sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Notas 29

 

Piruás e Farelos - volume 29.

Bolsonaro, o tarado.

Extra! Extra! Extra! Bolsonaro assediou uma baleia! Extra! Extra! Extra! Bolsonaro, machista, assediou uma baleia! Extra! Extra! Extra!

Vivêssemos em outros tempos, mais românticos, mais elegantes, mais civilizados, seriam as palavras do primeiro parágrafo desta minha crônica, que será breve, as que se veriam, em letras garrafais, na primeira página dos principais jornais e portais de notícias internéticos. Mas não é com tais palavras que se dá a notícia da ousada aventura amorosa do presidente Jair Messias Bolsonaro, façanha que poucos homens ousariam empreender à luz do dia.

É o presidente Jair Messias Bolsonaro um fauno, um Dom Juan dos trópicos, um ser mitológico que exala feromônios pelos poros, pelos cabelos, pelas unhas, atraindo para si, para o seu abraço de conquistador de olhar magnetizante, toda e qualquer fêmea que habita a Terra.

Que história cabulosa é a que se conta?! Talvez o leitor, se desavisado, esteja se perguntando, e desejando perguntar-me, do que estou a falar, aqui, neste meu canto, que tanto preservo e estimo, e se está a se fazer tal pergunta e a desejar-me fazê-la de mim não esperará muito tempo para obter a resposta, que é esta: dignos representantes do sistema judicial brasileiro, daqui, mesmo, da Terra dos Papagaios, de Pindorama, da Banânia, de Bruzundanga, do País do Carnaval, esfalfam-se, denodados homens-da-lei que são, a perseguirem um ideal universal, a inspirar-lhes o espírito amor incondicional pela Justiça, que é cega, deveras cega, e falha, desdobrando-se, e desdobrando-se, num labor dignificante, para conhecerem a identidade de um macho da espécie humana que, a pilotar uma possante moto-aquática, aproximou-se, inadvertida, e perigosamente, em alto-mar, de uma baleia, esta uma donzela inofensiva, inocente criatura, uma Julieta a sonhar com o seu Romeu. E o presidente Jair Messias Bolsonaro... Ah! Presidente Jair Messias Bolsonaro, quem te viu, quem te vê! a arrastar as asas para a inocente, ingênua baleia. Seria apropriado dizer que o presidente Jair Messias Bolsonaro pulou a cerca?!

Independentemente de qual tenha sido, neste folhetim de espantar Melville, a verdadeira façanha do presidente Jair Messias Bolsonaro, cabe perguntar se não há casos deveras importantes com que os homens-da-lei devam se ocupar.

Depois de ler O Processo, de Kafka, e As Vespas, de Aristófanes, e ambas estas duas obras-primas da literatura universal há uns dez anos, nunca mais alimentei aquela ingênua concepção que eu fazia da justiça, e dos homens que supostamente a representam, tipos, estes, digo a verdade, que sempre olhei com olhares ligeiramente desconfiados. Que há homens-da-lei que se sacrificam pela Lei, pela Justiça - seja a Lei e a Justiça o que quer que sejam -, há, todavia, tenho dificuldades, confesso, de identificá-los na multidão de tipos desprezíveis.

*****

Todo mundo é racista.

- Todo mundo é racista.

- Que papo é esse, Willis?!

- Acalme-se, Arnold.

- Explique o que tem de ser explicado, para que não haja mal-entendidos.

- Para todos os efeitos, haja o que hajar, todos somos racistas, queiramos, ou não. E por que somos racistas?! Porque somos, ora bolas! Vivemos numa época em que, a depender das conveniências, todas as pessoas são racistas. Há racistas em todos os países, nos quatro cantos da Terra.

- Deixe de lero-lero, de papo-furado, de conversa para boi dormir. Vá, e vá logo, o mais rapidamente possível, aos finalmentes. Não me disponho a ouvir você falar mais do que sua boca. Vá direto ao assunto.

- Que apressado! A impaciência é má conselheira, ensinou o filósofo.

- Diga o que tem de dizer, e já.

