domingo, 31 de dezembro de 2023

Nota

 

Loopy Le Beau - A Ovelha Perdida (Loopy de Loop in: Little Bo Bopped) - desenho animado.

Está o gaulês, ou franco, vá saber! ser lupino, com os seus indefectíveis gorro e cachecol, a colher flores de um florido e multicolorido jardim, com a fleuma dos herdeiros de Napoleão, chiquérrimo e elegantíssimo, quando de repente, mais que de repente, chega-lhe aos ouvidos o choro de uma donzela, que se debulha em lágrimas, uma pastorinha doce e meiga, ataviada com vestes simultaneamente simples e requintadas, a lamentar o desaparecimento de seu querido animalzinho de estimação, um carneirinho. E o prestimoso lobo francês, romântico e admiravelmente, e simpaticamente, pernóstico Loopy, o lobo mais charmoso do mundo, oferece-lhe a mão, promete-lhe encontrar o carneirinho lamentavelmente desgarrado, e tão logo profere tais palavras lança-se à aventura, e enfrenta um cão-pastor, e uma árvore, que se lhe põe no meio do caminho. É o carneirinho à pastorinha restituído, porém o heróico, e obsequioso, e abnegado monsieur Loopy da mademoiselle pastorinha, esta agora com a alegria renovada ao ter em mãos o querido carneirinho que ela temia perder, não colhe os frutos de sua ação generosa. Dói-lhe na cabeça a injustiça, que o flagelou. É uma pena... Lobo tão bom.

Piruás e farelos

 Piruás e Farelos - volume 23.

A bela mulher e o olhar atrevido.

A bela mulher, exuberante espécime feminil, de atavios naturais de embasbacar todo macho da sua espécie e inspirar inveja e admiração às outras mulheres, trajada com vestes sumárias, uma camisa que dela deixava descobertos os braços, a barriga e metade das costas, e um short azul que lhe respeitava as formas maravilhosamente esculpidas pelo Criador e não se preocupava em cobrir-lhe as cochas carnudas, andava, melhor, desfilava, pela calçada, à frente de uma lanchonete, e atraia olhares de todas as pessoas. Ia, altiva, nariz empinado, até que, de repente, deteve-se, e encarou um homem, que, de queixo caído, boquiaberto, a lamber os beiços, alumbrado, fitava-a, e disparou-lhe à queima-roupa:

- Por que me olhas?! Nunca viste mulher?! Para de me olhar!

- Só estou a olhar...

- Tu não tens a minha permissão para me olhar.

- Não estou te olhando.

- Tu me encaravas!

- Encarava-te eu?! Eu não olhava para a tua cara.

- Tu fitavas o meu corpo. Não te dei permissão para me olhar, para olhar para o meu corpo.

- Eu não olhava para o teu corpo.

- Não te dei permissão para me olhar.

- Eu não te olhava. Eu olhava para o teu shorts. É bonito. Onde o compraste? Vou comprar um igual para a minha namorada.

*****

Eduardo, o julgador maledicente.

Dia 1: "Aquele tal de Marco Aurélio é um garganta, convencido pra dedéu. Acredita ser a última bolacha do pacote. O sujeito é meio burro, e se acha o Einstein. Pensa que é o rei da cocada preta, mas é apenas o escravo do serviçal do criado do bobo da corte. Tipinho sem noção."

Dia 2: "Encontrei-me, ontem, com a Manuela. Que mulher! E que marido ela tem! Ela, um peixão! Pula a cerca, a moça. E o Paulo mal desconfia, coitado! Disseram-me umas e outras dela, histórias de pôr qualquer pessoa de cabelos em pé, histórias de fazer Calígula morrer de vergonha. E o Paulo?! Meu Deus! Ele é dos mansos. E os mansos herdarão o reino dos céus. O Paulo é um trouxa, um paspalho. Cego que só ele. Dizem que o marido é sempre o último a saber das aventuras da mulher. Só sei que o Paulo, metido à besta que só ele, é um banana. Até da Manuela ele apanha."

Dia 3: "O Emerson, vagabundo de primeira, que só quer saber de sombra e água fresca, sujeitinho que não chove e nem molha, e não ata e não desata, de férias, vai a Ubatuba pegar onda, banhar-se ao Sol, bronzear-se,descansar. Descansar?! Está cansado de que aquele morcego?! Trabalha num escritório, sentado, o dia todo, numa cadeira confortável, diante de um computador, a digitar letras e números sem conta. Que trabalhão! Eu gostaria de estar no lugar dele. E ele diz que trabalha! Trabalha?! Ficar o dia inteiro digitando letras e números é trabalho?! Só se for na terra daquele vagabundo!"

Dia 4: "O vizinho meu, o da direita, é um besta quadrada. Vendeu o carro pela metade do preço de mercado. Burro! Diz ele que o carro lhe dava muita despesa, que ele não podia manter, daí vendê-lo por preço abaixo da tabela. Papo furado. Ele fez besteira, mas não quer dar o braço a torcer. Sendo filho de quem é, não me surpreende que faz o que faz. Uma besta de gente."

Dia 5: "Se não me segurassem, hoje de manhã, eu arrebentaria a cara do Sérgio, aquele desgraçado, aquele zé-mané que não tem nem onde cair morto. Quem ele pensa que é?! Quem?! Aquele imbecil falando de mim pelas costas! Acheguei-me à porta do bar no Chico Bigode de Bode bem na hora de ouvir o Sergio dizer: "O Eduardo, mexeriqueiro e bisbilhoteiro que só ele, e todos lhe conhecemos a proverbial maledicência, fala cobras e lagartos de todo mundo. É um maldito embusteiro que vive de difamar, de infamar, de caluniar, de maldizer meio mundo. Tem peçonha na língua, aquele diabo. Ontem, ele..." Não aguentei ouvir mais uma palavra saída da boca daquele ser ridículo, patético, desmazelado, que não tem onde cair morto! Entrei como um furacão no bar do Bigode, fui para cima do Sérgio, jogando-lhe na cara palavrões e mais palavrões. Se não me segurassem... Quem me segurou, não sei. Mas se não me segurassem eu não responderia por mim. Com um soco bem encaixado nas fuças do Sérgio eu o mandaria, aquele estrume! desta para a melhor! Ah! Se mandaria! Para a sorte dele, seguraram-me! Quem ele pensa que é para falar de mim o que fala?! Quem?!"

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Adão e Eva, a história verdadeira, que a Bíblia não conta.

Deus esculpiu Adão, um tipo grosseiro, rústico, mal acabado. Depois, Eva, e tão belamente que ela ficou do jeito que o Diabo gosta.

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Dom João VI.

Ao contrário do que dizem os mexeriqueiros de má-fé, Dom João VI é um herói brasileiro. É o que nos ensina Oliveira Lima no livro Formação Histórica da Nacionalidade Brasileira.

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Brasil

Desemprego

Em 2.018 = 12,3 %.

Em 2.022 = 7,9 %.

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Brasil

Assassinatos

Em 2.018 = 57.956.

Em 2.022 = 47.500.

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Os Seguidores da Ciência seguem a ciência de tão longe que nem conseguem vê-la.

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O fascista Mussolini, o nazista Hitler e o comunista Stalin jamais concederam aos italianos, aos alemães e aos russos o direito à posse e ao porte de armas e à legítima defesa.

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Na Itália de Mussolini, na Alemanha de Hitler, na União Soviética de Stalin e na China de Mao os italianos, os alemães, os russos e os chineses não tinham o direito de estudarem, à margem do Estado, em casa.

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Raphael Lamkin, advogado judeu-polonês, o criador da palavra "genocídio", entendia que genocídio é uma política organizada, sistemática, cujo fim precípuo é, a própria palavra ensina, o extermínio de um povo.

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Quatro comédias antigas de fazer chorar de tanto rir: de Harold Lloyd, duas: Hey There! (1918) e An Eastern Westerner (1920); de Buster Keaton: One Week (1920); de Charlie Chaplin, One AM (1916).

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Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrascesco Guarnieri, é um panfleto ideológico da pior espécie. Seus personagens, rasos, unidimensionais; o roteiro, esquemático.

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Martini Seco, conto que Fernando Sabino conta, é divertidíssimo. Dir-se-ia uma paródia dos livros de Agatha Christie.

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Não é correto chamar a Linguagem Neutra de Linguagem Neutra porque Linguagem Neutra é feminino. E feminino é masculino. Que confusão dos diabos!

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Por que sempre que um avião cai em terra firme diz-se que ocorreu um acidente aéreo se o acidente aconteceu no chão?! O mesmo se diz quando o avião cai no mar ou no rio ou no oceano. Não faz sentido algum.

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Bolsonaro e Lula.

Dizem os críticos do Bolsonaro, desdenhosos, que ele é inculto, ignorante, apenas um paraquedista.

E o Lula? Ora, o Lula nem paraquedista é.

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É possível escrever uma frase usando linguagem neutra?

Uma frase preconceituosa, machista: "O homem comprou um carro."

Vamos convertê-la para uma linguagem que não contenha nenhum ingrediente desprezível, preconceituoso, machista, isto é, vamos escrevê-la em linguagem neutra.

