sábado, 30 de setembro de 2023

Crônicas e notas

 

O fraldão do Lula.

Ninguém há de negar: o tal "L", aquele que desgoverna o Brasil, país de há muito desgovernado, tem criatividade, e a criatividade dele é daquelas, e dele não é exclusiva: são incontáveis os bípedes implumes com ela agraciados. E agora deu ele para criar, com sua criatividade invejável, uma história do balacobaco: usam fraldões, durante exaustivas hora de trabalho, os motobóis, as motoguiures e outras espécies de seres urbanos, tão desafortunados que só eles - a explorarem-lhes os capitalistas malvadões - mal tendo, em cada um de seus santos dias, que seja um minuto, um minutinho só, parar fazer o que ninguém pode fazer por cada (eita, porcada!) um deles e cada um deles tem de fazer por si mesmo o que é de sua exclusiva competência profissional, isto é, tirar água do joelho e obrar ao trono, ou, como dizem os jovens de hoje em dia, o número um e o número dois.

Nota de rodapé: Cá entre nós, os jovens de antigamente, hoje velhos, referiam-se com mais elegância às ações profissionais que cada homem sapiens e cada mulher sapiens têm de fazer cada um deles por si mesmo e por ninguém mais.

De onde tirou o tal "L" tão genial história, ninguém sabe. Talvez alguém saiba. E se há quem saiba é prudente ele, ou ela, conservar consigo tal conhecimento: é esta uma exortação de amigo.

E quem está precisando de fraldão? Segundo as más língua, o Baiden, por antonomásia Brandon. E a Kamalawalabingbang.


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O fim do capitalismo.

- O capitalismo é o fim da civilização. Ou o capitalismo vence, ou vence a civilização. Civilização e capitalismo são como água e óleo.

- O capitalismo perfeito não é; mas, calma lá! Também não é o fim o mundo.

- O que de bom fez o capitalismo?! O consumismo predatório, irracional, que está a destruir o planeta. É bom, não é mesmo?!

- No capitalismo as pessoas têm salário para comprar o de que necessitam, se não tudo...

- Salário! Que salário?! No capitalismo, o salário é de fome.

- No capitalismo, as pessoas trabalham, e pelo trabalho...

- Trabalho?! Que trabalho?! No capitalismo, vive-se em regime de semi-escravidão, os capitalistas a explorarem a mão-de-obra dos trabalhadores.

- Você não há de negar: no capitalismo as pessoas têm emprego, ganham cada qual o seu salário e compram o que...

- Você não entendo, né amigo?! No capitalismo o salário é de fome; e os capitalistas exploram dos trabalhadores a mão-de-obra, que é semi-escrava, e os trabalhadores, que não têm tempo nem de irem ao banheiro, são obrigados a usarem fraldão; e incentiva-se o consumismo desenfreado, que destrói a Terra.

- O salário é, para muitas pessoas, pouco, eu sei, mas é-lhes o suficiente, e mais elas não podem receber...

- Quê?! Mais não podem receber?! Têm de receber salário maior, salário digno.

- Por que precisariam as pessoas receberem salário maior do que o que recebem?!

- Por quê?! Amigo, você tem problema de parafuso?! Com salário maior, as pessoas podem comprar mais coisas.

- Comprar mais coisas de quem?

- Ora, de quem?! De quem as vendem!

- E quem as vendem?

- Ora... Quem?! Você odeia os pobres, fascista!

- As pessoas querem salário maior, e com o salário maior comprar mais coisas; se compram mais coisas, e as coisas que elas compram quem lhas vendem são os capitalistas, então elas, comprando mais coisas, e comprando mais coisas porque têm salário maior, favorecem os capitalistas. Além disso, o salário maior do trabalhadores, ao favorecer destes o consumismo desenfreado, está destruindo a Terra.

- Deixe de discurso de ódio pelos pobres proletários, que você deveria defender dos capitalistas, que lhes exploram a mão de obra, mantendo-os em regime de semi-escravidão.

- Eu amo os pobres. Desejo que eles libertem-se dos capitalistas, que lhes exploram a mão-de-obra e os conservam na mais abjeta miséria.

- Deixe de conversa fiada, extremista! Prove que você quer bem aos pobres! Prove que você não é o que é, um nazifascista genocida da extrema-direita ultra-radical fundamentalista! Prove!

- Os capitalistas têm de investir em tecnologia, principalmente em inteligência artificial e robotização para...

- Para demitir os trabalhadores?! E os trabalhadores, desempregados, viverão de quê?!

- Entenda: se todas as empresas capitalistas, lojas, fábricas, supermercados, parques de diversões, todas, enfim, empresas da iniciativa privada, dispensarem todos os trabalhadores nenhum capitalista irá explorar a mão-de-obra de nenhum trabalhador, e assim nenhum trabalhador, em regime de semi-escravidão, precisará de fraldão.

- Ora... Ora... Fascista!

- Os capitalistas têm em mãos a tecnologia que propicia a ereção da civilização dos sonhos dos anti-capitalistas: um mundo sem a exploração da mão-de-obra, pelos capitalistas, dos trabalhadores, um mundo sem classes, um mundo sem consumismo...

- Os trabalhadores merecem salário digno.

- O que você quer dizer com salário digno?

- Salário que lhes permita...

- Complete a frase.

- Fascista!

- Um salário que lhes permita comprar tudo o de que necessitam para bem viverem. E do que necessitam compram de quem? Dos capitalistas, que os produzem e vendem. E assim, mais cheios de grana os capitalistas, que, fortalecendo-se, seguem a explorar a mão-de-obra dos trabalhadores e a estimular o consumismo, que está destruindo a Terra, continuam a fazer do capitalismo...

- Fascista!


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O Brasil do Lula vai bem, obrigado. A inflação é um bem.

- Nada há para se criticar, hoje em dia. Vai tudo às mil maravilhas, maravilhas maravilhosas. Até primeira-dama charmosa, elegante, uma lady, nós temos.

- E a inflação?!

- Inflação?! Que inflação?!

- Você não soube?! Não te contaram?! Aumentou o preço do botijão de gás. A inflação...

- A inflação é um bem.

- Um bem?! A inflação?!

- Deixe-me, explicar, querido. Parece-me que você tem problema de parafuso. Também pudera! Você, paulista, descendente de brancos europeus! Não sabe dançar! E eu vou dançando...

- A inflação...

- Não me interrompa. Respeite o meu lugar de fala. Explico o bem que a inflação faz aos brasileiros assalariados, e para tanto uso como exemplo o preço do botijão de gás. Para efeitos práticos, e para simplificar os cálculos, arredondo os valores, que são fictícios, do botijão e do salário mínimo. No governo anterior, o botijão e o salário valiam, respectivamente, R$ 100,00 e R$ 1.000,00. O assalariado, então, podia comprar dez botijões, todo mês, e nenhum centavo lhe sobrava. No atual governo, por exemplo, com a inflação o botijão sobe a R$ 120,00 a unidade. Consideremos que o salário continua a valer R$ 1.000,00. Todo mês, portanto, o assalariado compra oito botijões e sobra-lhe R$ 40,00. Ora, se após comprar o gás, no governo anterior nenhum centavo lhe sobrava, e no atual governo sobra-lhe R$ 40,00, então tem o assalariado, neste governo, dinheiro extra, que sobra após ele comprar o gás. E no governo anterior, destaco este detalhe, ele não contava com nenhum centavo extra. Portanto, somos obrigados a concluir, a inflação atual deu ao assalariado um ganho pecuniário, que lhe aumenta o poder aquisitivo, de R$ 40,00.


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Imigração ilegal nos Estados Unidos e na Europa.

Não foi no tempo do rei, tampouco no da ereção da cidade de Ur, que li: a imigração em massa, ilegal, saliente-se este detalhe, que não é irrelevante, de africanos e de europeus do leste e de gente do oriente próximo nos países da Europa Ocidental é uma política, orquestrada e patrocinada por inimigos da Europa, cujos escopos são a substituição étnica do povo europeu por povos adventícios - diluindo-se o tipo europeu comum num caldeirão racial que lhe é estranho - e a supressão da cultura de matriz híbrida de religião cristã e filosofia socrática, platônica e aristotélica com a consequente elevação de outras religiões e filosofias, em particular as políticas e as ideológicas, em todas estas ausentes a idéia de transcendência. E para se defender tal tese ilustrava-se as notícias com fotos e dados a exibirem, na multidão de imigrantes em terras européias, homens, e homens unicamente, adultos, fortes, robustos. E perguntava-se: onde as mulheres, e as crianças, e as velhos entre os imigrantes?! E concluía-se: tais homens (os imigrantes) tiveram a jornada das terras cada qual de sua origem financiada por inimigos da Europa, a ocidental, continente onde iriam fazer e acontecer, alterando-lhe, dramaticamente, a estrutura social, cultural, religiosa. Não posso deixar de dizer - e ia-me esquecendo de o fazer - que os imigrantes fugiam à guerra e à miséria cada qual de seu país de origem. E de tais países, envoltos em guerras, uns, a chafurdarem na miséria, todos, não escaparam mulheres, e crianças, e velhos?! Era esta a pergunta de um milhão de Dólares.

E anteontem, ou transandontem, sei lá eu - não atentei para a passagem do tempo, que não pára, e embaralha-me -, contou-me uma história do balacobaco o passarinho, aquele de sempre, que, após zapear pela internéte, soube de um comentário, que lhe deu o que pensar, acerca de imigração ilegal, e nos Estados Unidos, e não na Europa - ou Ôropa, como se diz por aí, e por aqui também. E o que soube o mensageiro alado, indefectível trazedor de notícias do arco-da-velha?! Que diz-se por aí, e por aqui também, que o governo do tal Biden - Baiden, em português castiço - está a favorecer a imigração em massa, ilegalmente ilegal, nos Estados Unidos, de latino-americanos e de outros bípedes implumes encontrados em outos cantos do mundo. E com qual propósito o pai do proprietário do laptop do inferno (uma cópia grosseira, mal-acabada, da Caixa de Pandora) está a facilitar a imigração em massa - ilegal, não se pode deixar de dizer - de gente, na terra do Tio Sam, proveniente de outras terras, outros planetas, outras galáxias? Se está o passarinho bem informado: a criação de uma reserva estratégica de mão-de-obra barata, semi-escrava, para os miliardários (melhor: biliardários) capitalistas americanos, que se deparam com irrivalizados concorrentes estrangeiros - muitos destes, que de eficientes nada têm, a abusarem de práticas comerciais que a honestidade deplora e a fazerem dos trabalhadores gato-sapato. Procede a informação?! Quem sabe?! Se é esta a razão da insana política imigratória dioebaideniana, então estamos em maus lençóis, no pior dos mundos possíveis.


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Os iguais não são diferentes.

Em uma certa sociedade, há, além de outros, dois grupos de seres humanos e um punhado de gente que faz do ato de pensar as coisas e o espírito delas sua profissão. Os dois grupos de seres compõem uma parcela da sociedade, e ambos, juntos e misturados, e somados e multiplicados, não constituem o todo que a sociedade é. Vamos nomeá-los: Grupo A e Grupo B.

Um dia, alguém do Grupo A declarou, pondo para fora de si o ódio, que lhe corroía a alma, de viva voz, com toda a força de seus pulmões, que são dois: "Morte ao Grupo B!", assim, sem se vexar, sem se esconder atrás de um muro, sem cobrir a bela estampa. Foi de cara limpa. E os do punhado de gente que faz profissão sua o ato de pensar esbravejaram, corretos: "Preconceituoso! Preconceituoso! Você não pode dizer o que disse, você não pode pedir pelo extermínio de todo um grupo social. Preconceituoso!" E seguiu-se a celeuma. E discutiu-se o caso nos bancos escolares, nos tribunais, nas câmaras legislativas, até que um dia determinou-se a reprovação moral e legal de exclamações que pedem o fim de todo um grupo social. E perseguiu-se moral e legalmente, por todos os meios conhecidos, quem tal ato praticasse. E desde então as pessoas que, do Grupo A, mesmo que desejassem exclamar a maldita sentença, e ao proferi-la externarem o que lhes ia no espírito, o ódio por pessoas de outro grupo social, calaram-se, intimidadas. E o tempo passou. Um dia, um qualquer do Grupo B, furibundo, trovejou, orgulhoso de si, desafiador, de peito empinado e nariz estufado: "Morte ao Grupo A!" E abismaram-se, indignadas com o que dele ouviram sair da boca as outras pessoas da sociedade. E reprovaram-lo com severidade. E ele recorreu aos que fazem do ato de pensar uma profissão, e estes declararam, pomposos, com empáfia: "O do Grupo B está a exigir respeito das pessoas do Grupo A, que oprimem e exploram as do Grupo B desde sempre, desde que o mundo é mundo, antes, mesmo, de o homem inventar o alfabeto, antes, até, de o homem inventar a roda, antes, inclusive, de o homem aprender a controlar o fogo. Nada mais fez o do Grupo B do que exibir o seu sofrimento histórico, a sua condição de ser historicamente explorado e maltratado. Está ele, ser de espírito imaculado, estreme, no seu direito, pleno e sagrado, de declarar a sua vontade, que é honesta e sincera, de fazer da Terra um lugar melhor para se viver, onde prevaleça a paz mundial".


