segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Filme

 Sr. Sherlock Holmes (Mr. Holmes - 2015) - com Ian McKellen


Nonagenário, vive Sherlock Holmes (Ian McKellen), na companhia da governanta, Mrs. Munro (Laura Linney) e do filho dela, Roger Munro (Milo Parker), menino de oito anos, em um recanto aprazível do litoral da Inglaterra. Estamos em algum ano logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Auxiliado pelo pequeno Roger Munro, Sherlock Holmes ocupa-se com o seu apiário. Valetudinário, revela o maior detetive da Inglaterra deficiências de memórias. E sofre. Sofre o mais famoso personagem saído da imaginação de Sir Arthur Conan Doyle.

Instigado pelo filho de sua governanta, o eterno Sherlock Holmes empreende, através do tempo, para o passado, uma viagem errática, à procura de respostas para as perguntas que seu inocente companheiro lhe fazia, perguntas que o forçou a trazer, sob muito sofrimento, à tona um triste capítulo de sua vida, do qual ele pouco recordava. Aos poucos, os fragmentos de reminiscência que encontra nos escaninhos de sua mente de idoso alquebrado pela idade, mas que ainda conserva intacto o talento que lhe fez a fama universal, permitem-lhe reconstituir, encaixando-os uns nos outros, o episódio, cuja recordação muito o amargurou. Tratava-se de um caso envolvendo Thomas Kelmot (Patrick Kennedy), que o contratara para estudar o comportamento inusitado de Ann Kelmot (Hattie Morahan), sua esposa, que sofria devido à morte de seus filhos. Tal caso, sucedido trinta anos antes e cujo encerramento, trágico, muito o perturbou, fez Sherlock Holmes abandonar a profissão que lhe deu a fama e recolher-se à sua aprazível residência.

Nesse entremeio, vem a se recordar o detetive de Tamiki Umezaki (Hiroyuki Sanada), com quem se encontrara não muito tempo após o bombardeio de Hiroshima.

Paralelo à investigação de seu longínquo passado, sob esforço indescritível e doloroso, ele, um idoso que transparecia sinais de senilidade, Sherlock Holmes estuda as propriedades regenerativas da geléia real e de uma substância extraída da planta acerca da qual Tamiki Umezaki lhe falara.

Enfrenta o detetive mais famoso de todos os tempos percalços dramáticos, que ele supera não sem sofrimento, seus lapsos de memória a constrangê-lo de tempos em tempos e dos quais ele tem plena consciência. Durante esta que é a maior de suas aventura, revela de sua personalidade traços até então ignorados por ele mesmo. E ensina-lhe a experiência que a lógica, que ele tanto enaltecia, que lhe era infalível nas investigações, um instrumento que lhe era indispensável, não responde a todas as questões humanas. O trágico fim da personagem que ele suspeitava haver ajudado ensinou-o a ver o mundo e as pessoas e a si mesmo com outros olhos.

É ótimo este filme dirigido por Bill Condon, com roteiro de Jeffrey Hatcher, adaptado de A Slight Trick of the Mind, livro de Mitch Cullin, uma trama envolvente, simples, de narrativa lenta, bem cuidada, bem desenvolvida. Mais do que uma investigação policial, é a dramática aventura de um homem em busca de seu tempo perdido.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Pelé

 O Melhor Gol do Pelé


Estamos nos anos 1940. Perdia o jogo o time dos aliados. O time dos alemães anotara, no primeiro tempo, quatro gols; o dos aliados, nenhum. Os jogadores do time dos aliados, mesmo em situação tão adversa, acreditaram que poderiam ganhar o jogo. E foram ao campo, para a metade final do embate. Anotaram, em poucos minutos, três gols. Pelé, contundido, sentado no banco de reservas, suplicou que o deixassem entrar em campo. Após pouca, melhor, nenhuma, resistência, deixam-lo jogar. E ele anotou um gol-de-placa, de-bicicleta, belíssima pintura, obra de arte de um gênio do esporte. E ao encerramento do jogo, a multidão, encantada com a primorosa exibição de destreza futebolística dos jogadores do time dos aliados, invadiu o campo, num vertiginoso e contagiante fervor cívico.

Nas poucas palavras do primeiro parágrafo, um esboço do trecho final do filme Fuga para a Vitótia (Escape to Victory), de John Huston. No elenco, além do Rei do Futebol, Pelé, avatar de Edson Arantes do Nascimento, que faz o papel de Luiz Fernandez, estão os conhecidíssimos Sylvester Stallone (Capitão Robert Hatch, o goleiro), Michael Caine (Capitão John Colby) e Bobby Moore (Terry Brady).

Assim que liguei a televisão, vício que às vezes me permite gratas surpresas, sintonizei em um canal qualquer e zapeando cheguei ao que transmitia o filme do John Huston - eu não o procurava, pois eu não sabia que tal filme existia. Jamais me havia passado pela cabeça que algum cineasta tivesse reunido, ou que em algum dia reuniria, no elenco de um filme, o Pelé e o Stallone, e o Michael Caine, e famosos jogadores que exibiram seu jingado de corpo há décadas, antes de eu vir à luz. Foi por acaso o achado. Na tela, vi, assim que sintonizei o canal, que não anotei, para a minha surpresa, a figura inconfundível dos eternos Rambo e Rocky Balboa, uniforme de goleiro, azul, embrulhando-o, sob e entre as traves de um gol. Curioso, li a sinopse do filme e os nomes que figuravam em seu elenco; surpreendi-me ao me deparar com o de Pelé, o Rei do Futebol, velho de guerra, mestre do ludopédio, esportista que encantou multidões nos cinco continentes e que mereceu crônicas encomiásticas de escritores ilustres e atenção de Vilém Flusser, que, nele inspirando-se, escreveu um curto tratado acerca dos mitos.

Não assisti ao filme. Dediquei-me a ver os seus vinte minutos finais. E só. Ao ver, surpreso, o Sylvester Stallone paramentado para um jogo de futebol, num campo de futebol, decidi seguir, atentamente, os minutos restantes do filme, sonhando - sim, sonhando - ver o majestoso Rei do Futebol marcar um gol, um belíssimo gol. Era essa a minha expectativa. Mas Pelé estava machucado, no banco de reservas. Todavia, acreditei que ele, impelido por alguma força misteriosa, iria regressar ao campo e anotar um gol. E não me frustrei com o que vi: Pelé marcando um gol-de-bicicleta. Gol-de-placa. E para fechar o filme com chave-de-ouro, Stallone intercepta a gorduchinha logo após um jogador alemão cobrar um pênalti.

Agora eu posso, orgulhoso, anunciar aos quatro ventos: Vi o Pelé marcar o seu mais belo gol.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Vacina

 Quem foi o tolo que disse que a vacina contra o Covid-19 causa efeitos colaterais? Quem?! Tomei a vacina há uma semana, e sinto-me otimamente bem. Ontem, por exemplo, ouvi a Dilma Roussef falar do álcool-em-gel, e entendi o que ela disse. 'ta'í a prova de que a vacina não me afetou, não prejudicou meu cérebro.

É ou não é para se comemorar!? 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Um conto

 - Que bundão!

Com tal exclamação, João elogiou os bem perfeitamente bem confeccionados pandeiros de uma bela morena cor de jambo que desfilava no outro lado da rua. E recebeu um soco de um homem que, passando ao seu lado, pensou que ele o chamava de covarde.

Três

 No velório, João Miolo Mole


João Miolo Molo era um sujeito irresistivelmente engraçado. Não batia bem dos pinos, o que lhe conferia singulares dons histriônicos e incomum graça ao falar. Certa feita, no velório do pai de um amigo seu, disse tantos despautérios, e ilustrou as suas narrativas amalucadas com mímica tão graciosamente hilária, que o defunto, esquecendo-se que estava morto, dobrou-se de tanto rir.

*

Barnabé e Juvenal. Ou: Dois Nomes e Seus Donos.


Sempre que penso no nome Barnabé, imagino um caipira. E sempre que penso num caipira, imagino-o com o nome de Barnabé. Para mim, não há caipira que não se chame Barnabé e nem Barnabé que não seja um caipira. E o único Barnabé que eu conheço é médico e mora em São Paulo, cidade, e de caipira não tem sequer um arranhão.

Sempre que penso no nome Juvenal, imagino um homem amalucado. E sempre que penso num homem amalucado, imagino-o com o nome de Juvenal. Para mim, não há homem amalucado que não se chame Juvenal e nem Juvenal que não seja um homem amalucado. E o único Juvenal que eu conheço é, sem tirar nem pôr, um homem amalucado.

*

- O Bozonazi vai acabar com o auxílio emergencial. Em Janeiro, milhões de brasileiros morrerão de fome, por culpa do Bozonaro. O Bozofasci não cuida da economia. O Brasil tá em crise econômica. O preço dos alimentos sobe. E aí, bozominion!? e aí!? o que você tem para me dizer?! O seu Mito e o Guedes não cuidam da economia; e os preços dos alimentos sobem; e o povo não terá mais o auxílio econômico emergencial. E agora?! E agora?!

- Ô, carinha, você, um bonitão Fique Em Casa, foi um daqueles que esgoelou "O importante é a vida; a economia a gente vê depois." E "depois", segundo você e os da sua laia, gente de baixa extração, quer dizer, "após o fim da pandemia." Ora, carinha, bonitão Fique Em Casa, ainda estamos na pandemia, bem no olho do furacão pandêmico, segundo você. Certo? Não é você que vive de cuspir, em alto e bom som "A pandemia ainda está longe de acabar."? Ora, se a pandemia ainda está longe de acabar, então ela ainda não acabou; e se a economia devemos ver depois do fim da epidemia, pois enquanto estivermos na pandemia, é nossa prioridade cuidar da vida, que é importante, e não da economia, então não temos que nos preocupar com a economia. Certo!? Não se preocupe, então. A economia a gente vê depois. Quando? Não sabemos, pois, disse-me a pulga à minha orelha, ela persistirá enquanto muita gente poderosa dela estiver retirando muitas vantagens, políticas e financeiras.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

semântica

- Que bundão! - exclamou o homem.

Com tal exclamação, o homem elogiou os bem perfeitamente bem confeccionados pandeiros de uma bela morena cor de jambo ou xingou de covarde um outro homem?

Descontextualizada, tal exclamação não tem significado.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Dois filmes

 Lei e Ordem: Unidade de Vítimas Especiais (Law & Order: Special Victims Unit - Temporada 18; episódios 20, Sonho Americano (American Dream), e 21, Santuário (Sanctuary)


Na trama, desenrolada em dois episódios, 20 e 21, respectivamente, Sonho Americano (American Dream) e Santuário (Sanctuary), da temporada 18, a equipe da SVU, Unidade de Vítimas Especiais (Special Victims Unit), de Nova Iorque, liderada pela tenente Olívia Benson (Mariska Hargetay) e que tem entre seus membros os detetives Odafin Tutuola (Ice-T), Amanda Robbins (Kelli Giddish) e Dominick "Sonny" Carisi Jr. (Peter Scanavino), empreende uma caçada aos estupradores de duas mulheres, ambas imigrantes, árabes, muçulmanas, e ao assassinato de uma delas. De início, as suspeitas recaem sobre um parente delas, que, além de muçulmano, é homossexual e imigrante ilegal, e, simultaneamente, e sucessivamente, sobre um porto-riquenho, também imigrante ilegal, marido e pai de duas filhas. O árabe muçulmano e homossexual temia sua deportação para o seu país, pois, sabia, ao pôr, nele, os pés, comeria o pão que o diabo amassou; e os porto-riquenhos temiam serem deportados, pois a familia se desfaria, afinal os pais seriam deportados, e as filhas, nascidas na terra do Tio Sam, ficariam em solo americano. Enfim, os investigadores, escudados pelo promotor-assistente de Nova Iorque, Rafael Barba (Raúl Esparza), encontram os autores dos horrendos crimes originalmente imputados aos imigrantes ilegais, o árabe homossexual e ao porto-riquenho casado e pai de duas filhas: dois norte-americanos, ambos brancos.

Chamaram-me a atenção, sem que houvessem me surpreendido, a caracterização dos suspeitos e a dos crimininosos: os suspeitos, imigrantes ilegais, vítimas, nos Estados Unidos, de uma política imigratória (os episódios são de 2017, não me escapou tal informação - e Donald Trump já era o presidente dos Estados Unidos) alcunhada xenófoba, e tida como sórdida, cruel, desumana, são bons, pacatos; e os criminosos, ambos, repito, americanos e brancos, destilam ódio aos imigrantes e exibem, abertamente, seus sentimentos supremacistas.

O filme vende idéias prejudiciais à imagem, não apenas do presidente americano, objeto de ódio de onze em cada dez esquerdistas, dos Estados Unidos enquanto nação e dos americanos enquanto povo. O emblema do mal está colado na testa dos homens brancos.

