domingo, 27 de fevereiro de 2022

Três filmes

 Viagem ao Fundo do Mar (Voyage to the Bottom of the Sea - 1965) - episódio 1 - Jonas e a Baleia


Durante uma pesquisa, está Alexi, no interior de um batiscafo, em pleno mar, submerso. Ataca-o uma baleia gigantesca, de tamanho incomum, que pôs a todos os cientistas boquiabertos. No ataque da baleia à embarcação submarina Alexi vem a morrer afogado. Não desistem os cientistas em resgatá-lo, à frente o almirante americano Harriman Nelson (Richard Basehard), sempre prudente, de bom-senso, a pedir calma à sua rival, a cientista russa, doutora Katya Markova (Gia Scala), mulher de temperamento agressivo. Envolvem-se em rusgas enervantes o almirante e a cientista, digladiam-se em palestras hostis, aquele, sensato, esta, insensata, aquele, a dar à cada vida humana valor inestimável, esta, a revelar-se crua e nua materialista intransigente. Mal o cadáver de Alexi havia se esfriado, devido à insistência da doutora Katya Markova, o almirante Harriman Nelson, acompanhado pela cientista russa, empreende nova expedição ao fundo do mar. Submersos, a baleia que dias antes atacara o batiscafo, ataca-o, e engole-o. No interior do veículo, que está no estômago do imenso animal marinho, conflagram-se em discussões acaloradas o almirante e a cientista, e durante as discussões, além da exposição dos dois temperamentos impermeáveis, revelam-se - sendo eles os símbolos - a mentalidade dos americanos e a dos russos - os estereótipos que o filme vende, a mentalidade americana, que dá valor à vida de toda pessoa, e a russa, que não entende ser um mal o sacrifício de algumas vidas em nome do progresso científico. Ao fim - o que não é de surpreender - resgatam o almirante Harriman Nelson e a doutora Katya Markova.

É uma aventura despretensiosa este episódio de uma das séries de televisão mais populares há cinquenta anos.

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Orquestra Maluca (You're Darn Tootin' - 1928) - com O Gordo e o Magro


Em quinze minutos, Ollie (Oliver Hardy) e Stan (Stan Laurel) são capazes de empreender uma série de disparates de deixar de queixo caído o Barão de Münchausen e boquiaberta a Mula-Sem-Cabeça. De estontear todo e qualquer filho de Deus. Num concerto, fora de compasso, a os dois personagens que formam a dupla mais atrapalhada do oeste enervam o maestro, que, furibundo, fisionomia carregada, aborda-os, e chama-lhes a atenção, repreende-os com severidade. E de que adianta reprová-los? Ambos os da dupla mais divertida do cinema não se emendam, seguem com as suas ações amalucadas, e causam confusões do balacobaco. Expulsos da orquestra, desempregados, e despejados do hotel, sem um tostão no bolso, vão ter à rua, onde, no exercício da arte musical, exibem talento invejável, não para a música, mas para a confusão, a ponto de envolverem multidão de homens numa divertida troca de socos e caneladas de constranger Homero, que em seus épicos jamais narrou cenas de luta que contasse com ações tão heróicas e másculas e viris. É Orquestra Maluca um filme divertido.

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Coma - A Dimensão do Futuro (2019) - direção: Nikita Argunov


