terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Dois filmes

 Lei e Ordem: Unidade de Vítimas Especiais (Law & Order: Special Victims Unit - Temporada 18; episódios 20, Sonho Americano (American Dream), e 21, Santuário (Sanctuary)


Na trama, desenrolada em dois episódios, 20 e 21, respectivamente, Sonho Americano (American Dream) e Santuário (Sanctuary), da temporada 18, a equipe da SVU, Unidade de Vítimas Especiais (Special Victims Unit), de Nova Iorque, liderada pela tenente Olívia Benson (Mariska Hargetay) e que tem entre seus membros os detetives Odafin Tutuola (Ice-T), Amanda Robbins (Kelli Giddish) e Dominick "Sonny" Carisi Jr. (Peter Scanavino), empreende uma caçada aos estupradores de duas mulheres, ambas imigrantes, árabes, muçulmanas, e ao assassinato de uma delas. De início, as suspeitas recaem sobre um parente delas, que, além de muçulmano, é homossexual e imigrante ilegal, e, simultaneamente, e sucessivamente, sobre um porto-riquenho, também imigrante ilegal, marido e pai de duas filhas. O árabe muçulmano e homossexual temia sua deportação para o seu país, pois, sabia, ao pôr, nele, os pés, comeria o pão que o diabo amassou; e os porto-riquenhos temiam serem deportados, pois a familia se desfaria, afinal os pais seriam deportados, e as filhas, nascidas na terra do Tio Sam, ficariam em solo americano. Enfim, os investigadores, escudados pelo promotor-assistente de Nova Iorque, Rafael Barba (Raúl Esparza), encontram os autores dos horrendos crimes originalmente imputados aos imigrantes ilegais, o árabe homossexual e ao porto-riquenho casado e pai de duas filhas: dois norte-americanos, ambos brancos.

Chamaram-me a atenção, sem que houvessem me surpreendido, a caracterização dos suspeitos e a dos crimininosos: os suspeitos, imigrantes ilegais, vítimas, nos Estados Unidos, de uma política imigratória (os episódios são de 2017, não me escapou tal informação - e Donald Trump já era o presidente dos Estados Unidos) alcunhada xenófoba, e tida como sórdida, cruel, desumana, são bons, pacatos; e os criminosos, ambos, repito, americanos e brancos, destilam ódio aos imigrantes e exibem, abertamente, seus sentimentos supremacistas.

O filme vende idéias prejudiciais à imagem, não apenas do presidente americano, objeto de ódio de onze em cada dez esquerdistas, dos Estados Unidos enquanto nação e dos americanos enquanto povo. O emblema do mal está colado na testa dos homens brancos.

O árabe muçulmano temia a deportação, pois, sabia, assim que pisasse em solo de seu país de origem, seria escorraçado; aqui, nesta questão, pedia-se uma condenação dos produtores do filme aos muçulmanos, que maltratam, segundo o que se apreende do roteiro, os homossexuais, mas o que se vê é condenação ao governo americano, que, indiferente ao destino dele, deporta-o. Fica-se com a sensação de que são os vilões da história os Estados Unidos, reduzidos à pessoa do presidente Donald Trump, os americanos, povo crudelíssimo, e os homens brancos, seres iníquos por natureza.

É tal estória uma panfleto ideológico anti-americano; para olhos atentos, é uma descarada, desabusada propaganda anti-americana que induz muitos americanos a se envergonharem de sua pátria e os outros povos a verem, nos americanos, homens desprovidos dos mais nobres sentimentos humanos.

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Dois Birutas na Legião Estrangeira (Beau Hunks - 1931) - com O Gordo e o Magro


Dizem os saudosistas que hoje em dia não se faz comédias como antigamente. E eles estão corretos; não há o que se lhes refutar: as comédias modernas, inclusive as animadas por atores engraçados, são apelativas; constrangem familiares tímidos, acanhados, se a família, avós, pais, filhos e netos, assistem ao filme, em casa, na sala, reunidos, num dia de confraternização. O mesmo não se pode dizer dos filmes de O Gordo e o Magro, personagens interpretados, respectivamente, por Oliver Harvey e Stan Laurel, a dupla mais atrapalhada, divertida e engraçada da história do cinema, ícones da sétima arte, figuras que só encontram rivais nos comediantes seus contemporâneos: Charles Chaplin, Harold Lloyd, Buster Keaton, e os Três Patetas, Moe, Curly e Larry.

Neste Dois Birutas na Legião Estrangeira, Ollie e Stan, sob a direção de James W. Horne, seguindo roteiro de H. M. Walker, por vias não muito nobres, vão ter a um posto da Legião Estrangeira. Moveu-os ao alistamento uma desilusão amorosa de Ollie, cuja amada, Jeannie-Weenie (Jean Harlow), mulher que viajou pelo mundo inteiro e era amada por todos, via telegrama, informou-o o rompimento do noivado. Ollie, desgostoso, desiludido, decidido a afagar as suas mágoas, a dedicar-se a tarefas que lhe ocupem os pensamentos, desviando-os da mulher que lhe destroçara o coração, arrasta consigo Stan ao posto da Legião Estrangeira, e alistam-se. E não tardam as atrapalhadas da dupla mais divertida do cinema. E tão logo veio a descobrir, no alojamento dos legionários, que a sua querida Jeannie-Weenie não era a santa, meiga e correta, imaculada mulher que ele, em sua ilusão de homem doentiamente apaixonado, acreditava ser, ciente, agora, de que ela era amada por todos, sofre Ollie segunda desilusão; e na companhia de seu companheiro de todas as horas, dirige-se à sala do comandante e pede-lhe o desligamento, dele, Ollie, e de Stan, da Legião Estrangeira. E do comandante os dois atrapalhados legionários ouvem uma resposta que não os agradou, que os descontentou: Ollie e Stan seguiriam alistados na Legião Estrangeira. E na sala do comandante viram Ollie e Stan, à parede, uma foto de Jeannie-Weenie, igual à que ela enviara a Ollie. E seguem-se cenas hilárias, encantadoramente engraçadas, de fazer dobrar-se de rir a estátua de Moisés esculpida por Michelângelo.

Anunciado o cerco, por muçulmanos, do Forte Árido, ruma os legionários, pelo deserto, chamados a cumprir o dever de irem em socorro a outros legionários, e no deserto Ollie e Stan exibem toda a sua extraordinária falta de destreza no manejo de equipamentos úteis ao avanço dos legionários pelo deserto violento, rigoroso. Durante uma tempestade de areia, enceguecidos, perdem Ollie e Stan a trilha, desgarram-se da companhia de legionários, e andam em círculos; mesmo assim, saem do lugar, sabe-se lá por quais meios, e alcançam o Forte Árido, um feito inusitado, inédito, inexplicável, fantástico, fabuloso, extraordinariamente absurdo. E no Forte Árido sucedem-se as atrapalhadas dos dois novos recrutas. E invadem os muçulmanos o Forte Árido. E dá-se o conflito entre os legionários e os invasores. E o desenlace da picaresca aventura é surpreendentemente cômico, graciosamente engraçado, irresistivelmente divertido.

Neste filme de um pouco menos de quarenta minutos, Oliver Hardy e Stan Laurel oferecem momentos de humor irresistível, cenas impagáveis de tão disparatadas.

E pensar que a divertida aventura começou com uma desilusão amorosa!

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