O árabe muçulmano temia a deportação, pois, sabia, assim que pisasse em solo de seu país de origem, seria escorraçado; aqui, nesta questão, pedia-se uma condenação dos produtores do filme aos muçulmanos, que maltratam, segundo o que se apreende do roteiro, os homossexuais, mas o que se vê é condenação ao governo americano, que, indiferente ao destino dele, deporta-o. Fica-se com a sensação de que são os vilões da história os Estados Unidos, reduzidos à pessoa do presidente Donald Trump, os americanos, povo crudelíssimo, e os homens brancos, seres iníquos por natureza.

É tal estória uma panfleto ideológico anti-americano; para olhos atentos, é uma descarada, desabusada propaganda anti-americana que induz muitos americanos a se envergonharem de sua pátria e os outros povos a verem, nos americanos, homens desprovidos dos mais nobres sentimentos humanos.

*

Dois Birutas na Legião Estrangeira (Beau Hunks - 1931) - com O Gordo e o Magro


Dizem os saudosistas que hoje em dia não se faz comédias como antigamente. E eles estão corretos; não há o que se lhes refutar: as comédias modernas, inclusive as animadas por atores engraçados, são apelativas; constrangem familiares tímidos, acanhados, se a família, avós, pais, filhos e netos, assistem ao filme, em casa, na sala, reunidos, num dia de confraternização. O mesmo não se pode dizer dos filmes de O Gordo e o Magro, personagens interpretados, respectivamente, por Oliver Harvey e Stan Laurel, a dupla mais atrapalhada, divertida e engraçada da história do cinema, ícones da sétima arte, figuras que só encontram rivais nos comediantes seus contemporâneos: Charles Chaplin, Harold Lloyd, Buster Keaton, e os Três Patetas, Moe, Curly e Larry.

Neste Dois Birutas na Legião Estrangeira, Ollie e Stan, sob a direção de James W. Horne, seguindo roteiro de H. M. Walker, por vias não muito nobres, vão ter a um posto da Legião Estrangeira. Moveu-os ao alistamento uma desilusão amorosa de Ollie, cuja amada, Jeannie-Weenie (Jean Harlow), mulher que viajou pelo mundo inteiro e era amada por todos, via telegrama, informou-o o rompimento do noivado. Ollie, desgostoso, desiludido, decidido a afagar as suas mágoas, a dedicar-se a tarefas que lhe ocupem os pensamentos, desviando-os da mulher que lhe destroçara o coração, arrasta consigo Stan ao posto da Legião Estrangeira, e alistam-se. E não tardam as atrapalhadas da dupla mais divertida do cinema. E tão logo veio a descobrir, no alojamento dos legionários, que a sua querida Jeannie-Weenie não era a santa, meiga e correta, imaculada mulher que ele, em sua ilusão de homem doentiamente apaixonado, acreditava ser, ciente, agora, de que ela era amada por todos, sofre Ollie segunda desilusão; e na companhia de seu companheiro de todas as horas, dirige-se à sala do comandante e pede-lhe o desligamento, dele, Ollie, e de Stan, da Legião Estrangeira. E do comandante os dois atrapalhados legionários ouvem uma resposta que não os agradou, que os descontentou: Ollie e Stan seguiriam alistados na Legião Estrangeira. E na sala do comandante viram Ollie e Stan, à parede, uma foto de Jeannie-Weenie, igual à que ela enviara a Ollie. E seguem-se cenas hilárias, encantadoramente engraçadas, de fazer dobrar-se de rir a estátua de Moisés esculpida por Michelângelo.

Anunciado o cerco, por muçulmanos, do Forte Árido, ruma os legionários, pelo deserto, chamados a cumprir o dever de irem em socorro a outros legionários, e no deserto Ollie e Stan exibem toda a sua extraordinária falta de destreza no manejo de equipamentos úteis ao avanço dos legionários pelo deserto violento, rigoroso. Durante uma tempestade de areia, enceguecidos, perdem Ollie e Stan a trilha, desgarram-se da companhia de legionários, e andam em círculos; mesmo assim, saem do lugar, sabe-se lá por quais meios, e alcançam o Forte Árido, um feito inusitado, inédito, inexplicável, fantástico, fabuloso, extraordinariamente absurdo. E no Forte Árido sucedem-se as atrapalhadas dos dois novos recrutas. E invadem os muçulmanos o Forte Árido. E dá-se o conflito entre os legionários e os invasores. E o desenlace da picaresca aventura é surpreendentemente cômico, graciosamente engraçado, irresistivelmente divertido.

Neste filme de um pouco menos de quarenta minutos, Oliver Hardy e Stan Laurel oferecem momentos de humor irresistível, cenas impagáveis de tão disparatadas.

E pensar que a divertida aventura começou com uma desilusão amorosa!

domingo, 13 de dezembro de 2020

Ativistas e um conto

 Dos ativistas


O carinha não estende a mão para entregar alguns centavos para o mendigo que lhe suplica ajuda, e diz: "Eu vou salvar a humanidade."

O carinha não move um dedo para cuidar das árvores da praça perto da sua casa, e diz: "Eu vou salvar a Amazônia e o Pantanal."

O carinha não abandona o seu conforto para limpar córregos e riachos próximos da sua casa, e diz: "Eu vou salvar os oceanos."

O carinha nada faz para conservar limpa a cidade em que vive, e diz: "Eu vou salvar a Terra."

O carinha estimula todo tipo de conflito entre negros e brancos, homens e mulheres, pais e filhos, ricos e pobres, heterossexuais e homossexuais, religiosos e ateus, etc., etc., e etc., e diz: "Eu sou da paz."

O carinha é o perfeito ativista. Acredita que tem poder para resolver os problemas do universo, mas é incapaz de resolver pequenos problemas ao seu redor. Incapaz, porque indiferente. E presunçoso.

*

Há humor na literatura brasileira?

Diz que a literatura brasileira é chata, sem graça, quem jamais se dispôs a ler um livro de um bom escritor brasileiro, e quem, tendo lido algum livro de escritor brasileiro, leu um de escritor desprovido de talento, ou de um escritor, para usar uma gíria moderna, lacrador, ou, como se dizia há pouco tempo, engajado. Engajado em quê? Em defender uma ideologia malsã que corrói tudo o que toca e que não tem o desejo de contar, despretensiosamente, uma boa estória, aventura envolvente de uma personagem cativante - e o escritor lacrador é o legítimo herdeiro do escritor engajado.
E é a literatura brasileira rica de bons livros de humor, livros que divertem, entretêm, educam, agradáveis, escritos por talentosos escritores brasileiros? Sim, é. São inúmeros os escritores brasileiros que se rivalizam com os melhores de outras nações. E no humor tem a literatura brasileira mestres e escritores que, mesmo de pouco talento, souberam escrever livros interessantes, de humor impagável, que de seus autores revelam muito bom gosto, criatividade, espirituosidade, e perspicácia, que lhes propiciaram os meios para identificarem da nossa sociedade e do nosso povo aspectos sutis que escritores de maior gênio não detectaram - e muitos dos de gênio superior, detectando-os, não souberam registrá-los em suas obras, e dos que souberam, não o fizeram com a maestria que o talento superior que os animava exigia.
Sem o desejo de me estender neste texto, que nada mais é do que o registro de alguns pensamentos que hoje de manhã, doze de dezembro de 2.020, afloraram-se à mente, digo que a literatura brasileira é rica, riquíssima, de humor, de graça fina, de comédia contagiante, e que, infelizmente, ela é, num tempo em que as pessoas em sua maioria ocupam-se com outras formas de entretenimento em detrimento da leitura de contos, novelas, romances e peças teatrais, pouco, ou nada, conhecida dos brasileiros. Dentre os escritores brasileiros que escreveram obras de humor que nos fazem rir a bandeiras despregadas, há os pequenos, os médios, os grandes, os gigantes. E aqui, não sendo meu propósito classificar escritores em grupos distintos, agrupando os pequenos com os pequenos, os médios com os médios, os grandes com os grandes, os gigantes com os gigantes, discriminando-os, cito, em ordem alfabética, alguns nomes da nossa literatura acompanhados cada qual do título de uma ou mais de suas obras ricas de humor.
Arthur Azevedo - vários de seus contos.
Carlos Drummond de Andrade - Contos de Aprendiz.
França Júnior - peças teatrais - comédias de costumes.
Graciliano Ramos - Alexandre e Outros Heróis.
Herbert Sales - O Fruto do Vosso Ventre.
Joaquim Manuel de Macedo - A Carteira de Meu Tio.
José Cândido de Carvalho - Porque Lula Bergantim não Atravessou o Rubicón.
José Osvaldo de Meira Penna - Cândido Pafúncio.
Lima Barreto - O Homen que Sabia Javanês.
Machado de Assis, além de dezenas de contos, o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Monteiro Lobato - alguns volumes da série O Sítio do Pica-pau Amarelo. Dentre eles, os que mais me agradaram: O Minotauro; e, Os Doze Trabalhos de Hércules.
Estes são alguns, poucos, escritores que me vêm à mente. Todos eles têm algo a oferecer àqueles que se dignam a ler-lhes os livros. Quem os lê gargalham, dobram-se de tanto rir, choram de tanto rir. Divertem-se.