Em uma dimensão cuja realidade é constituída de fragmentos de memórias de pessoas em estado-de-coma, os protagonistas enfrentam os ceifeiros, seres tétricos, pretos, fantasmagóricos, horripilantes, agentes da morte. É tal dimensão caótica; não tem um centro de gravidade, um planeta; tem pedaços de locais da Terra dispostos num espaço a constituir um mundo fantástico cuja configuração lembra a do cérebro - a das representações, muito populares, dos neurônios e suas conexões. Há cenas em que uns personagens estão caminhando por uma rua, fragmento de uma cidade, num tiroteio com pessoas que estão num plano, em terreno paralelo, ambos os planos de cabeça para baixo em relação um para o outro. O visual é fascinante. Os personagens pulam de um terreno para outro, e para outro, os terrenos sem conexões por terra. É um mundo irreal, criado pela reunião de lembranças dos personagens, que, repito, estão em estado-de-coma. E neste mundo é o protagonista Viktor (Rinal Mukhametov), o Arquiteto, que, após um acidente de carro, desperta, a sua mente a aventurar-se pela dimensão criada pela sua memória e pelas memórias de outras pessoas, dentre elas, Fly (Lyubov Aksyonova), Phantom (Anton Pampushnyy), Astro (Miloš Biković), Yan (Konstantin Lavronenko), Spirit (Polina Kuzminskaya), Tank (Vilen Babichev), Gnome (Rostislav Gulbis) e Cable (Leonid Timtsunik), todos eles reunidos, em um grupo de aventureiros, sob o governo de Yan e o comando de Phantom, à procura de um lugar seguro, além do alcance dos ceifeiros.

A história não se resume às façanhas dos protagonistas na dimensão que a mente deles concebeu. Há um mundo real no qual eles vivem, e neste mundo real a Viktor revela-se sua real condição, e a sua relação com Fly e o papel de Yan na trama.

É "Coma - a Dimensão do Futuro" um filme intrigante, e fascinante, uma aventura surrealista agradável.



sábado, 26 de fevereiro de 2022

Zeca Quinha

 A Terceira Guerra Mundial - escrito por Joaquim Beltrano da Silva Fulano Cicrano de Souza - publicado no Zeca Quinha Nius


O corresponde estrangeiro do Zeca Quinha Nius - o maior e mais popular hebdomadário do orbe terrestre - nos Estados Unidos, residente na cidade americana de Pindamonhangabaiórque, e o corresponde estrangeiro do Zeca Quinha Nius - o maior e mais popular hebdomadário digital do orbe terrestre - na Rússia, residente na cidade russa de Pindamonhangabavostóque, são, ambos, aquele e este, a mesma pessoa. Eles vivem no Brasil, e no Brasil lêem notícias em noticiários americanos e russos, e delas extraem as informações mais relevantes, as selecionam, e nô-las transmitem, do exterior, para nós do Zeca Quinha Nius - o maior e mais popular hebdomadário digital do orbe terrestre. É de origem russa o nome russo do nosso correspondente na Rússia, e o nome americano do nosso correspondente nos Estados Unidos é de origem americana. Mas ambos os correspondentes são um brasileiro, cujo nome, brasileiro, de origem brasileira, é português, e não americano, tampouco russo.

As informações colhidas e recolhidas, e unidas e reunidas pelos correspondentes estrangeiros do Zeca Quinha Nius - o maior e mais popular hebdomadário digital do orbe terrestre - permitem-nos compreender a configuração da geopolítica do orbe terrestre e antever a sua reconfiguração, programada e reprogramada pelos homens mais poderosos, embora tais informações nenhum contato tenham com ela; mesmo assim, todavia, no entanto, porém, entretanto, nós do Zeca Quinha Nius - o maior e mais popular hebdomadário digital do orbe terrestre -, jornalistas dotados de inúmeros diplomas universitários, documentos que confirmam a, e dão provas da, nossa inigualavelmente superior intelectualidade, formação cultural e vigor e rigor morais, fornecem-nos os meios e os recursos e os instrumentos teóricos e práticos para detectarmos as informações, dentre as que nos chegam ao conhecimento, que nos permitem elaborarmos do panorama geopolítico do orbe terrestre um desenho exemplarmente bem elaborado, cientes de que todas as informações são inúteis; no entanto, todavia, porém, entretanto, os nossos diplomas universitários são mais do que suficientes para nos persuadir de que podemos entender tudo o que se passa e o que ocorre e o que se sucede na geopolítica mundial do orbe terrestre. E aqui registraremos o que aqui ainda não registramos. Registraremos, neste artigo, cujas palavras contêm informações, que não são desprezíveis, tampouco indispensáveis para a exata e correta compreensão da política do orbe terrestre, nas linhas que sucedem a esta - o leitor e o autor deste artigo não sabem, até este momento preciso e exato, quais informações este artigo contêm porque o autor ainda não as registrou, mas assim que as registrar saberão quais são, o autor assim que as digitar, e o leitor assim que as ler - caso as leia (se não as ler não saberá quais são).