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Eu tenho boa memória.

Disseram-me hoje pela manhã que eu não tenho boa memória. Eu não tenho boa memória?! Eu, que tenho memória de elefante?! Eu?! Então 'tá bom. Ouvi o que ouvi, e calei-me. Para não perder o amigo, não retruquei. Eu não tenho boa memória! Então 'tá então. E quem é o dito cujo que ousou me dizer que não tenho boa memória?! Não sei, não me lembro.


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O rombo nas contas públicas. O governo Lula vai bem, obrigado.

- E o rombo nas contas públicas?! Li que as contas do governo federal estão no vermelho e que estatais outrora lucrativas estão a dar prejuízo. O que tens a dizer, fazoéle?

- Que mal há no tal rombo?! Mal não há. Ora, pense, fascista da extrema-direita ultra-radical genocida burguesa neoliberal da classe média branca paulista de sangue europeu! Pense! Explico, usando de um recurso comum: uma comparação: as contas públicas do governo federal são um muro: um muro separa da rua a casa; se alguém marretá-lo até abrir-lhe um rombo, onde houver o rombo, onde, antes, havia tijolos, cimento, areia, nada haverá, portanto, no rombo nada havendo nada há, e se nada há nada existe, e se nada existe não há um rombo. Entendeu, nazifascista ultrafundamentalista da branquitude supremacista?! Entendeu?! O rombo nas contas públicas do governo federal indica a existência do que não existe, isto é, nada. Nada existindo, nada existe; se nada existe, não existe rombo nas contas públicas; se rombo nas contas públicas não existe, não temos com o que nos preocupar. Por que nos preocuparíamos com o que não existe?! Deixe de feique nius, bolsominion golpista terraplanista da classe média exploradora de trabalho escravo.


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Elon Musk e a Terceira Guerra Mundial.

Se é o caso do Musk - e que ninguém pense que estou a falar do ocaso, que não se vislumbra no horizonte, dele (o que seria uma rematada tolice) - caso para se pensar a sério, não sei, mas que dá o que pensar, se é sério o caso que dele se diz, dá. E o que se diz de qual caso dele?! Do caso que o envolve, caso que me contou o passarinho, aquele que sempre me põe aos ouvidos notícias do balacobaco: o governo da Ucrânia pediu ao senhor Musk ajuda para causar uns estragos numa frota russa que está a singrar os arredores da Criméia. E que ajuda o senhor Musk ao governo ucraniano prestaria? Acesso a Starlink, sistema de conexão internética essencial para um tiro certeiro, com um míssil, na cabeça da mosca marítima russa. Se a notícia procede, e se o passarinho não está a me pregar uma peça: o homem mais rico do mundo (ainda o é?! não sabo-lho) rejeitou, terminantemente, o pedido: não quis assistir à escalada da conflagração que ora se vê em terras de Gogol.

Melhor deixar a guerra como está: sob controle. Se o caldo entornar... retrocederemos à idade da pedra bruta



domingo, 24 de setembro de 2023

notas

 

A palavra vale prata; o silêncio, ouro.

Ninguém desconhece o ditado popular "A palavra vale prata; o silêncio, ouro." Ninguém. Mas raras são as pessoas que agem de acordo com a lição que ele encerra. E eu conheço uma dessas raras pessoas, um nonagenário que jamais abriu a boca para dizer o que quer que seja que depois fê-lo do que disse arrepender-se, o senhor Temístocles Epaminondas Figueira de Lima Oliveira da Silva e Silva, mudo de nascença.

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Os personagens da literatura clássica.

Sem delongas, e em poucas, quase nenhumas, palavras, digo: conta Miguel de Cervantes Saavedra, na sua mais famosa obra, Dom Quixote de La Mancha, uma história das mais bestas, mas o fez com tanta graça que o universo conquistou e fez de seu herói uma personagem universalmente conhecida e admirada: um velho maluco e um gordinho cretino perambulam, erráticos, pelas terras da Mancha, e fazem tantas besteiras, infinitas asneiras, inúmeros disparates, e são tantas e tantos que não cabem no gibi, que levam no lombo, vezes sem conta, pancadas sem fim, que lhes administram sem dó os tipos mais abestalhados, de que se têm notícias, que vagueiam por aquelas terras das quais só se fala porque Cervantes teimou em contar a história daqueles dois aos quais respeitosamente aludi no início deste texto, Dom Quixote e Sancho Pança. Ah! Esquecia-me: outro personagem da obra é um portento de força cavalar: Rocinante, besta irracional da estirpe da Babieca, a bela e vigorosa montaria do Charlton Heston.

E quem é o personagem de Crime e Castigo, do genial Dostoiévki?! Um toleirão de marca-maior, o tal de Ródion Romanovitch Raskolnikov (não sei porque cargas-d'água, até há uns meses, antes de eu me pôr a ler tal livro segunda vez, eu acreditava que era o nome dele Rasputin - não sei por onde me entrou este nome na cachola). O sujeito é tão sem-noção, tão despirulitado, que, certa feita, ao conhecer as peripécias e as façanhas do Napoleão, o Bonaparte (se o primeiro, se o segundo, se o terceiro, se o quarto, se o quinto, e etecétera, e tal, não sei), soube que ele, porque fez o que fez, isto é, matou um batalhão de gente, é um herói universal, resolveu matar uma velhinha. Coitada da velhinha! Ródion deu-lhe uma cacetada daquelas, mandando-a desta para a melhor. E ferrou-se o senhor Raskolnikov! Besta-quadrada! Acreditava que iriam tê-lo por herói só porque ele matou uma velhinha - melhor, duas (e a segunda, um efeito colateral, porque estava, na hora errada, no lugar errado, dele tomou uma cacetada daquelas, e foi-se para o reino de além-túmulo).

Aqui estãos dois exemplos, dentro os melhores que eu poderia citar, dos tipos de personagens que os gênios da literatura tiram do bestunto. Cá entre nós: Os escritores têm cada idéia de jerico! E os dois aqui mencionados, o espanhol e o russo, estão na conta dos gênios!

Que o leitor não pense que estou, despeitado, desdenhoso, estupidamente iconoclasta, a desrespeitar o Cervantes e o Dostoievski, e, por extensão, os outros escritores clássicos, e os personagens que eles criaram. Longe disso. Muito longe disso. Muitíssimo longe. Muitíssimo longíssimo dissíssimo. Respeito-os imensamente. A admiração que tenho por eles não encontra limites. Sei que eles, falando de seres humanos, criaram tipos humanos, e os tipos humanos que eles criaram, imperfeitos porque humanos, falhos em sua condição humana, não são modelos de perfeição; são tipos, pode-se dizer, comuns, encontradiços em toda esquina, daí serem universais, modelos, direi, de perfeição literária e modelos porque têm imperfeições, que não são poucas.

Quem não conhece um velho doido-de-pedra a fazer das suas (e as das suas são dele)?! Quem não conhece, ou não sabe da existência, de tipos que se igualam ao Raskolnikov?! Para a sorte de muita gente, estes são mais raros do que aqueles. Vai que me aparece à frente da bela estampa um Rasputin... quero dizer, um Ródion Romanovitch Raskolnikov! Deus me livre! E eu não terei um Fiódor Mikhailovitch Dostoievski para contar ao mundo a minha história!

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Um conselho de amigo: Se de cabeça quente, mantenha a calma e seja educado, sempre.

Toda pessoa que honra a sua condição de ser humano, nos momentos em que lhe aflora o espírito a raiva, os nervos à flor da pele, conserva, com dignidade, a educação - e os mais felizardos trá-la do berço - que o convívio social pede, e não perde a compostura.

Não é raro assistirmos a espetáculos constrangedores, uma pessoa, irritada, furibunda, a esgoelar-se, com o dedo em riste ao nariz de uma outra pessoa, a cuspir-lhe ofensas, jorra-lhe na cara: "Enfie no **!" Não reproduzo o palavrão (que é uma palavrinha composta de duas letras, uma consoante e uma vogal), que ninguém desconhece, porque faço juz à educação que recebi ainda no berço, num tempo que a minha memória, não o alcançando, dele conserva no espírito as lições paternais e maternais. Espetáculos constrangedores. Incivis. De gente má educada. O uso de palavrões tem de ser prática de uso restrito às pessoas de baixa extração moral. À pessoa educada - e é esta a exortação que faço a quem me lê - cabe, nos momentos em que está de cabeça quente, mantê-la fria, e, educadamente, dizer, e com todas as letras, a quem a tira do sério: "Enfie no nariz!"


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As palavras-xodó.

Todo escritor tem as suas palavras de estimação, aquelas às quais recorre em momentos de apuro, em não raros casos emprestando-lhes significados que elas não receberam no momento cada qual da sua concepção, ou, simplesmente, porque por elas tem afeição, cuja origem desconhece - ou talvez a conheça mas não lhe sabe explicar a existência, quais sentimentos seus estão a elas vinculados. Pode ser da afeição razão sentimental relacionada com algum personagem ou real, ou fictício, que lhe faz evocar um episódio importante de sua vida, um momento de felicidade inexcedível, ou por outras razões quaisquer. Não sei se há estudos a respeito - a minha ignorância no tocante ao tema é patente, e não tenho porquê escondê-la de quem quer que seja, de mim tampouco - do amor, do apreço, da paixão, mesmo, incondicional, irracional, doentia, dos escritores por estas e aquelas palavras cada um deles com as de sua estima das quais acreditam serem os proprietários exclusivos - e enciumam-se ao vê-las em obras alheias, e em tais momentos sentem ganas de esganar os delas iníquos seviciadores.

Quais são as palavras pelas quais se apaixonaram o escritor Fulano, o escritor Beltrano e o escritor Cicrano, não sei. Sei as palavras pelas quais me apaixonei, as que são de minha estima, as minhas palavras-xodó - assim eu as apelidei, entendo, e que ninguêm ouse contradizer-me, apropriadamente -, aquelas palavras que sempre me vêm à mente quando estou a escrever, e ao escrever emitir certos pensamentos, descrever este ou aquele personagem, esta ou aquela cena, este ou aquele objeto, a narrar este ou aquele episódio, independentemente da substância moral do texto, da psicologia e do temperamento das personagens, do espírito que empresto ao assunto - e se eu não me disciplino, não ponho em ordem a minha cabeça, acabo, inadvertidamente, por usar, na descrição desta ou daquela cena, deste ou daquele personagem, na narração deste ou daquele episódio, uma palavra, das que me são xodó, ou um montaréu delas, ao texto emprestando um espírito que lhe não pertence. Há palavras adequadas para uma narrativa épica; outras, que se encaixam nas cômicas; e umas que ficam bem nas góticas; outras mais, nas românticas. Pode-se usar palavras que se saem bem em aventuras de terror em narrativas de romance água-com-açúcar? E em aventuras de suspense repletas de episódios tensos que põem em suspenso a respiração do leitor é de bom tom usar de palavras que se encaixam à perfeição em peripécias picarescas recheadas de reviravoltas rocambolescas comuns aos folhetins? Não. E não. E não é raro abordarem-me, atrevidas e desinibidas, dentre as minhas palavras-xodó, as que têm espírito joco-sério, e justo no momento em que estou a narrar uma aventura de terror, ou a quebrar a cabeça pensando num texto cujo tema é política brasileira - neste caso nem sempre as minhas palavras-xodó joco-sérias são inapropriadas, e nem as comuns às tramas de terror, afinal é a política brasileira trama, e da pior espécie, de aventura picaresca e romance gótico.

Estou a ponto de acreditar que são as palavras seres vivos, entidades cósmicas omnissapientes, que sabem, infalivelmente, quem e quando assediarem.

As palavras que me são inescapáveis, aquelas das quais não posso me esquivar, as quais infalivelmente procuram-me, ou se me põem à disposição, e são-me servis, nunca se me fazem de rogadas. São-me acolhedoras, e sempre as procuro, e mesmo que eu não as queira elas me vêm à mente. É tal fenômeno impressionante, inexplicável. Vivemos eu e elas na mesma sintonia, e apreciamos a mesma sinfonia. Há um elo a nos vincular no tecido do cosmos, conservando-nos unidos por toda a eternidade. Somos elas e eu as duas metades da maçã. Imagem desprovida de encanto poético, brega.

Estou a me enredar numa rede que me prende os pensamentos, enredando-me numa trama que, se eu não me cuidar, acabará por, dominando-me, obrigar-me a estender-me, indefinidamente, perdido num enredo sem pé nem cabeça, esquecido do tema que me inspirou este artigo, que estou a redigir sem ocupar-me de me pôr freios aos pensamentos.

Estou a falar de mim, e de mim apenas, e de minhas palavras-xodó.

Discreto a meu respeito, e a respeito de qualquer outra pessoa, embora em meus textos eu me revele, e o faço com a descrição que me identifica, e porque, mesmo que eu não o queira, exponho o que pretendo conservar comigo a guarda exclusiva, eu me dedico à redação deste texto aqui revelando uma das facetas - ou mais de uma - da minha personalidade.