*
Mensagem do Barnabé Varejeira - Teste de Alergia

Tenho, hoje, Cérjim, meu amigo do peito, pa contá po cê uma lembrança mia, de um fato que conteceu há um bom par de anos. Era o meu fio varão, o Bézinho, então um meninote robusto, encorpado; parecia ele um leitão engordado pa ceia de Natal. Tava bonitão, forte e pançudo o herdêro do meu sangue. Puxô pelo pai, a criança. Mas a mia muié, não sei pruque cargas d'água, encasquetô na cabeça que o fio dela e meu tava doente, e percisava fazê uns teste, teste de alergia. Não sei bem pruque, Cérhim, a mia muié tava animada com tar idéia, mas desconfio o que se assucedeu pa ela ficá tão presa numa idéia só, como um boi na canga: umas madame da cidade disséro pa ela que o nosso herdêro tava meio adoentado. Pronto! Foi o suficiente pa muié ficá preocupada. "Tá preocupada à toda.", disse eu pa ela. E acrescentei: "Pare, muié, de dá ovido pas madame da cidade. Elas só põe fio doente no mundo, e acha que todos os fio das ôtras muié que não os das madame da cidade são doente tâmém. E elas cerca os fio com muito dengo, com muito abraço e bêjo, e estraga eles; estraga as criança. Dêxe de bobagem. O fio nosso tá bão. Esquece o palavrório das madame da cidade. Elas não sabe nem cozinhá, não sabe passá café no coadô, nem escoiê o feijão, não sabe nem o que é uma panela, e nem limpá bumbum de nenê elas sabe. E elas qué ensiná o cê a cuidar do seu fio! Intão, muié, esqueça. Quem deu os peito po seu fio tirá leite? O cê, ou as madame da cidade? O cê. Que as madame da cidade vá pos quinto e nunca mais vórte. Intão, esqueça o que as madame da cidade disséro. Esqueça. O nosso fio tá bão, pançudo, forte." As mia palavra entráro por um ovido da mia consorte, e saíro po otro, fáci, fáci. Não encontráro obstáculo pela frente. Nenhum. Não teve jeito, Cérjim. Mia muié quis segui os conseio das madame da cidade. O fio ia tê que fazê os teste, teste de alergia. Que bêstera, meu Santo Deus Nosso Senhor Menino Jesus! E custava os óio da cara os teste: Cento e vinte barão. Barão não dá em árvre; e não chove barão na mia horta. E eu não ia gastá cento e vinte barão pa fazê uns teste sem propósito, teste que não serve pa nada. Teste que gente da cidade faz, e faz pruque é fraca. Mania de gente da cidade estraga gente da roça. Teste pa sabê se o menino tia alergia à formiga e à abeia e à açúcar e à casca de laranja e à leite, e a ôtros bicho. Cento e vinte barão! Não pago, não. Meu fio tava forte, robusto, pançudo, de peito bom, pernas forte. Mas, se a patroa queria fazê o teste, intão, pensei, vô fazê os teste, mas sem gastá um tostão. Eu não ia perder cento e vinte barão só pruque mia muié tava com idéia de madame da cidade. Mas não ia gastá, mermo, e de jeito maneira. Eu não ia, não. Não fiquei lôco pá queimá dinhêro, assim, sem mais, nem menos. Dinhêro não cai do céu. No ôtro dia, fui inté um abacateiro velho, que jâ morreu, onde havia, intão, uma coméia, e, com todo o cuidado do mundo, peguei uma abeia; e procurei meu herdêro; achei ele, falei pa ele esticá o braço; ele me obedeceu, e eu, prontamente, aticei a abeia no braço dele, e ele soltô um berrêro danado de infernal assim que a abeia picô ele com toda a vontade que o Menino Jesus deu pá ela. Foi um Deus nos acuda! Não demorô um piscar dos óio, a mãe dele apareceu, esbaforida, co os óio arregalado, como se tivesse visto uma sombração, uma abantesma, uma alma penada, de ôtro mundo, e acudiu ele. "O que aconteceu, Barnabé?", perguntô ela pa mim.
"Uma abeia mordeu o braço do nosso fio.", respondi. "Abeia?!", perguntô ela, surpresa. "É, muié, abeia. Eu peguei uma abeia, pus ela no braço dele, e aticei a bichinha pa ela mordê...", dizia eu, mas não pude completá a frase pruque a mãe dos meu fio me interrompeu, intrigada: "Pru que o cê fez isso, ómi?" "Foi um teste de alergia. Pá vê se o sangue do nosso fio tá bão; se aguenta veneno de abeia." "Agora o fio tá chorano.", disse ela.  E arrespondi: "Eu sei. Tô veno e ovino. Deus Nosso Senhor Menino Jesus me deu óios pa eu vê e ovidos pa eu ovi. Não sô nem cego, nem surdo." "E agora, o que vâmo fazê pa ele pará de chorá?", perguntô ela. E arrespondí, já irritado com a muié, sem pensá no que falava: "Dá dois cascudo nas oreia dele que ele pára de chorá. Ou dêxa ele comigo. Três cintada resórve." A muié afastô, sem pensá duas vez,o fio de mim. Depois, já acalmada dos nervo, ela foi me procurá pa uma conversa, conversa de marido e muié. E conversa vai, e conversa vem, resorvemo esperá dois dia pa vê o que ia acontecê co braço do menino, e prometi pa ela que eu não ia fazê mais nenhum teste de alergia com ele. No dia seguinte, o braço do menino tava co uma bruta brotoeja vermelhuda de dá arrepio; e eu esqueci a promessa que fiz pa muié pa qual prometi, na Igreja, diante de Deus, vivê na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, até o dia que a morte nos separasse. A promessa que fiz, na Igreja, com a testemunha de Deus e de todos os santos, irei cumprí; a otra, não; esqueci que a fiz. Saí de casa pa umas andanças e vortei de tardezinha, as galinha e os galo já empoleirado, e perguntei do nosso fio pa mia muié, que oiô pa mim, desconfiada, e preguntô o que eu trazia, nas mão, às costa. Muié é bicho danado de peçonhento: não querdita no marido. Eu disse pa ela que não era nada; e ela foi até a mia frente, com trocentas purga atrás das oreia, e empacô; e não havia cristão que a fizesse arredá pé de da minha frente. "O que o cê tem nas mão? Diga, ómi. Daqui não saio até o cê dizê o que diabos tá o cê planejano ca sua cabeça oca.", cobrô ela de mim explicação. E eu, já enfezado de tanta atormentação, retruquei: "Foi a mia cabeça oca que fez eu casá co cê." "Não arrédo pé.", replicô ela. "Vô fazê um teste de alergia co nosso fio.", respondi. "Teste de alergia!? O cê prometeu pa mim que não iria fazê mais nenhum teste de alergia co ele.", observô ela. Muié tem boa memória, reconheço, mas só usa a boa memória pa lembrá o marido das coisa errada que ele faz. "Prometê, prometi. Mas não com o testemunho de Deus.", repliquei, bufando. "Deus vê tudo, ómi. Deus vê tudo.", regogô a mãe dos meu fio. "Ele só vê as promessa que a gente faz se a gente estivé dentro da Igreja.", retruquei. "Dêxe de falá asneira, descrente. E basta! O que o cê tem, às costa, nas mão? O que o cê tá escondeno de mim? Sou sua muié; o cê não pode escondê nada de mim.", exigiu ela; e eu, não teno ôtra opção, levei as mão pa frente da mia barriga, e mostrei pa mia muié o que tava comigo. "Um pote de vidro! O que tá dentro do pote de vidro?!", perguntô ela, preocupada. E arrespondi: "Não tá veno, não, muié? O cê é cega, é? Deus deu po cê dois óio po cê vê. O que tá dentro do pote?! Veja, muié, cos seus óio: Uma cascavér!" A mãe dos meu fio desmaiô. Que sufoco passei nas hora seguinte! Eu tinha de ressuscitá mia muié. Meu Deus do céu! Foi um Deus nos acuda. Diz o ditado que Deus faz o certo por linhas torta. E é vredade. Adespois da experiência, a mia muié e eu chegâmo a um acordo. E ela desistiu dos teste de alergia que aprendeu cas madame da cidade, muié que só têm idéia que estraga as muié da roça.
Cérjim, é esta a instória que eu me alembrei.
Tenha um bom dia, Cérjim. Fique com Deus Nosso Senhor. Ôtro dia conto ôtra instória po cê. Intê.

sábado, 12 de dezembro de 2020

Um conto

 Dom Quixote e os Pernilongos


Vinícius é um leitor voraz. Dedica-se à leitura de obras clássicas da literatura universal, todos os dias, nos seus momentos de lazer e em todos os momentos livres do dia - e quando não tem um momento livre, ele dá um jeito de encontrar um. Não é incomum surpreendê-lo, à mesa, durante o café-da-manhã, com um livro à mão, esquecido do que se passa ao seu redor, sua atenção presa mas peripécias de Odisseu, o herói mítico da guerra de Tróia, nas ações misteriosas de Sherlock Holmes pelas ruelas de Londres, nas aventuras disparatadas de Dom Quixote de la Mancha e seu fiel escudeiro, Sancho Pança, pelas terras espanholas, nas aventuras um tanto rocambolescas de D'Artagnan, Athos, Portos e Aramis, nas viagens marítimas do Capitão Nemo, à bordo do Nautilus, nas fantásticas aventuras de Aladin e do gênio da lâmpada, na caçada que Acab empreende à baleia branca. E assim que conclui o almoço, e também a janta, recolhe-se à biblioteca de sua casa, deita-se no sofá, em cujo um de seus braços apoia um travesseiro sobre o qual pousa a cabeça, e dedica-se à leitura dos mais fantásticas relatos jamais concebidos pela imaginação, fértil imaginação, humana, enquanto seus três filhos assistem, à televisão, a um desenho animado, ou a um filme, ou entretêm-se com um jogo de videogame, e Verônica, sua esposa dedica-se, atarefada, à limpeza da casa , ou desdobra-se para impedir que seus filhos se engalfinhem em lutas fratricidas.

A dedicação de Vinícius à leitura lhe era natural, atendia ao seu temperamento pacato, retraído, introspectivo, avesso, dir-se-ia hostil, à agitação do dia-a-dia, à multidão. Recolhe-se ao seu mundo, e deste mundo parte em viagens para outros mundos, mundos, estes, imaginados por outros seres de sua espécie, e nele permanece por horas a fio.

Nos primeiros anos após unir laços matrimoniais com Verônica, ela enervava-se sempre que o via à margem do que ocorria na casa, e o descompunha, atrabiliária, sobranceira, sob uma torrente de censuras; e ele, contrariado, era obrigado a abandonar a leitura e a executar as tarefas caseiras, para ele monótonas e entediantes, que dele sua consorte exigia. Transcorridos alguns anos, convencida de que seu marido era um leitor incorrigível, que, durante violentas tempestades, que destelhavam a casa - e não é força de expressão: tal se deu duas vezes - infalivelmente conservava-se, tranquilo, a ler livros, e habituando-se a vê-lo com a leitura entretido, e compreendendo-o, com ele nunca mais se irritou, e nunca mais o descompôs. Deixava-o ocupar-se com a leitura, para evitar desgastes que poderiam vir a culminar num rompimento que nenhum deles desejava. Podia o mundo desabar à sua volta e o inferno subir à terra, que Vinícius não interrompia a leitura, principalmente quando estava a ler Dom Qiixote de la Mancha, de todos os livros do universo o que ele mais gostava de ler. Não havia cristão capaz de tirar-lhe o livro de diante dos olhos. Não custa repetir: De todos os livros que Vinícius leu, a obra-prima de Miguel de Cervantes Saavedra é o de sua predileção. Nenhum outro livro o emulava aos olhos de Vinicíus. Nenhum. Nem os de William Shakespeare; nem os de Homero; nem os de Melville. Nem as Mil e Uma Noites. Era Dom Quixote de la Mancha seu herói.

No decurso de seus trinta e dois anos de vida, Vinícius seguiu o herói da Mancha e seu fiel escudeiro quatorze vezes, nas peripécias trágicas, cômicas, dramáticas, heróicas, épicas, pelas terras da Espanha. Sabia de cor e salteado todos os capítulos das aventuras picarescas do herói espanhol. E sempre que se dedicava à leitura da obra-prima de Cervantes surpreendia-se, fascinado, alumbrado com os hilários episódios saídos da mente do mais genial de todos os escritores espanhóis, como se a lesse pela primeira vez.

Ao crepúsculo de um domingo ensolarado de Outubro, após regressar de um passeio, com sua esposa e seus filhos, ao parque, e banhar-se, e, enquanto sua esposa preparava o jantar e os filhos entretinham-se com um quebra-cabeças de quinhentas peças, Vinícius, na biblioteca, tirou da estante o Dom Quixote de la Mancha, e deitou-se no sofá. Iniciaria a décima quinta leitura das peripécias de Dom Quixote e Sancho Pança. Sorriu, ao evocar algumas das cenas para ele as mais engraçadas, prelibando prazer indescritível. E tão logo ajeitou-se no sofá, a cabeça confortavelmente aninhada no travesseiro, iniciou a leitura - e que o mundo ruísse.

Transcorreram-se os minutos. A curtos intervalos de tempo, estampava-se no rosto de Vinícius um sorriso, que contagiaria quem o surpreendesse e lhe excitaria a curiosidade. Uma hora depois, entrou na biblioteca Verônica, que não se admirou ao ver seu marido, deitado no sofá, a ler Dom Quixote.

- Vinícius, há muitos pernilongos, aqui. Meu Deus! Os pernilongos não estão mordendo você, não? - perguntou-lhe Verônica, um sorriso divertido a enfeitar-lhe o belo, simpático rosto.

- Não - respondeu-lhe Vinícius, mecanicamente, os olhos a seguirem as andanças de Dom Quixote e Sancho Pança.

- Vinícius, olhe para seus pés.

- Por quê?

- Olhe.

- Está bem - e Vinícius abaixou, tranquilamente, os braços, o livro, aberto, à mão direita, mal moveu a cabeça, e fitou seus pés. - O que têm meus pés, Verônica?

- O que têm seus pés?! - perguntou Verônica, surpresa, incrédula. - O que têm?! Vinícius, você... Pelo amor de Deus! O que têm?! Você não está vendo os pernilongos em seus pés? Meu Deus! Vinícius! Não acredito! Em cada pé seu há uns vinte pernilongos; alguns deles, de tão gulosos, têm a barriga cheia de sangue. Vinte?! Mais. Uns trinta em cada pé.

- Não se preocupe - respondeu Vinícius, com a tranquilidade habitual, ao mesmo tempo que restituía sua cabeça à posição original, trazia o livro para diante de seus olhos e retomava a leitura.

- Não me preocupar!? E os pernilongos?

- Deixe-os em paz. Não os amole. Daqui a pouco, eles, enjoados de tanto engolir sangue, arrebentam-se, e vão-se embora.

- Quê!? Deixá-los em paz! Não os... Quando eles irão embora, Vinícius? Quando eles drenarem todo o seu sangue?

- Não sei. Entenda-se com eles.

Incrédula com a resposta que ouviu, Verônica meneou a cabeça, apalermada.

- Multidão de pernilongos a morderem-lhe os pés, e o príncipe encantado não 'tá nem aí - ciciou Verônica para si mesma, um tanto atarantada com a indiferença de seu marido, cujos pés pernilongos devoravam.

Conquanto acostumada com os hábitos de leitor de Vinícius e com os atos, inusitados, que ele prodigalizava durante a leitura de livros, ele ainda a surpreendia, boquiabrindo-a.

Verônica pegou, de sobre a mesa, uma flanela, e com ela afugentou todos os pernilongos - muitos deles de barriga cheia, estufada, vermelhuda - que se banqueteavam com o farto sortimento de sangue que Vinícius lhes oferecia.

- O jantar já 'tá na mesa - anunciou, recomposta, fleumática, Verônica, que restituiu a flanela à mesa e retirou-se da biblioteca.

E montado no Rocinante, Vinícius errava por terras da Espanha...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Bolsonaro

 - Bozominion, você é um negacionista! Você está desacreditando a vacina. A vacina é produto da ciência.

- E a cloroquina é produto do que, ô, diarréia de múmia?!

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Ontem: "O Bozonaro vai dar R$ 600,00 pra cada brasileiro. Auxílio emergencial, diz ele. Auxíliol?! É pior que esmola! Bozonaro Fascista! Nazista! Terraplanista! Negacionista! Anti-iluminista! Populista! O Bozonaro tá enganar o povo. Com R$ 600,00 não se compra nem um saco de arroz e um de feijão."

Hoje: "O Bozonaro vai acabar com o auxílio emergencial. E o povo vai viver de quê?! Vai morrer de fome. R$ 600,00 é pouco, todo mundo sabe, mas pra quem não tem nada é muito. Agora, sem o auxílio o povo não tem dinheiro nem pra comprar arroz e feijão. Bozonaro Fascista! Nazista! Terraplanista! Negacionista! Anti-iluminista! Populista!

