, 1984, Admirável Mundo Novo, e A Metamorfose.

Para o meu desgosto, sim; e contrariedade. Frustrou-me as expectativas o filme. Esperei ver um bom filme, que traria do livro o espírito que o seu autor lhe deu. Mas, não! Alteraram a essência da obra. A essência! Na obra, a que a cabeça de Robert Louis Stevenson concebeu, é a dualidade humana, a da sua personalidade, o bem e o mal em eterno conflito em seu espírito, a essência. Os dois personagens centrais, o doutor e o monstro, seu alter-ego, são metáforas de duas metades da alma humana. Qualquer adaptação que se faça de tal obra tem de preservar este detalhe, que não é um detalhe de somenos importância, é o essencial. Mas... Quê! Decidiram, em uma versão em película de tão magistral obra, dar-lhe fim! Que asneira fizeram! No filme, vê quem tem o desgosto de assisti-lo, principalmente se quem o assiste não desconhece o livro, o doutor Jekyll tem um irmão gêmeo, o senhor Hyde. E aquela história da poção que converte o doutor em uma criatura irracional, assassina, animalesca?! Não existe. Aliás, existe, mas é uma invencionice do senhor Hyde, que a concebeu para explicar um mistério que envolve um suposto comportamento errático do seu irmão gêmeo. Perdi uma hora de minha curta vida a assistir à tal porcaria, e porcaria das bem porcas.

E outro filme ao qual assisti e que muito me frustrou foi um que traz, a assumir a figura do semideus grego Alcides, neto de Alceu, o Héracles, pelos romanos e pelos homens modernos chamado Hércules, um ator que há poucas décadas era um lutador, se assim se pode dizer, de luta livre, aquele esporte que simula lutas e cujos participantes jamais derrubam uma gota de sangue no ringue. Sim, ele, mesmo, leitor, ele, hoje um ator famosíssimo. No filme, que em seu título carrega o nome do mais famoso semideus grego, o Cérbero não é um cachorro de três cabeças: são três cachorros cada um deles de uma cabeça - mas, ludibriadas pela escuridão e por outros fenômenos, as pessoas acreditavam ser o trio de cachorros um monstro de três cabeças. E os centauros, pasme-se, leitor! não são seres híbridos, metade cavalo, metade humano: são, nada mais, nada menos, do que homens montados em cavalos, que, ao longe, sobre as colinas, as suas silhuetas contra o Sol, pareciam aos reles humanos criaturas híbridas humano-equinas. O que tem a dizer Quíron? Além destes detalhes, há outras asnices sem tamanho, e são tantas que me calo.

Filmes de fundo mitológico bons, que o filho de Zeus e Alcmena protagoniza, são os nos quais ele tem a estampa do Lou Ferrigno, que também assumiu a figura de um monstruoso ser verde.

Estou a me perguntar porque se rouba às histórias antigas a magia, o fantástico, o fabuloso, e aos fenômenos se dá interpretações psicológicas, ou outras quaisquer. Querem melhorá-las?! Têm horror ao que não compreendem as pessoas que as adulteram?! Odeiam os sabidos o que não lhes corresponde à visão-de-mundo?! São estúpidas, mesmo, e presunçosas, e incultas, e se têm na conta de intelectos supremos as gentes que fazem tal asnidade?! São elas os reis da cocada preta, a última bolacha do pacote. E têm o rei na barriga.

Ah! Esquecia-me: aproveito a oportunidade que a ocasião amigavelmente me oferece, e digo: de Os Assassinatos da Rua Morgue, do extraordinariamente escalafobético e estranhamente genial Edgar Allan Poe, um gringo bebum fora-de-série, eu vi uma versão em película que nada mais é do que uma porcaria das grandes - e é antiga tal porcaria, o que prova que gente besta faz porcaria desde que o mundo é mundo.

Estão a se remexer no túmulo, é líquido e certo, os antigos aedos, e Stevenson e Poe.

É sério, leitor, é sério: o que nas linhas acima eu disse que vi eu vi. Menino, eu vi.

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As três instituições essenciais para o bom funcionamento de um país democrático.

Para o bom funcionamento de um país democrático e a convivência harmoniosa entre as pessoas três instituições devem existir obrigatoriamente: o bar, a barbearia e o churrasco.

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Limites à liberdade de expressão.