Assim, logo de início substitui-se o artigo "o", que é masculino, por um artigo que, não sendo masculino, e feminino tampouco, seja neutro, isto é, que não aponte para um sujeito nem masculino nem feminino. Neste caso, usamos o artigo... o artigo... "o artigo" é masculino, diabos! Qual artigo?! Não há um que seja neutro. Então, neste caso, especificamente neste caso, substitui-se o artigo por um numeral. Qual?! O "um". Mas "um" é masculino; se é masculino, não serve. Então... então... então... Eureka! Suprimamos o artigo da frase; e não ponhamos um numeral no seu lugar. E fica a frase sem um artigo. Pra que artigos, se artigos foram inventados por gente preconceituosa?!

Agora, o substantivo "homem", que é masculino, e, porque masculino, não serve. Então, substituamo-lo por "pessoa". Mas "pessoa" é feminino. Então, fica "ser humano". Mas "ser humano" é masculino. Então, o substantivo, que é o sujeito da frase, "homem", se não tem um substantivo neutro que possa substituí-lo, fica de fora da frase. Pra que substantivos, se os substantivos foram inventados por gente preconceituosa, machista?!

Agora, o verbo "comprar" no pretérito, isto é, "comprou". "Comprou" é neutro; então fica. Estamos indo bem.

Agora, o numeral "um", que é masculino. Não havendo um numeral que, indicando o singular, seja neutro, então... Pra que numeral singular, se numeral singular foi inventado por gente preconceituosa, machista?! Suprimamos o "um".

Agora, o substantivo "carro", que é masculino. Substituamo-lo por "veículo", que é masculino. Por "automóvel", que é masculino. Melhor excluí-lo. Pra que perder tempo, que é precioso?!

Encerramos o nosso heróico trabalho.

Vejam que beleza!

A frase original, constituída de cinco palavras, reduziu-se à uma frase, e frase sem preconceitos e sem machismos, de uma palavra só, "Comprou.", e assim, facilitando a comunicação entre as pessoas, une o útil ao agradável. Não tenho dúvidas: linguagem neutra é coisa de gênio!

domingo, 24 de dezembro de 2023

Uma nota

 

Dom João VI.

Ao contrário do que dizem os mexeriqueiros de má-fé, Dom João VI é um herói brasileiro. É o que nos ensina Oliveira Lima no livro Formação Histórica da Nacionalidade Brasileira.

Um conto

 

A fábula O Lobo e o Cordeiro, de La Fontaine, reescrita.

O lobo, animal voraz, há dias sem comer de uma tira de carne de um pequeno animal qualquer, e a sede a atormentá-lo, foi, a passos lentos, até um riacho de águas cristalinas, que deslizavam pelas pedras, e à margem dele curvou-se e pôs-se a beber da água, no princípio, sedento, depois, saciada a sede, calmo, satisfeito.

- Após dias e dias sem uma gota de água, satisfaço-me a sede - pensou consigo assim que se recompôs. - Agora, preciso de um alimento apetitoso, que me mate a fome. Que me apareça ou uma lebre, que irei da carne dela tirar o meu alimento. Mata-me a fome.

Ocupava-se o lobo com tais pensamentos quando surgiu, no horizonte, a silhueta de um cordeiro. Ao vislumbrá-la, lambeu os beiços, a prelibar de carne tão apetitosa.

- Vem ter a mim, inocente cordeiro - pensava lupinamente o lobo esfomeado. - Vem ter às minhas potentes garras. Vem ter aos meus dentes afiados, pequeno, inocente cordeiro. De tua carne tirarei o meu sustento. Ah! Fornido cordeiro. Vem. Bebe da água deste riacho. Ah! Cordeiro! Devoro-te! Bebe da água abaixo de mim, e te direi que tu sujas a água que me vem à boca: tu irás dizer que não me sujas a água; direi que tu me difamaste e me infamaste há um ano: tu dirás que nasceste há oito meses, e, portanto, não poderias ter-me vilipendiado; dir-te-ei que um irmão teu me envileceu: tu dirás que és filho único. Então, exibirei minhas garras, escancararei minha bocarra, avançarei contra ti, fincar-te-ei ao pescoço meu dentes cortantes, afiados. E devorar-te-ei, inocente cordeiro. Vem ter aos meus dentes afiados, inocente cordeiro, vem.

Assim pensava a criatura lupina, a fitar, lambendo os beiços, o inocente cordeiro, que dele aproximava-se desapercebidamente.

E aproximava-se do lobo o cordeiro.

E do lobo o cordeiro aproximava-se.

E o cordeiro aproximava-se do lobo.

E aproximava-se o cordeiro do lobo.

E distava do lobo uns dez metros, o cordeiro de sob a pelagem tirou um Colt 45 e conservou-o consigo, a segurá-lo firmemente.

O lobo, com movimentos sutis, à margem do rio curvou-se, bebeu de um pouco de água, recompôs-se, e foi-se embora, de fininho, com o rabo entre as pernas, como se não houvesse notado o cordeiro.

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Moral da história: A razão do mais forte só prevalece se o mais fraco vive no mundo dos unicórnios.

Piruás e Farelos - volume 22

 Piruás e Farelos - volume 22.

Perguntas para o esquerdista, socialista, marxista, comunista.

Por que o Nordeste é a região mais pobre do Brasil, a mais violenta, a mais analfabeta, se os petistas, esquerdistas, socialistas, marxistas, comunistas, gente que sempre produz riqueza e justiça e igualdade por onde passa, o dominam desde os anos 1980?

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Se o capitalismo produz miséria e injustiça, e políticas anticapitalistas riqueza e justiça, por que a Venezuela, país do qual as atividades capitalistas, mesmo que poucas, foram extirpadas, é hoje um país mais pobre, mais miserável, mais injusto, mais violento do que antes da concretização das políticas anticapitalistas de Hugo Chaves?

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Se o capitalismo produz miséria, por que o estado de São Paulo, o mais capitalista dos estados brasileiros, é do Brasil o estado mais rico?

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Por que os socialistas, marxistas, esquerdistas, gente que vive de amaldiçoar o consumismo capitalista, adoram flanar pelos shopping center e comprar todo penduricalho e quinquilharia inúteis que os capitalistas produzem?

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Por que os socialistas, que tem no governo socialista cubano o modelo, lutam por um salário maior, se o salário que recebem todo santo mês lhes dá para adquirir os bens que lhes atendem à subsistência? Querem eles maior salário para poderem ir às lojas capitalistas comprar mais produtos que os malvados capitalistas produzem e vendem? Não estariam, neste caso, os socialistas, enriquecendo os capitalistas? Não seria o correto os socialistas pedirem pela redução do próprio salário para que, assim, com menos dinheiro no banco (uma instituição capitalista - e ao deixarem seu rico dinheiro em conta bancária os socialistas estão a favorecer os malvados capitalistas, que deles usam o dinheiro para amealhar ainda mais dinheiro), sejam menos seduzidos pelo desejo de comprar parafernálias capitalistas? Não seria melhor - ou pior, a depender do ponto de vista - para si mesmos e para toda a humanidade, se, em vez de insistirem em receber, todo santo mês, um salário, os socialistas abrissem mão do salário que recebem e exigissem do governo os produtos de que precisam para a subsistência, e apenas estes?

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Na farmácia Tal, o remédio X, mais barato do que em todas as outras farmácias, é caro.

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E o preço do açúcar, hein?! 'cê viu?! 'tá salgado.

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Bolsonaro é fascista? O que nos ensina Mussolini?

O Mussolini dizia: "Tutto nello Stato, niente al di fuori dello Stato, nulla contro lo Stato", que em vernáculo de Camões fica: "Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado". Se é assim, então, pensemos: "A educação, a saúde, a segurança pública, as políticas ambientais, culturais, enfim, toda atividade humana está sob governo do Estado, esta entidade suprema infalível. O presidente Jair Messias Bolsonaro defende uma política educacional, a da educação em casa, que contempla a ação do indivíduo fora da esfera estatal, e o direito do cidadão à posse e ao porte de armas, e, por extensão à legítima defesa, com a liberdade, portanto, de atuar, fora da esfera do Estado, em ações de segurança. E ao reduzir a carga tributária e desregulamentar inúmeros setores da economia tirou das mãos do Estado ações dos indivíduos. Como se vê, nestes poucos exemplos, o presidente Jair Messias Bolsonaro defende idéias, e durante os seus quatro anos de um governo vitorioso e bem-sucedido, pô-las em prática, que vão de encontro à sentença fascista de Mussolini. E o que pensam os nazistas?! Ora, eles têm, desconsiderando detalhes de nenhuma importância, as mesmas idéias dos fascistas. E o que dizem os comunistas, os socialistas, os esquerdistas? A mesma coisa que os fascistas e os nazistas, com umas e outras diferenças insignificantes. Todos eles, os fascistas, os nazistas, os comunistas, os socialistas, os esquerdistas, querem tudo dentro do Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado. Então, é o presidente Jair Messias Bolsonaro fascista?"

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O sabido e o ignorante.

"O João é ignorante. Nada sabe de Português. Nada sabe, aquele ignorante, da História do Brasil. E de Matemática ele não sabe um "a", o ignorante. E aquele ignorante ignora completamente a Física." "O que tu sabes de Português, e de História do Brasil, e de Matemática, e de Física? Tu podes me dar um exemplo de superlativo e conjugar o verbo "pensar" no pretérito-mais-que-perfeito? Qual foi o papel do Barão do Rio Branco na consolidação do território brasileiro? Qual linha de pensamento Pitágoras seguiu para chegar ao teorema que dele recebeu o nome? Qual é a Primeira Lei da Termodinâmica?" "Vá se ferrar, cara! Estou falando do João, e não de mim."