Tenho, o que não é de surpreender quem quer que seja, as minhas palavras preferidas, as palavras de minha estima, as minhas palavras-xodó. E as minhas veleidades. E idiossincrasias. E uma das minhas palavras-xodó eu há pouco a evitei, e com muito esforço, esforço hercúleo, a empreender, dir-se-ia, uma tarefa ingente, que de mim exigiu força sobrehumana: "conquanto". Por alguma razão usei, esforçando-me para conservar firme a minha decisão, em vez de "conquanto", "embora". Estou a mentir?! Em alguma linha acima desta lê-se a palavra que usei no lugar da que por ela eu substitui. Confira, leitor, se digo certo, e, se certo, bem, ou se estou a brincar.

E outra das minhas palavras-xodó é "disparate", que aprendi a estimar durante a leitura de um dos livros que mais me agrada, Dom Quixote de La Mancha, do quixotesco Miguel de Cervantes Saavedra, herói de Lepanto. E há outras? Há. E não são poucas.

Ora, se eu sou leitor dedicado e escritor ocupado, de muito ler, e escrever demais, preciso, para a redação dos textos que minha parca inteligência concebe, de palavras, e muitas, e das muitas que uso, e de muitas delas abuso, há aquelas que, mais do que quaisquer outras, são do meu agrado, as minhas palavras-xodó, digo uma vez mais. E apresento-te, querido leitor, algumas delas: "incontinenti", que sempre encontro quando a pressa, acossando-me, obriga-me a passar sebo nas canelas; "balacobaco", que uso sempre que tenho em mente dizer que o que eu tenho a dizer ou o que chegou-me ao conhecimento é do balacobaco; "escalafobético", que é uma das palavras mais estranhas, esquisitas, de que tenho notícia; "paradigma", que me faz pensar em regras, em visões-de-mundo, em independência; "teratológico", que é das mais monstruosas que eu conheço, e ao nela pensar vêm-me à mente aquelas criaturas terribilíssimas das história de Homero e dos cantos mitológicos de inúmeros povos antediluvianos; "estapafúrdio", que é uma palavra que me cheira a absurdo, coisa do arco-da-velha; "pêta", que aprendi a gostar durante a leitura de O Sítio do Picapau Amarelo, do Monteiro Lobato, meu vizinho; "mínimo", que acho o máximo; "diáfano", que de mim nada esconde e que me traz aos sonhos as ninfas, as hamadriades, as naiades e outras entidades oníricas; "impassível", que é daquelas que jamais perdem a majestade; "transcendente", que escapa à matéria; "translúcido", que me revela belezas feminis que as beldades querem (e não querem) conservar ocultas de olhos indiscretos; "songomongo", que é coisa de bobalhões, patetas, pacóvios e pascácios; "tanglomanglo", que me cheira à feitiçaria e a caiporismo; "peripatético", que às vezes me faz pensar em filosofia, e da alta, aristotélica, às vez em patetice; "escatológico", que me parece coisa do fim do mundo; "dantesco", que me inspira medo ao inferno, ao inferno de Dante Alighieri - sempre que penso no inferno, vêm-me à mente o do autor da Divina Comédia, que nem um pingo de comédia tem, o inferno dantesco, e um vórtice assustadoramente tétrico de imagens infernais invadem-me a mente: as ilustrações de Gustave Doré, horripilantes, assustadoras, dantescas, para o Inferno, o primeiro dos três livros que compõem a obra máxima do mais mal-encarado dos florentinos; "inconstitucionalissimamente". Mentira. Desta não gosto, não.

Algumas das minhas palavras-xodó aqui eu não as listei, mas as usei na redação deste texto, que é do balcobaco, um tanto quanto estapafúrdio, e translúcido, pois nele revelo, não direi ninharias, mas singularidades não necessariamente irrelevantes da minha personalidade.

Aqui, então, para apreço do leitor, que me é querido, uma palha das minhas palavras-xodó. Delas gosto, estimo-as.

Falei das minhas palavras-xodó, das palavras que são do meu agrado, das que atendem ao meu gosto. E as pelas quais nenhuma simpatia eu tenho quais são? Ora, se delas não gosto...


terça-feira, 12 de setembro de 2023

Humor

 Conjugação dos Verbos - mensagem do Barnabé Varejeira.

Bão dia, Cérjim, meu amigão do peito, do meu coração. Que Deus Nosso Siôr Jesus Cristo Menino tenha cuidado do cê desde a úrtima veiz que nos encotrâmo nós dois na casa do Rapapé, aquele desgramado de porquêra, aquele postêma de dois óio, perguiçoso, que só qué sabê de sombra e água fresca. Deus cuidô do cê, sei, pruque Ele sabe que o cê é ómi bão, de bão coração, apesar de argumas bestice que o cê faiz. E quem é que não faiz bestice?! Quem?! Que jogue a primêra preda quem nunca besticeirô arguma asneirice. O Rapapé é um desmazelado. E eu sôbe, e não digo da bôca de quem, que ele feiz uma das grande, daquelas de vexá o Tinhoso. Nada digo pruque não sô de fofocá mexerico. Dêxemo aquele ómi, que nada qué sabê da vida, e vâmo falá de coisa importante. E de que coisa importante vô falá, oje, Cérjim?! Dos meu estudo de Gramática da Língua Prutuguesa, em pircinpalmente as lição de cojungação dos verbo. Quero aprendê a cojungá os verbo pruquê, sabeno que o que é certo é certo, vô espaiá o que é certo, e o que é certo é certo, e não errado, né, não, Cérjim?! Intão, aprendo o que tenho de aprendê, pa dispois de aprendê o que tenho de aprendê ensiná o que aprendi pa quem não sabe o que têim de sabê que têim de aprendê o que não sabe. E veja que interessante, Cérjim: insiste mais de trenzentos mil verbo, dos mais extravagante aos mais vagante. E quem me disse tal?! O Três-em-Um, o fiótinho do seu Careca, o da Caneca, e não o da Tigela, irmão mais novo dele. O Três-em-Um é moço estudado, dos que enfia os nariz nos livro, e lê as palavra. E inté em voz alta ele lê as palavra, veja o cê! Que menino sabido! Batuta! Um maestro. Moço fora-de-série! O seu Careca, o da Caneca, é um pai sortudo pa dedéu. Têim um fio bão. E ele, o Três-em-Um, falô pa eu que todo verbo têim suas cojungação, que são não me alembro quantas, e cabe a seis pessoa falá. Não concordei com tal assertiva, mas calei-me. Pa que criá celeuma?! Seis pessoa só que falá os verbo, se insiste mais de oito trilhão de pessoa no mundo?! Bobaje! Mas dêxa quieto. E sabe, Cérjim, o que se me assucedeu ônti?! Tava eu falano co Saúva de gramática e de verbo e de adejetivo e de subiinstantivo e de ôtras coisas quano entrô na conversa um tipo, mais gordo que nunca vi, que, sem sê chamado, disse-me pa mim, e po Saúva: "Pa andá tem de usá o verbo andá." E eu, enchido de fúria, afinár não tinha eu, e nem o Saúva, convidado aquele enxerido pa conversa, que ainda nem tinha chegado no chiquêro, respondi, assim, sem pensá duas veiz, na lata, tacano os dedo nos óio daquele mané: "Pa andá não uso verbo, não, seu besta! Uso as perna. E, se percisá, uso uma bengala!" Ele esbugaiô os dois óio que Deus lhe pôs na cara, e calô quieto. Bem feito pa ele; agora ele aprende a não metê os beiço onde não é chamado. Bestaião! Parece, inté, o Carrapicho, tipo mais besta que Deus me livre! Agora, vâmo dexá de lenga-lenga, de lero-lero, e vâmo que vâmo falá de Gramática, a da Língua Prutuguesa, pruque a da Espanióla, e a da Francesa, e a da Japonesa, não me fui apresentado. Óia, Cérjim, o tróço é um pôco compricado, fique sabêno. Não pense que é farci, pruque num é. Esige dedicação e atenção, muinta, muinta. Mas vale o esforço. Despois de uns dia quarqué ómi aprende o que têim de aprendé; e as muié tanmém; o negócio não é tão dirfíci que elas não consiga enfiá dentro da cabeça. O primêro verbo, Cérjim, que aprendi a cojungá, foi o verbo oiar. E pruque este verbo, e não ôtro, se há tantos, e tantos, que enche dois bandejão de feijoada?! Pruquê todo mundo que, não seno desprovido de oio, óia; se óia, têim de sabê cojungá o verbo oiar pa podê oiá bêim. Intão, Cérjim, sem mais delongas, vô pubricá, aqui, po cê podê lê, a tabela cas cojungação do verbo oiar. Adispois, nôtro dia, mando po cê uma tabela ca cojungação de ôtro verbo, tarveiz o ovir, tarveiz o mentir, tarveiz o falar, tarveiz o respirar, tarveiz o embruiar, tarveiz o deprasfusar, tarveiz o teofonar.

Intão, Cérjim, aí vai a tabela cas cojungação do verbo oiar. Prestenção, e guarde na memóia.

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Verbo oiar cojungado.

Idincativo: Presente.

Eu óio.

Tu óia.

Ele óia.

Nóis óia.

Vós óia.

Eles óia.

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Idincativo: Pertéito Ipemferto.

Eu oiava.

Tu oiava.

Ele oiava.

Nóis oiava.

Vós oiava.

Eles oiava.

.

Idincativo: Pertéito Pemferto.

Eu oiei.

Tu oiou.

Ele oiou.

Nóis oiou.

Vós oiou.

Eles oiou.

.

Idincativo: Pertéito Mais-que-pemferto.

Eu oiara.

Tu oiara.

Ele oiara.

Nóis oiara.

Vós oiara.

Eles oiara.

.

Idincativo: Futuro do Presente.

Eu oiaiei.

Tu oiaiá.

Ele oiaiá.

Nóis oiaiá.

Vós oiaiá.

Eles oiaiá.

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Idincativo: Futuro do Pertéito.

Eu oiáia.

Tu oiáia.

Ele oiáia.

Nóis oiáia.

Vós oiáia.

Eles oiáia.

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Sujunbijutivo: Presente.

Que eu óie.

Que tu óie.

Que ele óie.

Que nóis óie.

Que vós óie.

Que eles óie.

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Sujunbijutivo: Pertéito Ipemferto.

Se eu oiásse.

Se tu oiásse.

Se ele oiásse.

Se nóis oiásse.

Se vós oiásse.

Se eles oiásse.

.

Sujunbijutivo: Futuro.

Quando eu oiar.

Quando tu oiar.

Quando ele oiar.

Quando nóis oiar.

Quando vós oiar.

Quando eles oiar.

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Imperativo Afirmativo.

Neste caso inspecial, eu não óio.

Óia tu.

Óia ocê.

Óia nóis.

Óia vós.

Óia ocêis.

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Imperativo Negativo.

Neste caso inspecial, eu não óio que eu não óio.

Não óie tu.

Não óie ocê.

Não óie nóis.

Não óie vós.

Não óie ocêis.

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Ifimnitivo Pessoal.

Por oiar eu.

Por oiar tu.

Por oiar ele.

Por oiar nóis.

Por oiar vós.

Por oiar eles.

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Vem inté aqui a tabela do verbo oiar cojungado pruque só cheguei até aqui. Mas têim mais, Cérjim, mas eu ainda não enfiei na cabeça a cojungação de todo: é muinta coisa pa í de uma veiz só. Vâmo por parte. Nôtro dia, Cérjim, se eu não se esquecê, e se eu se esquecê o cê se alembra de mim, mando po cê ôtras tabela ca cojungação de um e ôtro verbo. Que Deus Nosso Siôr Jesus Menino te apotreja. Inté.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Notas novaa

 

A Língua Portuguesa e as redes sociais.

É possível aprender idiomas assistindo-se a vídeos e lendo-se textos publicados estes e aqueles em redes sociais? Sim. Por que não?! Se souber procurar as jazidas, pode a pessoas encontrar o que procuram, e, encontrando-o, enriquecer-se imensamente.

São as redes sociais cidades, melhor, metrópoles, que de tudo oferecem. Em toda metrópole há bares, restaurantes, pizzarias, escolas, bibliotecas, igrejas, livrarias, farmácias, padarias, clubes, enfim, há de tudo, e mais um pouco. Tais quais as metrópoles, as redes sociais oferecem de tudo; nelas há estabelecimentos que oferecem política, e fofoca, e arte, e filosofia, e receitas de pães, de pizzas, e livros, e etecétera. E Língua Portuguesa. E de Língua Portuguesa, a última flor do Lácio, bela e formosa ainda, apesar dos maus tratos que lhe infligem, há muitas páginas. E aqui, neste piruá, trato, em poucas palavras, de três publicações, que li, ontem e hoje, as três a trazerem curiosidades da nossa querida Língua Portuguesa, uma das riquezas que Pedro Álvares Cabral trouxe da terra de Camões.

Não é este texto um ensaio, menos ainda um tratado; é apenas um piruá; e aqui quase nada se lê, supondo o autor que o que aqui se lê tem o seu valor, que seja pouco, mas tem.

