sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Farelos


Piruás e Farelos - volume 15.

Críticos de cinema?

É difícil encontrar, nas publicações culturais, uma crítica de cinema que fale de cinema. Difícil, ou impossível? Lê-se comentários enviesados acerca de filmes, e nenhuma observação percuciente do teor deles. Melhor: lê-se palavras acerca de quaisquer coisas que nenhuma relação têm com filmes. Pior: lê-se palavras saídas das cabeças dos redatores dos textos que são supostamente resenhas dos filmes supostamente analisados e comentados. Dias destes, li uma reportagem acerca de um filme que o autor da reportagem não havia assistido. De qual filme o autor da reportagem tratou em seu texto? De nenhum, afinal ele não havia assistido ao filme. Afinal, do que ele falou então?! Sei lá; mas do filme não foi, tenho certeza. E ele falou bem do filme que não assistiu? Não, pois, segundo o distinto autor, o filme é repleto de masculinidade tóxica, branquitude supremacista, xenofobia, religiosidade fundamentalista e fanática - cristã, obviamente -, teoria da conspiração da ultradireita evangélica, e etecétera, e tal. E o que tem o filme? Respeito à família, atos heróicos de um homem que se arrisca para salvar crianças, policiais honestos, pais decentes, bandidos retratados como bandidos, e etecétera, e tal.

Muitos críticos de cinema não se interessam por cinema, não falam de cinema, de cinema nada sabem. Não falam da produção, do enredo, e dos atores, da cenografia, do diretor, da computação gráfica... Enfim, não falam de filmes. Descarregam um jato abundante de palavras que refletem o ódio que lhes corrói o espírito, em alguns casos revestidos com um palavreado insano - que para muita gente reserva superior acuidade intelectual -, revelando-se seres de cabeça entupida de estupidez (eu estava para escrever "de ideologia", mas corrigi-me a tempo).

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Planta carnívora.

Existe planta carnívora vegana?

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Prova do Éh-Nem.

Questão de Gramática.

1) Na frase "João engoliu um prego." João é:

a - Burro.

b - Idiota.

c - Filho bastardo do Magneto.

d - Objeto indireto do verbo defectivo do pretérito mais-que-perfeito do gerúndio do sujeito transitivo composto do complemento adnominal da interjeição adversativa condicional.

e - um reptiliano.

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Questão de biologia.

1) Indique a alternativa com uma lista de um animal.

a - fósforo.

b - telefone celular.

c - pneu.

d - míssil balístico intercontinental.

e - pasta de dentes.

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Questão de matemática.

1) Qual é a metade da terça parte do quádruplo da raiz cúbica do quadrado da distância entre dois pontos da reta da hipotenusa de um triângulo escaleno cujo cosseno é menor do que o seno e cujo ângulo é agudo?

a - o triplo do quadrado da distância entre dois pontos.

b - a metade da raiz cúbica do dobro da distância.

c - o triplo do diâmetro de um círculo inserido num quadrado cujo perímetro é o dobro da raiz quadrada do quociente.

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Revistas em quadrinhos da Disney e a minha infância.

Foi no tempo da minha infância, da minha infância querida, já passadas as minhas dez primaveras, eu a divertir-me com as estripulias do Pato Donald, do Mickey, do Pateta, do Peninha, e de tantos outros personagens do amado panteão do universo Disney. Estripulias relatadas em quadrinhos e em animações, aqueles e estas divertidamente, e graciosamente, animadas. Bons tempos. Tempos tão bons! em que li milhares de histórias em quadrinhos da Disney, de uma época em que ela fazia boas histórias. E nesta época, ou depois, falha-me a memória, eu já um moço a exibir meu incipiente buço, li quadrinhos Disney protagonizados, dentre outros personagens, pelo Super Pato, que desde sempre chamou-me a atenção pela seriedade das aventuras, que contrastavam com as de outros heróis Disney, o Superpateta, o Morcego Vermelho e o Morcego Verde. São ótimas tais histórias - e não há muito li algumas delas, e diverti-me. Ora, porque estou na casa dos "enta" não tenho o direito de me entreter com a leitura de gibis?!