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Quem é fascista?

O Mussolini dizia: "Tutto nello Stato, niente al di fuori dello Stato, nulla contro lo Stato", que em vernáculo de Camões fica: "Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado". Se é assim, quem acredita que cabe ao Estado determinar toda política educacional, de segurança pública, de saúde, e cultural, e ambiental, enfim, quem acredita que todo cidadão deve pôr o Estado no altar e diante do Estado servilmente genuflexionar-se tem mentalidade fascista.

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Cuidado com os falsos silogismos.

Se é de um silogismo falsa a premissa maior, a conclusão dele fatalmente é falsa.

Um exemplo:

Premissa maior: Todo animal que voa é pássaro.

Premissa menor: Morcego voa.

Conclusão: Morcego é pássaro.

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Os desavisados, ingênuos, sugestionáveis, se desconhecem um certo assunto, do qual trata um sofista mestre em erística, e pilantra de marca maior, ludibriados pela irretocável lógica silogística que ele emprega, são por ele facilmente ludibriados.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Piruás e Farelos - volume 21

 

Piruás e Farelos - volume 21.

Há socialistas socialistas?

Estou para conhecer um socialista, esquerdista, marxista, comunista, o diabo-a-quatro, que queira o ideal que ama de paixão, o socialismo-esquerdismo-marxismo-comunismo-diabo-a-quatro, para si mesmo e não para os outros. Vê-se por aí e por aqui e por acolá e além gente a defender tal ideal e a jamais viver de acordo com ele. Tal gente, que é de ver o diabo encarnado nos capitalistas e uma desavergonhada desumanidade consumir coisas e mais coisas que eles produzem e vendem, vive de consumir coisas que eles produzem e vendem, e coisas aos punhados, e não apenas uma ou duas. Não sabe tal gente idealista que ao comprar coisas está a enriquecer os capitalistas?! Não sabe, não, pois é incapaz de unir lé com cré. Ora, se tal gente acredita que arroz nasce em gôndolas de supermercados!

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É rica a literatura brasileira? O quão rica ela é?

Não sei se é rica, maravilhosamente rica, a literatura nossa, a brasileira, escrita em língua de Camões e Padre Vieira e João de Barros, venha ela bem ou mal cuidada, não importa. Não sei se se ombreia a literatura brasileira, a nossa, com a portuguesa, mais antiga de séculos, e com a francesa, a inglesa, a alemã, a italiana, tão antiga quanto à lusitana, ou mais - as antigas conservam o vigor, o viço da juventude, ou estão valetudinárias? Sincero, afirmo que não tenho formação literária, tampouco talento, para empreender a tarefa ingente, a de comparar as literaturas nacionais, e avaliá-las, e detectar nestas valores superiores àquelas. Ora, já vi críticos literários se baterem porque não se entendem quanto ao valor literário, cultural, histórico, estilístico, daquele e deste livro, e difamarem-se, esmurrarem-se porque não têm o mesmo apreço por este e aquele escritor. E estou a falar de críticos literários de formação invejável, e não de qualquer zé-mané que, porque aprendeu, ontem, o be-a-bá da literatura, se tem, hoje, na conta de gênio universal da crítica literária.

Independentemente de ser, ou não ser, eis a questão, a literatura brasileira, que é nossa, das maiores que há, tem ela, não se pode negar, e sabe quem já leu um bom punhado de livros de escritores brasileiros, obras de valor inestimável, que, não erra quem tal afirma, rivaliza-se com os seus similares portugueses, franceses, ingleses, italianos, russos e os de outros povos igualmente antigos, ou mais. Ninguém há de negar valor às obras de Machado de Assis, Herberto Sales, Graciliano Ramos, Josué Montello, Lúcio Cardoso, Clarice Lispector, Gustavo Corção, e tantos outros.

Não temos, é verdade, uma Odisséia, uma Divina Comédia, um Dom Quixote, um Crime e Castigo, um Hamlet, mas temos Brás Cubas, Angústia, O Fruto do Vosso Ventre, Lições de Abismo.

E há literatura policial escrita por brasileiros? E de terror? E de espionagem? E de fantasia? E de ficção científica? E romance histórico? E de aventuras? Verdade: nestes gêneros, a literatura brasileira deixa muito a desejar.

E nos contos está a literatura nossa bem representada, ninguém há de dizer o contrário. É nosso o Machado de Assis, um dos melhores contistas que o mundo já viu.

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Adão e Eva.

Desperto de uma prolongada soneca - dizem as más-línguas que após uma carraspana dos infernos -, Deus, estremunhado, a espreguiçar-se distendendo-se a ponto de romper os ligamentos, e a bocejar longamente, olhou, inadvertidamente, para o Éden, e viu Adão a andar cabisbaixo, desenxabido, caídos seus ombros, a pontapear pedrinhas inocentes. Ia o primeiro homem tão desanimado, tão tristonho, tão angustiado, que Deus, dele se condoendo, viu por bem arrancar-lhe uma costela e com ela esculpir uma mulher - que na pia de batismo viria a receber o nome Eva - a qual lhe daria para companheira e com a qual ele viveria para todo o sempre, amém. Eva foi mais uma das divinas obras de Deus, que foi tão perfeccionista ao esculpi-la que fê-la do jeito que o diabo gosta.

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Educação em casa e Bolsonaro e o anti-bolsonarista.

- E aí, bozominion, cê viu o desastre que é a educação em casa, idéia ridícula que o seu mito, o Inominável, o Inelegível, defende, e que você, dele um gado, também defende?! Viu?! Mais de setenta por cento dos alunos que se formam à conclusão do fundamental não sabem da Matemática o básico e mais de cinquenta por cento de Português o mínimo. 'tá feliz com a idéia de educação em casa que o Mito quer para todos os brasileiros, 'tá?!

- Tu és uma besta, e das bem quadradas. Antes de qualquer outra coisa, carinha, tu, na altura de tuas quarenta velas apagadas no teu mais recente aniversário, de Matemática não entende um pingo. Quem foi que, enroscando-se, ontem, com uma divisão, recorreu à calculadora?! Tu. E tu ganhaste o teu precioso diploma universitário em dois mil e bolinhas, em algum ano qualquer do governo Lula. E não és tu que desconheces a ortografia de "sucessão"?! Não foste tu que escreveste, num rascunho, "sucessão" com dois cedilhas, um no lugar do ce e um no dos esses?! E "açucar", como se escreve?! Com dois esses no lugar do cedilha, não é mesmo?! Agora, vem aqui, cabeça-de-ostra: o presidente Jair Messias Bolsonaro jamais quis impor a política da educação em casa, que em inglês recebe o nome homeschooling, a todos os brasileiros; para ele, e por extensão para os bolsonaristas, tal política é optativa: quem quiser estudar em casa, tendo meios para o fazer, que o faça. E o que se viu durante ao que se convencionou chamar epidemia do covid (era histórica que de um amigo meu, que eu quero muito bem, ganhou um sugestivo, e apropriado, nome, Triênio da Histeria)? Todos os alunos foram obrigados a estudarem em casa, quem quis e tinha os meios para o querer, e quem não quis porque meios não tinha. Há uma grande diferença entre a proposta do presidente Jair Messias Bolsonaro e o que se promoveu nos anos do Triênio da Histeria. Percebes a diferença?!

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Lula disse uma verdade, e jornalistas apressam-se, celeremente, açodados, para dizer que o que ele disse não é bem o que ele disse. E agora, José?!

Lula disse com todas as letras do seu rico repertório, uma cornucópia de abundantes figuras de retórica, e com outras que os homens sapiens e as mulheres sapiens jamais desconfiaram que

existem, com sua voz argentina, conquanto não seja ele um argentino, com o talento que herdou de Demóstenes, que o Flavio Dino é um comunista e que ele, o excelentíssimo senhor Lula, está extraordinariamente feliz, sentindo-se no sétimo céu, ao tê-lo nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal. E mal havia encerrado a sua festiva manifestação pública, os bolsonaristas e os olavistas, grupos, ambos estes dois, que, não se bicando, vivem de se estapearem, trataram, como quem diz "Ouviram?! O que foi que eu disse?! O comunismo não acabou! Os comunistas vão destruir o Brasil!", de esculachar os esquerdistas. E desavergonhadamente, e constrangedoramente, jornalistas apresentaram-se ao proscênio do teatro político nacional para explicar o que o Lula disse: o Lula não disse o que disse com a seriedade que se pede ao se dizer o que se diz publicamente se se está a falar de uma coisa, tal qual o comunismo, deveras importante e que envolve infinitas singularidades e contrastantes interpretações, que decorrem, as singularidades e as interpretações, da inabarcável complexidade da coisa da qual se diz o que se diz sem a seriedade que se pede ao se falar dela, sem a ciência de sua existência e da possibilidade da sua concretização, isto é, da implementação de uma política, a comunista, que, sabe-se, não é de realização possível, no Brasil, afinal, não existindo o comunismo, e desde que lhe decretaram os comunistas a sua morte, não pode haver comunismo, nem comunistas, nem um ministro comunista, nem idéias comunistas, pois o comunismo não é possível de fincar raízes no Brasil porque o comunismo não pode se estabelecer devido às peculiaridades culturais e históricas da sociedade brasileira e às idiossincrasias ontológicas do homem brasileiro.

Se entendi bem o que os jornalistas disseram, foi isso. Se não entendi, paciência.