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A sofisticação do verbo ouvir


De todos os verbos da Nossa Língua Portuguesa, "ouvir" é o mais sofisticado. Permite duas conjugações no presente do indicativo da primeira pessoa do singular: "osso" e "ovo". Exemplos: "Eu osso músicas do Pixinguinha." e "Eu ovo músicas do Sílvio Caldas."

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1) Tortura psicológica: Um vírus terrível dizimará a espécie humana;

2) Promessa: Em um ano teremos uma vacina milagrosa;

3) Esperança: As pessoas submetem-se às orientações de heróis eleitos pela mídia, à espera da vacina milagrosa;

4) Espanto: Autoridades médicas alertam: Há reinfecções de humanos pelo Covid-19 e a vacina não é milagrosa - e as pessoas imunizadas pela vacina terão de respeitar o distanciamento e isolamento sociais, usar máscara e passar álcool-em-gel nas mãos; e,

5) Submissão às autoridades tirânicas das pessoas desiludidas que, assustadas, amedrontadas, psicologicamente pulverizadas, após meses sob bombardeio midiático, esperavam, esperançosas, pela vacina milagrosa.

Observações: Há registros de casos de reinfecção de pessoas pelo Covid-19. Mas uma pessoa já infectada pode ser reinfectada apenas uma vez, ou infinitas vezes? O Covid-19 pretende dar trégua aos humanos? Melhor: políticos e cientistas e capitalistas inescrupulosos imputam ao vírus o mal que eles causam a pessoas de todo o mundo. E eles não lhes darão trégua. O mal, estou convencido, está no espírito de pessoas sórdidas, desprezíveis, sádicas, mórbidas, que se divertem, diabolicamente, com a vida de oito bilhões de pessoas, e não no Covid-19. Este vírus é só o bode expiatório.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Vários

 João Dória quer obrigar todos os paulistas a tomarem a vacina.

Há quem afirme que a vacina será uma picada de agulha na bunda. Portanto, quem quiser tomar a vacina, pica na bunda.

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Li por aí: "Mesmo após a vacinação contra o corongavírus, todas as pessoas terão de respeitar o isolamento e o distanciamento sociais, usar máscara e passar álcool-em-gel nas mãos, enfim respeitar todas as recomendações obrigatórias ditadas pelas autoridades sanitárias desde Março deste ano, para reforçar o sistema imunológico." Não entendi bulhufas! Juro que também não entendi patavinas!

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Li não me lembro onde, e nem quero me lembrar: "Mesmo vacinada, a pessoa poderá transmitir o, e ser infectada pelo, coronavírus." Não entendi. Então, vacina pra quê!?

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O importante não é o conhecimento que se tem, mas o que se faz com ele. Há quem acredita que temos o dever de acolher como corretas as orientações de médicos e cientistas no tocante (evocando o querido e amado presidente Bolsonaro) ao combate ao mocorongovírus (diria meu amigo Barnabé), porque eles têm formação médica, científica. Ora bolas, Josef Mengele, nazista, era médico. E o que ele fez com todo o conhecimento que possuía de medicina? Salvou vidas? Não. Ajudou pessoas? Não. Usou de seu gênio, de seus profundos conhecimentos em medicina, ele, um nazista, para matar pessoas, submeter pessoas a experimentos terríveis, desumanos.

Os fanáticos adoradores dos homens de jaleco branco querem agendar uma consulta com o doutor Josef Mengele? Não há com o que se preocupar. Ele é médico.

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"Tal coisa é assim e assado.", afirma o estudioso, seja ele um cientista, seja ele um intelectual, peito cheio de arrogância e estupidez, no esforço de se impor ao seu simplório interlocutor, que, não encontrando consistência no que dele ouviu, replica: "Seu argumento não tem pé, nem cabeça." E segue o diálogo entre os dois homens: O estudioso: "Você tem diploma universitário?" "Não." "Você leu tal e tal livro do Fulano, estudioso premiado em todo o mundo?" "Não." "Eu li. Portanto, eu, que tenho diploma universitário e li tais livros, sei das coisas do mundo, e você não." E assim, com exibição de autoridade, e não com a exposição de seus argumentos numa demonstração que dele revele compreensão do assunto em discussão, o estudioso impõe-se ao seu interlocutor.

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"O Bozonaro 'tá causando muitos incidentes diplomáticos com os Estados Unidos e a China. Se estes dois países se unirem contra o Brasil, os brasileiros comeremos o pão que o diabo amassou." "E o que você propõe, anti-bolsonarista?" "O Bozonaro tem de evitar incidentes diplomáticos com os Estados Unidos e a China." "E como ele irá evitá-los?" "Você é muito burro, bozominion. É fácil: Basta o Bozonaro fazer tudo o Biden e o Xi Jiping mandarem." "Mas, assim, ele entregará o Brasil para o Bidê e o Xixi." "Não interessa, bozominion. Não interessa. O importante é evitar incidentes diplomáticos com os Estados Unidos e a China." "Então 'tá, então." "Você não entende política, bozominion. Você é gado do Bozonaro, aquele nazifascista da extrema-direita burguesa neo-liberal escravocrata e radical. O Bozonaro, o seu Mito, está entregando o Brasil para o Trump, aquele capitalista imperialista da burguesia nazifascista ultra-conservadora e racista. O Brasil é dos brasileiros, bozominion. Entenda isto."

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Dia 7 de Setembro do 2020, feriado nacional, segunda-feira.
Nos dias 5 (Sábado), 6 (Domingo) e 7 (Segunda-feira) de Setembro deste ano, milhões de brasileiros deram banana ao corongavírus, e foram banhar-se, ao sol, nas águas salgadas de todo o litoral brasileiro. E doutorzinhos pandemaricas, histéricos, anteviram o apocalípse: Pilhas de cadáveres a juncarem o chão de todo o nosso querido Brasil, nos dias seguintes à exibição de irresponsabilidade pelos seminus e suados banhistas. E o que se viu nas duas semanas seguintes, e no restante de Setembro, e em Outubro e Novembro? Queda consistente dos casos de infecção e mortes pelo chinavírus. E os doutorzinhos pandemaricas frustraram-se, pois não morreu o tanto de gente que eles previram; e recolheram-se ainda mais fundo no interior de seu tugúrio mental, encolhidos em posição fetal, a resmungar maldições luciferinas, enraivecidos; alimentaram o ódio homicida pelas pessoas que ousaram ignorar-lhes o agourento vaticínio e desprezaram os fatos. Os brasileiros, aos milhões, aglomerados, esfregando-se, seminus, nas praias de todo o país, não causaram o aumento de casos de infecção e morte pelo vírus chinês. Página virada. E os doutorzinhos pandemaricas deram-se por vencidos? Não. Eles não desistiram do projeto de amedrontar todo o povo brasileiro. Não deram o braço a torcer. A profecia cataclísmica estava correta, mas os brasileiros - irresponsáveis, genocidas - e o mocorongovírus (diria meu amigo Barnabé) decidiram deixar suas diferenças de lado, aliaram forças e não cumpriram a profecia anunciada pelos doutorzinhos pandemaricas. Agora, nas festas de Natal e de Ano-Novo, os doutorzinhos pandemaricas, oraculares, profetizam: O Corongavírus espalhar-se-á por todo o território brasileiro, pois os brasileiros, irresponsáveis, egoístas, genocídas, aglomerar-se-ão no interior de suas casas, o que redundará na rápida, acelerada, disseminação do chinavírus; e milhões de brasileiros morrerão. E realizar-se-á tal profecia escatológica? Não. É ela fruto da imaginação doentia de doutorzinhos histéricos, que sucumbiram ao medo, perderam a capacidade de, com um pingo de sensatez, ponderarem a respeito dos fenômenos mais comezinhos do nosso mundo. E darão o braço a torcer, assim que conheceram a incorreção de sua profecia? Não. O carnaval está logo adiante. E os doutorzinhos pandemaricas, histéricos, entoarão suas cantilenas miasmáticas: milhões de brasileiros morrerão infectados pelo coronavírus. E tal profecia não se realizará.
E seguem-se novos capítulos da tétrica aventura.
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-Você é idiota, bozominion. Você não vai tomar a vacina por quê? A vacina é produto da ciência. Desenvolvida e produzida, nos laboratórios da indústria farmacêutica, por cientistas sérios e responsáveis. Você é negacionista.
- Ô, pandemaricas, deixe de ser besta. Você é só um babaca que se acha a última bolacha do pacote. A cloroquina, que você tanto difama, e que você se recusa a tomar, foi desenvolvida e é produzida, por cientistas sérios e responsáveis, nos laboratórios da mesma indústria farmacêutica que desenvolveu e produz a vacina.
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O carinha é vagabundo, safado e patife. Vai à universidade. E cinco anos depois ganha o seu diploma. E deixa de ser vagabundo, safado e patife? Não. Antes, ele era um vagabundo, safado e patife sem diploma, e ninguém o levava a sério. Agora que ele é um vagabundo, safado e patife diplomado é reputado homem íntegro.
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"O Bozonaro não faz as próprias obras. Ele só termina as obras do Lula. A obra de transposição das águas do Rio São Francisco é do Lula. O Bozonaro roubou-a dele." "Não existe obras do Lula, do Fernando Henrique, da Dilma, do Temer, do Bolsonaro, ô, abestado. As obras públicas são obras de Estado, e não do Fulano, do Beltrano, do Cicrano. Obras financiadas com dinheiro público são feitas para o bem de todos. No Brasil, pertencem ao povo brasileiro. É com dinheiro do povo brasileiro que se faz obras públicas. Entendeu, ô, desmiolado. Cabeça de bagre, a obra de transposição das águas do Rio São Francisco não é do Lula. Você queria o que, ô, miolo de pão?! Ouça-me com atenção, zé-mané: O Lula começa a construir a obra de transposição das águas do Rio São Francisco na margem esquerda deste rio, mas não a conclui durante o seu mandato; e nem durante o mandato da estocadora de vento ela é concluída, e nem durante o do senhor Temeroso. Aí, preste atenção, ô, desparafusado, o Bolsonaro é eleito presidente do Brasil. E ele vê a obra, abandonada, de transposição das águas do Rio São Francisco. E sabe de sua importância para os nordestinos, e da sórdida indústria da seca, e do despudor dos coronéis e potentados locais, e dos contratos escusos entre governos do Nordeste e empresas de caminhões-pipa. Decide, então, retomar a obra. E em poucos meses a conclui. E o povo daquela região seca, árida, adusta, livra-se dos inescrupulosos coronéis. Ponto para o Bolsonaro, que assumiu sua responsabilidade. E felicidade aos nordestinos, que podem vislumbrar um futuro alvissareiro. Está me acompanhando, intestino de piolho?! Esta é a história que conhecemos, a verdadeira, que se desenrola diante de nossos olhos. É para nos alegrarmos. Mas você... O que você queria, ô, cabeça de pote! Você queria que o Bolsonaro abandonasse a obra iniciada pelo Lula e construísse uma obra de transposição das águas do Rio São Francisco pela margem direita do rio? O Lula é o dono das águas do Rio São Francisco, é, ô, inteligência?! Ele é o dono do Rio São Francisco? Ele é o dono do Brasil? Todas as obras que ele, segundo você, começou a construir só ele pode terminar de construir? Só o Lula pode concluir as obras do Lula?! O Lula está predestinado a ser o salvador do Brasil?! Em que livro você leu tal despautério, ô, unha de gambá? Um desarrazoado de tal monta só brota em cabeça de gente sem miolo. Não existe, repito, ô, cabeça de cuia, obra do Lula, obra do Temer, obra da estocadora de vento, obra do Fernando Henrique, obra do Bolsonaro. Obras públicas financiadas com dinheiro público são obras de Estado, para o bem do povo. Entendeu, ô, casca de siri? E faça-me um favor; melhor, dois: Feche a matraca e vá pentear macaco."

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Duas estórias infantis

 O Desaparecimento do Contador de Estórias


- O Belisário sumiu! - gritou Joaquim Espalha-Brasa, o menino mais peralta da cidade, o mais peralta e o mais mentiroso. Ninguém acreditou nele, mas desta vez ele dizia a verdade. Belisário, o contador de estórias, havia desaparecido.

Todos os dias, às cinco horas da tarde, Belisário ia à Praça Central, onde crianças, jovens, adultos e velhos o ouviam contar estórias maravilhosas que apenas ele sabia contar. Mas neste dia ele não tinha, às cinco horas da tarde, ido à Praça Central. O que lhe havia acontecido?

- O Belisário nunca se atrasou - comentou um morador, que nunca deixava de ouvir Belisário contar estórias magníficas.

Ninguém soube explicar o sumiço de Belisário. Todos voltaram a atenção para a maior autoridade da cidade: o prefeito Raimundo, que se viu em apuros, pois não soube explicar o atraso de Belisário.

- Que raio de prefeito você é, Raimundo? - reclamou Godofredo, o farmacêutico, o homem mais ranzinza da cidade.

- Não falte com o respeito, doutor - retrucou Raimundo, o prefeito, contrariado e irritado. - Não me venha com desaforos. Sou o prefeito. Não sei de tudo, ora bolas! Se querem saber o que aconteceu com o Belisário, perguntem ao Leonardo, do jornal. Ele está sempre por dentro das notícias.