Estão as três publicações no Facebook, as três recentemente publicadas, todas neste Setembro, uma, dia 8, a de Sergio de Carvalho Pachá, e as outras duas, a de Fernando Pestana e a da página Nomes Científicos, dia 9. Na primeira, o professor Sergio de Carvalho Pachá explica, no texto cujo título é "Por que, porque, por quê, porquê.", tu desconfias, leitor, as diferenças entre... Não digo. Já sabes. Quem nunca se enroscou com os porques?! Quem nunca usou "porquê" quando devia usar "por que"?! Quem jamais gravou "porque" quando o correto era "por quê"?! Que jogue a primeira pedra quem nunca, jamais, embaralhou-se com os teratologicamente amedrontadores porques, monstros antediluvianos que impedem os filhos de Deus de gozarem de boas noites de sono. E fala o professor Fernando Pestana, o segundo nome aqui inscrito, no texto "Só existe variação fora da norma padrão?", ligeiramente árido, de gramática normativa, das variações da língua, do falar do povo, e da norma-padrão, e da norma culta, e da escrita, e outras coisas interessantes. E no texto "Senhora está no Céu." na página dita acima, o autor, cujo nome não registrei, conta a história do senhor Seu e da sua consorte, a senhora Dona. É interessante a história que nos conta o autor do texto, um romance histórico, que, perpassando séculos da história humana, e apresentando-nos aos romanos do tempo dos césares, a São Jerônimo, e aos portugueses arcaicos, e aos homens da Idade Média, e a Dom Pedro II, à Dona Isabel, mostra os heróis da História, os senhores Dominus, Dom, Sinhô, Ioiô, e as senhoras Sinhá, Nhanhá, e o seu burro e o seu Rafael, a correrem terras italianas, portuguesas, francesas, espanholas e brasileiras do tempo de Castro Alves e José do Patrocínio. História emocionante, cativante, a do senhor Seu e da senhora Dona, história que tem a revelar-nos muitos eventos intrigantes, inúmeras tramas rocambolescas, aventuras sem fim, e conhecimentos que ainda estão além do alcance de simples mortais.

*

Breves palavras acerca de algumas pinturas.

Se não pode quem gosta de pinturas ir às galerias de arte admirar as obras que os maiores e mais geniais pintores do universo pintaram desde o tempo das cavernas, que delas admirem reproduções fotográficas publicadas em revistas e livros e cópias digitais exibidas em galerias virtuais, estejam, estas, em sites, em redes sociais. E em rede social, no Facebook, há páginas que oferecem aos amantes da arte reproduções das mais admiráveis pinturas que o mundo já viu. E eu, que não deixo que me escape nenhuma oportunidade, que a vida me oferece, de admirar as maravilhosas obras que o gênio humano é capaz de concretizar, admirei, publicada, dia 01 de Setembro, na página Maurício Stefanowsky Fine Artist, de Pompeo Girolamo Batoni, a Apolo e Duas Musas, um óleo sobre tela que exibe um homem nu, de bela musculatura, de rosto dir-se-ia angelical, a olhar para o alto, a cobrir-lhe do corpo as partes que devem ser cobertas uma túnica azul, e duas musas a admirarem-lhe a beleza, digo, na ausência de um adjetivo melhor, apolínea. E da página Classic For All admirei cinco pinturas: de François Lemoyne-Time, Cronos Salvando a Verdade da Falsidade e da Inveja, que exibe um homem grandioso, numa postura heróica, ao punho direito, segurando-a com firmeza, uma foice de cujo cabo a extremidade está enterrada no ventre de uma figura que tem máscara à mão - e outros detalhes para cuja descrição eu dedicaria linhas e mais linhas; de Charles-Joseph Natoire, Psiquê Obtêm o Elixir da Beleza de Prosérpina, a exibir um festival em homenagem a Baco - e as cenas que tal pintura exibe é de se imaginar; de Felice Giani, Cupido e Psiquê, na qual se vê, deitada, Psiquê, e, nu, a ataviá-lo asas, Cupido; de Herbert James Draper, Water Baby, A Lyttle Nereid, na qual se admira uma esbelta mulher, belíssima, nua, de pele diáfana, no litoral, entre pedras, a admirar uma criança a dormir dentro de um imensa concha aberta; de Charles William Mitchell, A Luta de Bóreas com Oritheya, ela mulher branca, seminua, a cobrir-lhe veste diáfana da cintura para baixo, ele homem barbudo, de asas pretas, ela dele esforçando-se por se desvencilhar. E de Jules Lefebvre, admirei, publicada na página Nude (Art) Early and Late Modern, a pintura La Véríti, um óleo sobre tela que traz, nua, em pé, uma sensual, discretamente iluminada, figura feminina.

E concluo, aqui, estas notas breves? Não. Nelas cabem algumas outras palavras, poucas: de Francesco Sabatelli admirei Ajax The Lesser, Son of Oileus, óleo sobre tela que mostra um homem musculoso, de musculatura rija, nu, tecido vermelho a cobrir-lhes as partes pudendas, braços estendidos para o alto, a sustentar-se, com a mão esquerda, no galho de uma árvore, e, com a direita, numa rocha, tendo, à cabeça, um elmo. E da página Virtual Art Museum, exibidas, em 9 de Setembro, de Johann Jakob Wolfensberger, mais de quarenta pinturas, painéis de montanhas, escadarias, ruínas, templos, árvores, em tons claros, prevalecendo o verde, o azul e o branco. E de Rembrandt uma pintura que me desperta pensamentos, admiração ilimitada, Jeremiah Lamenting the Destruction of Jerusalem, que tem em seu centro um velho, vestes azuis a cobri-lo quase que por inteiro, a cabeça, levemente caída para a frente, descansando sobre a mão esquerda, que lhe está no rosto. Está esta pintura na já citada página Maurício Stefanowsky Fine Artist.

E também admirei The Alba Madonna, de Rafael Sanzio da Urbino.

Estas obras-primas todos as merecem conhecer.

*

A asnice do Lula. A prisão do Putin. E a Terceira Guerra Mundial.

E o tal L, hein?! quem diria?! fez mais uma asnice! E quem se surpreendeu?! Mais uma das suas ele fez, e as das suas são dele; e é de agora; e envolve o amável Vladimir Putin, que, mais do que nenhum outro chefe-de-Estado moderno, aprecia exibir para todo o universo seus lácteos caninos, afiadíssimos, que todos os bípedes implumes admiram, embevecidos.

O que fez o rematado toleirão brasileiro, o tal L, homem de porte apolíneo e sabedoria socrática?! Declarou, e de viva voz, e para todos os sapiens, homens e mulheres, ouvirem, que será o senhor Putin, o mais adorável e meigo dos Vladimires, se puser os seus róseos pés em terras em que se plantando tudo dá, bem recebido, podendo flanar, livremente, e despreocupadamente, por onde bem entenda, porque é o Brasil um país de gente pacífica, e fazendo de conta que aquele documento internacional que pede a prisão dele é, nada mais, nada menos, do que papel sem valor.Corajoso, e sepientíssimo, é o excelentíssimo L.

O Brasil, disse-me um passarinho, aquele de sempre, que sempre me dá notícias do arco-da-velha e do balacobaco, é signatário de um tratado, o de Roma, que tem conexão com o Tribunal Penal Internacional, que expediu uma ordem de prisão ao conterrâneo de Liev Tolstoi e Fiódor Mikailovitch Dostoievsky, o senhor Putin, que, em português castiço do Brasil, atende por Putinho, também alcunhado Vladimir, e de quem se conta histórias edificantes, aventuras misteriosas, folhetins rocambolescos recheados de acidentes com venenos, plutônios e outras substâncias que vitimizam homens que não contam, por alguma razão desconhecida de todos, com a simpatia dele. E se é o Brasil signatário do dito tratado - e está o dito tratado mal dito?! -, tem o Brasil de fazer valer o que ele exige, isto é, prender Putin, mandá-lo para o xilindró, fazê-lo ver o Sol nascer quadrado.

Em que enrascada o tal L pôs o Brasil!

Vai que o Putinho vêm! E aí, como é que fica?! Se descumpre o Brasil o Tratado, o de Roma, do qual é o Brasil signatário, Paris, Berlim, Nova Iorque (Nova Iorque é a capital dos Estados Unidos, não é?!), Tóquio, Lisboa e Roma (sei lá eu se França, Alemanha, Estado Unidos, Japão, Potugal e Itália autografaram o tratado que está no cerne do imbróglio internacional - o passarinho não me deu os detalhes) despejam, sem pena, nem dó, bombas na terra de Ceci e Peri. Se cumpre, Moscou destrói meio mundo, quero dizer, varre o Brasil do mapa.

Estou eu a usar de uma hipérbole, uma hipérbole grandiosamente exagerada e exageradamente grandiosa, absurdamente grandiloquente, hiperbólica, hiperbólicamente hiperbólica, ao desenhar, para o ano que vem, o de 2.024, os dois cenários acima considerados?! Este artigo é, nada mais, nada menos, do que um exercício de imaginação, afinal, sabemos que há, no Itamaraty, do grandioso Barão do Rio Branco, um corpo diplomático supimpa, que contornará a situação. Além disso, já deu o tal L o dito pelo não dito, mandou às favas o Benedito, e jogou a batata quente nas mãos da justiça nacional. Mui amigo o tal L, não?! Amigão do peito. Amigo da onça, isso sim! Faz a caca, e anuncia: "Não fui eu!"

Cá entre nós, querido leitor: viveríamos grandes emoções se o Putin pisasse em terras nossas, não viveríamos?! De uma coisa tenho certeza: se tal se desse (não escrevi "se tal cedesse" - observação sem propósito), o Brasil converter-se-ia no epicentro da Terceira Guerra Mundial e seria o primeiro país a virar pó, e o tal L nem sequer um arranhão sofreria, pois ele estaria a fazer o que sabe fazer de melhor, viajar por terras estrangeiras.

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Galaxy Trio - Drackmore, o Déspota (Galaxy Trio in: Drackmore, the Despot) - desenho animado.

No espaço sideral, os três super-heróicos tripulantes de Condor Um recebem, do QI Intergaláctico, mensagem, que carrega a uma ordem: que eles se dirijam ao planeta Paraíso Dois, localizado no Cinturão da Tranquilidade, para verificarem um fenômeno misterioso que lá ocorreu com as naves que para lá haviam ido e que de lá não regressaram. E Condor Um, carregando em seu ventre o Homem-Vapor, o Homem-Meteoro e a Mulher-Flutuadora, atende ao chamado. E no Planeta Paraíso Dois, o poderoso trio depara-se com um déspota, Drackmore, ser crudelíssimo que mantinha acorretados povos inteiros. E o trio mais valente e poderoso da galáxia decide enfrentá-lo e libertar os escravos.

Esta aventura heróica, um episódio da história da galáxia, está registrada, e para sempre, nos anais da História Universal.

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Frankenstein Jr. - O Gigante Mau que era gênio (Frankenstein Jr. in: The Gigantic Ghastly Genie) - desenho animado.

Jamais imaginou a senhora Shelley que seu filho mais querido, mais amado, mais admirado, mais popular, mais temido, o monstro, e não o doutor, um dia daria à luz um robô gigante. É claro que, e eu não precisaria dizer, que ao nascer, o rebento de Frankenstein, o monstro, e não o doutor, era uma criatura fofinha e rechonchuda, e graciosa, e rosada, e não um colosso robótico, maquinal, repleto de parafernálias saídas da cabeça inventiva do Professor Pardal. Mas pode um robô vir à luz minusculamente pequeno e crescer, e crescer, e crescer, e, encorpando-se ilimitadamente, vir a assumir as dimensões grandiosas de King Kong, outro monstro de todos amado e temido? Não. Não pode. Apenas uso de minha liberdade literária para, estendendo-me indefinidamente, nesta resenha escrever algo que, presumo, merece ser lido.

Basta de blablabla, e vamos ao que interessa: é o Frankenstein, o Júnior, um robô, e gigante, tu já sabes, leitor, pois tal está dito acima; ele atende, sem se fazer de rogado, indefectivelmente, ao chamado de Bob, um garoto corajoso e denodado, valente, com quem vive aventuras heróicas, emocionantes, nos quatro quadrantes do universo; neste episódio, eles vão ter às arábias, terras adustas, onde enfrentam um gênio da lâmpada, que atende aos três desejos de um tal de Zorba, homem crudelíssimo, iníquo; e é o embate feroz, sanguinolento, e mágico, afinal é da terra das mil e uma noites, usando o gênio de seus poderes mágicos e o robô gigante, que, não sendo o Robô Gigante, é gigante, de seus poderes, que, não sendo mágico, parecem saído da cartola, desenrolando-se, a luta, enfim, encontra um fim; e estão no seu fim, como não poderia deixar de ser, a vitória do herói e a derrota do vilão. E cabe perguntar: Que fim levou o gênio?

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Toro e Pancho - Sapo Atleta (Tijuana Toads - Frog Jog) - desenho animado.

São os sapos - quem diria! - criaturas vaidosas. Nesta aventura, que se dá num brejo, Toro, um sapo gordo, balofo, após, num passeio de barco com uma linda sapinha, Flora, uma princesinha, um docinho, com seu corpanzil volumoso afundar o barco, para agradar a sua querida amada, que lhe pede que emagreça, perca peso, e a banha que lhe incha o perfil, vendo-se em apuros, sem saber o que fazer, acolhe uma exortação, que lha faz Pancho, um sapo magricela, de bem com a vida: que Toro dedique-se às atividades físicas. E Toro, acolhendo-lhe a sugestão, lança-se à aventura: dedica-se de corpo e alma às atividades físicas: levanta halteres, e corre, e corre, até que... O que acontece?! Se o cartunista, tal qual Zeus, o deus do Olimpo, brincalhão que só ele, intromete-se na história! É a aventura de Toro um sonho apenas?! Um sonho num dia de verão?!