Com toda franqueza, neca de pitibiriba, nadica de nada, nem uma vírgula entendi do que os jornalistas que se precipitaram a declarar que o que o Lula disse foi mal interpretado pelos brasileiros, e coisa e tal, e que ele, ao dizer o que disse, alimenta uma paranóia bolsonarista, aquela que ensina que o comunismo, não estando morto, ameaça a existência do Brasil.

O quão servil, o quão boçal, o quão pusilânime, o quão asquerosa, é a pessoa que se presta a fazer um papel tão constrangedor, tão patético, o de sair em defesa do... Do Lula?! Os jornalistas que disseram que ele disse o que disse apenas por brincadeira estão a defendê-lo, ou estão a receber ordens do chefe dele?! Já não entendo mais nada! Aliás, eu já não entendia nada, mesmo, e agora, após presenciar episódio tão vergonhoso, que faria as delícias de Aristófanes e Moliére, entendo menos ainda.

E não posso encerrar este farelo sem dizer que os fazoéles, ao conhecerem o teor das palavras presidenciais do molusco mais famoso da terra dos papagaios e das maritacas, gelaram de medo, certos de que teriam de se explicar, especial, e principalmente, os militantes dados a sabido que entendiam que o comunismo deixou de existir assim que puseram o muro de Berlim abaixo.

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Homo sapiens, parem de respirar! A respiração provoca o Aquecimento Global.

E não deu outra: respirar aumenta em não sei quantos por cento as chances de ocorrer um cataclisma apocalíptico de pôr o Ragnarok no chinelo. Respirar?! Sim. Respirar. O ser humano respira. E há oito bilhões de seres humanos na Terra - e sabe-se lá quantos em outros planetas. E todos, estando vivos, respiram; se respiram, produzem ceódois; se produzem ceódois, intensificam o efeito estufa, que deveras estufa a Terra, que de há muito está enormemente estufada, e que, por consequência automática e inevitável, acaba por aumentar a temperatura terrestre, isto é, a favorecer o Aquecimento Global. Acreditava-se, até há pouco tempo, que os militantes ecochatos se resumiriam a sacrificar as vacas flatulentas no altar da Mãe Gaia. Agora, querem eles o sacrifício dos humanos, tanto dos homens sapiens quanto das mulheres sapiens, todos a saudarem a mandioca, muitos deles flatulentos.

Entendo que até o presente momento dizem que a contribuição ao Aquecimento Global do ceódois que os humanos expelem na atmosfera é ínfima, insignificante, desprezível. Mas daqui quanto tempo as pesquisas, que cientistas renomados empreendem, indicarão que é da ordem de uns 50% o ceódois expelido pelos humanos na composição do total de gases que causam o Aquecimento Global?! Se a carruagem ir na toada que vai, não estará longe o dia em que políticos irão propor um sorteio a decidir quem sacrificará a própria vida pelo bem da Terra. E ai de quem se recusar a participar de tão justo sorteio - de cartas marcadas, é claro.

Uma crônica

 

Três professores bissextos e seus alunos.

Estamos nos primeiros dias de Dezembro de 2.023.

É Vinicius um homem já entrado na casa dos entas. Conta com o privilégio de possuir um bom organismo, que lhe confere um tipo físico vigoroso, natural, e excepcionalmente taurino. É ele um portento de sua raça.

Uma das suas quatro sobrinhas, Laura, mocinha de treze anos, aluna da oitava série do ensino fundamental, pediu-lhe ajuda em Matemática.

Foi esta a conversa de tio e sobrinha durante um café-da-manhã na casa dos pais dele, avós maternos dela: "Tio, não passei de ano. Fiquei de réqui em Matemática. Para passar de ano preciso tirar seis na prova, que será depois de amanhã. Você me ajuda a estudar?" "Sim. Amanhã à tarde terei duas horas livres. Pode ser?" "Sim. Pode. Vou avisar minha mãe." "Diga-lhe que estarei lá às quatro da tarde."

No dia seguinte, tio e sobrinha, na casa da mãe dela, Cláudia, irmã dele, após uma filial conversa entre os irmãos, foram à mesa da sala-de-estar e sobre ela esparramaram livros, cadernos, canetas, lápis, folhas de sulfite, e trataram, e logo, de iniciarem a aula, que se estendeu até um pouco antes das sete da noite.

Não nos são interessantes todas as palavras que eles trocaram; de tantas são, para não me alongar nesta crônica, um piruá, que merece desenvolvimento melhor, trabalho que neste momento não me comprometo a empreender, prendo-me às que ilustram um fenômeno comum.

A partir do parágrafo que se segue a este, que estou para encerrar, transcrevo, o mais fielmente que posso, as falas dos dois protagonistas deste capítulo da história da nossa sociedade acompanhadas de alguns, poucos, comentários, os que entendi apropriados.

"Qual é a raiz quadrada de 144?", pergunta o tio à sobrinha. "Raiz quadrada?!" "Sim. Qual é a de 144?" "É... Como que é raiz quadrada?! Divide por dois?! Menos?! Mais?!"

Diante da confusão de sua sobrinha, com paciência que faria a inveja de Jó, Vinicius explica as regras do cálculo da raiz quadrada; para expôr um cálculo, esquecido das lições que seu professor lhe ministrou uns trinta anos antes, recorreu ao livro de Matemática, leu o capítulo correspondente à potenciação e à radiciação, lembrou-se da tal da fatoração, e, respeitoso, e pacientemente, entregou à sobrinha a explicação de que ela necessitava para a resolução do problema em questão.

E segue a aula: "Aqui, Laura, tem você de elevar 8 ao quadrado. 8 ao quadrado dá...?! "Dezesseis?! Tem de fazer continha de mais?! Oito mais oito. Tem um 2, aqui, em cima do oito. Tem de fazer oito vezes dois?!" "Não. Estamos a elevar oito ao quadrado, e não a multiplicar oito por dois. Que conta fazemos quando um número está elevado o quadrado?!" "Menos!?"

E Vinicius, a pensar que palavras usar para não ferir as suscetibilidades de sua sobrinha adolescente, que muito bem lhe quer e que ele quer igualmente bem, discorreu longa e pacientemente acerca das regras da potenciação, dos números ao quadrado, dos números ao cubo, dos números à quarta potência, até que, enfim, a cabeça de sua aluna apreendeu as explicações recebidas.

Pouco depois, após propor algumas questões a envolver potenciação e radiciação, e ela, conquanto tropeçasse aqui e ali, resolvê-las com relativa segurança, Vinicius anunciou o encerramento da aula. Laura, contente, agradeceu-lhe a ajuda, que ele tão abnegadamente lhe dedicara, e recolheu-se ao quarto. Antes de ir-se, Vinicius conversou com sua irmã, e da conversa deles acho por bem destacar este trecho: "Cláudia, como a Laura chegou à oitava série?! Ela mal sabe somar dois e dois!?"

A um quarteirão de distância da casa em que se passou a história que se acabou de ler, estavam, na cozinha, o pai, Gustavo, e seu filho, Maurício, este, preocupado, tenso, a olhar de um lado para o outro, perdido, aguardando o pai encerrar a leitura, de um livro de Matemática, do capítulo cujo tema envolvido é o volume de primas hexagonais. É Maurício, esquecia-me de dizer, aluno do nono ano do ensino fundamental.

Assim que apreendeu a explicação, após uma luta de vinte minutos com as figuras e as fórmulas que o livro exibia-lhe, Gustavo perguntou ao seu filho: "Qual é a fórmula que se usa para calcular o volume de um prisma?!" "Fórmula?!" "A fórmula, Maurício. O professor não passou uma fórmula para vocês, alunos?!" "Passou." "Qual é?" "Não sei." "Veja no livro. Encontre-a. E escreva-a no sulfite."