E digo-te, querido leitor: os super-heróis da Disney são os melhores que há, superam os da D.C. e os da Marvel, e até os da Hanna-Barbera.

Aproveito a ocasião para anotar uma curiosidade: o Morcego Vermelho e o Morcego Verde são criações do brasileiro Ivan Saidenberg - e as histórias de tais personagens são pra lá de hilárias.

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Agnaldo Rayol

Agnalo Rayol tem um vozeirão de encantar multidões. Minha mãe e minhas tias são fãs de carteirinha dele. É triste saber que a imprensa o relegou ao ostracismo, o preteriu por nulidades.

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Inflação faz bem. Explicação científica.

Pensemos: se a inflação sobe, a moeda perde valor; se a moeda perde valor, e a pessoa vai às compras sempre com a mesma quantidade de moedas, comprando, portanto, menos coisas, então ela gasta a mesma quantidade de moedas que gastava anteriormente, e não mais, afinal a moeda tem menos valor, o que no final das contas é bom. Conclusão: inflação beneficia todo mundo.

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Bandidolatria explícita.

A bandidolatria cresce como erva daninha, em nosso querido Brasil - e em outros países também, presumo -, a três por dois. Sinto que o sentimento bandidólatra está incrustado no espírito de milhões de brasileiros. Impressiona-me a sem-razão do amor, doentio, eu digo, de muita gente pelos bandidos. E pergunto-me, intrigado, e preocupado, a que se deve tal fenômeno. Seria a consequência da inserção de idéias revolucionárias favoráveis aos bandidos na mente das pessoas via novelas televisivas, filmes, bancos escolares, revistas em quadrinhos, videogames, músicas e outros meios? Se é esta a resposta correta, cabe adicionar: então as idéias pró-bandidos encontram um ambiente receptivo no espírito de milhões de brasileiros - se assim não fosse, elas não se disseminariam sem se deparar com obstáculos intransponíveis.

Se está, hoje, a sociedade brasileira corroída, não houve, ontem, resistência, não com a força apropriada, ao avanço da bandidolatria. Além do mais, os bandidos contam com muitos cúmplices nas altas esferas do poder. Os poderosos, se inescrupulosos, só têm a ganhar com a bandidolatria, que põe medo nas pessoas. E pessoas amedrontadas aceitam, em nome da segurança, toda e qualquer arbitrariedade das autoridades constituídas, sendo que muitas destas, criminosos, irão, assim que o desejarem, seviciá-las.

É lamentável, mas é o que se vê em terras de Cacambo e Lindóia: milhões de pessoas que vivem de pequenos golpes, de traições, de jeitinhos oportunistas, de furar os olhos dos amigos, de puxar o tapete de colegas, adoram, amam de paixão os bandidos.

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Sistema escolar que vale a pena.

Seria bom, e um bem para toda pessoa, se o sistema escolar não tivesse amarras ideológicas e se fosse o objetivo primordial, o único, daqueles que o elaboraram, o engrandecimento espiritual, moral, psicológico, intelectual, cultural dos alunos - e, também, dos professores.

No sistema escolar que vale a pena os professores têm exemplar formação, estão cientes das suas responsabilidades, e das suas formação intelectual e cultural - sabem o ue sabem e o que não sabem, sabem o que aprenderam e o que não aprenderam, e sabem se estão, ou não, conscientes do seu papel e da sua postura em sala-de-sala, sabem ponderar acerca de si mesmos, de sua formação, e não se deixam usarem, sem que de tal se conscientizem, como instrumentos de manipulação do espírito dos alunos e de subversão social.

Para encerrar este piruá esfarelado: nas escolas brasileiras, com as exceções que confirmam a regra, não há ambiente que ofereça meios para os alunos desenvolverem todo o seu potencial; o ambiente escolar, ficamos eu e tu, leitor, com este segredo de polichinelo, não é favorável aos alunos estudiosos e inteligentes, que são discriminados, inclusive por professores, os que, acreditando que todos são iguais, e não podendo elevar os alunos que não foram agraciados com a inteligência ao nível dos alunos inteligentes, abaixam estes ao nível daqueles, e assim, igualando-os todos num nível baixo, promovem, acreditam, a justiça social que apreenderam dos livros dos bem-pensantes revolucionários que estão a erguer o outro mundo, o melhor, o sem fronteiras, o em que há pontes ligando todos os povos.