E todos foram ter com Leonardo, o jornalista.

Leonardo não soube dizer porque Belisário não havia ido à Praça Central.

- Desta vez, o Joaquim Espalha-Brasa disse a verdade - disse um morador. - Milagre. Hoje São Pedro nos mandará uma tempestade daquelas.

Passaram-se as horas. O relógio marcou oito horas da noite. As pessoas, desanimadas e entristecidas, até então aglomeradas na Praça Central, foram embora, cabisbaixas. Iriam dormir sem ouvir nenhuma estória de Belisário, o contador de estórias.

Ninguém dormiu naquela noite. Ninguém. Todos passaram a noite em claro, se perguntando porque Belisário, o contador de estórias, não tinha ido à Praça Central.

Na manhã seguinte, o desaparecimento de Belisário foi o assunto de todas as conversas. Ninguém quis saber de futebol, nem de novelas, tampouco de desenhos animados; ninguém quis saber de outro assunto que não fosse o desaparecimento de Belisário, o contador de estórias.

Os moradores da cidade iam à Praça Central, todos os dias, às cinco horas da tarde. E Belisário não aparecia.

Passaram-se os dias. E Belisário não aparecia. O que havia acontecido com Belisário? O prefeito conversou com o delegado, que mandou os policiais procurarem por Belisário. Não o encontraram. E entristeciam-se todos os moradores, que iam, todos os dias, às cinco da tarde, à Praça Central, para ouvir Belisário contar-lhes fascinantes estórias, mas na praça ele não aparecia. Enfim, cansados, não foram mais à praça.

O que havia acontecido com Belisário, o contador de estórias? Ninguém sabia.

Sem as estórias que Belisário contava, entristeceram-se os moradores da cidade. As crianças, os jovens, os adultos e os velhos não conseguiam mais sonhar. À noite, todos dormiam, e ninguém sonhava. Perderam a vontade de trabalhar, e a de estudar. Até o apetite perderam. Todos viviam tristes porque não ouviam mais nenhuma estória encantada que apenas Belisário, o contador estórias, sabia contar.

Onde estava Belisário, o contador de estórias? Todos queriam saber.

Passaram-se os dias.

Passaram-se os meses.

- O Belisário voltou! O Belisário voltou! - gritou Joaquim Espalha-Brasa, animado, entusiasmado; ele pedalava a bicicleta velha, que ele chamava de Bike Magrela, com toda a força de seus pés. - O Belisário voltou!

- Joaquim, o Belisário voltou? - perguntou Godofredo, o farmacêutico, o homem mais ranzinza da cidade, sorrindo.

- O Belisário voltou! - berrou Joaquim. - O Belisário voltou, cambada! Vamos à praça!

E todos os moradores da cidade foram à Praça Central. Lá, sorridente, Belisário, o contador de estórias, contaria estórias fantásticas, que tinham heróis, dragões, frutos mágicos, cobras de gelo, passarinhos de quatro asas, mulheres de corpo de leoa, flechas enfeitiçadas, coroas de diamantes, castelos assombrados, gigantes, mulheres de cabelo de ouro, rios com peixes que falavam, árvores que voavam, crianças invisíveis.

Acercaram-se de Belisário, o contador de estórias, Raimundo, o prefeito; Godofredo, o farmacêutico; Leonardo, o jornalista, Joaquim Espalha-Brasa, o menino mais peralta, mais peralta e mais mentiroso da cidade; e todos os outros moradores da cidade. Ninguém perguntou-lhe por onde ele tinha andado durante todos aqueles meses. Todos queriam ouvir-lhe as estórias. E Belisário contou-lhes estórias maravilhosas.

Naquela noite, todos sonharam lindos sonhos.

No dia seguinte, às cinco horas da tarde, a Praça Central estava cheia de gente que foram ouvir Belisário, o contador de estórias, contar as mais belas estórias do mundo.

E a felicidade voltou à cidade. E os seus moradores trabalhavam e estudavam com mais vontade. E sonhavam belos sonhos, afinal Belisário, o contador de estórias, contava-lhes estórias belíssimas, fantásticas, as mais fascinantes estórias do mundo.


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O Homem que Inventava

Poucas pessoas compreendiam as idéias de outro mundo de Charles Albert Newton.
A história começou com Gustavo da Silva, um homem simples e sábio. Ainda criança, ele aprendeu a ler e a escrever. Leu muitos livros. Os livros que contavam a vida dos maiores cientistas do mundo eram os que ele mais gostava de ler. Cresceu. Comprou uma casa. E dentro dela construiu uma biblioteca com um acervo de mais de mil livros, em sua maioria de histórias da vida e das idéias dos mais importantes cientistas de todos os tempos. Casou-se com Rebeca. Para o seu primeiro filho, Gustavo escolheu o nome Charles Albert Newton. E por que Gustavo batizou de Charles Albert Newton? Por que não o chamou ou de José, ou de Paulo, ou de Pedro, ou de João? Porque ao batizá-lo com o nome de Charles Albert Newton, homenageou os três cientistas que mais admirava: Charles Darwin, Albert Einstein e Isaac Newton. Agora que todos já sabem porque Charles Albert Newton chamava-se Charles Albert Newton, podemos continuar a nossa história.
Charles Albert Newton era o orgulho de Gustavo e Rebeca. Crescia, vigoroso - jogava futebol e praticava natação - e muito inteligente. Lia bons livros. Antes dos vinte anos, já fazia experiências e inventava máquinas que melhoravam a vida das pessoas. Era a pessoa mais famosa da cidade em que morava. Todas as pessoas o admiravam e o achavam um pouco estranho - mas não o achavam muito estranho, pois ele gostava de dançar, assistir a jogos de futebol, e de carnaval. Mas quando ele punha-se a falar de suas idéias, de como funcionavam as suas invenções, as pessoas ficavam com cara de bobas - ninguém entendia o que ele dizia. Charles Albert Newton não era um cientista maluco - ele era muito esperto e sabia o que queria: queria que todas as pessoas vivessem bem; que ninguém passasse nem fome, nem sede; queria que todas as pessoas tivessem boas casas e boas roupas; e boa comida todos os dias, para que tivessem saúde de aço.
Era um homem dedicado às ciências, às invenções; às pessoas, que o chamavam de O Homem Que Inventava. E ele apareceu até em capa de revista! E ficou famoso! E com as suas invenções ajudava as pessoas.
Um dia, ele se recolheu à sua casa, e nada mais inventou. As pessoas estranharam.
- Por que o Charles não inventa mais coisas interessantes? - perguntou um morador da cidade.
- Levei para o Albert uma defeituosa máquina - disse outro morador -, e ele não soube consertá-la.
- Pedi ao Newton uma solução para o problema das enchentes que têm nos maltratado. Sabem o que ele me disse? Que não tem idéia para resolver o problema - disse o prefeito, entristecido e preocupado.
- Esgotaram-se as idéias do Charles? - perguntou uma senhora respeitável.
- Para mim, o Albert perdeu um parafuso - comentou, rindo, um homem brincalhão.
- Não diga bobagens - disse um homem que não gostava de brincadeiras bobas. O Newton só está precisando de alguns dias de descanso.
Sem as brilhantes invenções e as idéias amalucadas de Charles Albert Newton, empobrecia-se a cidade.
Passaram-se os dias.
Charles Albert Newton não inventou nenhuma extraordinária máquina e não pensou nenhuma idéia meio doida que ninguém entendia muito bem, mas que todo mundo adorava.
E passaram-se outros dias. E outros dias. E outros dias. E outros dias. E Charles Albert Newton não apresentou nenhuma boa idéia e nenhuma invenção brilhante.
Um dia, caminhando, a cabeça abaixada, Charles Albert Newton viu uma linda menina chorando, foi até ela, e perguntou-lhe:
- O que aconteceu, menina?
- A minha boneca... naquele buraco - disse a menina, aos soluços, gaguejando. Charles Albert Newton foi até o buraco, que era fundo.
E a menina chorava.
- Qual é seu nome? - perguntou-lhe Charles Albert Newton.
- Lúcia - respondeu a menina.
- Lúcia, vou pegar a sua boneca, está bem? - prometeu Charles Albert Newton, que logo pensou num meio de tirar a boneca de dentro do buraco, que era fundo. Olhou ao redor, e encontrou a solução.
Um homem passeava; trazia consigo um guarda-chuva. Charles Albert Newton pediu-lhe o guarda-chuva emprestado, e ele, gentil, lho emprestou. E quebrou Charles Albert Newton, de uma árvore, dois galhos compridos, e pediu para a Lúcia, que o observava sem entender o que ele fazia, as maria-chiquinhas com as quais ela prendia os cabelos; ela lhas deu. E Charles Albert Newton prendeu, com uma das duas maria-chiquinhas, uma das pontas de um galho à uma das pontas do outro galho, e, com a outra maria-chiquinha, a outra ponta deste galho à ponta do guarda-chuva. E segurando o galho que não estava preso, com uma das maria-chiquinhas, ao guarda-chuva, desceu o guarda-chuva até o fundo do buraco. Com todo o cuidado do mundo, enganchou, na alça do vestido da boneca, o cabo curvo do guarda-chuva. E puxou o galho; junto com o galho veio o outro galho e uma maria-chiquinha, e, pouco depois, a outra maria-chiquinha e o guarda-chuva, e, no cabo curvo do guarda-chuva, a boneca da Lúcia.
Lúcia deu muitos pulos de alegria, e abraçou e beijou a boneca. E abraçou e beijou o gentil homem que emprestara o guarda-chuva para Charles Albert Newton. E abraçou e beijou Charles Albert Newton.
- Charles Albert Newton, você é o meu herói - disse Lúcia, imensamente feliz.
Charles Albert Newton restituiu o guarda-chuva ao gentil homem que lho emprestara e correu para a sua casa, a cabeça cheia de idéias maravilhosas e invenções de outro mundo.

domingo, 6 de dezembro de 2020

Um

 A luta de boxe sem lutadores - escrito por Alessandro Cassarrato - publicado no Zeca Quinha News


O município, que também é uma cidade, de Pindamonhangaba do Sul-Sudeste, localidade situada num aprazível recanto do nosso imenso Brasil, terra em que se plantando tudo dá, banana, côco e fubá, foi palco de um evento esportivo inédito, cujos ingredientes foram, em doses cavalares, emoção, suspense e aventura, e que hipnotizou milhões de indivíduos da espécie bípede alcunhada, pelos romanos, num latim crônico e anacrônico (crônico, porque está nas crônicas romanas; anacrônico, porque é extemporâneo, superado, obsoleto), de homo sapiens: A luta de boxe sem lutadores; a primeira do gênero; sucesso de público e de popularidade; e cujas ressonâncias políticas e sociais são de valor incalculável. Foram os lutadores deste inusitado e extraordinário evento esportivo Tião Soconopeito e Ditinho Murronacara, duas personagens imaginárias, concebidas, em imaginação, pelos seus criadores, homens criativos, imaginosos, engenhosos, de invejável espírito esportivo, e cujos nomes, não revelados, não são conhecidos pelo grande público, tampouco pelo pequeno público. Tião Soconopeito tem um metro e noventa de altura e cento e dez quilos; e Ditinho Murronacara, um metro e oitenta de altura e cento e um quilos. Dos dois boxeadores estas foram as únicas informações passadas ao público pelos organizadores do evento, informações indispensáveis para que cada pessoa que se dignou a dedicar uma hora de sua vida para assistir ao espetáculo marcial, que foi de doer e que entrou para a história para dela jamais sair, pudesse imaginá-los.