Após uns três minutos a esquadrinhar perfunctoriamente a página do livro que exibia escandalosamente a fórmula procurada, Maurício, com o indicador direito apontando a fórmula, perguntou para seu pai: "Esta?!" "É, Maurício. É. Está escrito aí, não está, que é essa a fórmula?! Então é essa. Escreva-a no sulfite." Era visível o desconforto e a irritação de Gustavo, que em vão se esforçava, e não pode o leitor imaginar o esforço dele, para em nenhum momento transparecer seus sentimentos. De Maurício não passou despercebido a alteração, embora contida, do tom e da gravidade da voz de seu pai; cabisbaixo, intimidado e constrangido, copiou na folha de sulfite a fórmula correspondente ao exercício proposto. Na sequência, ouviu-se entre pai e filho, aquele professor, este, seu aluno, um diálogo, do qual recorto o trecho mais significativo: "Aqui se vê, considerando a fórmula, que para se calcular o volume de um prisma hexagonal faz-se necessário saber qual é a área da base deste prisma. E qual é a área da base do prisma hexagonal, Maurício?" "Não sei." "Calcule-a." "Como?!" "Com a fórmula que se usa para calcular a área da base de um prisma hexagonal." "Esta." "Não, Maurício, não. Esta é a que se usa para calcular o volume do prisma hexagonal." "Não sei qual é." "Quantos lados tem a base de um prisma hexagonal?" "Não sei." "Qual figura geométrica plana representa a base de um prisma hexagonal?" "Triângulo?!" "Não, Maurício. Olhe a figura. O prisma hexagonal tem seis lados, não tem?" "Tem." "Então a base do prisma hexagonal tem quantos lados?" "Quatro?!" "Maurício, aponte-me a figura do prisma desenhado no livro." "Aqui." "Aponte a base do prisma." "Aqui." "Quantos lados tem a base?" "Não sei." "Conte-as." "Um, dois, três, quatro, cinco, seis. Seis?!" "Sim. Seis. A base de um prisma hexagonal tem seis lados. Então, que nome se dá à figura geométrica plana de seis lados?" "Retângulo?!" "Hexágono, Maurício. E qual fórmula se usa para calcular a área de um hexágono?" "Esta?" "Não. Esta se usa para calcular o volume do prisma de seis lados." "Não sei." "Procure-a no livro. Ela está próxima da figura." E após um minuto procurando pela tal fórmula, encontrando-a, apontou-a: "Esta?!" "Sim. Esta. Escreva-a no sulfite. E use-a para calcular a área da base do prisma." "Aqui... Escrevi..." "Continue." "Aqui é doze vezes dois?!" "Não. O doze está elevado ao quadrado." "Doze vezes doze?!" "Sim. Um número elevado ao quadrado é o mesmo que o número vezes ele mesmo. Faça a conta." "Doze vezes doze?!" "Sim. A base é doze; o expoente, dois; então, multiplica-se doze por doze." "Multiplicar?!" "Sim. Tem de fazer uma conta de multiplicação." "Multiplicação?!" "Sim. Conta de vezes. Quanto dá doze vezes doze?" "Não sei." "Faça a conta." "Oitenta?!" "Que oitenta, Maurício?! Você nem montou a conta. Monte-a." "Assim?" "É. Quanto dá? Qual é o resultado?" E durante dois longos e enervantes minutos deteve-se Maurício a multiplicar 12 por 12. Ao concluir a tarefa, apresento o resultado ao seu pai: "Está certo?!" "Mil e duzentos e vinte e quatro?! De onde você tirou esse número?!" "Daqui. Doze vezes doze." "Que conta você fez?!" "De vezes." "Dá cento e quarenta e quatro."

A aula seguiu nesta toada durante duas horas, o pai a explicar ao filho os fundamentos das quatro operações aritméticas. Ciente de que de nada adiantaria estender a aula, tampouco exigir de seu filho atenção, que ele não conseguia manter, com ele combinou seguir com a lição no dia seguinte.

Nos dois dias que se seguiram ao primeiro de aula, Gustavo, para surpresa de si mesmo, conservou-se calmo, e com paciência que ele jamais suspeitou possuir enfiou na cabeça de seu filho os ingredientes fundamentais da aritmética, e só então enveredou pelos capítulos do livro que teria Maurício de estudar para o exame que se daria dali quatro dias. A nota que Maurício obteve não lhe era o suficiente para passar de ano: faltou-lhe um ponto para atender ao mínimo de que necessitava. Os professores, reunidos, reconheceram o esforço de Maurício, e decidiram, por unanimidade, presenteá-lo com o ponto que lhe restava, e ele pôde, então, dali uma semana, com os seus condiscípulos comemorar a sua formatura.

A dois quarteirões de distância da casa de Gustavo, caminhavam, tranquilamente, pela calçada da rua Padre Feijó, Marcela e Juliana, sua filha, aquela mulher madura, na altura de seus quarenta anos, esta, mocinha de treze, esbelta, pacata, de traços fisionômicos suaves, meiga. Palestravam acerca das roupas que haviam comprado na loja da qual se retiraram dois minutos antes e dela já distantes uns cem metros quando depararam-se com Patrícia, amiga de Marcela desde os tempos de juventude, ambas condiscípulas, no crepúsculo do século XX, nos três anos do colegial. Saudaram-se as amigas, que há uns dois meses não se viam e que tinham notícias uma da outra unicamente pelas redes sociais e por aplicativos de mensagens, com beijos no rosto, mal encostando uma no rosto da outra os lábios, os de Patrícia coberto de batom vermelho-sangue, os de Marcela naturalmente descoloridos. E assim que saudou a sua amiga, Patrícia dedicou a sua atenção à Juliana, saudou-a com um caloroso abraço, pegou-lhe, suavemente, pelo queixo, louvou-lhe o belo rosto, segurou-lhe com a mão direita a mão direita, e fê-la girar uma vez sobre os próprios pés enquanto lhe elogiava o belo talhe esbelto e a textura da pele, macia, sedosa. Juliana, encabulada, sorria, levemente ruborizada. Eloquentes, Marcela e Patrícia sobrevoaram temas sem fim e num certo momento da conversa Patrícia falou-lhe que teria de ir à casa de Ana Lúcia, sua irmã, para ministrar uma aula de Matemática e uma de Física à sua sobrinha, Júlia, aluna do colegial: Júlia enfrentava, disse, dificuldades de monta com estes e aqueles capítulos das duas disciplinas; repetiria de ano se não obtivesse 6 em Matemática e 5 em Física. Ao ouvir tais palavras, lembrou-se Marcela de que Juliana também estava em maus lencóis, e pediu, encarecidamente, à Patrícia, que ela lhe desse uma aula de Matemática. Patrícia não se fez de rogada. Combinaram no dia seguinte estudarem, à tarde, na casa de Patrícia. E assim foi. No dia seguinte, um pouco depois do almoço, Marcela deixou Juliana, então sobrecarregada com uma tonelada de livros e cadernos, na casa de sua amiga, e foi à loja de roupas onde trabalhava. Professora e aluna, após uma troca de palavras, entraram a folhear livros e a espalhar sobre a mesa lápis e canetas e borracha e calculadora e folhas de sulfite e livros e cadernos. E tão logo apresentou à sua professora uma equação para cuja resolução envolvia Mínimo Múltiplo Comum e disse-lhe não saber o que teria de fazer para resolvê-la, ela lhe disse: "Juliana, neste caso tem você de fatorar os três denominadores." "Denominadores?! O que é "denominadores"?!" "O número de baixo das frações, Ju." "Tem de dividir?!" "Você tem de usar fatoração." "Não sei." Na sequência, Patrícia explicou as regras da fatoração, e pediu à Juliana que encontrasse, em quatro exercícios, o Mínimo Múltiplo Comum: no primeiro, de 7, 9 e 20; no segundo, de 12 e 31; no terceiro, de 27 e 40; e, no quarto, de 9, 12, 15 e 17. Juliana ocupou trinta minutos para encontrá-los, a curtos intervalos consultando Patrícia, apresentando-lhe estas e aquela dúvidas. E não posso deixar de dizer - e quase se me escapou tal detalhe - que assim que Patrícia afirmou que se usa números primos na fatoração, Juliana perguntou-lhe: "Número primo?! O que é?!"

Assim que Juliana resolveu os exercícios propostos, Patrícia disse-lhe: "Encontrado o Mínimo Múltiplo Comum dos denominadores das frações de uma expressão algébrica, divide-se ele pelo denominador e o multiplica pelo numerador." "Numerador?! Denominador?!" "Numerador: o número que está na parte de cima da fração. Denominador: o que está na parte de baixo." "E como é que faz?!" "Calcule o Mínimo Múltiplo Comum da primeira expressão." "Tem de pegar os números de baixo do tracinho?!" "Sim." "3, 7 e 9?!" "Sim." "Tem de pôr os três números um ao lado do outro, separados por vírgula, e um traço reto à direita deles?!" "Sim." "Assim?!" "Sim. Continue." "Tem que dividir?!" "Por qual número?" "Dois?!" "Calcule." "3 menos 2?!" "Não. Você tem de dividir todos os três números por dois. Se houver resto nas três contas, o número 2 não servirá, pois o resultado delas tem de ser um número inteiro." "Divide 3 por 2; e 7 por 2; e 9 por 2?!" "Sim." "Dividi 3 por 2. Deu 1; e de resto 1." "Divida, agora, o 7 por 2; depois, o 9 por 2." E após uns minutos a calcular as duas divisões, Juliana informou: "As duas contas têm resto 1." "Então, Ju, os três números, 3, 7 e 9, divididos por 2, não dão número inteiro. O 2, portanto, não pode ser usado. Veja uma coisa, Ju: nenhum número ímpar dividido por 2 dá um número inteiro. Nenhum. Sempre que você tiver, numa fatoração, número ímpar, jamais use o 2 para dividi-lo. Qual dos três números é par?" "Nenhum." "Então, nenhum deles pode ser dividido por 2." "E agora?!" "Qual é o próximo número primo da lista de números primos?" "1?!" "Não. O número maior do que 2." "3." "Então, divida 3, 7 e 9 por 3." E Juliana executou as operações pedidas, e deu à Patrícia as respectivas repostas. "Certo, Ju. 3, 7 e 9 são divisíveis por 3, resultando em número inteiro, sem resto?" "O 3 e o 9, sim; o 7, não." "Continue." "Agora, só com o 7?!" "Não. A divisão do 9 por 3 deu 3; agora, divide-se 3 por qual número primo?" "Três." "Então, faça a conta." E uma vez mais, Juliana montou a divisão de 3 por 3, pondo um 3 na casa do dividendo e uma na do divisor, e encontrou o quociente 1 e nenhum resto. "Deu 1." "Continue, Ju." "Agora, o 7 dividido por 3?!" "Não, Ju. Esta conta você já fez. Deu resto; se deu resto, o 3 não serve. Por qual número primo divide-se o 7?" "5?!" "Calcule. E veremos no que dá." E Juliana armou a divisão de 7 por 5, consultou a tabuada do 5, e concluiu que da conta sobra de resto 2, e disse para a sua professora: "5 não é." "Então, veja se dá pelo próximo número primo." "7." "Calcule." E nesta toada seguiu a aula até que, após idas e vindas sem fim, Patrícia a explicar à sua aluna regras elementares de divisão, subtração, adição, multiplicação, potenciação e radiciação, Juliana escreveu a resposta para o exercício pedido. Na questão subsequente, para multiplicar 100 por 100, Juliana montou a conta, e principiou-a multiplicando o 0 (zero) da unidade do multiplicador pelo 0 (zero) da unidade do multiplicando; e no momento em que começou a multiplicá-lo pelo da dezena do multiplicando, Patrícia, interrompendo-a, perguntou-lhe: "Ju, por que você multiplica 0 (zero) por 0 (zero)?!" "A profe ensinou assim." Ao ouvir tal resposta, Patrícia não pôde evitar a queda de seu queixo. E a aula seguiu no mesmo ritmo do inicio, Juliana a enroscar-se com as operações aritméticas e outras regras matemáticas. Encerrada a aula - e eram, já, quase sete da noite -, Patrícia telefonou para Marcela, e anunciou-lhe encerrada a heróica tarefa. Marcela disse-lhe que iria à farmácia e que esperava não demorar lá - previu que chegaria à casa da Patrícia em trinta minutos.

