sexta-feira, 16 de junho de 2023

Cinco notas

 Arte, e imundície.


À nossa disposição, em revistas, filmes, e, na internet, em incontáveis sites (saites, em vernáculo; ou sitios, assim dizem os lusitanos), pinturas de Michelângelo (ou Miguelângelo, ou Miguel Ângelo?), de Guido Reni, de Peter Paul Rubens, de Leonardo da Vinci, de Bartolomé Esteban Murilo, e de inumeráveis outros pintores, e há quem admire pichações expostas em paredes e muros e portas metálicas de estabelecimentos comerciais.

Muitas dentre as pessoas que admiram as pichações não a preferem às pinturas dos gênios mencionados acima e às de inúmeros outros, pois as desconhecem - delas, e deles, jamais ouviram o nome. E não se pode ignorar: para muitos - se não todos - adoradores das sujidades são esnobes, pernósticos, criaturas para as quais torcem o nariz, as pessoas que sabem admirar, valorizar, respeitar, os pintores das obras-primas da pintura universal.


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O destino dos artistas em tempos de urinóis deschampianos.


Numa época em que o urinol (ou xixinol, assim amavelmente batizado pelos seres meigos; ou mijonol, tão chão assim! e mais apropriamente alcunhado) de Deschamp é respeitado como arte, o artefato que representa o ponto máximo do talento artístico dos homens, os artistas autênticos, legítimos herdeiros da arte que fez o nome de Bernini e de Michelângelo, são obrigados a, tais quais ermitões, se refugiarem em alguma caverna, num deserto, longe da civilização, para conservarem em bom estado de conservação o dom que receberam da natureza.


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Cultura dos incultos. Artes dos inartistas.

 

Respiramos ar cultural nefasto, contaminado por todo tipo imaginável e inimaginável de venenos, dos quais, com muito esforço - e em muitos casos é o esforço vão - as pessoas procuram, para conversarem a sanidade, se proteger - e só pode se proteger das mazelas culturais quem possui, se não em sua integridade, uma parcela de sua sanidade, mesmo que seja tal parcela ínfima.

Toda e qualquer pessoa que entende serem horríveis as feiúras modernas já se deparou, e em mais de uma ocasião, com pessoas que enaltecem ditos artistas cujas obras se resumem a imundícies estéticas e acerca das obras deles, coisas de dar engulhos em todo filho-de-Deus, proferem as mais hiperbólicas orações, sempre veementes, com uma eloquência encomiástica que imita, e imita mal, as hagiografias.


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Rei Artur - Glosa Ordinária. E a Idade Média.


Conheci, há pouco tempo, um canal ioutubeano, ioutubeário - sei lá eu como se diz! -, que muito me agradou; e cuidei assistir todos os vídeos nele já publicados. O mais recente deles, sob o título "Rei Artur", publicado no dia 6 de Junho de 2.023, tem uns quarenta minutos de duração. Nele, Mariana e Pedro entrevistam Isabel Correia, professora na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra. Fala a professora, e fala com a propriedade de uma estudiosa dedicada, de literatura medieval, do ciclo arturiano, de suas ramificações ibéricas, de Amadis de Gaula, de Palmeirim da Inglaterra, de outras obras importantes daquele período da história que, incorreta, e maldosamente, e, não erro, criminosamente, é chamada Idade das Trevas.

É ótima a aula - aula, sim, por que não?! Imperdível.

De lambujem, quem tem o bom-senso de ouvir o que os participantes falam, neste mais recente vídeo e nos outros já publicados, além de encontrar um rico manancial de conhecimentos acerca da Idade Média, ouve pessoas de berço lusitano a palestrarem no seu idioma nativo, o de Luis Vaz de Camões. E são visíveis (melhor, audíveis) as diferenças entre a pronúncia que os falantes portugueses lhe dão e a que os brasilianos lhe emprestamos.


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