Realizou-se a luta no ringue do estádio municipal de Pindamonhangaba do Sul-Sudeste, edifício grandioso, majestoso, palco de eventos esportivos que atraem numeroso público todo fim de semana. Ao estádio convergiram cento e cinquenta mil pessoas - cada uma delas ocupou uma cadeira à ela reservada no momento da compra, por míseros R$ 150,00, do ingresso; e à televisão, para testemunharem o esmurramento mútuo e recíproco entre Tião Soconopeito e Ditinho Murronacara, segundo cálculos de confiáveis fontes de informações, mais de três bilhões de pares de olhos de pessoas da espécie humana de todo o orbe terrestre, o planeta azul que habitamos e que chamamos, incorretamente, de Terra. O sucesso, estrondo. Aconchegados às cadeiras da arquibancada do estádio, todas as cadeiras ocupadas, cada uma delas por um ocupante, o narrador esportivo principiou o início da sua narrativa com estas palavras: "Meu adorável público, apresento os dois maiores lutadores do século, bravos e destemidos gladiadores modernos. À direita, Tião Soconopeito. À esquerda, Ditinho Murronacara." Neste momento, dois focos de luz surgiram, no teto, e ambos criaram, cada um deles um, um cone de luz, cada um projetado num ponto do estádio, num corredor entre as cadeiras. E todos os espectadores puderam imaginar, no cone de luz à direita do narrador, Tião Soconopeito, e no à esquerda, Ditinho Murronacara. E o público foi ao delírio. Aplaudiu e ovacionou, estrondosamente, os dois gladiadores modernos. Tremeram os alicerces do estádio. Enquanto os boxeadores rumavam ao ringue no ritmo do deslocamento dos dois cones de luz, do ponto em que estes surgiram originalmente, até o ringue, o público imaginava-os andando, altivos, sobranceiros, confiantes. E um juiz-de-luta desceu, por uma corda, ao centro do ringue. Enfim, detiveram-se os dois cones de luz próximos do juiz-de-luta, que, gesticulando, listou as regras da luta, para que todos pudessem ouvi-las. E apagaram-se os cones de luz. E o juiz-de-luta apitou o início da luta. E ia de um canto ao outro do ringue. E apartava os dois boxeadores, que se agarravam. E iniciava a contagem regressiva, e logo a encerrava antes de completar os dez segundos. Executava todos os seus movimentos com a desenvoltura de um mímico experimentado; e tão bem os executava que o público, acompanhando-o em sua evolução felina, um espetáculo à parte, sem perder, dele, sequer um ínfimo detalhe, concebia, em imaginação, os movimentos de Tião Soconopeito e Ditinho Murronacara, os dois boxeadores selecionados à mão para empreenderem o confronto inaugural da mais criativa e original modalidade esportiva criada, pelos seres humanos, nos últimos cem anos. E encerrou-se o primeiro assalto. E encerrou-se o segundo assalto. E encerrou-se o terceiro. E o quarto. E o quinto. E a luta prosseguia, indefinida. E o público acompanhava todos os movimentos do juiz-de-luta, podendo, assim, criar, em imaginação, os movimentos dos dois boxeadores, que se socavam e se esmurravam. E encerrou-se o sexto assalto. E o sétimo assalto. E o oitavo. E o nono. E o décimo, encerrando-se a luta sem que nenhum dos dois boxeadores, nocauteado pelo oponente, beijasse a lona. Ambos resistiram aos golpes um os do outro, e bravamente, e heroicamente, até o encerramento da luta. E o narrador, animado desde o princípio do embate entre Tião Soconopeito e Ditinho Murronacara, anunciou o vencedor, que superou o seu oponente em dois pontos: Ditinho Murronacara.

E, aqui, o silêncio sepulcral de alguns torcedores, abismados, supresos, boquiabertos, de olhos arregalados; e a euforia contagiante de outros, que se expandiram em ínfrene e incontinente alegria despudorada. Os eufóricos haviam imaginado vitorioso o boxeador anunciado, pelo narrador, como vitorioso, Ditinho Murronacara; os boquiabertos de indignação, contrariados, Tião Soconopeito. E nem bem haviam se recomposto da surpresa, desagradável surpresa, estes avançaram, aos berros altissonantes, indignados, contra o juiz-da-luta, que tratou, e logo, de escalar a corda, que haviam descido para que nela ele se agarrasse e lhe escalasse os vinte metros, até uma cabine, que o protegeria dos golpes que lhe pretendiam encaixar os ensandecidos torcedores que traziam os nervos à flor da pele. E principiou o confronto, bárbaro e selvagem confronto, entre os que deram, em imaginação, a vitória a Tião Soconopeito e os que a deram a Ditinho Murronacara. E intensificou-se o confronto. Cadeiras voaram, iguais mísseis teleguiados, pelo estádio. E as cento e cinquenta mil pessoas retiraram-se, iguais vagalhões que arrasam o litoral do Império do Sol Nascente, que é, também, o do Sol Morrente, e o do Sol Sobente (porque o Sol sobe) e o do Sol Descente (porque o Sol desce), do estádio por cujos arredores adjacentes à vizinhança espalharam-se, prosseguindo, em seu exterior, a guerra que dentro dele haviam principiado.

Espalhou-se a arruaça, nas ruas e nas avenidas e nas calçadas, a quebradeira, o quebra-quebra, o quebra-pau. O prefeito do município, que também é uma cidade, de Pindamonhangaba do Sul-Sudeste recorreu ao governador do Estado estadual, solicitando-lhe forças, que se revelariam fracas, da política militar; e o governador enviou mil policiais ao município arrasado pelos brutos e asselvajados seres bípedes que haviam se retirado, aos trambolhões, do estádio. Fraca, de fato, a força policial. E o governador recorreu ao governo federal, solicitando-lhe, urgentemente, o envio de tropas federais à cidade, que também é um município, de Pindamonhangaba do Sul-Sudeste, que se via convertida num sangrento campo de batalha, sangrento e sanguinolento. O tempo urgia. E o presidente não se fez de rogado. Invocou a Constituição Federal. Decretou Estado de Sítio, de Fazenda e de Chácara no município, que também é uma cidade, de Pindamonhangaba do Sul-Sudeste, e para lá enviou o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, e a torcida do Flamengo e a do Corinthians. E muita gente se perguntou, encasquetada, porque o presidente enviou a Marinha, se Pindamonhangaba do Sul-Sudeste, não sendo uma cidade litorânea, não tem mar. E as Forças Armadas, secundadas pelas torcidas do Flamengo e do Corinthians, contiveram, em quatro dias consecutivos, os arruaceiros. Foi um espetáculo de doer, e que entrará para a história - e dela jamais irá sair. Ao fim deste capítulo da história terráquea, Tião Soconopeito e Ditinho Murronacara estavam ilesos. O espetáculo, de doer, promovido pelas pessoas, que, perdendo as estribeiras e a compostura, sanguinolentas e temperamentais, atracaram-se e socaram-se e esmurraram-se, tal qual a luta entre Tião Soconopeito e Ditinho Murronacara, entrou para a história, e dela jamais irá sair.

Vários - Bolsonaro

 Muita gente aceita, sem pestanejar, todo abuso de governadores e prefeitos - e dizem que o ditador é o presidente Jair Messias Bolsonaro. Em nome da saúde coletiva, prefeitos e governadores eliminaram o direito de ir e vir, o de se reunir, em lugares públicos e privados para uso público (bares, restaurantes, lanchonetes, parques de diversões), e estão invadindo, por vias legais, residências particulares. Há locais em que agentes do Estado podem entrar numa casa, sem ordem judicial, para dar fim a reuniões familiares e festas. E pessoas trituradas pelo medo apóiam prefeitos e governadores que tomam tais medidas. Pior: Suplicam-lhas; e condenam a atitude, irresponsável, esbravejam, de quem está, acreditam, em reuniões familiares e amigos, espalhando o chinavírus. Deixaram sair de si o tiranete que até então contiveram, e mal; agora - em nome de um bem comum, alegam -, além de aceitarem, bovinamente, todo desmando de governadores e prefeitos autoritários e condenarem quem a eles não se curva, dizem agir no bem-estar de todos e assim acreditam assumir aos olhos alheios ares de pessoas responsáveis, dignas, corretas, justas, pessoas que não são egoístas. É o que dizem para si mesmas, ocultando de si mesmas seus maus instintos, autoritários.

Prefeitos e governadores só impõem suas arbitrariedades, e se fazem respeitar, porque suas políticas autoritárias ecoam na alma de muitas pessoas; pessoas de mentalidade tão autoritária quanto à deles; pessoas que, no entanto, não têm nas mãos a autoridade que eles têm; pessoas que, vendo, neles, seus irmãos siameses, donos de poder de fazer o que elas desejam, incondicionalmente os apóiam. E tais pessoas não agem por medo ao mocorongovírus (diria meu amigo Barnabé), mas por um desejo de se fazerem superior a todos, arvorarem-se donos da vida alheia.

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Bozonaro disse "Bom dia". Impítima! Bozonaro usa cueca por baixo da calça. Impítima! Bozonaro bebeu café com leite. Impítima! Bozonaro disse que a Michele Bozonaro é a mulher mais bonita do mundo. Impítima! Bozonaro coçou o nariz com o dedo indicador da mão direita. Impítima! Bozonaro penteou o cabelo com pente de plástico. Impítima! Bozonaro passou manteiga no pão. Impítima! Bozonaro cortou as unhas. Impítima! Bozonaro sonhou com mulher pelada. Impítima! Bozonaro bebeu água filtrada. Impítima! Bozonaro comeu, hoje, no almoço, dois mil e oitocentos e quarenta e três grãos de arroz e seiscentos e vinte e um grãos de feijão. Impítima! Bozonaro não sabe quantos poros há em seu corpo. Impítima! Bozonaro tossiu duas vezes hoje de manhã. Impítima! Bozonaro disse que toda pessoa viva morrerá algum dia. Impítima!

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Há alunos que ofendem, desrespeitam e agridem professores. E há professores que estimulam alunos a desrespeitar, desafiar as autoridades, pois, segundo eles, as autoridades são opressoras. E os professores são autoridades. E alunos brutos e incivis, entendendo que os professores são autoridades, e, portanto, opressores, voltam-se contra eles.
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- Alguns pacientes meus, infectados pelo coronavírus, suplicam-me cloroquina. Não lhas receito. Cloroquina provoca efeitos colaterais - diz o médico que aos seus pacientes receita remédios de tarja preta.
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Não podem os médicos receitar aos pacientes cloroquina porque há risco de eles, ao ingerirem-la, virem a óbito.
Há risco de vir a óbito uma pessoa submetida a uma operação de ponte de safena? Há. Então, por que não se suspende toda operação deste gênero?
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Não se deve ministrar cloroquina às pessoas, pois ela provoca efeitos colaterais.
Há pessoas que têm câncer. E elas são submetidas à quimioterapia. Quais são os efeitos colaterais causados por tal tratamento?
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"Vamos destruir a economia do Brasil e culpar o Bozonaro?" "Vamos." "Vamos dizer que há uma epidemia de um vírus mortal, que vai matar um milhão de brasileiros." "E vamos trancar todos os brasileiros em suas casas." "E vamos impedi-los de trabalhar." "Boa idéia. Assim, provocamos crise econômica e quebramos as pernas do Bozonaro." "Mãos à obra." "A epidemia já acabou." "E a economia do Brasil não quebrou." "E o Bozonaro não caiu." "E agora, o que faremos?!" "Segunda onda." "Segunda onda?!" "Sim. Não arruinamos a economia brasileira na epidemia; então, vamos dizer que foi a primeira onda que acabou e que teremos pela frente a segunda onda." "Boa idéia. Assim trancaremos, uma vez mais, todos os brasileiros em suas casas." "E os impediremos de trabalhar." "E vem a crise econômica." "E milhões de brasileiros entram na fila do desemprego." "E o Bozonaro cai." "Com certeza, cai" "Mãos à obra." "A segunda onda já se foi." "E a economia brasileira não quebrou." "E o Bozonaro não caiu." "E agora, o que faremos?" "Terceira onda." "Boa idéia." "Não destruímos a economia brasileira na primeira onda, e nem na segunda; mas conseguiremos destruí-la na terceira." "Mas as pessoas irão acreditar que há uma terceira onda?" "Muita gente vai. Ora, se acreditaram que existiu a primeira, e a segunda, por que não acreditariam que haverá a terceira?!" "Muitas pessoas estão aterrorizadas." "Vamos aterrorizá-las um pouco mais." "Mãos à obra." "A terceira onda passou." "E a economia do Brasil não quebrou." "E o Bozonaro não caiu." "E agora?" "Quarta onda." "Outra onda?!" "Sim." "Mãos à obra." "E o Bozonaro não caiu." "Quinta onda." "Mãos à obra." "Não caiu." "Sexta onda." "Mãos à obra." "Sétima." Até o infinito. E além.
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Dizem os anti-bolsonaristas que o presidente Bolsonaro, ao criar atritos diplomáticos com a China e os Estados Unidos, prejudica o Brasil. E por que há atritos diplomáticos? Porque há conflitos de interesses entre o Brasil e a China e o Brasil e os Estados Unidos. Os anti-bolsonaristas querem que não haja atritos diplomáticos. E como se pode evitá-los? É simples: basta eliminar as causas dos atritos diplomáticos entre o Brasil e os Estados Unidos e os entre o Brasil e a China e não criar nenhum outro atrito. E como se faz isso? É fácil: Toda vez que os Estados Unidos e a China tiverem algum interesse no Brasil, interesse que seja ao Brasil prejudicial, o presidente Bolsonaro servilmente abaixa a cabeça, ajoelha-se diante do presidente dos Estados Unidos e do da China e beija-lhes os pés. Pronto. Problema resolvido. Assim, não enfrentará o Brasil mais nenhum atrito diplomático com as duas mais poderosas nações do mundo e elas não o ameaçarão com sanções econômicas e guerra. E os anti-bolsonaristas viverão felizes para sempre. Mentira. Eles não viverão felizes para sempre, não. Ora, há, atualmente, atritos diplomáticos que põem em rota de colisão Brasil e Estados Unidos? Não. E por quê? Porque os nosso querido e amado presidente Jair Bolsonaro e o presidente Donald Trump, também por nós querido e amado, entendem-se, e muito bem; há entre eles relação amistosa, que estreitou os históricos laços de amizade entre as duas maiores nações das Américas. E quando ocorre algum estranhamento entre as duas nações, devido a algum conflito de interesses, o presidente Bolsonaro e o presidente Trump promovem um comes-e-bebes festivo e amigável e chegam a um bom entendimento. E os anti-bolsonaristas ficam felizes com a harmoniosa relação entre os dois chefes de Estado? Não. Bostejam: "O Bolsonaro é servil ao Trump, ianque imperialista." E a relação do Brasil com a China é problemática. De fato, é. A China é o maior parceiro comercia do Brasil, mas cá entre nós, a China 'tá pondo as garras de fora, revelando-se um país hostil e agressivo, não é mesmo? E os anti-bolsonarista não criticam a China, que não revela disposição para respeitar a soberania de nenhuma nação e promove uma política expansionista que não encontra limites. E atacam os anti-bolsonaristas o governo brasileiro, que atua em defesa do Brasil. É de lascar!
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Os anti-bolsonaristas são favoráveis à quarentena, às restrições ao livre movimento das pessoas, à imposição de toda medida abusiva e absurda. Compreensível. Eles têm mentalidade autoritária; se dão ares de autoridades morais; se atribuem dons supremos que se rivalizam - melhor, superam - os de Deus; consideram-se exclusivos representantes da Bondade e da Sabedoria; são seres abnegados, que sabem - e apenas eles sabem - o que é bom para a humanidade, daí se pronunciarem sempre num tom sentencioso, que não admite réplica; arvoram-se os senhores do mundo. E quem ousa contrariá-los eles difamam, maldizem, cancelam, como se diz por aí, rotulam anti-científicos, negacionistas, terraplanistas, obscurantistas da Idade Média, e blablabla.

sábado, 5 de dezembro de 2020

O Mentiroso

 


O Mentiroso


- Foi o que aconteceu - esbravejou Rodolfo, visivelmente irritado.