Enquanto Marcela não chegava, Patrícia e Juliana palestraram e comeram bolachas recheadas e beberam laranjada.

Enfim, Patrícia conversou com Marcela: "Marcela, a Ju, na sétima série, mal sabe divisão, multiplicação, subtração, adição. Potenciação, então... Ela não sabe o que é número primo! Nem o que é numerador... Não acredito que na sétima série..." "Pat, você não imagina a minha luta! Se ela fosse a única aluna assim..."

E aqui encerro a crônica, que, eu disse em uma das suas linhas iniciais, é um piruá que merece ter desenvolvido todo o seu potencial.

Concluída, a crônica está, mas a história da briga de Laura, Maurício e Juliana com a Matemática está longe de acabar.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Piruás e Farelos 20

 Piruás e Farelos - volume 20.

Flavio Dino é comunista?! Comunistas existem?!

Ouvi não poucas vezes gente de esquerda afirmar que o comunismo acabou assim que puseram abaixo o muro de Berlim. Se é verdade que o comunismo acabou, então, naquela data longínqua, como pode o Brasil ter hoje um ministro comunista?! Ministro comunista?! Tem o Brasil um ministro comunista?! E não tem?! O Lula disse, com a sua voz inconfundível, a felicidade em pessoa, a transbordá-la sem-cerimoniosamente, e desavergonhadamente, que está felicíssimo ao ter um comunista no Supremo Tribunal Federal.

Cabe perguntar: Aquelas pessoas que zombavam e riam dos, e ridicularizavam os, que diziam, e depois da derrubada do muro de Berlim, que os comunistas estavam, agora que todos pensavam que o comunismo deixou de existir, esmagados sob os escombros do muro de Berlim, sabiam que os comunistas apenas hibernavam à espera de um momento propício para despertarem e agarrarem o poder que almejam enquanto iam, sem que deles, afinal eles não existiam, alguém desconfiasse? Se sabiam, e porque o sabiam, era o objetivo deles engabelar os desavisados facilmente manipuláveis? Ou de nada sabiam e de nada desconfiavam? É provável que um grupo deles sabia o que de fato se dava e outro resumia-se aos tolos militantes, massa de manobra, idiotas úteis cada qual orgulhoso da sua idiotice.

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... e ainda há comunistas, quem diria! Disse o Lula que é o Flavio Dino um comunista no STF. Se há comunistas - e recuso-me a acreditar que o Flavio Dino é o único sobrevivente da catastrófica colisão apocalíptica de um meteoro em terras hoje vizinhas do México - há comunismo. Quem poderia imaginar?

Até há pouco tempo esquerdistas afirmavam, e zombavam de quem lhes apresentava objeções, que o comunismo acabou assim que puseram o muro de Berlim abaixo. E agora estamos a ver comunistas nos altos escalões do governo brasileiro. O que há para se dizer, agora?! Ou tudo não passa de encenação?! Não sei o que pensar. Sequer sei se penso. Talvez o comunismo tenha morrido há décadas e o ao que hoje se dá o nome de comunismo seja uma coisa qualquer, uma colcha de retalhos que nenhuma associação tenha com a de todas as ideologias a mais mortífera, a mais desumana, a que deu ao mundo os tipos humanos mais cruéis e que pôs o mundo de pernas para o ar.

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Paulo Freire e o professor paulofreiriano.

Paulo Freire ensina que o professor oprime o aluno ao transmitir-lhe conhecimento e que não é o papel do professor ao aluno transmitir conhecimento.

O professor paulofreiriano ao dizer que Paulo Freire ensina que o professor oprime o aluno ao transmitir-lhe conhecimento ao aluno transmite um conhecimento; portanto, além de oprimi-lo, vai contra o ensinamento de Paulo Freire.

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Uma idéia de Paulo Freire, brilhante, e o professor paulofreiriano.

Li, não sei onde - se não me falha a memória, numa página feicebuquiana de um professor paulofreiriano dos mais retintos -, um texto, que, entendi, traduz um pensamento do Paulo Freire: "Não existem conhecimentos superiores e conhecimentos inferiores; apenas conhecimentos diferentes." Tão logo li tal enormidade, que me chacoalhou a cabeça, pensei com os meus botões, que são cinco, Joãozinho, Zezinho, Marquinho, Zequinha e Tónhão: "Se não há conhecimentos inferiores e conhecimentos superiores, se todos os conhecimentos, porque apenasmente diferentes entre si, mas não em escala de valores, equivalem-se, então os conhecimentos daqueles nóias craquentos e daqueles mendigos - todos há um século sem pingarem no corpo que seja uma gota de agádoisó e há um milênio sem sentirem na pele o contato de um sabonete - que juncam as praças daqui da cidade valem tanto quanto os dos professores paulofreirianos. Se é assim, que se dispense todos os professores que chancelam tal idéia e se envie os alunos às praças para colherem dos mendigos e dos nóias os conhecimentos deles."

Se outros pensamentos que vêm em desabono do venerável ídolo dos paulofreireanos me afloraram à mente ao me deparar com as idéias ditas pedagógicas dele?! Claro que sim! E podia ser diferente?! Escreverei, no momento oportuno, certo de que com o que escreverei importunarei alguns seres pensantes, piruás e farelos a respeito.

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Sergio Moro. E Flavio Dino aprovado com louvor. E reservas indígenas e desoneração da folha de pagamento.

Estou, aqui, no aconchego do meu lar, doce lar, encasquetado, a coçar-me a cabeça com meus dez dedos, cinco de daqui uma de minhas mãos, que são duas, pois não sou uma anomalia da natureza, pensando acerca da aprovação, pelos patrióticos senadores nacionais, do Flavio Dino à vaga, que lhe era de direito, do STF - e pensou mal quem pensou que o resultado podia ser diferente: "No mesmo dia, ou um dia antes, ou um dia depois, sei lá eu, não cuidei consultar o calendário, o congresso votou contra duas políticas do governo do tal L: uma, a que acaba com a desoneração da folha de pagamento; a outra, a que dá fim ao marco temporal das reservas indígenas. Seriam estes dois contratempos que o tal L enfrentou o preço, nos bastidores acordado entre os governistas e a oposição, que o governo foi obrigado a pagar pela aprovação do Flavio Dino ao STF? Não sei. Não faço a mínima idéia do que se passa em Brasília. Mas, pensando, e pensando ou bem, ou mal, não sei ao certo, parece-me que houve uma troca de figurinhas entre os personagens que disputam a ferro e fogo o poder no Brasil. E para encerrar este farelo: não tenho a mínima idéia de quem está no time dos governistas e quem no time adversário. Talvez não exista time nenhum; talvez os personagens se arranjem a depender da conveniência: Fulano e Beltrano são aliados em certa questão é adversários em outra. E assim o mundo gira, e capota. Ah! Esquecia-me: na equação entra um fator, que não é desprezível: emendas parlamentares da ordem de uma dezenas de bilhões do rico, e suado, dinheirinho dos brasileiros."

- E o Sergio Moro, caro cronista?!

- Sergio Moro?! Puxa vida! Esqueci-me dele!

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Sergio Moro e Flavio Dino.

Aqui não me esquecerei do Sergio Moro, pois, afinal, além de pôr-lhe o nome no título deste piruá esfarelado, decidi tratar, e o mais logo que me for possível, dele, e antes de qualquer outra coisa seja a outra coisa o que quer que seja.

Muitas pessoas que viram as fotos dos dois amicíssimos juízes, o Moro e o Dino, ambos a sorrirem de orelha a orelha, gargalharem, sentiram, indignadas, ganas de esfolar vivo o Moro, mais ele do que seu ilustre amigo camarada. E dentre as que sentiram, e ainda sentem, o desejo de esganá-lo, de fatiá-lo, de esfolá-lo, de comprar-lhe uma passagem de ida para o inferno, estão gentes apoiadoras do presidente Jair Messias Bolsonaro. Algumas delas, surpresas com a postura do outrora herói brasileiro, bufam de raiva. E surpreenderam-se por quê?! Esqueceram-se do que ele fez em verões passados?! É urgente tais pessoas banquetearem-se com cérebro de elefante, animal de memória proverbial.