- Você já percebeu, corinthiano, que hoje em dia todas as coisas vêm acompanhadas de, sei lá eu como dizer, uma idéia, ou duas, resumidas num substantivo, ou num adjetivo, ou num advérbio, de um conceito que, para surpresa de ninguém, aponta para o racismo implícito na estrutura do discurso que toda e qualquer pessoa diga mesmo que não seja um discurso?!

- Que embrulhada!

- Você já ouviu, sei, alguém, e é o alguém gente bacana, da alta, importante, autoridade, falar de racismo climático, racismo ambiental, racismo matemático, racismo solar, racismo ecológico, economia racista, sociedade racista, arquitetura racista, astronomia racista, e blablabla, e blablabla, e blablabla, e mais não sei o que que parece que não sei lá eu, entende?!

- É um furdunço dos infernos.

- E estou eu, cá, indo com os meus pensamentos, pensamentos meus que são meus e de mais ninguém, a pensar com a minha cabeça, encasquetado, com um carrapato atrás da orelha...

- Não é uma pulga?!

- Não. Pulga, não. É um carrapato. Talvez um ser teratológico misto de carrapato, pulga e piolho, monstro gêmeo da Equidna.

- Por que você a odeia?! Ela é chata pra dedéu, reconheço, mas não é muito feia, não. Tirando-lhe os dentes, as orelhas, o nariz, os lábios, as testas, as sobrancelhas, os olhos, o queixo, as bochechas, os cílios, as gengivas e o céu-da-boca até que ela fica bonitinha.

- As testas?!

- Ela tem duas testas, não tem?!

- Não estou falando da Edna, aquele tribufu. Estou falando daquele monstro grego meio leão, meio bode, meio dragão.

- A Quimera, você quer dizer.

- Que seja!

- Prossiga, mas sem me fazer perder tempo.

- Onde eu estava?!

- Quando?!

- Deixe... Ora, diz-se que há uma coisa chamada racismo ambiental, ou que seja climático, ou ecológico. Que seja! Então, fica assim, ou ansim, diria o nosso querido Barnabé, o da varejeira, ele, mesmo, em carne e osso: um cara qualquer tem uma idéia bem idiota, e sabe que é a idéia bem idiota, e sabe que a sociedade,implementando-a, destruir-se-á (Ave, Mesóclise!), e por saber disso, quer empurrar-lha goela adentro; e sabe, também, que os do povo, ao saber da idéia bem idiota, rejeita-la-á, incondicionalmente; então, ele batiza a idéia bem idiota com um nome que inibe toda e qualquer objeção, e em tal nome tem de estar, indefectivelmente, "racismo".

- Por quê?!

- Ora, por quê?! Não percebeu a brincadeira?! A idéia que se quer implementar é bem idiota, daquelas bem idiota, mesmo, e sabe-se que as pessoas não a aceitarão, então, para conter os ímpetos rebeldes de gentes insubmissas, adiciona-se qualquer palavra que as petrifique.

- Um exemplo, por gentileza. Não captei o busílis.

- Cérebro de casca de amendoim.

- É o da senhora sua mãe.

- Não ponha a minha adorável mãe na história. É o seguinte: preste'nção, mocorongo palerma: um cara qualquer quer porque quer destruir a economia de um país, e para atingir o seu fim, que é o escopo do seu objetivo colimado...

- Deixe de embromação!

- ... ele inventa uma idéia bem idiota, na área, por exemplo, ambiental, e a nomeia com um nome qualquer, e qualquer nome serve, por mais besta que seja, e afirma, com todas as letras, que com tal idéia pretende acabar com o, dar fim ao, mandar desta para a melhor o, racismo climático. Pronto. Aí a senha: racismo. Se vai o cara, com a idéia bem idiota que ele apresenta, acabar com o racismo, então é a idéia bem idiota dele coisa boa. Quem atrever-se-á a ir contra?! Toda e qualquer pessoa que ir contra ela é, automaticamente, racista. Game over!

- Ó raios!

- E quem quer ganhar a pecha de racista?! Quem?!

- 'tá osso!

- Só Jesus na causa!

- E a tal mesóclise?! Parece-me que você a adora.

- E por que não a adoraria?! Não é porque um vampiro tropical dela usa e abusa que irei desprezá-la.

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