Informam-nos os nossos correspondentes estrangeiros que o governo dos Estados Unidos e o da Rússia pretendem iniciar a terceira guerra mundial porque duas guerras mundiais já ocorreram no orbe terrestre, portanto, a próxima, a que pretendem deflagrar, será, obrigatoriamente, a terceira, e não a quarta, e tampouco a quinta, muito menos a sexta, e que ninguém pense que será a sétima. Estão os governos de ambas as duas nações envolvidas em sofisticadas negociações. Estão os governos de ambas as duas nações envolvidas em sofisticadas negociações. Não sei porque reescrevi esta frase. Seja qual tenha sido a minha razão para reescrevê-la, eu não a suprimirei do artigo, afinal se eu a escrevi e a reescrevi logo na sequência, eu o fiz por alguma razão, e uma razão racional que se encontra, mas que eu não encontrei, no meu subconsciente, que está sob a jurisdição da minha consciência. Negociam o governo dos Estados Unidos e o da Rússia o envolvimento de outras nações na terceira guerra, que pretendem seja mundial. Querem um e outro varrerem-se do mapa, a Rússia varrer os Estados Unidos e os Estados Unidos a Rússia, de modo que outros país do mapa também sejam varridos, e não uma e outra nação, mas todas elas, pois se querem seja mundial a guerra, a terceira, então todas as nações do orbe terrestre têm de nela se envolverem, e, o que é o ideal, todas serem varridas do mapa. Enquanto não convencerem todos os outros chefes-de-Estado a aceitarem tal idéia, não irão iniciar a guerra. Outras informações colhidas e recolhidas, e unidas e reunidas pelos correspondentes estrangeiros do Zeca Quinha Nius, o maior e mais popular hebdomadário digital do orbe terrestre, dão conta de que a Rússia e os Estados Unidos envolver-se-ão numa conflagração particular, e lançarão mísseis contra as outras nações, e desconversarão os governos das duas nações se questionados a respeito; limitar-se-ão a declarar que oocorreram falhas nos sistemas militares; que uma fagulha provocou uma pane nos computadores; que um hacker invadiu o sistema e disparou os mísseis; que alienígenas telepatas invadiram o cérebro dos comandantes militares e os controlaram; que o presidente da Rússia, ao ingerir vodka estragada, alucinado, agiu num repente súbito de insanidade, e apertou, em seu acesso de fúria enlouquecida, botões quaisquer, inconsciente do que fazia, e apenas soube de seus atos após recuperar o governo de sua mente; que o presidente dos Estados Unidos, num acesso de sonambulismo, perambulou pela Casa Branca, foi ao Salão Oval, abriu a maleta que contêm os códigos dos mísseis, e os digitou; que durante a comemoração pela vitória da seleção de basquete dos Estados Unidos o comandante do porta-aviões USS qualquer coisa, involuntariamente, ligeiramente embriagado, premiu, com um dos seus dois cotovelos, um botão de acionamento de mísseis. E assim Rússia e Estados Unidos varreriam do mapa outras nações. E as nações não atingidas pelos mísseis se veriam na contingência de atacar os Estados Unidos e a Rússia antes que fossem por eles atacados, o que redundaria na ampliação do cenário de guerra - e assim Estados Unidos e Rússia, atingindo o objetivo de envolver na guerra todas as nações do orbe terrestre, criariam a terceira guerra mundial. Mas, e a guerra propriamente dita quando começará? Quando se iniciar, se se iniciar, principiando-se, o que se dará, se se der, e quando se der, se uma das duas nações, Estados Unidos e Rússia, atacar a outra; caso tal não se dê, tal não se dando, não se dará a guerra, e assim não assistiremos à guerra mundial, que será a terceira das guerras mundiais porque antes dela ocorreram outras duas, a primeira antes da segunda, e esta depois daquela. Oxalá tal guerra seja deflagrada para que nós do Zeca Quinha Nius - o maior e mais popular hebdomadário digital do orbe terrestre - possamos publicar reportagens acerca da terceira guerra mundial, que entrará para a História e dela jamais irá sair. 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Dois artigos