"Só haverá harmonia no Brasil, se se impôr limites à liberdade de expressão." "Só haverá harmonia, se não houver limites." "Liberdade, sim; libertinagem, não." "E onde termina a liberdade, e começa a libertinagem?! Quem tem autoridade para determinar os limites  à liberdade de expressão?" "Pessoas preparadas para exercer tal papel." "E quem tem autoridade para decidir quem tem o preparo para exercê-lo?" "Ora, você sabe que muita gente, abusando da liberdade, ofende, e difama, e calunia..." "Sim. Sei. Mas quem é ofendido, difamado, caluniado, só sabe que o é se alguém o ofende, o difama, o calunia." "Então, deve o governo impôr limites." "Por que o governo?! Que autoridade tem o governo para dizer o que pode e o que não pode ser dito?! Limites à liberdade de expressão, parece-me, é uma armadilha para pegar apenas quem diz o que não é do agrado do governo, e nada mais." "Toda pessoa terá, respeitando-se a decência, a pessoa humana, a liberdade de expressão limitada a ponto de impedir que se manifeste o que não é de bom alvitre e que seja prejudicial à harmonia social. Ao insinuar que política que limita a liberdade de expressão irá inibir apenas um grupo de pessoas, você se esquece que tal política atingirá a todos." "Não atingirá, não. E explico os meus pensamentos, desenhando: Em uma cidade, a prefeitura não impõe limites à velocidade de motos e carros; João e José têm carros e motos; o carro de João, envenenado, vai de zero a cem em dez segundos, e o de José, uma caranga, não chega aos sessenta; a moto de João, possante, de mil cilindradas, voa à trezentos por hora, e a motoca de José, a pipocar, a tossir, esfalfa-se ao apontar cinquenta por hora; e todo dia e toda noite, João sobrevoa a cidade com os seus carro e moto, e José engatinha com o seu calhambeque manquitola e a sua moto franzina; e um dia, a prefeitura impõe limites à velocidade de carros e motos: sessenta quilômetros por hora." "Impõs limites a João e a José." "Não. Não. E não. Na na ni na não. Impôs limites a João, e a ele unicamente, e a José não. Atente: João, dono de carro e de moto que vão do ponto A ao ponto B a quinhentos por hora, tem a sua liberdade de deslocar-se com velocidades acima de sessenta; José não, pois a sua lata-velha e a sua motoca em petição de miséria não atingem sessenta. A prefeitura impôs limites apenas a João. Entendeu?! Ao impôr limites à liberdade de expressão está o governo apenas a limitar a das pessoas de espírito livre, corajosas, insubmissas, mais conscientes de sua condição, pessoas que não se curvam aos mandões de plantão, e não a das acomodadas, das pusilânimes, das que dizem amém a tudo o que o governo diz." "Certo. Entendi." "E outra coisa: muita gente, gente de espírito-de-porco, gente de mentalidade autoritária, gente intransigente, quer impôr as suas idéias a todos, mas sem aborrecimentos; para tanto, busca no governo o poder de exercer o que ela quer: falar, e falar, e falar, sem que lhe levantem objeções. Sem aborrecimentos. E calando quem pensa diferente, estufa o peito e declara que suas idéias prevalecem porque superiores. A verdade verdadeira é a seguinte: tal gente não tem apreço pela liberdade; se o tivesse a admitiria sem restrições e palestraria, livremente, disposta a ouvir, e sem os inibir, os interlocutores, aqueles que lhe apresentam divergências; e aceitaria que as idéias corretas prevaleçam; mas, convenhamos: muita gente sabe que suas idéias são disparates, asneirices das grossas, e mesmo assim quer impô-las ao mundo." "Verdade. Verdade. Mas há de reconhecer que idéias prejudiciais à sociedade devem ser proibidas." "E quais idéias são prejudiciais à sociedade? Quem sabe quais são as que prejudicam a sociedade? Quem sabe quais são elas, que as apresente, publicamente, e sustente seu ponto-de-vista num confronto livre com quem diverge, e faça com que suas idéias, se corretas, prevaleçam, em vez de querer proibir que alguém as conteste." "Verdade. Verdade. Pensando bem... Você diz algo certo..." "Claro que o que digo é certo. O caminho da liberdade é o melhor. Cada pessoa defende as suas idéias, e que o faça ouvindo objeções, e não diante da ausência delas. Calando quem pensa diferente, fica fácil, né?! 'A minha idéia é melhor.', diz o carinha que conversa com as paredes."

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