domingo, 18 de fevereiro de 2024

Trinta e um

 É golpe! Não é golpe! É sim! Não é, não!

- O Brasil é um país de gente doida.

- Queria o quê?! Misturou-se, aqui, gente de toda cor e de cor nenhuma, gente de todo credo, e de nehum credo, e filhotinho de cruz-credo, gente de todas as raças e gente de nenhuma raça.

- Deu no que deu.

- Se deu.

- No Brasil encontra-se gente com inteligência de Einstein e gente de inteligência simiesca equivalente à dos mais primitivos primatas.

- O meu primo é um primata.

- Conheço um cara que tem inteligência crocodiliana, da era mesozóica. Ele tem cérebro de passarinho, de pardal.

- Tu estás se referindo ao Gordo Esmilinguido?!

- Ele mesmo.

- De quem se trata?

- Do marido da Cláudia.

- Cláudia...

- Da Ferragem Ferrugem.

- Ah! Sei. O tal de Rubão. O cérebro dele não existe. O Rubão só tem hipocampo.

- O sujeito é tão doido que na cabeça tem um cavalo-marinho.

- Cérebro reptiliano, do período cambriano.

- Se no Brasil não houvesse tanta gente doida, não haveria a tentativa de golpe.

- Que tentativa de golpe, tratante?! Não houve um golpe em lugar nenhum. Foi um falsoflégue.

- Que louquice é esse, maluco?!

- Golpe que não foi golpe. Coisa que não foi a coisa que dizem que foi. Um exemplo de falsoflégue: Vêm os da turma do bairro do Cupim, que é inimiga da turma do bairro do Formiga, e elaboram um plano diabólico: "Vamos botar fogo na casa do Zé e dizer que quem a afogueou foi a turma do Formiga." Aí, tacam fogo na casa do Zé. E chega a polícia. E inventa-se uma história do balacobaco, tão doida, que parece verdadeira, e a turma do Formiga leva a pior.

- Tu és um bom explicador.

- Não expliquei; exemplifiquei.

- Mas não foi a turma do Formiga que infernizou o Zé.

- Para todos os efeitos, foi.

- E foi isso o que se deu em janeiro do ano passado?

- Aqui no Brasil. E há dois anos na terra dos gringos. A mesma história, com algumas diferenças.

- O mesmo roteiro. Personagens, outros, os dos Estados Unidos de nomes ingleses; os do Brasil, de nomes portugueses.

- Que a história do dito golpe, maldito, está mal dito, está. E creio que tal golpe não passa de, e nada mais é do que, história da Mamãe Gansa.

- Está envolta a história em mistério.

- Não há mistério algum.

- Se há mistério, é um trabalho para Scooby-Doo, Salsicha, Fred, Daphne e Velma.

- Não há mistério. O caso está mais claro do que cristal.

- Se houve uma tentativa de golpe, ela se deu em outra dimensão, paralela à nossa.

- Não houve golpe.

- Onde estão as imagens dos sistemas de segurança dos palácios golpeados?! Onde?! Sumiram.

- Sumiram com elas.

- O sistema de armazenamento de dados apagou-as, para gravar outras imagens, quinze dias depois de gravá-las.

- Vós acreditais em tal patacoada?

- Golpe, se foi, foi na Cochinchina. Aqui, em terras de papagaios e maritacas, golpe não houve, não; nem em sonho.

- O que houve, então?

- Eu ouço palavras, sons, barulhos, cantares, mugires, relinchares, uivares, latires e miares.

- Paspalho.

- No dia em que um bando de gente doida fez a besteira que fez, em Janeiro do ano passado, vi imagens de pessoas, dentro dos palácios dos três poderes, a invadirem-los, e, nos dias seguintes, gente dentro deles neles facilitando a entrada daqueles energúmenos desmiolados que quebraquebraram relógios, cadeiras e sofazes e janelas, e viraram tudo de pernas para o ar.

- Parecia a casa da mãe Joana.

- Verdade verdadeira. E desde aquele dia suspeita-se da participação de agentes do governo no auê,naquele banzé, naquele bololô infernal.

- Que invasão?! Gentes de dentro abrindo as portas para gentes de fora... Invasão... Invasão é o diabo que te carregue!

- Que foi um fundunço, foi.

- Foi. E nada mais do que isso. Acredito que assistimos a um falsoflégue, planejado e dado a cabo pelo governo, para dar cabo de quem critica o governo.

- Desde então, enfia-se no pacote "Golpista do Oito de Janeiro" todo ser sapiens que critica o governo.