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Prova do Éh-Nem - quatro novas questões.

Questão de Gramática.

2) Na frase "João disse para José que a Maria comeu a bolacha que a mãe do Carlos dera para a Renata." a bolacha é:

a - salgada.

b - doce.

c - amanteigada com recheio de limão.

d - cream cracker.

e - de laranja com gotas de chocolate.

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Questão de Astronomia.

1) Dos nove planetas do sistema solar qual é o décimo?

a) Zodíaco.

b) Aretusa.

c) Gorgonzola.

d) Arquimedes.

e) Chinfrim.

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Questão de Geografia.

1) Qual país está ao norte do país que está ao leste do país que está ao sul do país de cujo principal rio a foz desemboca no oceano de águas salgadas?

a) Lilipute.

b) Atlântida.

c) Saturno.

d) Andrômeda.

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Questão de lógica.

1) Leia com atenção o texto: "Além de filósofo, e filósofo grego, Sócrates foi jogador de futebol de um time brasileiro."

Considerando o texto acima, responda: Em que período de sua vida Sócrates filosofou?

a) antes de iniciar sua carreira de futebolista.

b) antes de iniciar, e depois de encerrar, sua carreira de futebolista.

c) antes de iniciar, e de encerrar, sua carreira de futebolista.

d) antes de iniciar, e de encerrar, e depois de encerrar, sua carreira de futebolista.

d) antes, e depois, de iniciar, e antes de encerrar, sua carreira de futebolista.

e) antes, e depois, de iniciar, e de encerrar, sua carreira de futebolista.

f) depois de iniciar sua carreira de futebolista.

g) depois de iniciar, e antes de encerrar, sua carreira de futebolista.

h) depois de iniciar, e de encerrar, sua carreira de futebolista.

i) depois de iniciar, e antes, e depois, de encerrar, sua carreira de futebolista.

j) antes de encerrar sua carreira de futebolista.

k) antes, e depois, de encerrar sua carreira de futebolista.

l) depois de encerrar sua carreira de futebolista.

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Melhorando os índices educacionais.

Toda pessoa que almeja melhorar o sistema educacional sabe o que tem de fazer para melhorá-lo: melhorá-lo. E para melhorá-lo, melhora-o, com a responsabilidade que a questão pede, com as seguintes medidas - e sem titubear, e sem tatibitate, e mandando às favas o bom-senso, esta quimera escatológica medievalista do homem conservador:

1) Se o índice de matrícula escolar é baixo, matricula-se nas escolas todo mundo, inclusive os cachorros e os gatos de estimação dos humanos matriculados - e se os bípedes implumes têm de estimação sapos, lagartixas, porcos, patos, galinhas, jacarés e outros seres terrestres, aéreos e aquáticos, matricula-se todos eles também;

2) Se o índice de repetência escolar é alto, passa-se todo aluno de ano letivo - e sem se esquecer dos patos, das galinhas, de outros bípedes e de outras criaturas matriculadas, todas animais de estimação dos seres humanos matriculados;

3) Se o índice de abandono escolar é alto, rasga-se as matrículas dos alunos que abandonaram a escola (sem se esquecer que dentre os alunos há animais de estimação matriculados) - assim, ignorando-se a existência deles, dá-se como se eles jamais tivessem existido;

4) Se poucos alunos conseguem acesso às universidades devido às exigências, que estão além da capacidade intelectual da maioria dos candidatos, reduz-se as exigências a um nível tão baixo que até os animais de estimação, e muitos seres humanos, possam cumpri-las;

5) Se poucos alunos universitários completam o curso, aprova-se toda e qualquer tese que os alunos apresentam à banca examinadora; e,

6) Se os alunos nada estudam, e porque nada estudam nada aprendem, altera-se o significado de "estudar" e "aprender", comprendendo que tais palavras significam quaisquer coisas, a depender da vontade de quem as define.

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