- Não foi, não, Rodolfo - retrucou Renato. - Lembra-se do que você contou para todo mundo?

- Contei o que aconteceu.

- Você contou uma história bem conveniente.

- O que você está querendo me dizer?!

- Que você mentiu.

- Menti?!

- Mentiu.

- Não menti.

- Mentiu. Você mentiu.

- Menti?! Lembro-me, e muito bem, do que eu fiz e disse. Não menti.

- Mentiu. Você é um mentiroso profissional. Você contou mais uma das suas infinitas mentiras.

- Você me ofende. Que outras mentiras contei?!

- Que outras mentiras!? Ora, Rodolfo. Perdi a conta de quantas mentiras você já contou. Perdi a conta. Você mente, e mente, e mente, e mente... E mente. Até a respeito do seu nome você mente.

- Quê!?

- Para a Lucinha você disse chamar-se Leandro; para a Mariângela, Luciano; para a Gorete, Vinicius. E mentiu sobre os seus pais e a respeito da cidade em que nasceu...

- Não acredito no que você me diz.

- Se você acredita ou não, o que você fez já está feito, e não vai fazer com que você deixe de ser o mentiroso que você é, e as pessoas não deixarão de saber que você é um mentiroso incorrigível. Todos sabemos que você nada mais é do que um mentiroso. Sorte sua que hoje em dia não há um Gepeto perambulando por aí.

- Quem é Gepeto?

- Você nunca ouviu falar do Collodi?

- Não.

- E do Pinóquio?

- Já. Quem nunca ouviu falar dele?! O que o Pinóquio tem a ver com o tal de Gepeto e com o tal do outro que você mencionou?

- Collodi é o autor do livro que conta a estória do Pinóquio e Gepeto é o personagem que, na estória, dá vida ao Pinóquio.

- E o que os três têm a ver com o que aconteceu ontem?

- Para certas coisas você é esperto, esperto até demais; para outras, asnaticamente burro.

- Você me ofende.

- Se eu digo que não existe nenhum Gepeto por aí e que ele deu vida ao Pinóquio, o que você entende?

- É uma indireta?

- Enfim, você despertou de um sono profundo.

- Você está me dizendo que eu sou tão mentiroso quanto o Pinóquio?!

- Não. Estou dizendo que você é mais mentiroso do que ele. Muito mais.

- Grande amigo você é.

- Já livrei você de muitas enrascadas nas quais você se enroscou por causa das suas mentiras. Desta vez, você que se entenda com a Adriana. Eu não direi para ela que eu e você fomos, ontem, ao campo de futebol.

- Mas você e eu fomos ao campo de futebol.

- O quê!? Onde você está com a cabeça!?

- Não fomos ao campo de futebol, ontem, não?!

- O quê!? Do que você está falando? Não fomos ao campo de futebol, ontem. Eu e a Andressa fomos ao cinema. E você e a Beatriz, ao motel.

- Não fui ao motel.

- Foi.

- Não fui.

- Pois eu digo que foi. E digo com todas as letras: Você traiu a Adriana. E não foi a primeira vez. E não será a última, com certeza. Faça-me um favor, Rodolfo: Não me envolva mais em seus problemas. Eu vou embora.

- Espere um pouco, Renato. Não me deixe na mão. Estou confuso. Não me lembro de ter ido com a Beatriz ao motel. Que Beatriz!? E eu traí a Adriana!? Eu sou incapaz de traí-la. Eu, trair a minha cara-metade!? Jamais! Traição é crime imperdoável. Eu amo a Adriana. Ela é a paixão da minha vida. Meu docinho de coco. Casei-me com ela porque eu a amo. Sou incapaz, incapaz, entendeu!? de traí-la. Eu e você fomos, ontem, ao campo de futebol. Eu sei que fomos ao campo de futebol, Renato. Eu sei.

- Com toda a sinceridade, Rodolfo: Você está muito estranho ultimamente. Até você acredita nas suas mentiras. É o cúmulo dos absurdos.

*

Uma semana depois:
Casa de Rodolfo e Adriana.
Domingo.
Uma e quarenta e cinco da madrugada.
À escuridão da sala, Adriana, sentada no confortável sofá, trajando, unicamente, uma camisola; com as pernas cruzadas, a direita por sobre a esquerda, movia o pé direito - percebia-se-lhe sinais de irritação e impaciência; semi-adormecida, quase sucumbindo ao sono, aguardava Rodolfo.
E Rodolfo entrou em sua casa. Seus passos, lentos, cuidadosos, silenciosos.
- Por que você demorou tanto, querido? - perguntou-lhe Adriana assim que ele, ao apertar o interruptor, acendeu as duas lâmpadas da sala.
- Querida. O que você faz, aqui, no escuro?! Por que você está, aqui, no escuro?! E de camisola?!
- Eu estava esperando você.
- Esperando-me!?
- Sim. Eu estava esperando você. Você demorou. Faz tempo que estou esperando você.
- Desculpe-me, querida. Você sabe como é a minha vida atribulada. Nos finais de semana, eu vou, você sabe, com os amigos jogar futebol no campo de futebol perto da cada do Renato, ou no perto da casa do pai dele, ou no perto da Igreja São Benedito.
- Querido...
- O Renato convidou-me para ir lá, hoje, jogar uma pelada e beber umas loiras geladas. Fui. E não vi a hora passar. Desculpe-me. Peço desculpas, Adriana. A hora passou. Nossa! Duas horas! Já!? Pelo amor de Deus! Como o tempo passa depressa!
- Querido...
- E eu pensando que eram, ainda, umas dez da noite, e nem um segundo a mais. E já são duas da madrugada! Pelo amor de Deus! O que aconteceu com os ponteiros do relógio!? Como o tempo passa depressa! Nossa Senhora! E eu pensando que era cedo ainda. Modo de falar, né, querida. Força de expressão. Eu não imaginei que fiquei tanto tempo lá no campo, com o Renato, o Vinicius, o Pedro, o Carlos, o Ricardo, o Paulo, o Roberto, e outros camaradas meus, jogando futebol, desde... Desde que horas? Desde às seis... desde às cinco... Não me recordo. Depois de um dia de trabalho cansativo, muito cansativo, você sabe, né, querida! preciso de uma partidinha de futebol com os amigos, para espairecer, queimar as calorias, gastar as energias, e renovar as energias, gastando-as. É um paradoxo. Um paradoxo. Gasta-se energia, para renová-la.
- Querido, do que você está falando?! Assim que chegamos, eu da casa de mamãe e você da casa de seu irmão, principiamos conversa, que os latidos do Golias interromperam. E você foi ao quintal saber porque o Golias latia tanto, e eu fui banhar-me. E assim que saí do banho, sentei-me, aqui, e fiquei à sua espera. E já faz quase duas horas que você foi ao quintal. Por que você demorou tanto tempo?! Por que o Golias latia tanto? E que história é essa de terem ido jogar futebol você, o Renato, o Vinicius, o Pedro, o Roberto?! Você não saiu daqui de casa depois que regressamos, você, da casa de seu irmão, eu, da de mamãe.
- Golias!? Latidos!? Mamãe!? Meu irmão!? Querida, eu vim do campo de futebol, não vim!?

vários 2

 Ontem: O Bozonaro está entregando o Brasil para o Trump. Impítima!

Hoje: O Bozonaro não quer entregar o Brasil para o Biden. Impítima!

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Os nossos hermanos, queridos herdeiros de Maradona, têm sorte de viver num país cujo presidente, de esquerda, socialista, judicioso, decretou, por amor a eles, há meses, antecipando-se à, e para evitar a, mortandade que o coronavírus causaria, lockdown radical. E recebeu, e merecidamente, de brasileiros anti-bolsonaristas, que maldisseram, então, o, como eles chamam, Bozo, que, entregando os brasileiros ao deus-dará, não decretou lockdown de teor radical equivalente ao do decretado pelo presidente agentino, os mais rasgados elogios. Ou os nossos hermanos não são os sortudos que os anti-bolsonaristas disseram que são?! Teria o presidente argentino, Alberto Fernandez, agido em desfavor deles?! E o nosso querido e amado presidente Jair Messias Bolsonaro, ao contrário do que disseram os anti-bolsonaristas, não abandonou os brasileiros?! Os argentinos enfrentam crise econômica sem precedentes e muitos deles estão numa luta pela sobrevivência que faz concorrência com a dos venezuelanos, e na Argentina os casos de mortes pelo chinavírus multiplicam-se exponencialmente. E como se sai o Brasil nesta história? Aos trancos e barrancos, a economia nacional se recupera; e os casos de mortes por coronavírus estão sob controle. Estou a ponto de concluir que os anti-bolsonaristas avaliaram, e mal, muito mal, as decisões de Alberto Fernández e as do nosso querido Jair Bolsonaro.

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Bastou o Bolsonaro responder ao Biden, que ameaçara o Brasil, para os histéricos anti-bolsonaristas anteverem, para o dia seguinte, com sua imaginação doentia, um ataque nuclear dos Estados Unidos contra o Brasil.

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Incidentes diplomáticos entre Brasil e China são razões para o impeachment do presidente Bolsonaro!? O diplomata chinês fala um monte de groselhas contra um deputado federal brasileiro, que atuara em defesa de interesses brasileiros, e os anti-bolsonaristas bostejam: "Impítima! Impítima! Impítima!" E não comentam a postura agressiva, desrespeitosa do diplomata chinês, que entende que é o Brasil colônia da China e os brasileiros seus escravos.

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Histericamente indignados, anti-bolsonaristas antevêem crise econômica devastadora, se o nosso querido e amado presidente Jair Messias Bolsonaro hostilizar os Estados Unidos e a China. Os anti-bolsonaristas reclamam porque estão vivos. Se estão vivos reclamam por quê? Se o importante é a vida, e não a economia!? Dizem eles que a crise econômica que resultará de atritos diplomáticos entre Brasil, China e Estados Unidos prejudicará, enormemente, a vida de milhões de brasileiros. Neste caso, eles revelam-se sensatos, pois há uma relação umbilical entre vida e economia - se a economia vai de mal a pior, a vida das pessoas se transforma num inferno dantesco. Bom seria para o Brasil, se os anti-bolsonaristas tivessem se revelado sensatos lá pelos idos de Março e não repetissem nauseantemente um mantra que deles só expôs a estupidez "O importante é a vida; a economia a gente vê depois." Mas, parece-me, a sensatez que ora eles transpiram não é fruto de uma postura virtuosa, e sim do ódio que eles sentem pelo presidente Bolsonaro, nosso querido Bolsoringa, pois eles querem antagonizá-lo, e só, querem apenas destilar o ódio que têm por ele, querem, unicamente, falar mal dele, e assim agindo nem se deram conta de que foram em favor de uma idéia que deploram (ou dizem deplorar) - não sei o que é certo pensar a respeito dos anti-bolsonaristas, pois eles não são conhecidos pela coerência, racionalidade e senso de justiça.

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Tatu é peixe? Não. Não é. Todo mundo sabe que tatu não é peixe. Mas, se um cientista renomado, desses que aparecem todo dia na TV, disser que tatu é peixe, então tatu é peixe.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Vários

 Se a cloroquina é tão mortal quanto dizem por que o único caso de morte, que, dizem, ela provocou, divulgado pela imprensa ocorreu após o princípio do auê em torno de seu nome? Por que não se divulga casos de mortes causadas por ela ocorridos antes de 2020? A literatura médica não registra nenhum?