- Se é.

- Perseguição política a mais deslavada.

- Se é.

- E depois, sumidas as imagens, assim, misteriosamente...

- Sumiram... Apagadas... Onde estão?!

- Governo incompetente. Viu-se sob o tacão de um golpe, e não providenciou uma cópia das imagens... 'tá bom. Contem-me outra, que nesta eu não caio.

- Sei lá eu, entendem. Acho que houve uma tentativa de golpe, sim, mas o exército do Brancaleone é tão atrapalhado que deram com os burros n'água.

- Vós tendes de entender.. É... O... Eu se esqueci do que iria dizer.

- Estou, aqui, pensando com a minha cabeça: A política é uma rinha de galo. Há quem diga que é um jogo de xadrez. Besteira. Há quem diga que é jogo de pôquer. Besteira. É rinha de galo. Vale-tudo sem regras até a morte de alguém. Quem entra na rinha ou dela sai morto, ou às portas da morte.

*****

Os liberais são liberais? E Paulo Guedes. E Javier Milei.

- Os intelectuais inventam cada asneira, que só vendo.

- O que tu viste agora.

- Agora eu não vi, eu vejo. Num pensamento, pensamento que se pensa com a cabeça, pode haver coerência, mas tal pensamento, se na cabeça coerente, no mundo real não o é, nunca foi, nunca será, e não pode ser.

- Confusão dos infernos.

- Há idéias que provam a inteligência das pessoas que as pensaram desde que elas lhes fiquem dentro da cabeça; se fora, são asneiras.

- Que tu expliques o que tens de explicar.

- Ora... Vedes... Ouvis... No tempo do Capitão, e do Posto Ipiranga, que é um liberal, homem que vê no Estado um mal em si mesmo e que quer pô-lo no chão, alguns sabidos disseram que ele, ministro da Economia, portanto, funcionário do Estado, usando das engrenagens do Estado para reformá-lo, não é um liberal, não está agindo como um liberal, pois, para agir como um liberal, ele jamais poderia ser ministro de Estado.

- E tal raciocínio está certo. Onde tu vês o erro?

- Em lugar nenhum, em nenhum lugar.

- Então, qual é a encrenca?!

- Eu não disse que tal raciocínio está errado. Não está errado. É perfeito. Não tenho dele o que tirar, e nem o que pôr.

- Então, qual é o problema?

- O problema está em se tirar a idéia do papel.

- Não entendi patavinas.

- Ora, ouçais, e ouçais bem.

- Impossível. Sou meio surdo do ouvido esquerdo; e do direito, inteiramente cego.

- Por quais meios se pode reformar o Estado?! Por meios pacíficos e por meios violentos. Os revolucionários e os anarquistas preferem aos pacíficos os violentos. Sempre que se aventuram, caem do cavalo. Os anarquistas já obtiveram alguma conquista?! Que eu saiba, nenhuma. Só se ferraram. E os revolucionários?! Os revolucionários fizeram da Terra o inferno. A história que o diga. E há quem prefira os meios pacíficos, que, parecem-me, são os melhores. Por meios pacíficos a coisa não vai na toada que se deseja, mas vai. Paciência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

- Aonde queres chegar, ô, jagunço?!

- Ouvis. Estais me ouvindo, cara-pálida?!

- Com os meus ouvidos, sim.

- Então, que vós me acompanheis: por meios pacíficos, os liberais participam do Estado, movem os seus mecanismos, reformam-lhe a estrutura, reduzindo-lhe o poder de interferir na vida das pessoas.

- E como fazem isso?!

- Desregulamentando a economia, reduzindo a carga tributária, acabando, enfim, com os meios que o Estado tem à disposição para controlar as pessoas. Não é possível, creio, eliminar-se o Estado; nem desejável é. O Estado tem o seu porquê. Mas, estamos a nos desviar do trajeto previamente traçado... O liberal, dentro do Estado, tendo poder para reformá-lo, reforma-o a ponto de torná-lo menos intrometido, intrometido sem ser querido, na vida das pessoas. Menos intrometido o Estado, têm as pessoas mais espaço para agir; e as pessoas adquirindo gosto pelo maior espaço para expandir suas ações irão, com o passar do tempo, rejeitar quaisquer políticas que venham a aumentar o poder do Estado.

- Verdade verdadeira. Faz todo sentido. Se se é preciso que se esteja dentro do Estado para modificá-lo, os liberais seguem liberais apesar de agentes do Estado.

