domingo, 18 de fevereiro de 2024

Trinta e dois

 Piruás e Farelos - volume 32.

Lula e a oliveira que dá uva.

Contou-me um passarinho que o excelentíssimo presidente do Brasil, o garboso Luís Inácio, o nosso cachaceiro favorito, de viagem pelas terras dos faraós e adjacências circunvizinhas, passando por Brasília, após plantar e aguar uma oliveira, perguntou para um personagem cujo nome não me passou dali quanto tempo a oliveira daria uvas. Não sei que resposta o indagado apresentou - o passarinho sonegou-me esta informação, ou dela não veio a saber, não estou certo. Desde então, as más-línguas divertem-se, inadvertidamente, e inaproriadamente, a zombar do senhor Inácio, pois, afinal, mal sabem que estamos em uma era em que a natureza, sob influência de fenômenos que os humanos desconhecemos, sofre alterações de tal monta que os homens de há mil anos não a reconheceriam, e uma das alterações que ela sofreu contempla o dom de uma árvore de uma espécie dar frutos comuns aos de outra espécie, o que explica darem as oliveiras uvas, fenômeno, este, tão sutil! tão espetacular! que o senhor Lula, e ele unicamente, é capaz de captar, afinal é ele dotado de inteligência capaz de penetrar na semente prímeva do cosmos e dela tirar conhecimentos inacessíveis a todos os outros seres vivos.

Que ninguém desavergonhadamente faça do caso que o presidente brasileiro protagonizou piada desrespeitosa, e que todos humildemente, reconhecendo a sabedoria do senhor Luís Inácio, entenda, e jamais esqueça: oliveiras dãos uvas.

Errado estava o Ary Barroso, que dizia que os coqueiros dão cocos.

*****

Lula, a jaca e a uva.

Há semanas, Lula, a exibir para as câmeras uma jaca, disse que a jaca não é uma uva. E há quem, não sabendo o que é uma uva, toma por uva uma jaca? Não sei. Jamais vi uma pessoa confundir uvas com jacas e jacas com uvas. Jamais. Mas - deixe-me o leitor pensar - se o Lula chama a atenção para o caso, um caso folclórico, que merece figurar nas obras do Câmara Cascudo, então há quem pense que é a jaca uva, e, por conseguinte, a uva jaca. A propósito, pensa-se, e não são poucos a pensar, que o Lula, com a sua famosíssima jaca, estava a zombar dos fazoéles. Não sei se tal parecer procede. Não sei, confesso. É o caso para se pensar.

*****

Na escola, a professora, o Carlinho, a oliveira, a uva e o Lula.

Na sala-de-aula, a professora, mulher de não se sabe quantos anos - tantas intervenções cirúrgicas lhe alteraram tão significativamente o rosto que é a sua idade irreconhecível (suspeita-se, todavia, que ela está entre vinte e trinta, embora a sua aparência...) -, de cabelos azuis, rosas, laranjas e roxos, a exibir quatro brincos fálicos, dois dependurados de cada orelha, a esticá-las para baixo a ponto de rasgá-las, o corpo naturalmente grotesco, deformado de tantos vincos abertos à bisturi e protuberâncias pontiagudas, coberto de tatuagens agaratujadas constituídas de símbolos satânicos, diante dos alunos, crianças petrificadas, a fitá-las, boquiabertas, assustadiças, trêmulas de medo, voltou a sua atenção para um deles, dele aproximou-se, o olhar nele fixo, quase lhe encostando o nariz adornado com duas brotoejas vermelhudas no inofensivo e melindroso nariz rosado, e com sua voz cavernosa e seu hálito putrefato interrogou-o:

- Carlinho, querido - onda de calafrio gelou a espinha do menino, cujo estado pétreo assumiu densidade superior à do diamante, e roubou-lhe o sangue dos vasos sanguíneos -, qual é o fruto das oliveiras?

