terça-feira, 19 de julho de 2022

Duas notas

 

Precisamos de professores?

Se transmitir conhecimentos uma pessoa para outra é ato opressor, não pode o professor transmitir conhecimentos para os alunos, então o que têm os professores de fazer em sala-de-aula?
Se toda autoridade é opressora, então é o professor, se dotado de autoridade, um opressor, opressor de seus alunos, os oprimidos, então como podem os professores manter, caso exista, a ordem em sala-de-aula? Além disso, podem os professores submeterem os alunos a sabatinas para lhes avaliar o grau de conhecimentos, sendo que apenas as pessoas dotadas de autoridade e providas de conhecimentos superiores podem avaliar os que - em tese, pelo menos - lhe são inferiores?
Se não há conhecimentos superiores e conhecimentos inferiores, mas apenas conhecimentos diferentes, entendendo que sejam todos os conhecimentos de igual valor, os conhecimentos dos professores equivalem-se aos dos alunos, então por que são os professores remunerados pelo seu trabalho de transmitir conhecimentos aos alunos e os alunos não são remunerados para transmitir seus conhecimentos aos professores? Além disso, por que os alunos que entendem que lhes são inúteis os conhecimentos que os professores lhes querem transmitir, têm de, para que sejam favoravelmente avaliados, e avaliados pelos professores, até obterem o tão cobiçado diploma escolar, apreender, obrigatoriamente, os conhecimentos que eles lhes transmitem, mesmo que não queiram apreendê-los?
Se têm os professores de conhecer o universo dos seus alunos, e sabendo-se que em cada sala-de-aula há uns trinta alunos, conclui-se que é humanamente impossível os professores se inteirarem do universo de cada um deles, dedicando-se-lhes poucas horas por dia, para que possam orientá-los, e saber o que lhes é benéfico. Nesta afirmação, o que se entende por "universo do aluno"? A experiência de vida, os talentos, o temperamento, a sua condição social e econômica, sua cultura geral, seu tipo físico, seus males piscossociais, e muito, muito mais. É, ouso dizer, praticamente impossível saber quais elementos compreendem o universo de uma pessoa. Os professores, portanto, que falam em conhecer o universo de seus alunos - que seja o de um deles, apenas - é-me um tipo presunçoso. E acredito que, não podendo conhecer de cada um de seus alunos o universo, aplicam-se os professores em, pondo-se, sem dar provas de que nela estejam, numa posição de superioridade inquestionável, moldá-los ao seu bel-prazer, enfiando-lhes na cachola um bom punhado de carambolas e caraminholas.
Pergunto para os meus botões: Quantos quilos de farofa (farofa, aqui, é um eufemismo - não quero ferir suscetibilidades de pessoas flageladas pelo sentimentalismo tóxico) têm na cabeça aqueles que subscrevem as patacoadas pedagógicas da vaca sagrada da pedagogia nacional?


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Sob o governo Bolsonaro, o preço dos alimentos, o da gasolina e o do botijão de gás.

Ouvi, e li, afirmações anti-bolsonaristas de fazer cair o queijo - quero dizer, o queixo - de todo filho-de-Deus que conserva, íntegro, no mínimo um neurônio. E o pior: os autores delas as fizeram os antibolsonaristas em tom de superioridade intelectual, e cultural, e, acima de tudo, moral, dando-se ares de autênticas entidades benfazejas que incorporam em seu ser a sabedoria universal, a exibirem aquele proverbial olhar de juiz majestático - confortavelmente sentado num esplendoroso trono dourado - diante do qual todos os seus suditos genuflexionam-se, pusilanimemente, temerosos de terem a cabeça do corpo arrancada por um verdugo a manusear um machado afiadíssimo.
Dentre as falas dos anti-bolsonaristas, às quais fiz alusão, comento, aqui, citando um exemplo, o teor das que apresentam comparações entre os preços de alimentos, gás de cozinha e gasolina vigentes no governo do presidente Jair Messias Bolsonaro e no governo de Luís Inácio Lula da Silva. É de ruborizar Nero e Messalina a desfaçatez, em alguns casos, a estupidez, em outros, daqueles que as deram a público, de viva voz, ou com memes e textos.
Em uma comparação, e não reproduzo, aqui, os preços, expostos, num quadro, em duas colunas, uma a representar o governo do Bolsonaro e a outra a representar o do Lula, pois tais detalhes são irrelevantes para o exercício do meu argumento, dá-se o preço de um botijão de gás de cozinha, e o de um quilo de arroz e o de um de feijão, e o de um quilo de carne, e o de um litro de gasolina. Até aqui, nada que mereça atenção. Agora, o detalhe que me franzir o cenho: na coluna que representa o governo Bolsonaro os preços dos produtos citados acima são os atuais, e na que representa o governo Lula há uma nota: preços médios. Cocei a cabeça. Remoí os pensamentos. O que o autor de tal peça quis dizer com 'preços médios'? Algum brasileiro, em algum momento da era que se iniciou no dia 1 de Janeiro de 2.003 e se encerrou no dia 31 de Dezembro de 2.010, foi ao açougue e perguntou ao açougueiro "Qual é o preço médio de um quilo de acém (ou de patinho, ou de alcatra, ou de filemignon)?", e alguém, em qualquer uma das cinco regiões geográficas que constituem o território nacional, em um posto de combustível, perguntou ao frentista, antes de decidir quantos litros de gasolina iria comprar, "Qual é o preço médio de um litro de gasolina?", e quem perguntou, numa empresa de venda de gás "Qual é o preço médio do botijão?"? Acredito que ninguém tenha feito, durante aquela era de triste memória, nenhuma destas três perguntas.  Então, por que cargas-d'água compara-se os atuais preços de produtos com os seus preços médios durante o governo lulista? Qual o porquê de tal comparação, que é sem pé e sem cabeça?
Dá-se a impressão, devido às diferenças de preços percebidas entre os atuais e os médios do período compreendido entre 2.003 e 2.010, que inflação houve, e exclusivamente, no governo Bolsonaro. Não sei se é correta esta leitura que faço de tal quadro comparativo. Independentemente de qual seja, é de causar estranheza.
Qual seria então, ô, sabichão, o certo a se fazer?! Não sei. Mas acredito que deveria se informar, no quadro, dos produtos listados, os preços vigentes no mês de Janeiro de 2.003 e no mês de Dezembro de 2.010, e a inflação neste período, e os valores do salário mínimo então em vigor. Assim, sim. Oferecer-se-ia às pessoas que tomaram conhecimento de tal quadro comparativo, que estava acompanhado, digo agora, de um pequeno texto, no qual se lia apenas lugares-comuns anti-bolsonaristas e nenhuma explicação econômica, elementos que lhes permitiriam avaliar, com realismo, se assim posso dizer, o desempenho econômico dos dois governos - desconsiderando-se, é claro, o contexto econômico, e o político, nacional e internacional -, o que daria uma idéia, mesmo que pálida, do trabalho dos dois governos. Mas suspeito que tenha sido a intenção das pessoas que o elaboraram afastar da verdade quem o viu e se deu ao trabalho de ler o texto, que o acompanha, de poucas palavras.
Além disso, tinham de lembrar os leitores que entre o governo de Luís Inácio Lula da Silva e o de Jair Messias Bolsonaro existiram o de Dilma Rousseff e o de Michel Temer.


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