- O que vale nesta equação é o resultado, e não o meio.

- Estou de pleno acordo contigo. Na prática a teoria é outra.

- Sem dúvida.

- Que os liberais infiltrem-se no Estado, e o reformem.

- E vivas ao Posto Ipiranga.

- E ao nosso hermano, o Javier Milei, o Wolverine da Patagônia.

- E os intelectuais, que se alimentam de idéias...

- Que engulam sapos. Avante, Vingadores.

- O Wolverine é do X-mem.

- E dos Vingadores também. Ele, o Homem-Aranha e mais um punhado de super-heróis. E, acho, até, que do Quarteto.

- Que fuzuê desgraçado!

- Que os liberais sejam liberais dentro do Estado.

- Que assim seja.

*****

Vivemos em um estúdio de cinema?

- Somos figurantes em um filme de aventura, espionagem, terror e ficção científica repleto de efeitos especiais e defeitos especiais.

- Do que falas, cara?! Endoidou?! Estamos num filme??

- E não estamos, não?! De tudo o que você vê, hoje em dia, na tevê e na néte, o que é real e o que é irreal?

- Vós percebeis que há certas coisas que não fazem sentido algum?! Ora, aparece, em um certo dia, no jornal, seja da tevê, seja da néte, um jornalista a noticiar, em tom alarmado, uma decisão de algum juiz, e todo mundo corre para obedecer ao juiz, mas ninguém se pergunta se tal juiz de fato decidiu o que o jornalista dissera que ele havia decidido.

- As pessoas são movidas pelas notícias, sem se perguntarem se elas procedem. Crêem que o que o jornal mostra é verdade, e ai de quem diz o contrário.

- Dias atrás, disseram-me que estava para vir uma nova onda de vírus, que ia pôr meio mundo sete palmos abaixo da terra; e não foram poucas as pessoas que se alarmaram; e o tempo passou, e o vírus não veio; e esqueceu-se do assunto; e há pouco, as mesmas pessoas que me deram, apavoradas, tal notícia, disseram-me, igualmente apavoradas, assustadiças, que o Sol está para cuspir uma tonelada de ar quente na Terra, o que irá torrar a néte.

- Quer apostar quanto que o Sol não tomou conhecimento de tal evento?!

- O Sol desconhece os humanos.

- O que eu quero dizer é o seguinte: do que vemos na tevê e na néte não sabemos o que é verdade e o que é mentira. Sabemos distinguir de imagens falsas as verdadeiras...

- Pensas que se usa efeitos especiais no jornalismo?!

- E por que não?!

- Acreditais que as empresas de comunicação existem para comunicar notícias e informações que ajudem as pessoas a pensarem corretamente as coisas do mundo?! Não sou ingênuo a este ponto.

- Dias destes, e antes, ouvi alguns comentários, de pessoas que participavam de laives e de pódecaste, que me deram o que falar: usa-se, no jornalismo, recursos comuns ao cinema: efeitos especiais, maquetes, cidades cenográficas, filmagens com atores...

- Será possível?!

- E por que não?!

- Possível, é. E não desconfiam, não, de que não estejam usando efeitos especiais, do mesmo naipe do que usaram no filme do King Kong, nas imagens que mostram cidades ucranianas destruídas e fogaréus que brotam de prédios atingidos por mísseis teleguiados?! Acho que nos enganam, e há tempos. Hoje com recursos mais sofisticados, claro, do que há trezentos anos.

- Atualmente há hologramas e inteligência artificial.

- Por aí se vê.

- E tem a história dos aviões que derrubaram aqueles dois prédios enormes...

- Os donos do poder, os senhores do universo, dominam a néte, controlam as tevês, e não querem perder o controle do roteiro.

- Eles escrevem o roteiro, definem os papéis de cada personagem, e por aí afora.

- E mesmo que não usem efeitos especiais, cidades cenográficas, maquetes... A imprensa divulga notícias de fatos que jamais aconteceram e informações erradas para ludibriar as pessoas, numa simulação bem orquestrada em um universo paralelo, irreal, fantasioso, que afeta as pessoas do nosso universo, o real, e elas tomam por real a ficção.

- Tua explicação pede uma explicação.

- Um desenho para a explicação não nos fará mal.

