Um homem
prevenido vale por dois, diz o ditado. Neste ditado, o homem pode ser
substituído por uma mulher, que o seu valor se conserva. A sensatez do homem é
equivalente à da mulher. Ditas estas palavras, que não se sabe se são úteis, e
tampouco se trazem algum bem àqueles que as lêem, prossigo, nesta prestação de
serviço de utilidade pública.
Se você
pretende empreender uma viagem de avião, ou para a Europa, ou para a Ásia, ou
para a África, ou para a Oceânia, ou para a América do Norte, providencie,
antes de embarcar no avião, uma lapiseira, uma caixinha com grafites, e um
bloco de anotações, e conserve-os à mão, num lugar de fácil acesso, que pode
ser o bolso da camisa, ou um bolso da calça.
Siga na
leitura deste prospecto, que você compreenderá as razões para tomar tais
providências.
O avião decola
da pista de decolagem do aeroporto, e ruma ao seu destino, que poderá ser um
lugar qualquer em um dos continentes citados linhas acima. Caso o avião, no
meio do caminho entre o Brasil e o seu destino, sofra uma pane geral, e, por
alguma razão, misteriosa ou não, parta-se ao meio, mantenha a calma, e
aposse-se, incontinenti, da lapiseira e do bloco de anotações, e estude a sua
situação, calculando a altura que você se encontra acima da superfície do
oceano Atlântico, e procure por um baleal. Calcule a distância que separa você
das baleias, e, não se esqueça, mantenha a cabeça fria, e anote todas as
informações imprescindíveis para o bom andamento do seu projeto de
sobrevivência. Conte as baleias, estude-lhes os movimentos, calcule-lhes a
velocidade de deslocamento, trace os rumos que elas seguem, verifique se elas
nadam em linha reta, se em ziguezague, se em uma linha curva, anote o tempo que
elas se conservam imersas, e o tempo que elas se conservam emersas; enfim,
estude-as, atentamente, e não deixe que detalhes importantes escapem de suas
observações, e não permita que sua atenção se desvie para algo insignificante.
À medida que você vai caindo, recalcule todas as operações matemática que você
fez, e mude, sempre que necessário, sem vacilar, os seus movimentos, e a
direção que, durante a queda, você segue, e altere a sua velocidade, executando
manobras corporais para reduzir, ou aumentar, em consonância com o seu plano, o
atrito do seu corpo com o ar, mirando, sempre, uma das baleias do baleal, de
preferência a maior. E assim que você estiver bem próximo da baleia, abra os
braços e as pernas, ponha-se deitado, para ampliar o atrito do seu corpo com o
ar. Você a atingirá, e ricocheteará, e será lançado para o alto, realizando um
arco, até atingir o ápice - e estude, durante este deslocamento, os movimentos das
outras baleias, mantendo, sempre, a cabeça fria, fazendo as anotações e os
cálculos apropriados. Mire uma baleia. Atingindo-a, você, uma vez mais, irá
ricochetear, e realizará um arco, cujo ápice alcançará uma altura inferior ao
do arco que você realizou após ricochetear na primeira baleia que você atingiu;
você terá, portanto, agora, menos tempo para estudar os movimentos das baleias,
anotar todos os dados que irá colher das observações que deles você fizer, e
fazer os cálculos apropriados, e terá de agir conservando, sempre, a
tranquilidade de espírito; agindo assim, você poderá executá-los para conseguir
atingir, com segurança, uma baleia, e, ao atingi-la, você irá ricochetear, e
atingirá, no arco que irá, durante o deslocamento, realizar, um ápice inferior
ao do arco anteriormente realizado ao atingir a segunda baleia; e assim,
sucessivamente, até atingir, enfim, uma baleia, na qual você não irá
ricochetear, dará apenas um pequeno salto, e nela permanecerá são e salvo. Ato
contínuo, domine a baleia, e obrigue-a a carregar você até o seu destino.
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