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Num certo país, de um desconhecido planeta de uma galáxia desconhecida...

Num certo país, de um planeta muito distante de uma galáxia ainda mais distante, seu chefe-maior, o indigníssimo mentecapto, o desonestíssimo cadáver semi-vivo putrefato, o horribilíssimo sevandija descerebrado, a expelir, pelo canal excretor, as suas estupidíssimas palavras fedorentas, que lhe recheiam o intestino, que lhe preenche todos os malcheirosos interstícios de sua horrorosa cabeça, dissemina a graveolência excrementícia de seus pensamentos luciferinos por todo o território que lhe está sob o governo, assim poluindo a atmosfera, e, consequentemente, apodrecendo o cérebro, dos seres que o possuem, a ponto de liquefazê-lo, fazendo daqueles agora desmiolados monstruosidades escalafobéticas e estúpidas incapazes de emitir um pensamento que não venha embrulhado com duas camadas de excremento solidificado de consistência de concreto. E a breguíssima e estupidíssima consorte do indigníssimo chefe-maior, espécime esquisitíssima, criatura bizarra, espantosamente ridícula, estranhíssima, emite, sempre que arreganha a cloaca, asneiras e patetices miasmáticas tão potentes que idiotizam e emburrecem e estupidificam cérebros poderosos.

A dupla indigníssima, das mais estúpidas que já pisou nas terras daquele certo país daquele afastado planeta daquela ainda mais afastada galáxia, tem o dom da destruição universal.

E após uma geração sob o governo de tais seres, o povo daquele certo país, daquele longínquo e distante e afastado planeta daquela ainda mais longínqua e distante e afastada galáxia, pereceu, e de sua existência não se conhece nenhum vestígio.

Notas: as palavras acima foram copiadas de uma página de um documento extra-terreno, a única que dele o tempo preservou, e convertidas para os idiomas terráqueos. Calcula-se de tal documento sua idade em três centúrias. Não se sabe de que país, de que planeta, de qual galáxia se refere. Desconhece-se o nome de seu autor e o seu título.

Observação: para a nossa felicidade, a de terráqueos, não temos que nos preocupar com tipos humanos que se equivalem em estupidez, ignorância, indignidade, iniquidade, ao indigníssimo chefe-maior daquele incerto país daquele desconhecido planeta daquela ainda mais desconhecida galáxia e de sua indigníssima consorte.

sábado, 9 de setembro de 2023

Artigo

 A desbolsonarização do 7 de Setembro.


Diz a lenda que o Sete de Setembro estava bolsonarizado.

No momento em que os bolsonaristas, abrindo mão do direito de irem assistir aos desfiles, decidiram ficar em casa, os lulafazoelistas ganharam o caminho livre para, comparecendo, em peso, ao 7 de Setembro, desbolsonarizá-lo, pois, assim o fazendo, os bolsonaristas de fora da história, provariam para todo o mundo que os bolsonaristas não têm o direito exclusivo de comemorarem a data. Mas, quê! Os lulafazoelistas entenderam mal, e porcamente mal, a idéia: era para eles irem aos desfiles, marcarem presença, fotografarem-se, filmarem-se, exibirem para o universo multidões de brasileiros felizes, alegres, a festejarem tão importante data, e não ficarem em casa. E agora?! Podem os lulafazoelistas provarem que têm sentimentos patrióticos, sem que tenham para anexar aos seus discursos imagens e vídeos de multidões festivas a assistirem aos desfiles?! Têm fotos e vídeos de si mesmos trajados a caráter, emoldurados por vestes verdes e amarelas, e a brandirem, sorridentes, a bandeira do Brasil?! Têm eles com o que provarem que fizeram do 7 de Setembro deste ano uma festa cívica, popular, de todos os brasileiros?! Não. Não. E não. Não possuem sequer uma foto, um vídeo de cinco segundos, que possam exibir para o mundo.

Diante do que se viu, ontem, em todo o Brasil - ruas e avenidas desertas -, obriga-se todo brasileiro a se perguntar se nasceu da má-fé de espíritos-de-porco a história da bolsonarização do 7 de Setembro, do sequestro, pelo presidente Jair Messias Bolsonaro e pelos bolsonaristas, do 7 de Setembro e dos símbolos nacionais.


*


O que o 7 de Setembro deste ano revelou para o mundo.


Sete coisas ficaram patentes neste Sete de Setembro:

1) O presidente do Brasil é um cadáver semi-vivo em avançado estado de putrefação;

2) A primeira-dama é exageradamente brega, ridiculamente brega, pateticamente brega, estupidamente brega;

3) Nem os lulafazoelistas aturam o Lula;

4) A política do Fique em Casa fez um bem inestimável ao Brasil;

5) O presidente Jair Messias Bolsonaro e o bolsonarismo estão mais vivos do que nunca;

6) Com a escassez de verba não foi possível comprar mortadela, picanha e merenda para todo mundo - mas a metáfora foi garantida; e,

7) Ainda há jabuticabas no Brasil.

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Uma crônica e notas

7 de Setembro de 2.023. O maior espetáculo da Terra.

Brasil varonil!

Os brasileiros comemoramos, animados, alegres, felizes, mais um aniversário natalício da nação brasileira! O ducentésimo primeiro!

Há duzentos e um anos, nesta data de 7 de Setembro, o conspícuo e sereníssimo imperador do Brasil, o majestoso e digníssimo e imperial Dom Pedro I, paramentado com as suas digníssimas e eminentíssimas vestes imperiais, às margens do caudaloso e piscoso Ipiranga, bradou aos céus, o Cruzeiro do Sul a inspirar-lhe o digníssimo e sapientíssimo espírito, espada dourada, reluzente, em punho, montado no dorso lustroso de um robusto e majestoso alazão, a sentença, que a História registra, "Independência ou Morte!", que reflete as grandiosidade e majestade de tal episódio histórico, inédito na história do universo.

Brasileiros, amados brasileiros, assistimos, com a mão no peito, lágrimas a se nos escaparem dos olhos emocionados, a cantarmos o Hino Nacional, a drapejarmos a Bandeira Nacional, no dia de ontem, 7 de Setembro de 2.023 de Nosso Senhor Jesus Cristo, às grandiosas exibições militar e cívica, nas ruas e avenidas de todas as cidades brasileiras, o povo, a irmaná-lo o mesmo sentimento de amor pelas instituições que fazem do Brasil o país fantástico que é, bonito por natureza, terra em que se plantando tudo dá, terra abençoada por Deus, terra de heróis, terra de gente que não desiste nunca, a louvar o chefe da nação, homem querido e amado, heróico e majestoso, imperial e guerreiro, de todos respeitado e admirado, homem que melhor do que nenhum outro representa e interpreta o sentimento de esperança do povo que tanto ama, e a sua digníssima consorte, mulher cheia de graça, a coisa mais linda que a fértil natureza pátria criou!

Brasileiros! Em todos os estados da federação assistimos ao esplendoroso espetáculo popular! Assistimos ao congraçamento nacional! Assistimos à renovação das amizades desfeitas em anos recentes! Assistimos às demonstrações de felicidade impar! Assistimos ao anúncio de um novo Brasil! Assistimos à união de forças de todos os brasileiros, que abandonaram as suas diferenças para atingirem, todos, unidos, o mesmo objetivo: o de fazer do Brasil um país justo, pacífico, amoroso, gentil, do coração do povo a brotar harmonia, compreensão, respeito, amor, de todos por todos.

Anunciou-se, brasileiros, neste histórico 7 de Setembro, uma data inédita na história do Brasil, uma nova era, os brasileiros, livres, num país democrático, que até há poucos meses viam a democracia em terras pátrias ameaçada por forças fascistas e nazistas, a abraçarem-se, numa festividade coletiva pública que dá ao mundo um exemplo de povo que, unido, sob a liderança de um líder nato, seu líder maior, um estadista sem igual, e sua consorte majestosa, e gozando da liberdade, que os seus representantes generosamente, e amantes que são da democracia, abnegadamente concederam-lhe, sabe o que quer, e o que quer é a liberdade, a justiça, a democracia, uma sociedade sem desigualdades, sem injustiças sociais.

Brasileiros, assistimos às multidões, em toda a nação, a cantarem, com voz forte e brado retumbante, o Hino Nacional, a recitarem-lo, a plenos pulmões, a entoarem-lo com a voz dos trovões, voz tão poderosa! tão estrondosa! tão tonitruante! que emulou a voz dos deuses, divina!

Brasileiros, o espetáculo ao qual assistimos, ontem, projeta, num futuro próximo, diante de nossos olhos, o progresso do Brasil, fabuloso, a riqueza do Brasil, grandiosa, a força do Brasil, poderosa!

Avante, brasileiros! Avante! Para a frente, sempre! É o Brasil o país do futuro! O futuro, diante de nossos olhos, o Brasil agora sob admnistração competente, revela-nos o paraíso que estamos, os nossos representantes a obrarem obras grandiosas, a erigir! Ânimo, brasileiros! Nova era, de esplendor, inicia-se! Os espetáculos aos quais assistimos, ontem, são as provas de que precisamos para, de cabeça erguida, peito estufado, com braço forte, e mão amiga, a liderar-nos o mais popular dos heróis pátrios, o nosso querido e amado presidente, e a sua digníssima consorte, erigirmos a mais poderosa das nações.

Brasil varonil!

Avante, brasileiros!

*

Sete de Setembro de 2.023, a mais popular festa cívica do Brasil.

Sete de Setembro de 2.023.

Na avenida onde o desfile acontece, um ambulante anuncia a plenos pulmões:

- Picanhas! Picanhas! Picanhas quentinhas! Picanhas! Picanhas! Pi... Ué?! Cadê todo mundo?!

*

Perguntou um homúnculo de aparência animalesca e voz cavernosa e peçonhenta, a expelir vapor mefítico, para um homem, que passava ao seu lado:

- Companheiro, por que você não foi ao desfile?

- Eu fui.

- Foi, companheiro?!

- Fui.

- Mas eu não vi você lá, companheiro.

- A minha ida ao desfile é metáfora.

*

O desfile de Sete de Setembro de 2.023, ontem, foi o mais constrangedor, o mais sem graça, o mais ridículo, o mais vazio, o mais triste, o mais depressivo da história do Brasil.

É e não é compreensível o que se viu ontem. É, porque temos na presidência e na vice-presidência as duas figuras mais sem-graça, mais sem sal e sem açúcar, mais ridículas, mais patéticas, e etecétera e tal, da política nacional - e não falei da primeira-dama, dos ministros e de outras figurinhas do atual governo. Não é, porque são mais de sessenta milhões os votantes do tal "L", e todos eles são patriotas, e todos eles amam o Brasil, e todos eles respeitam os símbolos nacionais, e o Sete de Setembro, portanto, todos eles deveriam ir ao desfile para mostrar o amor que têm pelo país, mas não foram. E não foram por quê?!

*

Caíram por terra, ontem, três mentiras que os anti-bolsonaristas têm aconchegados em seu seio: a de que eles amam o Brasil, respeitam os símbolos nacionais, e o Sete de Setembro - ora, sabemos que eles são uma legião, mas, ontem, por obra da magia, sumiram; a de que Lula é popular - ano passado, nas urnas, Lula ganhou mais de sessenta milhões de votos, e todos estes, ontem, viraram pó; a de que no tempo do presidente Jair Messias Bolsonaro só uns sete fanáticos gato-pingados bolsonaristas participavam das manifestações (diziam que o presidente Jair Messias Bolsonaro tinha transformado o Sete de Setembro numa festa em comemoração de seu aniversário) - e ontem e hoje vemos, num mesmo quadro, duas fotos justapostas, ou uma sobreposta à outra, uma a exibir o Sete de Setembro de 2.022, outra a de 7 de Setembro de 2.023, e nas de 2.022, presidente Jair Messias Bolsonaro, vê-se multidão alegre, feliz, esperançosa, e nas de 2.023, presidente Luis Inácio Lula da Silva, o povo em metáfora.

*

Faltou mortadela, ontem.

*

No governo Lula, picanha é metáfora; e o povo brasileiro também.

*

Cabia aos lulafazoelistas, ontem, resgatarem das mãos do presidente Jair Messias Bolsonaro e dos bolsonaristas os símbolos nacionais e o Sete de Setembro que eles sequestram em anos passados, mas nada fizeram.

*

O Sete de Setembro deste 2.023 foi uma lição para todo brasileiro que deseja apreendê-la: os esquerdistas desprezam o Brasil, não tão nem aí para os símbolos nacionais que eles, até ontem, diziam respeitar, e Lula não é popular, não é um líder carismático, e não é um herói nacional, tampouco o dono do Brasil, e nem os eleitores dele acreditam nele.