Este e aquele homem perspicaz, assim que viram o juiz de voz de marreco aos beijos e abraços com o então candidato à vaga do STF, entenderam que ele estava a apertar a corda ao próprio pescoço, e o fez porque, nada aprendendo de guerra política, estaria a querer, tal qual uma ovelhinha ingênua e inocente de uma fábula de La Fontaine, passar mel nos dentes afiados de um sedento, insaciável lobo. De onde tirei tão bela figura de linguagem?! Da minha cabeça, que, sendo minha, e só minha, premia-me vezes e outras com algumas peças de retórica de rara beleza literária.

Não sei o que o futuro reserva ao juiz de Curitiba; sei, no entanto, que, se procede aquela história que ensina que os comunistas devoram criancinhas...

sábado, 9 de dezembro de 2023

notas

Pernalonga - O Bebê. - desenho animado.

Um lindo, meigo bebê rosado, fofucho, amável, cai, acidentalmente, na cova do Pernalonga, personagem, esta, que, conquanto não tenha uma reputação respeitável, é de muita gente querida - e talvez por esta razão querem-lhe bem, e não por quaisquer outras que se conjecture. E o herói peludo, com desvelos materno e paterno que ninguém lhe suspeita dele cuida admiravelmente bem. Quão amável é a criatura escanifrada, melhor, esbelta e delgada, de pernas longas e igualmente longas orelhas, com o pequeno, mimoso bebê, que lhe viera, acidentalmente, ter às mãos, mãos de um personagem desapercebido de recursos para o exercício da grandiosa tarefa que o destino, este imprevisível e inconsequente ator, lhe exigia! O que digo?! O que digo?! Tu, leitor, confias em mim? Se confias, saibas que não é uma criança a criança que o Pernalonga tem aos seus cuidados. Não?! Não. É a criança, digo a verdade, e a verdadeira verdade, um homem feito, barbado, um marmanjo de má catadura, repulsiva, de má índole, Harry, de pouca, quase nenhuma, estatura, a de um anão-de-jardim, a de um pintor-de-rodapé, a de um pescador-de-aquário, Harry, um ladrão de banco, tipo indigno de figurar entre os homens de bem. E o Pernalonga sabe da real identidade de tão reles sujeito?! Vem a saber... E nele dá uma bela e bem feita lição.

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Piruás e Farelos - volume 19.

Elon Musk e a Disney.

"E o Elinho, hein?! Encarou a Disney, e de frente, olho no olho, cara a cara. Deu-lhe uma sapatada homérica."

"Conta-me a história tin-tim por tin-tim, sem tirar que seja um a, com todas as vírgulas a que se tem direito. Usa de tua liberdade literária, e conta-me o caso, que, percebo, é mutio lôco. Queres dizer-me, então, que o passarinho azul deu uma chapoletada no camundongo?!"

"Deu-lhe, e daquelas de fazer o chapoletado cuspir até as tripas. O caso foi o seguinte: desde há um ano, o Elinho... Ou há dois anos?! Sei lá. O tempo é relativo. Além do mais, há infinitas linhas temporais se interconectando numa rede infinita de... E vamos ao que nos interessa. Desde que o Mânsqui, amigo do Donaldo Trumpo, anunciou a sua vontade de comprar, e por um bom preço, acima do valor de mercado, o Twitter, os Senhores do Universo, a arreganharem a boca, faca afiada entre os dentes, a bufarem de raiva, contra ele voltaram todas as forças do universo e mais algumas que encontraram pelo caminho, com o único fim de impedi-lo de se apossar da empresa por ele desejada. E qual o porquê de tal esforço, hercúleo, direi?! Ora, porque o passarinho azul perseguia incansavelmente todo homem sapiens e toda mulher sapiens que não engolem a ladainha politicamente correta, uôque, e outras bugigangas e parafernálias intelectualóides que gente besta sabe inventar a três por dois. Ô gente criativa para pensar as maiores imbecilidades que se pode imaginar! E o Elon se comprometeu a deixar, se se apossasse do Twitter, a liberdade correr solta, livremente solta. Quem quiser dizer a, que o diga; quem quiser dizer be, que o diga; quem não quiser dizer porcaria nenhuma, que nenhuma porcaria lhe saia da boca. E assim foi. Elon comprou o passarinho azul, e rebatizou-o; desgostosos com o andar da carruagem do X, outrora Twitter, os Senhores do Universo decidiram aplicar um golpe mortal no Mânsqui: não comprar espaços de propaganda da empresa dele. Não sei que nome se dá ao troço. Sei que empresas propagandeiam os seus produtos no X; e para terem o seu espaço garantido, cada uma delas tem de desembolsar uma nota preta. Várias empresas, umas cem, eu acho, dentre elas a Disney, delas a mais conhecida, confrontaram o Elon, que os confrontou. E deu no que deu: sei eu lá quantos milhões de americanos, assinantes do canal pago da Disney, desassinaram a assinatura, assim dando um prejuízo do caramba para os proprietários do camundongo mais famoso do universo."

"O Elon comprou mais uma briga com gente poderosa."

"Na verdade, ele lutou mais um assalto de uma luta que ele escolheu lutar."

"O cara é demais."

"Tu tuitas?"

"Eu tuito. Tu tuitas. Ele tuita. Nós tuitamos. Vós tuitais. Eles tuitam. Tuitamos eu, tu, ele, nós, vós, eles, no X."

"Quem não tuita se trumbica."

"Foi um passarinho que te contou tão maravilha novidade?"

"Um passarinho, não; um sapo."

"Um sapo?!"

"Sim. Um sapo, um sapo humanóide, que atende por Pepe. E não apenas ele. Foi ele e mais umas criaturas humanóides. Umas, americanas; outras, brasileiras. Das brasileiras, uma de Minas Gerais; Maurício é seu nome; Alves, o sobrenome. Um cara legal, acusado de ser um tipo que tem idéias mirabolantes. E ter idéias mirabolantes é pecado?! Pouco me importa se esta e aquela idéia são mirabolantes; quero saber se estão certas, ou erradas. Pode tal idéia ser a mais estapafúrdia que existe, mas se o mundo provar-me que ela explica o que com ela se pretende explicar, então ela está correta."

"Vida longa ao Elinho."

"Vida."

*****

Silvia Waiãpi e Marina Silva. E Venezuela x Guiana.

- Tu viste o sarrafo que a Silvia tacou na Marina?!

- Vi, ouvi, sorri. Frase de inspiração cesariana.

- Deste à luz uma frase de sabor clássico. A Silvia Waiãpi, de ascendência indígena, de qual tribo ignoro, disse umas e outras, muitas e boas, para a tal da Marina, que, parece-me, esqueceu-se da floresta amazônica.

- E não nos esqueçamos: a floresta amazônica é feminina.

- A floresta é feminina, a selva é feminina, o deserto é masculino, o cerrado é masculino.

- Além das verdades que disse para a Marina, a Silvia Waiãpi falou umas palavras bonitas, dia destes, numa oratória retumbante, em favor dos índios, dos brasileiros, enfim. Parecia, até, que ela declamava um poema do Gonçalves Dias

- Faz falta...

- Quem?!

- O Gonçalves Dias, que cantou os índios.

- Índios daqui das terras hoje chamadas Brasil. Há índios em todos os continentes.

- Deixemos de lado tal questão linguística.

- Perde-se a falar dela, mas esquece-se o mundo em que vivemos e os problemas que os índios pré-cabralinos enfrentam.

- Povos descendentes de cabras.

- Tu e teus comentários sem-noção. Em que pé estão, hoje, os índios brasileiros, tenham eles o nome que tiverem?! Vivem bem?! Mal?! Aprendem o que desejam aprender?! Querem conservá-los numa redoma, como se eles vivessem numa era anterior à construção das caravelas que singraram os setes mares, e em tal périplo enfrentaram seus tripulantes monstros marinhos e outras criaturas que nem os Argonautas ousariam enfrentar, e aportaram às nossas terras?! Por que os defensores dos índios jamais lhes perguntam o que eles desejam, o que eles querem?! Todo mundo quer ser cacique indígena. Há muitos homens brancos por aí querendo ser pajé tupinambá. Tipos branquelos, quase transparentes, vindos do norte do norte da Zoropa cobrem-se de urucum e se dizem índios. 'tá cheio de gente assim por aí. Absurdo, não?! Índios paraguaios. Os índios brasileiros são usados, e deles abusam quem os usam, por gente que deles se lembram com o propósito, o único, de lhes fazerem mal, numa guerra política e econômica que lhes redunda em prejuízo.

- Pior, até: só lhes causam dor, sofrimento, miséria.

- E estou, aqui, encasquetado com os meus botões...

- Quais botões?!

- Os que falam da Venezuela, da Guiana, da Amazônia, das nações indígenas.

- E o que tais botões te dizem?!

- Tu já ouviste falar de gente que almeja internacionalizar a Amazônia...

- E há um século eu ovo tal história.

- E eu a osso desde que me entendo por gente. 'tô, aqui, pensando, e pensando com a minha cabeça: vai que toda a história que conta uma aventura, e uma das mais bizarras, do Maduro, o amigo da mais honesta das almas brasileiras, nada mais seja do que um capítulo de uma trama das mais sórdidas.

- Aonde tu queres chegar?