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Quinze dias de quarentena, para desacelerar (achatar a curva) a disseminação do corongavírus (que se espalha rapidamente, na velocidade da luz) e preparar o sistema de saúde para acolher os infectados. Depois, o corongavírus segue o seu curso natural até o dia em que se atingir a imunidade de rebanho.

São os quinze dias mais longos da história da humanidade.

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Em Junho, liberaram o comércio (no dia, já histórico, do Pico, como se dizia então). E os casos de contágio pelo vírus chinês aumentaram em Junho, Julho e Agosto - devido, dizem, à abertura do comércio. E hoje sabemos que os casos de contágio pelo vírus chinês apresentaram considerável diminuição em Setembro e Outubro. E dizem, agora, que aumentaram em Novembro e aumentarão em Dezembro - é a narrativa oficial. Aumentaram em Novembro e aumentarão em Dezembro porque, dizem, o comércio está aberto - daí a necessidade de se decretar novas restrições comerciais e quarentenas. Se é o comércio aberto que favorece a disseminação do chinavírus, por que os casos de contágio por tal vírus diminuíram em Setembro e Outubro, se nestes dois meses o comércio estava aberto, e com pouca, ou nenhuma restrição?! E por que aumentaram em Novembro e aumentarão em Dezembro? Respondem: Estamos passando por uma segunda onda de disseminação do chinavírus, que sofreu mutação, e para esta nova versão do chinavírus, a dois-ponto-zero, o organismo humano não tem defesa. E por causa desta nova versão do chinavírus, fazem-se necessárias restrições e quarentenas?! E é esta primeira mutação do vírus chinês a última, ou ele sofrerá outras mutações?! e quantas?! Infinitas mutações?! Teremos, neste caso, de vivermos encapsulados para sempre!? O horror! O horror! O horror!

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A vacina que querem nos obrigar a tomar foi feita a partir do vírus original, o da primeira onda. Se o vírus que enfrentamos agora é outro, uma versão atualizada e mais poderosa do vírus original, por que vacinar toda a população para imunizá-la contra o vírus que provocou a primeira onda, se agora enfrentamos o que provoca a segunda onda?! Ou enfrentamos as duas versões do vírus?! Então... Então... Teremos de tomar duas vacinas. Mas, e se o vírus sofrer outra mutação, e uma terceira onda..., e outra mutação, e uma nova versão do vírus, e uma quarta onda...

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Em Março, diziam: "Os casos de Covid-19 são 'x'." E adicionava-se, então, a informação: "Estão subnotificados. Na verdade são cinco vezes (ou dez vezes, dependendo do freguês) maior."

Em Novembro, diziam: "Os casos de Covid-19 são 'x' (sete milhões de brasileiros - isto é, 3% da população brasileira)." E não se informava que estavam subnotificados.

Em Março: Narrativa oficial: O vírus espalha-se rapidamente; a situação, pior do que se imagina; é necessário, portanto, para evitar colapso do sistema de saúde, decretar quarentena total.

Em Novembro: Narrativa oficial: A pandemia está longe de acabar (conclusão óbvia, afinal só 3% da população brasileira foi infectada).

Alteram a narrativa oficial para atender à conveniência de interesses de políticos e grandes capitalistas.

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O Bolsonaro está entregando o Brasil para o Trump. Impeachment! O Bolsonaro criou atrito diplomático com a China! Impeachment! O Bolsonaro ameaçou os EUA. Impeachment! O Bolsonaro se aliou aos EUA, a Israel, à Índia e à Arábia Saudita. Impeachment!

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A cloroquina é o único remédio que provoca efeitos colaterais? Se não, por que só maldizem ela, e não todos os remédios que provocam efeitos colaterais?
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A patente da Cloroquina, remédio de setenta anos de existência, é de domínio público. É do interesse dos mais poderosos laboratórios farmacêuticos a comercialização, para o tratamento de infectados pelo chinavírus, de remédio que, além de barato, e de cuja comercialização têm pequena margem de lucro, pode ser produzido, a baixo custo, por laboratórios pequenos? Retirar a cloroquina das prateleiras das farmácias e proibir-lhe a comercialização são do interesse das grandes farmacêuticas, que ofertam remédios novos, caros, cujas patentes detêm e de cuja comercialização irão auferir lucros fabulosos. E com a comercialização da vacina, de aplicação obrigatória, os Estados nacionais presenteiam os poderosos laboratórios farmacêuticos com oito bilhões de clientes cativos e lucro líquido e fácil.
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- Vocês bonitões Fique Em Casa, hipnotizados pelo mantra "A vida é importante; a economia a gente vê depois" reclamam do aumento do preço dos alimentos, da disparada da inflação, e da redução do poder aquisitivo. Que entendam que reclamam porque estão vivos e que o aumento do preço dos alimentos, a disparada da inflação e a queda do poder aquisitivo são questões econômicas; vocês, portanto, não têm com o que se preocupar e do que reclamar, afinal, estão vivos, e o importante, vocês, mais do que ninguém, sabem, é a vida. E a economia?! Ora, a economia a gente vê depois.
- Voocê, bozominion, tem que entender que o aumento do preço dos alimentos, a inflação e o poder de compra diminuído prejudicam a vida das pessoas, em especial a dos mais pobres.
- Neste caso, pandemaricas, você reconhece a existência de uma ligação umbilical entre a vida e a economia; você parte da premissa de que o degringolar da economia é prejudicial à vida dos seres humanos. Se é assim, reconheça, pandeminion, que você errou, desde o início, ao defender a quarentena total e cuspir na cara de quem pensou na economia.
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Segurem o coração, chinavírusminion. Para vocês uma notícia benfazeja.
No início de 2021, prevêem os apocalípticos, enfrentaremos a Terceira Onda de Covid.
O Irã já a está enfrentando. Estamos atrasados, mas não se desesperem, pandemaricas; logo a Terceira Onda chega nestas terras dos tupinambás.
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Há oito meses, declararam (num estilo mais sofisticado e elegante) os sábios eleitos pelos meios de comunição, que o mocorongovírus (diria meu amigo Barnabé), mais veloz do que o Sonic, o Ligeirinho, o Flash, o Mercúrio e o Usain Bolt, iria se espalhar, e rapidamente, pelo Brasil, de norte a sul e de leste a oeste. Ora bolas, se o mocorongovírus fosse tão veloz quanto dizem que é, ele já teria infectado todos os brasileiros vivos, todos os que morreram desde 1950 e todos os que irão nascer até 2050, mas infectou, segundo informa os meios de comunicação, apenas seis milhões de brasileiros, isto é, menos de cinco por cento da população.
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Político de mentalidade autoritária, num solilóquio maquiavélico: "Quero oprimir o povo. Impor-lhe minhas idéias. Fazê-lo meu escravo. Uso da força bruta!? Não. Uso a astúcia. Contrato, a peso de ouro, cientistas, médicos, intelectuais e jornalistas, e mando-os elaborar uma teoria que justifique, cientificamente, a minha política e sustente o meu projeto de poder. Eu lhes digo o resultado da fórmula que eles têm de criar; e eles criam a fórmula cujo resultado atende aos meus interesses. Os médicos dizem o que eu os mando dizer. Eles são o meu escudo. E eu faço o que eu bem entendo. E o povo não desconfia de mim, não sabe quais são as minhas reais intenções, pois a minha política tem base científica e médicos me apoiam. O povo não me reprova, não me repudia; não ve em mim o ser cruel, iníquo, autoritário que sou, pois a minha política está chancelada por autoridades científicas, e médicas, e religiosas, e intelectuais, e jornalísticas. E o povo, amedrontado, me ajuda a oprimir as pessoas arredias, insubmissas, judiciosas, e suplica-me políticas que as oprimam, iludido, ludibriado, crédulo, certo de que lhe sou um benfeitor."
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Muita gente desfibrada irá adaptar-se ao Novo Normal, pois é mais cômodo curvar-se aos opressores do que, altivos, encará-los.
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- Eu sigo a ciência. Fico de quarentena, em casa. Respeito o distanciamento social. Não tomo cloroquina. Me vacinarei. Não me aglomero.
- Que ciência você segue?! Você, sugestionável e servil, dá atenção aos heróis biônicos eleitos pela mídia, criaturazinhas que nada merecem além de desprezo.
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Se pessoas irresponsáveis, que só pensam cada qual no seu próprio emprego, não saíssem de suas casas para plantar, cultivar, colher, beneficiar, empacotar, armazenar, transportar, comercializar arroz, os Fique Em Casas já teriam, e há muito tempo, morrido de fome
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Os bonitões Fique Em Casa são egoístas e ingratos. Ofendem as pessoas que lhes produzem o alimento que os mantiveram vivos há oito meses.
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Diz o pandemaricas para seu umbigo: "O Covid está lá fora, na rua. Vou enfrentá-lo." E tranca-se em casa.
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Vocês perceberam que desde o início desta história da pandemia do Covid-19 nenhum ser humano morreu atingido por um meteoro?
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Que tiranetes queiram aplicar-nos uma segunda dose de maldades, para ferrar-nos ainda mais, alegando agir para o nosso bem, compreendo; que pessoas acreditem no que eles dizem, não.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Um

 Robert Pattinson (o vampiro de um filme de lobisomens) será o Batman em um novo filme da D.C. Agradou-me a idéia. Robert Pattinson é feio pra caramba e tem cara de cadáver. Encaixa-se, à perfeição, no papel do filho mais famoso de Gotham.

Vários

 Os esquerdistas não são a favor dos negros. São a favor dos negros esquerdistas. Dos negros que os esquerdistas usam de instrumento revolucionário.

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Os esquerdistas odeiam negros que não respeitam a agenda esquedista. Exemplos de negros que os esquerdistas odeiam: Pelé, o nosso querido rei do futebol; os atores americanos Denzel Washington e Morgan Freeman; e Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares. E por que os esquerdistas os odeiam? Porque nenhum destes negros se oferecem, no altar no esquedismo, aos deuses revolucionários.

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Morgan Freeman, homem negro, americano, de 83 anos de idade, ator bem sucedido, querido e admirado, e... e uns brasileiros branquelos de menos de quarenta anos e de cabeça recheada de caraminholas e carambolas (eufemismos) querem ensinar-lhe qual é a real condição do homem negro em nossa sociedade. Pior: Querem ensiná-lo a ser um homem negro. 

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O candidato Joe Biden (Jô Bidê, para os íntimos) ameaça o Brasil - e dos anti-bolsonaristas não se ouve sequer um pio. O presidente Bolsonaro, ao seu estilo, usando de metonímias, aludindo à fala do Bidê, chama a atenção para a debilidade do Brasil - e os anti-bolsonaristas o condenam ao paredón.

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Ontem: "Os Estados Unidos são donos de 30% do comércio exterior do Brasil. Os ianques, imperialistas inescrupulosos, colonizam o Brasil."

Hoje: "O maior parceiro comercial do Brasil é a China, que detêm 30% do mercado brasileiro. A China está ajudando o Brasil a não se tornar colônia dos Estados Unidos."

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Notícia: "Cloroquina causa distúrbio mental."

Após sessenta anos à venda nas farmácias de todo o mundo, a dona Cloroquina é culpada de virar os miolos dos homens. Coitados dos africanos, que, há um bom par de anos, tomam cloroquina para o tratamento de malária.

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Ontem: "A Europa coloniza o Brasil desde 1500. Temos de ter orgulho de sermos brasileiros, para fazer com que o Brasil deixe de ser colônia da Europa."

Hoje: "O Bozonaro disse que irá revelar o nome dos países europeus que contrabandeiam madeiras. Que absurdo! Vai criar incidentes diplomáricos. Impeachment! Impeachment1

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"Desde 1500, o Brasil é colônia da Europa e dos Estados Unidos. Está na hora de o Brasil ser colônia da China." - pensamentos de esquerdista.

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Ontem: "O Brasil é colônia dos Estados Unidos. O Bozonaro está entregando o Brasil para o Trump."

Hoje: "Bozonaro confrontou o Biden! Idiota! Confrontou os Estados Unidos. Idiota! Os Estados Unidos são muito poderosos. Não podemos desafiá-los. Temos de entregar a Amazônia para o Biden, e logo! antes que ele ataque o Brasil. Impeachment! Impeachment!

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Do Bolsoringa:

Dizem meus simpáticos e amigáveis inimigos, lídimos defensores da democracia, que eu estou destruindo a educação brasileira. E é possível destruir o que não existe?

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Qual é a diferença entre:

1) Bolsonaro é servil ao Trump; e,

2) Bolsonaro e Trump, homens de mesma visão-de-mundo, aliam-se em defesa de um objetivo comum.

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Dizem historiadores, antropólogos e etnólogos que os tupinambás eram antropófagos. Hans Staden foi um dos personagens de carne e osso que mais contribuiu para a difusão de tal história. Mas seriam todos os tupinambás antropófagos?! Inclusive os que só comiam a batata das pernas de seus inimigos?

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- Um bandido branco matou um policial negro e...

- Não me importo. Era só um policial.