E Carlinho, a tremer como vara verde, a gaguejar chorosamente, respondeu-lhe:

- Uva.

- Uva, menino?! - perguntou-lhe a professora, dele se afastando - Uva?! Tolinho! Tolinho! - e aproximava sua mão asquerosa do queixo infantil dele.

Para fugir ao contato com a mão, tão repulsiva! que lhe inspirou a vontade de correr em desabalada carreira até sua casa, mas suas pernas não o obedeciam, tratou, e logo, de explicar-se:

- Foi o Lula que disse. Ele, depois de voltar do Egito, plantou, não sei onde, uma oliveira, perguntou para um homem dali quanto tempo a árvore plantada daria uvas. Foi o Lula que disse.

Ao ouvir tais palavras, a professora recuou até a parede, mãos à boca escancarada, arregalou os já excessivamente arregalados olhos, que estavam para atirarem-se-lhe para fora das órbitas, e na sequência levou suas monstruosas gadanhas à peitama transbordante, e sorriu como que num êxtase espiritual. E disse, animada, exaltada:

- Sim! Uvas! Uvas! Oliveiras! Uvas! Das oliveiras, uvas. Uvas! O homem sem pecados, a mais honesta das almas brasileiras, ser superior que tem acesso exclusivo à sabedoria universal da natureza compreende, mais do que ninguém, a Mãe Gaia. Ele dela entende os segredos misteriosos, que só estão ao alcance dos escolhidos. E Lula é um dos escolhidos. Talvez o único. Ele sabe que das oliveiras nascem uvas. Ele sabe! Ele sabe! E revela-nos o seu segredo! O seu segredo! Uvas! Das oliveiras, uvas! Uvas! Lula sabe! Lula sabe! Das oliveiras, uvas! Uvas! Lula sabe!

*****

Que em 2.026 Lula seja reeleito.

- Que Lula seja impichado.

- Sou contra!

- Por quê?! O homem só diz besteiras. Abre a boca, defeca uma besteira; abre a boca segunda vez, defeca segunda besteira; pela terceira vez abre a boca, defeca a terceira besteira. E as besteiras que ele defeca hoje são piores do que as de ontem; e as de manhã serão piores do que as de hoje, com certeza.

- Piores?! Por que piores?! Do meu ponto de vista, do ponto de vista da minha perspectiva e da minha perspectiva as besteiras que ele sabiamente diz hoje são melhores do que as que ele disse ontem, e, não tenho dúvidas, as que ele dirá amanhã serão melhores do que as que ele disse hoje.

- Quantas vezes a senhora sua mãe bateu com a frigideira de ferro fundido na sua cabeça quando você usava fraldas e mamava na mamadeira?

- Por que impichar o Lula?! Quero que ele fique, até o dia trinta e um do doze de dois mil e vinte e seis, na presidência. E que ele seja reeleito.

- Enlouqueceu?!

- Quem?! O Lula?!

- Não! Você.

- Se enlouqueci, não sei. Pense comigo, e veja se não tenho razão: tudo o que nos faz rir nos faz bem; e sabe-se que rir é o melhor remédio para todas as doenças, especialmente para as psicológicas e as espirituais; e quem ri, ensinam-nos os sábios, seus males espanta; e sabendo-se que todos rimos das asnices que o Lula dispara a três por dois, então está ele a nos ministrar o santo remédio, o riso, o que nos faz um bem imenso, a ponto de nos desobrigar de empreendermos visitas ao médico e à farmácia e ao veterinário; então, que Lula siga vivo e forte a disparar como uma metralhadora giratória asneiras aos punhados, sem se vexar. Viva Lula! Fascistas não passarão! Fora, Bozo! Melhor do que nenhum outro, Lula, a democracia corporificada, representa o sentimento de esperança do brasileiro! Viva Lula!

- Você enlouqueceu. E a sua loucura contagiou-me. Da sua perspectiva... Dou mãos à palmatória. Viva Lula!

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