- Penso o seguinte: umas pessoas, que têm poder, reúnem-se, no escurinho do cinema, para tramar uma trama bem amarrada: enganar o povo sem que ele saiba que está sendo enganado. E o que fazem tão nobres pessoas?! Pensam: "Vamos dizer que se publicou uma lei que obrigue todo mundo a seguir esta e aquela regra e que quem a transgredir viverá maus bocados e comerá o pão-que-o-diabo-amassou." E assim, em comum acordo, sem darem na vista, juízes, empresários do meio de comunicação, e pessoas quaisquer, que representarão o papel de vítimas, apertam-se as mãos, todos certos de que têm muito o que ganhar com a trama. E mãos à obra. E uma pessoa qualquer, daquelas que participam da trama, transgride a tal lei e porque a transgrediu é presa.

- Mas não houve prisão, certo?! Afinal, a lei que ela transgrediu não existe.

- Exatamente, meu caro Watson. Você é muito perspicaz.

- Não contavam com a minha astúcia.

- Não existe a lei que a pessoa trangrediu.

- É a lei peça de ficção; e de ficção é a transgressão.

- E a prisão do transgressor.

- Puxa vida! Será que estão a fazer uso de tal artimanha?!

- E o povo vem a saber, se fazem?!

- É um expediente assaz inteligente, convenhamos. Arrebenta-se com as pessoas sem que elas saibam que estão sendo arrebentadas. Vós haveis de concordar comigo que quem faz uso de tais meios para ter poder é inteligente à beça.

- Não necessariamente inteligente; todavia, certamente dono de muito dinheiro.

- De fato.

- Não duvido de que se faz uso desta armadilha, que pega muita gente.

- Ouvi falar que nos Estados Unidos usaram de estúdio cinematográfico para vender a idéia, que muita gente comprou, de que há uma, como se diz?! investigação?! acho que é isso, de que há uma investigação dos atos do que se deu no Capitólio não sei se em 2.021, se em 2.022.

- Interessante.

- Parece que foi encenada toda a investigação, que não passa de uma obra fictícia, que influencia as pessoas que vivem no mundo real.

- Colidem-se dois universos paralelos.

- Coisa de doido.

- Não nos enganemos: As coisas não são o que dizem que são.

*****

De malas prontas para El Salvador.

- Herói, herói de verdade, é o Buka Lelê.

- Quem?!

- O Buka Lelê, presidente de Honduras.

- Que Honduras?! Onde fica isso?!

- Na América Central.

- E onde fica a América Central?

- Na África, ignorante.

- A África é ignorante?

- Ignorante é você, besta.

- Que Buka Lelê?! Que Honduras?! O nome do sujeito é Kukanenê. O país, Guatemala. Você está falando do presidente da Guatemala. Ele foi reeleito com duzentos por cento dos votos válidos. Também pudera! Acabou com os crimes. Pôs os ladrões no xilindró.

- Não é Kukanenê o nome do presidente da Guatemala; é o nome daquele cara mutio lôco Bubalê.

- Do que vocês estão falando, bando de ignorantes?! Kebulê é o nome dele, dele, o presidente de Porto Rico.

- Puxa vida! Que conversa mais bagunçada. Todo mundo fala o que vêm à cabeça... O Bukele é presidente de El Salvador.

- E por que você não nos disse antes?

- Por que eu estava com a minha loirinha gelada. O Bukele, nos anos de antes deste comprou uma briga feia com os bandidos de El Salvador: pô-los para correr. Os que não correram com a velocidade suficiente para fugir das mãos dele foram ter à cadeia, onde estão a ver o Sol nascer quadrado.

- É o mesmo que construiu presídios, deu para os policiais chumbo grosso para usarem contra os bandidos, e fez e aconteceu, e de El Salvador, então o país onde mais havia violência por metro quadrado, fez um dos mais seguros. Impressionante. Impressionante.

- Estamos falando da mesma pessoa.

- Qual é o nome do sujeito?

- Bukele.

- Por que deram um nome tão feio para ele?

- E eu sei?!

- Dele qual é o nome completo?

- Alguma coisa Bukele.

- Que nome esquisito.

- Ele é descendente de árabes.

- 'tá explicado.

- E estão dizendo que ele é ditador, protoditador, um ditador em estado embrionário, um protótipo de ditador.

- Mas todo mundo que combate os criminosos são chamados de ditadores, de anti-democráticos; democráticos são os que se aliam aos criminosos.

- Bem que um tipo assim poderia vir para o Brasil.

- Sabe quando isso vai acontecer: No dia de São Nunca.

- Estou de males prontas para El Salvador.

- Por que não vais ao paraíso castrista?!

- Quê?! El Salvador, aqui vou eu!

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