Medeiros e Albuquerque, Júlio Ribeiro, João Ribeiro e Valdomiro Silveira.

A literatura brasileira tem preciosidades que os brasileiros desconhecemos, e obras que, mesmo de pouco valor, merecem que a existência delas lhes seja do conhecimento.
Nestes dias, de duas semanas até hoje, li quatro livros, cada um de um escritor, que me agradaram. São os livros "Surpresas...", "Procelárias", "Fabordão" e "Leréias", cujos autores são, respecticamente, Medeiros e Albuquerque, Júlio Ribeiro, João Ribeiro e Valdomiro Silveira.
Os quatro livros acima citados, que me chegaram às mãos por vias acidentais, são edições antigas, de há décadas; têm suas folhas amareladas, estão em ortografia outra que não mais se usa - e o de Valdomiro Silveira, escangalhado, e sem a capa posterior, das folhas as bordas desfazendo-se em minúsculos fragmentos - seus antigos donos não lhe haviam zelado pela integridade. O de Medeiros e Albuquerque, uma reunião de contos, não é uma obra de monta; pouco valor literário tem; todavia, dos contos dois agradaram-me imensamente, "O Gatuno" e "Freudismo", o primeiro a cuidar do quão injusta pode ser uma pessoa que se precipita ao julgar e condenar os atos alheios, o segundo a trazer à tona o que hoje em dia se convencionou chamar mensagem subliminar, oculta nas peças publicitárias. O de Júlio Ribeiro apresenta uma reunião de artigos, que versam, uns, sobre política, outros, armas - e nos primeiros ele se revela um republicano intransigente e feroz em seu sonho de separar do Brasil o estado de São Paulo; e de brinde ao leitor uma ode, em prosa, a Camões. E Camões é, também, o tema de um dos artigos reunidos no livro de João Ribeiro, êmulo de Rui Barbosa; além deste artigo, o autor presenteia o leitor com percucientes comentários acerca de Nietzsche e, com a autoridade que lhe compete, dá-lhe proveitosas aulas de filologia. E é o livro de Valdomiro Silveira, dos quatro dos quais nesta obra breve dediquei atenção, o que mais me agradou; conta os narradores curiosidades do cotidiano de caipiras paulistas; são contos interessantes, recheados de cultura popular, vazados num linguajar típico dos rincões do Brasil, de pessoas que, de pés no chão, vivem com os pés no chão. É Valdomiro Silveira o pioneiro da literatura regionalista brasileira, e no crepúsculo do século XIX. Para mim é o autor uma novidade, uma extraordinária surpresa. Lê-se Leréias com encanto. E não se esquece o editor de oferecer ao leitor um glossário caipira.
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Assassinato de crianças.

