domingo, 27 de fevereiro de 2022

Três filmes

 Viagem ao Fundo do Mar (Voyage to the Bottom of the Sea - 1965) - episódio 1 - Jonas e a Baleia


Durante uma pesquisa, está Alexi, no interior de um batiscafo, em pleno mar, submerso. Ataca-o uma baleia gigantesca, de tamanho incomum, que pôs a todos os cientistas boquiabertos. No ataque da baleia à embarcação submarina Alexi vem a morrer afogado. Não desistem os cientistas em resgatá-lo, à frente o almirante americano Harriman Nelson (Richard Basehard), sempre prudente, de bom-senso, a pedir calma à sua rival, a cientista russa, doutora Katya Markova (Gia Scala), mulher de temperamento agressivo. Envolvem-se em rusgas enervantes o almirante e a cientista, digladiam-se em palestras hostis, aquele, sensato, esta, insensata, aquele, a dar à cada vida humana valor inestimável, esta, a revelar-se crua e nua materialista intransigente. Mal o cadáver de Alexi havia se esfriado, devido à insistência da doutora Katya Markova, o almirante Harriman Nelson, acompanhado pela cientista russa, empreende nova expedição ao fundo do mar. Submersos, a baleia que dias antes atacara o batiscafo, ataca-o, e engole-o. No interior do veículo, que está no estômago do imenso animal marinho, conflagram-se em discussões acaloradas o almirante e a cientista, e durante as discussões, além da exposição dos dois temperamentos impermeáveis, revelam-se - sendo eles os símbolos - a mentalidade dos americanos e a dos russos - os estereótipos que o filme vende, a mentalidade americana, que dá valor à vida de toda pessoa, e a russa, que não entende ser um mal o sacrifício de algumas vidas em nome do progresso científico. Ao fim - o que não é de surpreender - resgatam o almirante Harriman Nelson e a doutora Katya Markova.

É uma aventura despretensiosa este episódio de uma das séries de televisão mais populares há cinquenta anos.

*

Orquestra Maluca (You're Darn Tootin' - 1928) - com O Gordo e o Magro


Em quinze minutos, Ollie (Oliver Hardy) e Stan (Stan Laurel) são capazes de empreender uma série de disparates de deixar de queixo caído o Barão de Münchausen e boquiaberta a Mula-Sem-Cabeça. De estontear todo e qualquer filho de Deus. Num concerto, fora de compasso, a os dois personagens que formam a dupla mais atrapalhada do oeste enervam o maestro, que, furibundo, fisionomia carregada, aborda-os, e chama-lhes a atenção, repreende-os com severidade. E de que adianta reprová-los? Ambos os da dupla mais divertida do cinema não se emendam, seguem com as suas ações amalucadas, e causam confusões do balacobaco. Expulsos da orquestra, desempregados, e despejados do hotel, sem um tostão no bolso, vão ter à rua, onde, no exercício da arte musical, exibem talento invejável, não para a música, mas para a confusão, a ponto de envolverem multidão de homens numa divertida troca de socos e caneladas de constranger Homero, que em seus épicos jamais narrou cenas de luta que contasse com ações tão heróicas e másculas e viris. É Orquestra Maluca um filme divertido.

*


Coma - A Dimensão do Futuro (2019) - direção: Nikita Argunov


Em uma dimensão cuja realidade é constituída de fragmentos de memórias de pessoas em estado-de-coma, os protagonistas enfrentam os ceifeiros, seres tétricos, pretos, fantasmagóricos, horripilantes, agentes da morte. É tal dimensão caótica; não tem um centro de gravidade, um planeta; tem pedaços de locais da Terra dispostos num espaço a constituir um mundo fantástico cuja configuração lembra a do cérebro - a das representações, muito populares, dos neurônios e suas conexões. Há cenas em que uns personagens estão caminhando por uma rua, fragmento de uma cidade, num tiroteio com pessoas que estão num plano, em terreno paralelo, ambos os planos de cabeça para baixo em relação um para o outro. O visual é fascinante. Os personagens pulam de um terreno para outro, e para outro, os terrenos sem conexões por terra. É um mundo irreal, criado pela reunião de lembranças dos personagens, que, repito, estão em estado-de-coma. E neste mundo é o protagonista Viktor (Rinal Mukhametov), o Arquiteto, que, após um acidente de carro, desperta, a sua mente a aventurar-se pela dimensão criada pela sua memória e pelas memórias de outras pessoas, dentre elas, Fly (Lyubov Aksyonova), Phantom (Anton Pampushnyy), Astro (Miloš Biković), Yan (Konstantin Lavronenko), Spirit (Polina Kuzminskaya), Tank (Vilen Babichev), Gnome (Rostislav Gulbis) e Cable (Leonid Timtsunik), todos eles reunidos, em um grupo de aventureiros, sob o governo de Yan e o comando de Phantom, à procura de um lugar seguro, além do alcance dos ceifeiros.

A história não se resume às façanhas dos protagonistas na dimensão que a mente deles concebeu. Há um mundo real no qual eles vivem, e neste mundo real a Viktor revela-se sua real condição, e a sua relação com Fly e o papel de Yan na trama.

É "Coma - a Dimensão do Futuro" um filme intrigante, e fascinante, uma aventura surrealista agradável.



Nenhum comentário:

Postar um comentário