quarta-feira, 14 de junho de 2023

Três notas breves

 Comentários. Divergências. Aprender a falar e a ouvir.


Há poucos dias, li um texto - de Cesar Ranqueta, se não me falha a memória - texto curto, que trata da incapacidade, indisposição - assim é melhor, entendo -, da má-vontade - melhor assim - de muita gente que, no papel de quem ouve, em ouvir o que outras pessoas lhe dizem, pois tem ela de, na condiçâo de quem ouve, entender que quem lhe fala pode - e é provável que o faça - apresentar idéias que a incomodem, que a tirem da zona do conforto, que lhe revelem um erro, ou dois erros, ou três, ou lhe provem que esteja redondamente equivocada em todas as idéias. É comum pessoas rejeitarem qualquer opinião contrária, não raro antes mesmo de a ouvirem, a moveram-las a vaidade, a presunção de superioridade intelectual, a se arvorarem donas da verdade - e penso que em toda pessoa estão presentes, no mais íntimo de seu ser, tais dons tipicamente humanos.

Quem expõe um pensamento, principalmente se acerca de questões tão esquivas, tão lisas, tais quais quiabos, como o é a política, a psicologia, a história, a sociologia, tem que se dispôr a ouvir contestações ao que disse, e não apenasmente, e necessariamente, e principalmente contestações, mas, também, simples ressalvas, acréscimos, observações que o obriguem a reconsiderar o que disse, a verificar se se está com a razão, ou, simplesmente, a se indagar se se tem certeza da correção do pensamento que expôs. As questões ditas humanas são demasiadamente complexas, ou excessivamente simples, para que uma pessoa se tenha, coberta de razão, e por mais inteligente que seja, na conta de quem tem o conhecimento de tudo o que aos humanos, sua psicologia, e seu espírito, e sua sociedade, pertence.

E o pensamento que se expõe pode vir por meio da conversa, do discurso, da fala, enfim, e do texto escrito. Neste caso, escrevendo-se, está-se a falar, a expôr pensamentos, e quem o faz tem de saber ler, e acolher, comentários divergentes, pensá-los, repensá-los, e reconsiderar, se for o caso, as idéias que expôs, aceitar observações que lhe apontem erros, falsos raciocínios, lacunas lógicas, ausência de informações.

E quem apresenta as divergências, tem de saber fazê-lo com respeito e educação que o trato civil pede. Não é porque se ouve (se lê) uma idéia da qual se discorda em tipo e grau que se pode faltar com a urbanidade que a educação ensina. Além disso, talvez a idéia da qual se discorda não seja a errada.


*


O Brasil vai de mal a pior. E o fazoele...


"Que o Brasil 'tá piorando, 'tá. Que o presidente 'tá apoiando ditador da Venezuela, 'tá. Que ele xinga quem produz comida, comida que ponho, todo dia, na mesa, xinga. Que ele tem gastado, em outras terras, nos hotéis de luxo, e luxo que só vendo, dos estranjas, tem. Que ele 'tá querendo que o advogado dele seja ministro do éssetéfe, e que isso é errado, 'tá. Que ele 'tá cobrando mais impostos de nós, arrochando-nos ainda mais, 'tá. E daí?! Que que tem?! 'tô nem aí. 'tão reclamando de quê?! Não tenho do que reclamar, não. O presidente prometeu-nos picanha, então teremos picanha. A picanha ainda não veio. Mas é óbvio, oras! As coisas não acontecem da noite p'r'o dia, não. Levam tempo. O Lula prometeu-nos picanha, então a picanha vai chegar. É só ter paciência. Confiar no homem. Logo, logo, teremos picanha. Logo, logo, irei comer picanha. Logo, logo. A picanha vem, que vem, logo, logo, mesmo que demore um pouco. O resto é resto."


*


Qual era - ou qual foi - a do mocorongovírus?! 


Algumas reportagens dão conta de que é o mocorongovírus um patógeno criado, em um laboratório, a partir de outro patógeno, submetido, este, a pesquisas de ganho-de-função. Em outras palavras, o mocorongovírus é o vírus da gripe aprimorado. Há quem diga que o laboratório está, na Ucrânia, em algum distrito do leste deste país - do leste, e não ao leste (ao leste já é Rússia). Um passarinho, um tico-tico, parece-me, declarou, de pés juntos, que o tal laboratório, onde se concretizou a pesquisa, financiada com Dólar americano - e muitas, muitas notas -, está em Wuhan, onde, supõe-se, um pastel de flango, assim disse o tico-tico (ou foi um pardal endiabrado fantasiado de tico-tico?), comeu - voluntariamente, ou involuntariamente, ainda não se sabe - um primo do Batman (tenha sido tal ato ou voluntário, ou involuntário, foi imprevidente quem o cometeu). E um outro passarinho... melhor, passarão, um tucano, disse que do laboratório o mocorongovírus escapou; outro pássaro - uma lacônica maritaca, supostamente - disse que o liberaram, e de propósito, para que ele espalhasse o terror pelos quatro cantos do planeta.

Não sei qual das histórias acima é verdadeira, e qual é falsa, qual, sendo verdadeira, é falsa, qual, sendo falsa, é verdadeira, qual é verdadeiramente falsa, qual é falsamente verdadeira, qual é... Enfim, não tenho a mínima idéia do que é o que e o que não é o que não é, se é o que é o que dizem que é, ou não. Quem é que sabe a verdade, e a verdade verdadeira, da história?! Quem está diretamente envolvido no financiamento da pesquisa. Eu só sei de uma coisa: sei lá, entende?! Parece que não sei!

E digo mais: contou-me um bem-te-vi que o tal de mocorongovírus jamais existiu, pois da fauna viral nunca isolaram um mocorongovírus que seja, nem unzinho só.

E tem mais. Tem mais?! Tem. É claro que tem. É - seria melhor dizer "foi"?! - o mocoringovírus uma arma biológica. E eu sei se é?! Eu só sei que nada sei. Sou um sábio, e da estirpe dos helênicos. Ou foi ele uma arma psicológica?!

Ah! Esquecia-me: disse-me uma galinha-d'angola... Galinha?! Não foi um passarinho?! Não. Desta vez, uma galinha. A galinha d-angola, Semíramis, disse-me que os vírus não voam de uma pessoa para outra, pois eles não sabem voar; portanto, o mocorongovírus não foi, jamais, nunca, never, do focinho de um primata sapiens para o de outro primata sapiens.

Ah! E quanto às pessoas que morreram alvejadas pelo ferrão do mocorongovírus?! Quantas o mocorongovírus mandou desta para a melhor?! Não sei. E jamais se saberá. O passarinho atrás da minha orelha... passarinho, não, galinha... Pulga... A pulga atrás da minha orelha me pôe de orelhas em pé...

Nenhum comentário:

Postar um comentário