Ontem, uma notícia de estarrecer toda pessoa decente e de alegrar toda pessoa que tem o mal no coração: Na Colômbia está autorizado o assassinato - que no jargão demoníaco politicamente correto recebe o eufemismo "aborto" - de crianças - "feto", segundo os que vivem sob domínio satânico - que, ainda no ventre de suas mães não passaram de vinte e quatro semanas de vida. Para os progressistas, tais crianças são apenas amontoado de células. Não há muitos meses, ouvimos notícia de que na Argentina e em um estado americano - não me lembro qual - permitiu-se o assassinato de criança que estejam saindo à luz - parece-me que, na Argentina, tal lei foi revogada. Mas que não pensem os ingênuos que os financiadores da política da morte irão desistir de seus objetivos assassinos.
E aqui no Brasil foi grande a repercussão do mal que se promoveu na Colômbia; e o presidente Jair Messias Bolsonaro e a ministra Damares Alves pronunciaram-se contrários ao aborto e defenderam a vida; e personalidades, que os esquerdistas entendem radicais e fanáticos e genocidas, vieram a público deplorar a decisão colombiana.
Um adendo: Há uns dois anos li, de Hélio Angotti Neto, A Morte da Medicina, livro de leitura indispensável para quem deseja compreender a estratégia que os financiadores da política de assassinatos de crianças usam para persuadir o público de que ela é benéfica para a humanidade.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Crônica

 Eu, a refeição.


Ao passar, hoje de manhã, um pouco antes do almoço, pelas bordas da feira, à praça da Liberdade, nas proximidades do Mercado Municipal, a carregar duas sacolas, minutos após retirar-me do banco, onde eu pagara quatro boletos, ouvi, de um homem de estatura mediana, um pouco mais baixo do que eu, rosto de pele morena, curtida de sol, acobreada - não digo que era marrom, cor de terra -, de, presumo, uns cinquenta anos, uma sentença - que ele dirigiu a todos os que se encontravam no raio de sua possante voz -, que me assustou, obrigando-me a voltar para ele a atenção, e nele detê-la, o que fiz durante alguns segundos, poucos, e logo tratei, célere, de me afastar, confuso, e perplexo, e assustado, e preocupado; e ao chegar à esquina, olhei para trás, à procura - meus olhos esgazeados, acredito - daquele homem de quem trato nesta crônica, que é curta, e não o encontrando, segui meu caminho, pensativo. Anunciava o homem temperos, que ele carregava, seis deles, acondicionados em saquinhos transparentes, de plástico, dispostos sobre uma bandeja de plástico, branca, que ele carregava com a destreza de um equilibrista. Em quatro dos pequenos sacos havia pó, em um, verde, em outro, preto, em outro, amarelo, em outro, branco, e nos outros dois havia, em um, grãos, não me lembro de que cor, e no outro, folhas picotadas. Eram temperos, segundo o personagem que os anunciava à venda. Temperos. E há mal em se anunciar, em praça pública, temperos, para um público numeroso? Não. Não há. O que aquele homem disse, e no tom em que ele disse o que disse, sim, vi um mal, mas me pergunto, agora, na minha casa, calmo, à escrivaninha, lapiseira à mão, a escrever estas palavras, se entendi o que ele disse, se ouvi o que pensei ter ouvido, se a minha imaginação, excitada, me fez dele ouvir palavras que ele não disse, melhor, me fez ouvir as palavras que ele disse e emprestar-lhes significados que não possuíam.

Naquele personagem, que é o principal desta minha crônica, vi, ao observá-lo de uma certa perspectiva, um botocudo, e dos mais ferozes, com os seus singulares paramentos, e de outra, um aimoré indomável, de olhar petrificante, e de outra, um tupinambá pronto para avançar sobre Hans Staden. Parecia-me ele o Boaventura da Costa, personagem de um conto de Aluísio Azevedo, mas diferente dele, que aos olhos de uns era um ancião que já havia recebido a extrema-unção, e aos de outros um recém-nascido no instante em que levava do obstetra um tapinha inofensivo, eu via, no meu personagem, índios, melhor, silvícolas ameríndios, nativos da América, aqueles homens asselvajados que, à chegada dos portugueses, ainda viviam na idade da pedra - não sei se da polida, se da lascada -, a cobrirem-lhes as vergonhas as vestes que a natureza lhes deu, a manejarem instrumentos de caça e com a desenvoltura de matadores profissionais; nele eu vi antropófagos, monstros canibalescos, criaturas dos pesadelos que atormentam os seres humanos desde o nascer do universo.