- Em algum lugar. Penses comigo: há quem queira, por razões que não são nobres, arrancar ao Brasil um naco, e dos grandes, situado na fronteira norte, amazônica, e convertê-lo em uma nação independente; aí o Maduro diz que vai invadir a Guiana; alguns países apressam-se para defender a Guiana; e estoura uma guerra entre Guiana e Venezuela; e a guerra se alastra território brasileiro adentro; e Raposa Serra do Sol queima; e ou um dinamarquês, ou um sueco, ou um norueguês, coberto de barro e de urucum, e ataviado com um cocar de plástico biodegradável, diz-se índio, anuncia para o mundo a sua realeza índigena, denuncia às organizações internacionais o Brasil, que não tem recursos para proteger o norte do país; e leva-se o caso às cortes internacionais; e causa-se um reboliço dos infernos em todo o mundo mundial; e dá-se como certo que apenas uma organização supranacional tem meios de ir ao encontro dos anseios dos índios, que sofrem barbaridade, tchê; e o Brasil se ferra bonito, fica a ver navios ao ter de si arrancado um pedaço do território.

- Que viagem!

- Tu achas que 'tô viajando na maionese?!

- Sei lá eu o que acho! O mundo 'tá tão doido, que a idéia mais sem pé nem cabeça, saída da cachola de um desmiolado, talvez seja a mais sensata.

- Tu me elogiaste?!

- Sei lá!

*****

Venezuela declara guerra à Guiana. E Lula e suas lulices.

- Caramba!

- Caramba?!

- Pensávamos que estávamos livres de desgraça, e agora o Maduro, aquele filhotinho-de-cruz-credo, dá de querer uma guerra aqui perto de nós.

- Livres de desgraças jamais estivemos; desde o tempo-do-onça enfrentamos desgraças das mais desgracentas que se pode imaginar. Quem algum dia acreditou que estávamos livres de problemas tem a cabeça na Lua.

- A cabeça de quem?!

- Tu, a tua, oca.

- O certo é "pobremas". Em português castiço do padre Vieira.

- Não tive o prazer de me ser apresentado para o dito cujo e tampouco o de tê-lo apresentado para mim.

- Ele é dos bão.

- Desconheço-lhe a figura.

- Quero te dizer que ao dizer que pensávamos que estávamos livres de desgraça eu quis dizer que nunca enfrentamos guerras por aqui.

- E a do Paraguai?! Tu nunca ouviste falar de Caxias e de Tamandaré e de Sabugosa e de Itararé, quatro heróis brasileiros?!

- Que mistureba! Sei da tal guerra. Mas estou a falar da política de hoje em dia, da de uns quarenta anos pra cá. Não enfrentamos conflitos em terras sulamericanas.

- Não?! E os entre corinthianos e palmeirenses, e os...

- Deixes de abobrinhas. Há guerras por aqui?! Ouvimos de guerra na América?! Não. Ouvimos falar de guerra na Cachemira, na Armênia, na Síria, na Ucrânia, em Israel. Por aqui, não. Tudo 'tava na santa paz. 'tava; não 'tá mais. O tal de Maduro quer porque quer arrancar um pedaço da Guiana, e dos grandes.

- Que coisa! Que turma de gente besta que está sempre à procura de sarna para se coçar.

- A mando de quem?!

- E eu sei?! Do Putin, talvez. Do Jiping, quem sabe?! Do sheik não sei das quantas lá das arábias, por que não?! Ou da própria cabeça cheia de caquinha, não é improvável.

- Ele convocou um referendo...

- Reverendo?! Puxa vida! É de morrer! Enfiou até a Igreja no meio da bagaça.

- Referendo! Referendo!

- E quem inventou tal porcaria?

- Os romanos, que também inventaram o plebiscito.

- Legal. Continues. Quero ouvir um pouco mais da história.

- O tal Maduro, amigo-do-peito da mais honesta alma brasileira, chamou por um referendo. Tinham os venezuelanos de decidir por uma de duas opções: arrebentar a Guiana; e, não estraçalhar a Guiana. Os venezulanos votaram. E ficou decido que tem o governo da Venezuela de cortar a Guiana ao meio, de alto a baixo.

- E por que cargas-d'água quer o governo venezuelano fazer o cão no país vizinho?!

- E precisa de motivo?! Não havendo-se um, inventa-se um. Tu nunca leste a fábula do lobo e do cordeiro, ambos a beberem da água de um rio?!

- Li, reli, tresli. E não foi da água de um rio que eles beberam; foi da de um riacho

- Que diferença faz?! A fábula é emblemática. Vale a lei do mais forte.

- Mas é a Venezuela a personagem mais forte nesta história, a que, além de envolvê-la, envolve a Guiana?!

- Se, ingênuos, acreditarmos que Venezuela e Guiana são as suas únicas personagens, sim.

- Não somos ingênuos a este ponto.

- Mas não é este ponto que eu quero apontar.

- Não?!

- Não. O ponto é outro.

- Aponta-o.

- O ponto que aponto é este: um país, a Venezuela, ameaça invadir um país vizinho, a Guiana, para se apossar, dela, de uma região riquíssima em petróleo e gás, e para justificar a ação belicosa inventa umas histórias do arco-da-velha. Um país, o mais forte, é o agressor; o outro, mais fraco, o agredido. E o que diz a respeito o nosso querido e amado presidente?! Uma lulice: Que a Venezuela e a Guiana tenham bom-senso ao tratar da questão a envolver a região de Essequibo, a terra da Guiana que o Maduro quer para si. É de lascar! O que seria uma ação de bom-senso da Guiana?! Deixar-se violentar pela Venezuela?! E por que o de nove dedos não condena o governo da Venezuela?! Que lulice!

*****

Venezuela: desastre socialista.

"Fala, bróder!" "E aí, fera?! Jóinha?!" "Belê." "Tudo na santa paz? Só Deus na causa?" "Se melhorar, piora." "É impressão minha, ou tu 'tás encasquetado com alguma carambola?!" "Ó... Atormenta-me um grilo." "Qual?" " 'tava eu, aqui, 'gora pouco, num bate-papo não muito amigável com aquele tal de Emerson, e, conversa vai, conversa vem, falamos da Venezuela, que ora ameaça a Guiana, uma das duas que há ao norte do Brasil, mas não sei qual delas, se a francesa, se a inglesa, e eu então disse que a desgraça que aquele tal de Maduro 'tá causando por lá, na terra do Bolívar e dos bolivares, é resultado de política socialista, e mal eu tal havia dito, e o Emerson interrompeu-me, e disparou-me umas palavras sem pé, nem cabeça." "Quais?" "Ele me disse que a política econômica do Maduro nada tem de socialista e que a miséria venezuelana é resultado de políticas capitalistas, que perduraram durante décadas na Venezuela. E eu, então, lhe disse: "Emerson, nunca estudei socialismo, esse troço importado de outras terras, e nem capitalismo; mas eu te ouvi, e mais de uma vez, dizer que capitalismo é o mesmo que o movimento livre do capital e que o socialismo é um sistema econômico cujos meios de produção estão, todos eles, nas mãos do Estado. Lembro-me, também, que tu dizias que o Chaves, pai espiritual do Maduro, porque ele tinha acabado com a iniciativa privada venezuelana, e, portanto, com as atividades econômicas capitalistas, principiaria uma era de riqueza sem precedentes, pois, agora, toda a economia venezuelana estava sob comando do Estado venezuelano. E o que se viu?! Miséria, violência, emigração de milhões de venezuelanos, centenas de milhares deles vindo ter às terras brasileiras, aqui conhecendo acolhimento." Mal me ouviu o Emerson. Melhor: ouviu-me ele me ouviu, mas de má-vontade, torcendo o nariz, ansioso para me interromper. E assim que parei de falar, ele, ligeiramente irritado, percebi, disse-me que não é a Venezuela um país socialista por causa disto e daquilo e que a miséria do povo venezuelano é causada não sei pelo não sei que que sei lá, entende?! Usou um vocabulário que para mim soou como grego. E eu, então, insisti: "Emerson, o pai do Maduro deu fim aos capitalistas venezuelanos, não deu?! Ele acabou com o capitalismo, lá, na Venezuela, não acabou?! Ele pôs todas as atividades econômicas sob controle do Estado, não pôs?! Se na Venezuela não há mais atividades econômicas capitalistas e se todas elas estão sob governo estatal, então é a Venezuela um país socialista." E tu pensas que diante deste meu comentário, irreplicável, digo, e com muito orgulho, e sem falsa modéstia, ele deu o braço a torcer e mãos à palmatória?! Não sejas ingênuo. Sabes o que ele fez? Ele simplesmente, olhando de um lado para o outro, em nenhum momento me fitando, disse: "Olha, eu estudo o assunto há mais de vinte anos. Tenho graduação em Sociologia, e em Economia. Tenho pós em Filosofia. Estudo História e Antropologia e Psicologia. Sei o que digo. E digo-te que a Venezuela não é um país de economia socialista. E sustento o que eu digo com a minha formação universitária, que é respeitável." "Caramba! Ele te enfiou os diplomas dele na tua cara!" "Pode?! Eu, insistindo, perguntei-lhe: "Se a política chavesmaduriana produziu miséria, e das grandes, na Venezuela, por que os fazoelistas querem coisa igual no Brasil?!" "E ele, o que ele te disse?" "Disse-me que tinha um compromisso, e daqueles inadiáveis, do qual naquele momento ele providencialmente se lembrou, despediu-se de mim, e enquanto de mim se afastava, aconselhou-me a me matricular numa faculdade de humanas." "Ele é um grande amigo seu, vê-se. Só quer o melhor para ti." "Ele quer o meu bem, eu sei. É um amigão."