*

Há uma lição a se tirar deste Sete de Setembro:

ao ficarem em casa, os bolsonaristas não ofereceram aos seus inimigos nenhuma oportunidade para eles empregarem algum artifício para agredi-los - não há imagens que possam ser usadas para ridicularizá-los, não há vândalos que, infiltrados em multidões, que não existiram, promoveram quebra-quebra; em outras palavras, os bolsonaristas para os seus inimigos não ofereceram de mão-beijada munições - às vezes o melhor a se fazer é não fazer nada, a manfestação silenciosa é melhor do que a revolta barulhenta.

*

Bolsonaro e o sequestro do 7 de Setembro. E os fazoéles.

Fui, ontem, assistir ao resgate, pelos fazoéles, do dia 7 de Setembro, e da Bandeira Nacional e do Hino Nacional, efemérides, e símbolos pátrios, que o presidente Jair Messias Bolsonaro e os seus sectários bolsominions haviam sequestrado. Perdi a viagem. Os fazoéles não o resgataram. Sabemos que é o sequestro um dos crimes mais hediondos que o ser humano é capaz de perpetrar; e mesmo cientes de que o presidente Jair Messias Bolsonaro e seus bolsominions têm trancafiados num cárcere fétido a data e os símbolos sequestrados os fazoéles nenhum dedo moveram para resgatá-los. Estou desiludido, frustrado, desgostoso com a inação dos fazoéles. Eu esperava tanto deles!

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Uma crônica

 O 7 de Setembro de 2.023 e os lulafazoelistas.


- Viu?! No desfile, hoje?! Ninguém! Ninguém! As ruas, vazias!

- Faltou mortadela.

- E picanha.

- Picanha, não. Picanha é só metáfora.

- Não entendo uma coisa.

- O quê?

- O Bolsonaro não tinha sequestrado o 7 de Setembro, e o Hino, e a Bandeira?

- Tinha.

- E os lulafazoelistas sabem disso, não sabem?!

- Sabem.

- Então... Então por que eles, que hoje estavam com a faca e o queijo na mão, não aproveitaram a oportunidade, não resgataram o 7 de Setembro, o Hino, e a Bandeira?!

- Sei lá.

- Estranho, né?!

Um conto

 

O velho e sua mulher de dezoito anos.

- Há homens bem espertos: casam-se com mulheres bem mais jovens. O Claudião, da Ferragens Enferrujadas, por exemplo. Tem aquele vagabundo quarenta e dois anos. E casou-se, no sábado último, com a Lúcia, filha do seu Zé Pó de Carrapato. E qual é a idade da moçoila?! Vinte e um. O Claudião é vinte e dois anos mais velho do que ela.

- Vinte e um, ô, gonorante. Fugiu da escola?!

- Ora, se setenta e sete mais trinta e três dá cento e vinte...

- Matemágica.

- E o Chico do Estrume?! Aquele velho safado! O malandro têm sessenta e um anos. Sessenta e um! E no ano passado, ou no antepassado, não me lembro, ele arrumou casório com a menina da dona Leonor. E qual é a idade dela?

- Da dona Leonor?!

- Dela, não; da menina dela.

- Dezenove.

- Então, quando casou...

- Dezenove era a idade que ela contava então. Hoje tem ela vinte.

- Tem certeza?

- Certeza não tenho. Mas 'tô certo que o que eu disse 'tá certo. Tinha dezenove; tem vinte.

- Então, o Chico do Estrume é mais velho do que ela... Quanto?!

- Estrupício! Não sabe fazer conta?! Quarenta e dois anos.

- Vixe! Uma velharia daquelas, caindo aos pedaços, casar-se com um pitéu daqueles! Cada coisa que só Jesus na causa!

- Será que dá certo?!

- Até que a morte os separe?! Se um morrer antes do outro, dá.

- E se ambos os dois morreram simultaneamente ao mesmo tempo?

- Aí não sei.

- Saberemos. Talvez.

- E o Gui da Gui, então?!

- Gui da Gui?!

- O Guilherme, filho da velha Guiomar.

- Que que tem ele?!

- No mês passado, ele arrumou de se amarrar com a Lurdinha, a filha mais nova do seu Joca Saúva, cuja esposa, mulher brava que nem um gambá, e tão fedida quanto um, é a dona Berta. Que mulherão!

- A dona Berta?!

- Não. A Lurdinha.

- Você sabe que ela gosta da torcida do Flamengo, não sabe?!

- Sei. Mas ninguém há de negar que ela é um mulherão.

- Tem a menina, mulher feita, vinte anos.

- E o Gui da Gui cinquenta e oito.

- A diferença de idade entre eles: trinta e oito anos. A de experiência... Ela é mais experiente do que ele.

- E aquele filho-da-mãe, o porqueira do cão tinhoso, o tranqueira dos infernos!

- Quem?!

- O Donga.

- Setenta anos tem aquele velho. E 'tá forte o homem!

- E a Larissa, aquela serelepe, mocinha de vinte e poucos anos, foi feliz para a lua-de-mel.

- Vai para mais de quarenta a diferença de idade entre eles.

- Até mais.

- E o meu avô, que se casou com uma jovem de dezoito anos!

- Seu avô?! Qual é a idade de seu avô?

- Oitenta e seis.

- Oitenta e seis?! Meu Deus! Ele casou-se com uma de dezoito?!

- Sim.

- Ele não aguenta, não!

- Por que não?!

- Ora! Por quê?! São... Deixe-me ver... Nos dedos: oito pra seis dá oito, e desce um, e este um que desceu mais um dá dois, e dois pra oito dá seis. Sessenta e oito. Sessenta e oito anos de diferença!

- Quê?! Que sessenta e oito de diferença, o quê?!

- Sessenta e oito, sim. Faça a conta.

- Meu avô e a mulher dele têm a mesma idade.

- Como é que pode?! Você ficou louco?!

- É verdade. Ele e ela casaram-se em 1.955, e naquele ano ambos tinham dezoito anos de idade.

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Vários

Piruás e Farelos - volume 5.

Franz Kafka, e o ráquer, e as câmeras do Oito do Um, e o gópi-de-estado-atrapaiado.

Eita! Agora vai! Aonde vai o que está indo para algum lugar, não sei. Sei que estamos numa distopia kafkiana elevada à enésima potência, e tão atrapaiada ela é, que não sei se rio, se choro, se choro de tanto rir, se rio de tanto chorar.

Chegou-me ao conhecimento, leitor, que me é muito caro, e ao teu conhecimento também, presumo, que o governo brasileiro desconhece a tecnologia do backup. Sim. Vê, leitor querido e amado: o nosso amicíssimo ministro da justiça disse, há pouco, com a sua proverbial eloquência ática e barroca, pingada de alguns elementos, raros, para o nosso bem-estar, gongóricos, que ele, vê! não pode apresentar a quem de direito as imagens que as onipresentes câmeras de vigilância do interior das instituições mais caras, caras porque dispendiosas, do Brasil gravaram devido a um senão técnico absurdamente importante que, não se sabe exatamente porque cargas-d'água, negligenciaram as autoridades competentes, que se revelaram incompetentes: as câmeras conservam na memória do agádê as imagens gravadas por no máximo quinze dias, e vencido este prazo são substituídas por outras imagens, que por sua vez... Tu me entendeste, leitor. Memória fraca tem o agádê das câmeras do governo, né, não?! Se os elefantes as houvesse inventado! Sabe-se que eles têm boa memória - se é verdade, se história da carochinha do arco-da-arco do tempo do onça, não sei.

Mas... Vê! Bem que o governo, ciente da escassa memória do agádê das câmeras, poderia providenciar, já no dia nove do um, uma cópia das imagens que elas gravaram. Cópia, ou, em vernáculo castiço de Shakespeare, bécape. Tal tecnologia está à disposição de todo ser vivente que não tenha penas, seja mamífero, e bípede, e conte, caso saiba contar, com trinta e dois dentes dentro da boca.

E como é que fica, agora, a tal da Cepeí, esta senhora barraqueira e mexeriqueira, que mais do que ninguém sabe rodar a baiana e arremessar substâncias fétidas no ventilador, do dia Oito do Um?! Quem sabe?! Não havendo imagens que possam vir a pôr cada pingo do seu respectivo i e dar para cada boi o nome que lhe compete, fica a dito pelo não dito, e que se dane o Benedito, e o J. Pinto Fernandes, que entrou na história sem que alguém o tivesse chamado. Enxerido sem ser querido ele é!

- E o ráquer, mané?! - pergunta-me o leitor.

Ah é! Esquecia-me dele! Perdoa-me, leitor. Tenho memória fraca. Meu cérebro já está gasto de cinquenta anos. Paciência.  Do que o passarinho me contou, sei que o ráquer e o seu adevogado, um abacate - piada infame, que aprendi com o Foggy Nelson - são bem atrapaiados, de fazerem rir Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.

E cá entre nós, leitor: o gópi-de-estado que os bozinhos planejaram foi bem atrapaiado, não foi, não?! Se querem aprender a executar um golpe-de-estado, e dos bem dados, que eles consultem os nigerinos e os gaboneses.

*****

O equino taradão. Brasil, terra de boas escolas.

Não quero, aqui, neste piruá, dar a entender que entendo o que não entendo, e que não entendo o que entendo tampouco.

Veio-me - de onde me veio não anotei a placa - a saber que em algum canto do Brasil há gente que acredita que o mal do Brasil está onde não devia estar: na escola. Quem poderia imaginar, hein?! Na escola?! Ora, sabemos todos os seres viventes que tem o Brasil o melhor sistema educacional de que se tem notícia, sistema educacional que os japoneses, e os finlandeses, e os sul-coreanos invejam. Eles morrem de raiva sempre que lhes contam que tem o Brasil um sistema educacional melhor do que os deles. E de raiva eles morrem por quê?! Ora, porque eles sabem que o que sabem é a mais pura verdade, a verdade verdadeira. Só as más-línguas, só os espíritos-de-porco, só os de má-fé recusam-se a reconhecer a majestade do sistema educacional brasileiro, que conta, todo ano, indefectivelmente, com investimentos da ordem das centenas de bilhões de Reais.

Qual outro país, queridíssimo leitor, tem, nas escolas, equinos tarados e outras criaturas mágicas?! Nenhum! Nenhum!

Oxalá um dia, num futuro próximo, os japoneses e os sul-coreanos e os finlandeses, dando mãos à palmatória, em vez de bufarem de raiva toda vez que ouvem falar da maravilha que é o sistema educacional brasileiro, que lhe copiem os métodos pedagógicos, foras-de-série e de outro mundo de tão perfeitos.

E tenho dito. E que se lasque o Benedito.

*****

Por que há brasileiros desgostosos com o Brasil, se temos picanha para dar e vender?!

Não vejo razão para a sem-razão, um tanto quanto irracional, do desgosto e da frustraçao e da desilusão daqueles seres viventes que estão a se empanturrar de picanhas metafóricas. Ora, metáforas são nutritivas. Não só de pão vivem os homens, e as mulheres tampouco. O que seria dos bípedes que não têm nem penas nem bico se não lhes nutrissem o espírito suculentas metáforas?! O que seria dos poetas se ninguém as houvesse inventado?! Homero não teria se ocupado com a sangrenta guerra de Tróia e com o périplo de Odisseu, e Dante não teria, Virgílio a ciceroneá-lo, descido ao inferno - e ao inferno dantesco, o mais infernal dos infernos! (E por que Virgílio ciceroneia o senhor Alighieri?! Tão ingente tarefa - um cacófato, que revela a minha malícia, meu Deus! - não seria da incumbência de Cícero?!), e Camões, o nosso magnífico Luís, nada escreveria acerca do grandioso Adamastor.

Agradeçamos aos céus as metáforas que nos dá a energia de que precisamos para arrostarmos, com galhardia, as vicissitudes da vida.

E que venham os poetas, que se multiplicam a olhos vistos, pois há, hoje, no Brasil, mais do que em qualquer outra época de sua pentacentenária - ou quinquicentenária, como queiram - história, metáforas suculentas e nutritivas!

*****

As terras do Brasil são dos índios.

Juro que não entendo uma idéia que, entendo, não é para ser entendida: As terras que estão, hoje, sob jurisdição do Estado brasileiro, pertenciam, antes de Pedro Álvares Cabral nelas pousar, há quinhentos e vinte e três anos e alguns dias, os pés, aos nativos, que os filhos, netos e bisnetos dele delas expulsaram, e, portanto, aos descendentes daqueles povos primitivos, hoje não tão primitivos como os seus ascendentes,  pertencem hoje, mesmo que sejam os seus donos outros bípedes implumes que não eles, e assim sendo a eles têm elas de serem entregues. O brasileiro que está de acordo com tal idéia já procurou saber se tem instalada a sua casa dentro do território brasileiro, e, não sendo descendente de nenhum dos povos que em terras brasileiras viviam antes da chegada dos lusitanos, e sabendo que sim, que está a sua casa em área tupi, já ajeitou numa trouxa, disposto a restituir aos verdadeiros donos das terras que ocupa, os trens, e já providenciou a passagem para uma viagem, só de ida, para terras do outro lado do Atlântico?! Ah! Entendi. As terras que têm de ser restituídas aos tataranetos dos homens e mulheres que viviam, como vieram ao mundo, antes das caravelas européias se anunciarem no litoral do continente que veio a ser o Novo Mundo, são as dos outros, as dos outros.