Mas o que, afinal, pergunta-me o leitor, aquele homem disse que me fez ver, nele, um tipo humano que me provocou reação tão negativa. Três palavras, paciente leitor, apenas três palavras, e nenhuma outra além delas. E assustaram-me e intrigaram-me tais palavras. Quais palavras, insiste o leitor em conhecê-las. Digo: estas: "vamos", "temperar", "gente". E ao recordar tal episódio da minha vida de um homem que está às portas da segunda casa dos "enta", pergunto-me, repetindo pensamento que apresentei em alguma linha acima desta, se ouvi o que ouvi, o que, melhor, pensei ter ouvido. Peguei uma pulga, e a sentei atrás da minha orelha, e pedi-lhe que me ajudasse a pensar acerca de tão intrigante episódio. Disse aquele homem, ao anunciar os produtos que oferecia à venda, "Vamos temperar gente.", ou "Vamos temperar, gente!"? Se é a interpretação correta das palavras dele a segunda opção, então, obrigo-me a concluir que ele dizia às pessoas que, se o desejassem, lhe comprassem temperos, para condimentar suas refeições. Se é a primeira, então ele se preparava para deliciar-se com uma refeição, que, penso, seria digna dos deuses, dos deuses ameríndios, obviamente; resta-me saber se ele já havia preparado a carne para receber o tempero, ou se estava à caça de uma que lhe atendesse ao paladar - eu, que não pretendia saber qual era a resposta correta, tratei, e logo, instintivamente, de passar sebo nas canelas, e dele afastar-me o mais rapidamente que podia. Fiz bem, acredito.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Notas

 Vírus e caminhões


Há certos títulos de reportagens jornalísticas que conservam enigmas, e indecifráveis, mistérios, daqueles bem misteriosos, para os quais ninguém tem sequer uma explicação plausível, ou mensagens cifradas cujas substâncias estão além do entendimento humano. Li, há poucos dias, o título de duas reportagens, ambas de canais de notícias, ambos do Youtube, ambos a dar ao público informações importantes - assim penso, pois, sou obrigado a confessar, eu, um pecador impenitente, não acessei tais reportagens para lhes conhecer o teor -, ambas a guardarem, e no título, dados intrigantes. E não me dei ao trabalho de anotar os nomes dos canais que dão-nos a conhecer valiosíssimas pérolas jornalísticas. E por que eu o faria!? Entendi importante os títulos das reportagens, e não o que elas contêm. E são os títulos intrigantes, enigmáticos: "Vamos ter que conviver com o vírus com inteligência."; e, "Motorista de caminhão bêbado destrói 31 carros em acidente na...." - neste segundo ficam as reticências, pois não me interessei em conhecer-lhe toda a extensão. Que o vírus - e trata a reportagem, presumo, do covid-19, vírus que tem a seu serviço o melhor relações públicas com o qual um vírus jamais contou - é inteligente não me resta dúvidas, afinal, ele selecionou, sabemos, seu público alvo e atacou-o, e foi bem-sucedido em sua ação, em certas horas do dia, em certos dias da semana, em certos locais, driblando, sempre, a vigilância sanitária, que, em vão, e a esmo, atacou-o diuturnamente; e que processem o caminhão, que bebeu antes de dirigir, melhor, dirigir-se (não sei se tal caminhão é um criminoso de ficha policial quilométrica, ou um "dimenor", ou um suspeito, ou apenas um menino, uma vítima da sociedade - confesso que não sei qual é o seu estado civil, mas seja qual for que o caminhão não saia impune de sua ação inconsequente).

Ocupei-me em demasia com tais enigmas misteriosos, charadas indecifráveis. Eu poderia dedicar-me à leitura das reportagens que os títulos anunciam, mas decidi, não sei porquê, resumir a minha atividade intelectual a conhecer-lhes a substância lendo-lhes os títulos, unicamente. Foi-me impossível conhecê-las. Deixo-as para estudo dos homens dotados de intelecto privilegiado.

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Biden. Vacinas. Caminhoneiros. Moro. Príncipe. Carvajal. Notas breves.

Dizem por aí que é o Joe Biden, homem que supostamente senta-se na cadeira presidencial americana, um morto-vivo, mais morto do que vivo, um zumbi, e dos mais lerdos que existem. Se é verdade, não sei; sei apenas que ele não tem paciência com jornalistas que lhe falam de inflação. Ah! se fosse o Trump a responder a um jornalista com a educação do Biden! O mundo viria abaixo. E Trump ficaria com as orelhas vermelhas de tanto que ouviria chamarem-lo fascista, nazista, racista, genocida, e o escambau. Os burros estão num mato sem cachorro, sem saber o que fazer com o Brandon e com a vice dele, a tal de Kamala, que, não sendo morta-viva, parece que viva não está, e nem morta - e ninguém sabe qual é o estado existencial de tal criatura.
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Se pessoas vacinadas com quinhentas doses da substância, que muita gente não sabe para o que serve, tais quais as que não se vacinaram, podem ser infectadas pelo vírus e infectar com ele outras pessoas, por que cargas-d'água se insiste em exigir de todos o tal de passaporte sanitário?
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E seguem os caminhoneiros canadenses a enfrentar Justin Trudeau, que removeu, diante de todos, a máscara de defensor da Democracia, da Liberdade e da Justiça, e revelou-se por inteiro, com a sua verdadeira face. E a ação deles está a inspirar colegas de estradas americanos, australianos, franceses e espanhóis a levantarem-se contra os tiranetes, que se multiplicaram assustadoramente de 2.020 para cá.
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A campanha do Sérgio Moro, indicam as notícias que li, está fazendo água. E está o até há um pouco menos de dois anos herói nacional enredado numa trama diabólica tão sutil e complexa que nem Ariadne consegue desenredá-la. Chama-me a atenção um detalhe: todas as decisões do Sérgio Moro que envolvem o Lula estão sendo anuladas e ele, Sergio Moro, não se pronuncia a respeito, não defende seu valioso e inestimável trabalho.
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O príncipe Andrew, herdeiro do trono inglês, homem quem tem em suas veias o sangue da rainha Elizabeth, assinou um acordo milionário, que lhe livra a cara num caso que envolve, contou-me um passarinho, o nome do falecido Epstein - que morreu em circuntâncias tão misteriosas, que nem Sherlock Holmes e Hercule Poirot e Auguste Dupin, unidos, chegariam ao seu assassino, que talvez tenha sido ele mesmo.
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Desde o ano passado, no mês de Outubro, ou Novembro, ouço falar de Hugo Carvajal, el Polo, que, preso na Espanha, contou aos juízes daquele país histórias escabrosas envolvendo políticos latino-americanos. E não foi da imprensa brasileira que ouvi tal notícia. A imprensa nacional nem sequer lhe menciona o nome, afinal, ele citou o nome de um ilustre personagem brasileiro que ela sonha ver, a partir do dia 1 de Janeiro de 2.023, ostentando a faixa presidencial.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Comunismo

 Comunistas de todo o mundo, uni-vos!


- Vamos tomar a Rússia, camaradas! Comunistas de todo o mundo, uni-vos!

- Tomamos a Rússia, camaradas! Viva o comunismo!

- A miséria, a desgraça e as mortes que se vêem na Rússia não são frutos do comunismo. Implantaram o falso comunismo na Rússia. Deturparam Marx!


- Vamos tomar a China, camaradas! Comunistas de todo o mundo, uni-vos!

- Tomamos a China, camaradas! Viva o comunismo!

- A miséria, a desgraça e as mortes que se vêem na China não são frutos do comunismo. Implantaram o falso comunismo na China. Deturparam Marx!


- Vamos tomar Cuba, camaradas! Comunistas de todo o mundo, uni-vos!