No desejo de ficarem bem na fita, muitos brasileiros estão a dar tiros nos próprios pés. Não lhes caiu a ficha, ainda - e talvez ela jamais lhes venha a cair tão refratários são ao bom-senso.

Houve uma época, de triste memória - e qual época não é de triste memória?! -, em que lusitanos, e tupinambás, e franceses, e tupiniquins, e espanhóis, e araras, e holandeses, e kanindés, e outros povos, viviam, em terras que os portugueses resolveram que à Coroa Portuguesa pertenciam, em pé-de-guerra, a trocarem socos e pontapés, e flechadas e espingardaiadas, a matarem-se uns aos outros. Enfim... Resumo da ópera: prevaleceu a força do mais forte, e não a fraqueza do mais fraco.

A história de antanho, do tempo do onça, de quando os humanos ainda não tinham inventado a lâmpada elétrica, e nem o navio a vapor, está escrita em livros sem conta, e possui versões que atendem a todos os gostos. E hoje está representado, em mapas geográficos, dentre os países da América do Sul, um país imenso, Brasil, terra em que se plantando tudo dá, principalmente tiriricas e traíras.

Que vivam, e vivam bem, em terras suas, do Brasil, os kariris, os canela apanyekrás, os mebengôkre kayapós, os pankararés, os uru-eu-wau-waus, os xakriabás, os cinta largas, os aranãs, e os outros brasileiros descendentes de povos que as terras brasileiras ocupavam antes de a caravela de Santo Antônio, e a de São Pedro e a de Nossa Senhora Anunciada apresentarem-se-lhes na linha do horizonte. Infelizmente, usa-se tais povos para prejudicar o Brasil e os brasileiros. E dentro do continente Brasil estão os genericamente denominados índios, que, usados como arma política, em favor dos quais dizem lutar pessoas que, pouco se lixando para eles, estão a defender interesses inconfessados, também serão imensamente prejudicados.

*****

Homens e mulheres são iguais?!

Se homes e mulheres são iguais?! Ora bolas! Homens têm coisas que as mulheres não têm e mulheres têm coisas que homens não têm. O que têm os homens que as mulheres não têm? Bobinho! Nunca viu mulher, não?! E o que têm as mulheres que os homens não têm?! Bobão!

Às vezes, talvez sempre, para tratar com seriedade as coisas sérias faz-se indispensável uma conversa ao estilo das de botequim, bebuns e manguaças a entortarem copos, a devorarem loiras geladas - não leve ao pé-da-letra esta frase, amado leitor -, a rodopiarem - melhor, a Terra a rodopiar, e eles, fortes e equilibrados, tais quais estacas fundamente fincadas em terra firme, em pé, verdadeiras fortalezas inexpugnáveis -, mas, como em tais colóquios, que contam com a inestimável, e infalível, participação de sábios socráticos, deitam-se a rolam-se os palestrantes a tagarelarem as suas asneirices - não raro divertidíssimas, digamos a verdade - vazadas num vocabulário que fere os ouvidos das pessoas de boa família, é-se obrigado a usar eufemismos e circunlóquios elegantes. E é o que proponho, aqui, neste farelo: um texto, que mais é a reprodução de um bate-papo franco e amigável contigo, leitor amigo.

Não raro, quem se põe a escrever um texto qualquer procura por um assunto elevado, e ao selecionar dentre os que lhe tangenciam a cachola um, o que entende saber superior aos outros, com o intuíto de dar-se ares de gente importante a tratar de coisa importantíssima, procura por vocábulos que empreste a importância que o assunto, entende, possui, assim fazendo-se de importante. Ora, toda pessoa já deve ter percebido, se dotada de um pingo de sensatez, que muita gente que se faz de importante importante não é, e os assuntos dos quais trata nenhuma importância têm, ou, se têm, dá-lhes um tratamento inapropriado.

Deixamos de lado o lero-lero, e vamos para o que interessa, sem meias-palavras, pois já enrolei demais a conversa - uma pergunta: Existe bom bate-papo que não tenha lero-lero?

Como esta nota nada mais é do que um farelo, então nela cabem poucas palavras, e as poucas palavras que lhe recheiam o ventre vêm a tratar do que está escrito em seu título: homens e mulheres são a mesma e única porcaria?! Não entenda, amigo leitor, que estou a dizer que são porcarias homens e mulheres; estou a querer dizer que são eles a mesmíssima coisa, simplesmente; a porcaria adicionada vai gratuíta, expressão corriqueira que nada mais expressa do que o quer dizer, isto é, nada.

Eis a celeuma: São iguais homens e mulheres? Iguais em que aspecto?! Físico?! Desconsiderando os braços, dois, que homens e mulheres têm, e as pernas, que os bípedes mamíferos e implumes também têm, e a cabeça, e as orelhas, e os olhos, e etecétera, homens e mulheres têm diferenças físicas bem significativas, bem salientes. A discrição em apreço à tua honra, leitor, impede-me de estender-me a falar do que tu já sabes. As diferenças entre homens e mulheres resumem-se aos aspectos físicos?! Toda e qualquer pessoa que já viveu mais de um minuto após a graça de vir à luz deve ter percebido que homens, via de regras, são mais violentos do que as mulheres, mais agressivos, mais inconsequentes, mais irresponsáveis, mais estúpidos. E quem diz tal sou eu, um homem.

O que me inspirou o tema deste farelo foram dois vídeos, um, trecho de um podcast - ou pódecaste, em vernáculo camoniano -, que traz uma linda lutadora de MMA, brasileira, o outro, que contêm várias cenas, todas curtas, de competições esportivas, homens e mulheres a compartilharem o campo de futebol, a pista de corrida, a quadra de tênis, o tablado (é assim que se diz?!) de um luta greco-romana (acho eu, ou outra modalidade de luta marcial).

Vamos, então, ao teor do primeiro vídeo: a lutadora, bela! divina! muita areia para o teu caminhãozinho, amado leitor, disse que gosta de treinar com homens mas, porém todavia, entretanto, há um porém: sendo, palavras da atraente lutadora, os homens mais fortes, mais rápidos, ela habituou-se a, nas lutas oficiais, contra mulheres, ficar na defensiva, o que lhe prejudicou o desempenho.  Para remediar o que, felizmente, ainda lhe tinha remédio, dispensou de seus treinos os homens. Saliento este ponto: uma lutadora, mulher lindíssima do meu coração, e não um lutador, afirmou, sem meias palavras, que os homens são mais fortes e mais rápidos do que as mulheres.

Agora, ao segundo vídeo: num campo de futebol, um homem, e um homem só, de uns sessenta anos, dribla várias mulheres, e manda a gorduchinha para o fundo das redes, e uma, duas vezes, e sem tomar conhecimendo das suas oponentes, incapazes de lhe fazerem frente. É patente a diferença de força e vigor físico, agilidade e rapidez entre ele e as mulheres. No trecho que exibe uma pista de atletismo, vê-se - e até os cegos conseguem ver - que os homens têm uma explosão muscular superior à das mulheres, e são muito mais rápidos do que elas. E na quadra de tênis, num outro trecho do vídeo, duas duplas, cada uma delas constituída de um homem e uma mulher, em lados opostos da rede, digladiam-se (atenção: não entenda "digladiar" com o seu significado comum), e os homens destacam-se: são mais rápidos, mais fortes - e as mulheres lhes não conseguem aparar o saque: a bolinha, após a raquetada masculina, passa como um foguete pelas orelhas delas. E, por fim, o trecho que exibe três lutadores, um homem e duas mulheres, num tablado, a lutarem, as duas mulheres contra o homem, e este a sobrepujá-las e pô-las para dormir - estou a usar uma hipérbole aqui. Encerrando, uma informação importante: as competições contaram com homens e mulheres que recebem igual treinamento.

Ora, sempre que desejamos saber de algo devemos observar o algo que está diante de nossos olhos, ou dar ouvidos a intelectuais que têm muita caca de galinha na cabeça?! Toda e qualquer ser pensante sabe o que tem há um palmo do nariz, mas se diz que vê o que está vendo é tachado, pelos sabidões e sabidinhos, de ignorante, preconceituoso, discriminador, pessoa que nada entende, pessoa que está ideologizada com esta e aquela ideologia, e coisa, e tal. E há quem insista que homens e mulheres têm equivalente potencial físico e, portanto, merecem igual tratamento nas quadras, nos campos, nos tablados, nos ringues, nos octógonos. Asneirice das grandes, não?! Mas, se a dizem doutores disto e daquilo, muita gente nela vê coisa verdadeira. É, ou não?! Se um doutor, e dos renomados, a ostentar títulos e mais títulos, prêmios e mais prêmios, diz que tatu é um peixe crocodiliano que voa, muita gente acredita.

E vivas às diferenças entre homens e mulheres!

*****

Da bestice.

Se o pai-dos-burros conhece a palavra bestice, não sei. Sei, todavia, no entanto, entretanto, que a bestice existe, é uma virtude da qual trilhões de homens sapiens e mulheres sapiens dela detentores - alguns, certos de a possuírem com exclusividade, irritam-se ao saberem que outros seus iguais com eles a compartilham - orgulham-se, justificadamente, de haverem com ela sido agraciados, no berço uns, outros no exato instante da concepção, ou pela natureza, ou por uma entidade celestial, mesmo que esta seja do inferno. E neste mundo de gente agraciada com tal virtude, há coisas do arco-da-velha, novas, coisas, estas, que os virtuosos seres presenteados com a bestice empreendem à exaustão, conquanto jamais se esfalfem ao empreendê-las, afinal é-lhes natural o exercício de tão ingentes empresas, para eles brincadeiras de criança.

De que tais coisas estou a falar neste artigo que, de espírito joco-sério, é mais sério do que jocoso?! De asneiras, isto é, ações nobres, que os agraciados com a bestice executam a três por dois, com a sem-cerimônia que a natural desenvoltura lhes permite. Ditas as palavras que estão acima desta, palavras que nada dizem, pois estão no texto para encher linguiça, unicamente, digo que, encerrando a conversa para boi dormir, dentre as ações nobres que a bestice inspira aos homens dela possuídos, seres superiores, estão a manifestação de apoio incondicional aos que têm na supressão de opiniões conhecidamente prejudiciais às liberdades democráticas, aquelas que os excelsos democratas sabem em prejuízo da harmonia social, uma política correta, e a defesa de política favorável às sofredoras vítimas da sociedade - sabidamente injustiçadas por seres iníquos -, em especial às que desapropriam dispositivos de telefonia móvel em mãos de pessoas contaminadas pela peçonha do capital e, apanhadas por quaisquer agentes inescrupulosos dos serviços de manutenção da ordem por estes são vergastadas tais quais os habitantes da senzala, no pelourinho, ao tempo do Imperador, e outras de igual quilate, inclusive a que morde, mas não late (rimou - é sem graça, eu sei, mas rimou).

Neste piruá, que, tal qual outro piruá qualquer, não  desenvolveu todo o seu potencial, estão as palavras que achei por bem escrever, às pressas, acossado pelas impaciência e ansiedade, digitando-as ao teclado de um esmartefone de um século de existência. E aqui ponho o fim desta peça de sabe-se-lá-o-que que vai assim, sem pé, nem cabeça, certo de que é a bestice uma virtude universal. Fosse um filósofo francês, eu escreveria com mais elegância.

*****

O Primeiro Comando da Capital fatura R$ 5.000.000.000,00 por ano.

Não entendo o busílis!

Não entendo o busílis!

Juro: Não entendo o busílis!

Confesso: Não entendo o busílis!

Nas quatro linhas acima, escrevi, em cada uma delas, um verso, os quatro, unidos, a constituírem uma, e a única, estrofe da poesia que eles encerram e que ao final do último encerra-se. E a embelezam as rimas. E dizem que sou desprovido de talento poético! Se rimas sei fazer! Gonçalves Dias e Álvares de Azevedo que se cuidem! 'tô na área! "Álvares" termina com ésse?! Termina. Então, escrevi certo. Quero dizer: escrevi Álvares com a ortografia correta.

- E o Primeiro Comando da Capital com a tua poesia e com os dois poetas?! Qual elo os une?! Qual vínculo os vincula?! - pergunta-me tu, impaciente leitor.

E digo-te, em resposta:

- Nenhum elo os une, e vínculo os vincula tampouco. O assunto deste farelo é o Primeiro Comando da Capital, que também atende pelo cognome Pecece, ou Pessesse, ou Peçeçe, ou... Para escanteio tal questão, que é do interesse dos gramáticos.

E acrescento: estarreceu-me a notícia, que li, hoje, em mais de um canal de notícias, noticiosos todos eles, e estou, até o presente momento, a perguntar-me quais questões elas contemplam.

Pergunto-me: Quer dizer, então, que o Pecece fatura cinco bilhões de Reais por ano?!

- Cinco bilhões?! - pergunta-me tu, espantado leitor.

E respondo-te:

- Cinco bilhões, sim, senhor! Contaste os zeros?! À esquerda da vírgula e à direita do cinco, nove. Então, cinco bilhões.

E prossigo: Encasquetado, estou a me perguntar: Como é que sabem que o Pecece fatura, por ano, R$ 5.000.000.000,00?! Tal empresa - de fins lucrativos?! - emite nota fiscal, declara a renda para o voraz leão, regiamente, todo ano, sem jamais, e a temê-lo, sonegar-lhe um centavo que seja?! Apresenta o livro contábil às autoridades competentes?!

E completo: É tal organização ou uma sociedade anônima, ou uma de capital aberto que negocia as suas valiosas ações nas bolsas de valores?! Já caiu na malha fina da Receita?!

E encerro: Tem caroço nesse angu, ah! se tem!

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As quatro personalidades mais importantes da História do Brasil.

É o Brasil um país lindo por natureza, sabemos, e agraciado com personagens históricos, que muito o engrandecem, de valor universal, em todos os ramos do saber, das ciências e das artes; dentre as centenas de nomes de seu panteão de heróis que eu poderia aqui elencar, após uma semana a listá-los em dez folhas de sulfite, e comparando-lhes as biografias, todas grandiosas, dentre outros, o de Rui Barbosa, o de Dom Pedro II, o do Barão do Rio Branco, o da Princesa Isabel, o de Machado de Assis, decidi-me por quatro, os quatro que, entendo, são, dentre todos, e que me perdõe o leitor se incorro em injustiças, os mais fantásticos, os mais fabulosos, lendários, mesmo, mitos nacionais; e aqui ao leitor dou a saber quais são: o Tiozão do Churrasco; a Tia do Zap; a Velha Vizinha Fofoqueira; e, o Pescador. Seria o Brasil terra hostil à existência humana, se tais personagens lhe não tivessem nutrido com seus nobres e dignos espíritos a alma.

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João Grandão (The Great Grape Ape Show) - Um astronauta-macaco quebra qualquer galho. - desenho animado.

É grandão o João Grandão. Imenso. Simiescamente gigantesco. De treze metros de altura. Ou é a sua altura maior?! Parece-me que ninguém sabe de fato qual é a sua real estatura. Sabe-se apenas, e unicamente, que é ele imenso, grandão. João Grandão. Primo, presumo, do King Kong, que ora tem cinco metros de altura, ora cem, é-lhe superior em força, em poder, e dá provas de sua superioridade, nesta aventura, a coadjuvá-lo, e coadjuvando-o, o canino Espirro, exímio motorista de um furgão - penso que seja um furgão o veículo motorizado que ele dirige, mas nada entendo de automóveis que se movem sobre quatro rodas. E que provas dá João Grandão de sua força superior?! Ora, com um pulo, um só, ele agarra a Lua! Tu não leste errado, leitor. João Grandão, um gorila grandalhão, joga-se para o alto, agarra a Lua, e com ela ao colo desce à Terra! Espantoso feito! Só João Grandão seria capaz de empreendê-lo. Uma façanha digna dos deuses do Olimpo.

Os dois heróis desta fantástica aventura, afortunados, vão ter à certa base militar de lançamentos de foguetes, para o infortúnio do responsável por ela, um tal de Erick von Erick, se entendi-lhe o nome - o áudio do desenho, antigo, não é lá essas coisas! Não posso deixa de dizer-te, leitor, que João Grandão e Espirro vestem botas de antigravidade, e João Grandão agarra um foguete impedindo-o de lançar-se ao espaço, e realizam outras façanhas extraordinarimente fabulosas. Mais não digo porque, recusando-me o título de estraga-prazeres, não quero, como se diz por aí e por aqui, dar espóler. João Grandão.

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Duas péssimas adaptações cinematográficas: uma, de O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson; outra, das façanhas do semidivino Hércules.

Que adaptações das obras antigas sejam feitas, nada a reprovar desde que respeitem elas a essência das obras adaptadas. É certo que tu, leitor amigo, sabes de adaptações absurdas de obras literárias, lendas, mitos, histórias do arco da velha às novas artes, o cinema, a revista em quadrinhos, o videogame - e à literatura também, e nesta era, a nossa, em que  Branca de Neve não é branca e os Sete Anões não são anões, vê-se absurdidades sem fim, em especial saídas da cachola de gente ilustrada, antenada com a mentalidade que, dizem, é a moderna, que faz a cabeça do povo de hoje em dia (embora jamais expliquem porque o povo a rejeita terminantemente), gente que está a reescrever, e a, há quem acredite, melhorar, a aperfeiçoar as obras antigas.

Para o meu desgosto assisti, dia destes, um filme, de produção britânica, acredito - não verifiquei se o é, de fato -, que traz no título os dois nomes que estão no título de uma das duas obras mais famosas de Robert Louis Stevenson, The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde (no Brasil, em algumas edições, simplesmente O Médico e o Monstro) - e a outra é A Ilha do Tesouro -, e uma das obras literárias mais emblemáticas do século XX, rival de três outras maravilhas, 1984, Admirável Mundo Novo, e A Metamorfose.

Para o meu desgosto, sim; e contrariedade. Frustrou-me as expectativas o filme. Esperei ver um bom filme, que traria do livro o espírito que o seu autor lhe deu. Mas, não! Alteraram a essência da obra. A essência! Na obra, a que a cabeça de Robert Louis Stevenson concebeu, é a dualidade humana, a da sua personalidade, o bem e o mal em eterno conflito em seu espírito, a essência. Os dois personagens centrais, o doutor e o monstro, seu alter-ego, são metáforas de duas metades da alma humana. Qualquer adaptação que se faça de tal obra tem de preservar este detalhe, que não é um detalhe de somenos importância, é o essencial. Mas... Quê! Decidiram, em uma versão em película de tão magistral obra, dar-lhe fim! Que asneira fizeram! No filme, vê quem tem o desgosto de assisti-lo, principalmente se quem o assiste não desconhece o livro, o doutor Jekyll tem um irmão gêmeo, o senhor Hyde. E aquela história da poção que converte o doutor em uma criatura irracional, assassina, animalesca?! Não existe. Aliás, existe, mas é uma invencionice do senhor Hyde, que a concebeu para explicar um mistério que envolve um suposto comportamento errático do seu irmão gêmeo. Perdi uma hora de minha curta vida a assistir à tal porcaria, e porcaria das bem porcas.

E outro filme ao qual assisti e que muito me frustrou foi um que traz, a assumir a figura do semideus grego Alcides, neto de Alceu, o Héracles, pelos romanos e pelos homens modernos chamado Hércules, um ator que há poucas décadas era um lutador, se assim se pode dizer, de luta livre, aquele esporte que simula lutas e cujos participantes jamais derrubam uma gota de sangue no ringue. Sim, ele, mesmo, leitor, ele, hoje um ator famosíssimo. No filme, que em seu título carrega o nome do mais famoso semideus grego, o Cérbero não é um cachorro de três cabeças: são três cachorros cada um deles de uma cabeça - mas, ludibriadas pela escuridão e por outros fenômenos, as pessoas acreditavam ser o trio de cachorros um monstro de três cabeças. E os centauros, pasme-se, leitor! não são seres híbridos, metade cavalo, metade humano: são, nada mais, nada menos, do que homens montados em cavalos, que, ao longe, sobre as colinas, as suas silhuetas contra o Sol, pareciam aos reles humanos criaturas híbridas humano-equinas. O que tem a dizer Quíron? Além destes detalhes, há outras asnices sem tamanho, e são tantas que me calo.

Filmes de fundo mitológico bons, que o filho de Zeus e Alcmena protagoniza, são os nos quais ele tem a estampa do Lou Ferrigno, que também assumiu a figura de um monstruoso ser verde.

Estou a me perguntar porque se rouba às histórias antigas a magia, o fantástico, o fabuloso, e aos fenômenos se dá interpretações psicológicas, ou outras quaisquer. Querem melhorá-las?! Têm horror ao que não compreendem as pessoas que as adulteram?! Odeiam os sabidos o que não lhes corresponde à visão-de-mundo?! São estúpidas, mesmo, e presunçosas, e incultas, e se têm na conta de intelectos supremos as gentes que fazem tal asnidade?! São elas os reis da cocada preta, a última bolacha do pacote. E têm o rei na barriga.

Ah! Esquecia-me: aproveito a oportunidade que a ocasião amigavelmente me oferece, e digo: de Os Assassinatos da Rua Morgue, do extraordinariamente escalafobético e estranhamente genial Edgar Allan Poe, um gringo bebum fora-de-série, eu vi uma versão em película que nada mais é do que uma porcaria das grandes - e é antiga tal porcaria, o que prova que gente besta faz porcaria desde que o mundo é mundo.

Estão a se remexer no túmulo, é líquido e certo, os antigos aedos, e Stevenson e Poe.

É sério, leitor, é sério: o que nas linhas acima eu disse que vi eu vi. Menino, eu vi.

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As três instituições essenciais para o bom funcionamento de um país democrático.

Para o bom funcionamento de um país democrático e a convivência harmoniosa entre as pessoas três instituições devem existir obrigatoriamente: o bar, a barbearia e o churrasco.

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Limites à liberdade de expressão.

"Só haverá harmonia no Brasil, se se impôr limites à liberdade de expressão." "Só haverá harmonia, se não houver limites." "Liberdade, sim; libertinagem, não." "E onde termina a liberdade, e começa a libertinagem?! Quem tem autoridade para determinar os limites  à liberdade de expressão?" "Pessoas preparadas para exercer tal papel." "E quem tem autoridade para decidir quem tem o preparo para exercê-lo?" "Ora, você sabe que muita gente, abusando da liberdade, ofende, e difama, e calunia..." "Sim. Sei. Mas quem é ofendido, difamado, caluniado, só sabe que o é se alguém o ofende, o difama, o calunia." "Então, deve o governo impôr limites." "Por que o governo?! Que autoridade tem o governo para dizer o que pode e o que não pode ser dito?! Limites à liberdade de expressão, parece-me, é uma armadilha para pegar apenas quem diz o que não é do agrado do governo, e nada mais." "Toda pessoa terá, respeitando-se a decência, a pessoa humana, a liberdade de expressão limitada a ponto de impedir que se manifeste o que não é de bom alvitre e que seja prejudicial à harmonia social. Ao insinuar que política que limita a liberdade de expressão irá inibir apenas um grupo de pessoas, você se esquece que tal política atingirá a todos." "Não atingirá, não. E explico os meus pensamentos, desenhando: Em uma cidade, a prefeitura não impõe limites à velocidade de motos e carros; João e José têm carros e motos; o carro de João, envenenado, vai de zero a cem em dez segundos, e o de José, uma caranga, não chega aos sessenta; a moto de João, possante, de mil cilindradas, voa à trezentos por hora, e a motoca de José, a pipocar, a tossir, esfalfa-se ao apontar cinquenta por hora; e todo dia e toda noite, João sobrevoa a cidade com os seus carro e moto, e José engatinha com o seu calhambeque manquitola e a sua moto franzina; e um dia, a prefeitura impõe limites à velocidade de carros e motos: sessenta quilômetros por hora." "Impõs limites a João e a José." "Não. Não. E não. Na na ni na não. Impôs limites a João, e a ele unicamente, e a José não. Atente: João, dono de carro e de moto que vão do ponto A ao ponto B a quinhentos por hora, tem a sua liberdade de deslocar-se com velocidades acima de sessenta; José não, pois a sua lata-velha e a sua motoca em petição de miséria não atingem sessenta. A prefeitura impôs limites apenas a João. Entendeu?! Ao impôr limites à liberdade de expressão está o governo apenas a limitar a das pessoas de espírito livre, corajosas, insubmissas, mais conscientes de sua condição, pessoas que não se curvam aos mandões de plantão, e não a das acomodadas, das pusilânimes, das que dizem amém a tudo o que o governo diz." "Certo. Entendi." "E outra coisa: muita gente, gente de espírito-de-porco, gente de mentalidade autoritária, gente intransigente, quer impôr as suas idéias a todos, mas sem aborrecimentos; para tanto, busca no governo o poder de exercer o que ela quer: falar, e falar, e falar, sem que lhe levantem objeções. Sem aborrecimentos. E calando quem pensa diferente, estufa o peito e declara que suas idéias prevalecem porque superiores. A verdade verdadeira é a seguinte: tal gente não tem apreço pela liberdade; se o tivesse a admitiria sem restrições e palestraria, livremente, disposta a ouvir, e sem os inibir, os interlocutores, aqueles que lhe apresentam divergências; e aceitaria que as idéias corretas prevaleçam; mas, convenhamos: muita gente sabe que suas idéias são disparates, asneirices das grossas, e mesmo assim quer impô-las ao mundo." "Verdade. Verdade. Mas há de reconhecer que idéias prejudiciais à sociedade devem ser proibidas." "E quais idéias são prejudiciais à sociedade? Quem sabe quais são as que prejudicam a sociedade? Quem sabe quais são elas, que as apresente, publicamente, e sustente seu ponto-de-vista num confronto livre com quem diverge, e faça com que suas idéias, se corretas, prevaleçam, em vez de querer proibir que alguém as conteste." "Verdade. Verdade. Pensando bem... Você diz algo certo..." "Claro que o que digo é certo. O caminho da liberdade é o melhor. Cada pessoa defende as suas idéias, e que o faça ouvindo objeções, e não diante da ausência delas. Calando quem pensa diferente, fica fácil, né?! 'A minha idéia é melhor.', diz o carinha que conversa com as paredes."