- Tomamos Cuba, camaradas! Viva o comunismo!

- A miséria, a desgraça e as mortes que se vêem em Cuba não são frutos do comunismo. Implantaram o falso comunismo em Cuba. Deturparam Marx!


- Vamos tomar o Camboja, camaradas! Comunistas de todo o mundo, uni-vos!

- Tomamos o Camboja, camaradas! Viva o comunismo!

- A miséria, a desgraça e as mortes que se vêem no Camboja não são frutos do comunismo. Implantaram o falso comunismo no Camboja. Deturparam Marx!


- Vamos tomar a Venezuela, camaradas! Comunistas de todo o mundo, uni-vos!

- Tomamos a Venezuela, camaradas! Viva o comunismo!

- A miséria, a desgraça e as mortes que se vêem na Venezuela não são frutos do comunismo. Implantaram o falso comunismo na Venezuela. Deturparam Marx!


- Vamos tomar a Argentina e o Chile, camaradas! Comunistas de todo o mundo, uni-vos!

- Tomamos a Argentina e o Chile, camaradas! Viva o comunismo!


Bolsonaro

 Bolsonaro, o salvador do mundo, evita a terceira guerra mundial.


Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro, homem que, durante suas ingentes tarefas,

 - hercúleas, dir-se-ia - evitou a extinção das girafas amazônicas (e de outros animais - que não receberam a devida atenção dos ambientalistas - tipicamente amazônicos, tais como cangurus, ursos-panda, bisões e linces), a inspirá-lo suas proverbiais sabedoria e perspicácia intelectual de primeira grandeza, irrivalizada, reconhece a preeminência da arte política internacional de Jair Messias Bolsonaro, presidente do Brasil. Antes de qualquer outra pessoa, aqui, no Brasil, e em qualquer outro país, entendeu ele que o excelentíssimo presidente brasileiro evitou, com a sua viagem ao país dos eslavos, uma guerra mundial, a terceira, que iria, se eclodisse, dizimar a espécie humana, e, talvez, e não é exagero pensar, cortaria ao Terra ao meio. É tão admirável a grandeza intelectual do ex-ministro que os anti-bolsonaristas, invejosos, a atormentar-lhes a incomparável sutileza dele, decidiram, em peso, num ataque aparentemente coordenado, disparar-lhe críticas contundentes, para ferir-lhe o ego, e destruir-lhe a reputação de homem íntegro, e exibir suposta falsidade da avaliação penentrante e certeira que ele fizera das alvissareiras consequências da ação política do presidente Jair Messias Bolsonaro, que, de tão poderoso, fez curvar-se diante de si Vladimir Putin, o tzar russo.

O presidente Jair Messias Bolsonaro telefonou para o líder russo, o manda-chuva siberiano, e disparou-lhe à queima-roupa, com a autoridade que seu nome impõe: "Vladimir, deixe de frescura, taoquei!? Que história é esta de guerra!? Deixe de lorota. A Rússia é um país muito grande. Por que você vai querer mais terra, ô, homem de Deus! Pegue uma enxada, e vá capinar a Sibéria." E seu congênere da terra do gelo, intimidado, respondeu: "Sim, senhor Bomnosaro. Sim, senhor. Já encomendei a enxada. E já mandei as tropas sob minhas ordens se afastarem da Ucrânia." Diante de palavras tão meigas e pacíficas, o presidente brasileiro anunciou: "Ô, Vladimir, estou, aqui em Moscou, desembarcando do avião. Desmarque todos os seus compromissos. Arrume a mesa, aí, no Kremlin, para tomarmos um cafezinho. Estou levando, além do café, uma delícia que só o Brasil tem: jabuticaba." E o presidente russo, lambendo os beiços, agradeceu: "Obrigado, senhor Bomnosaro. Obrigado. Muito obrigado. O senhor também trouxe, de Minas, pão-de-queijo?" "Sim, Vladimir, sim. E eu esqueceria?! Prepare a mesa, Vladimir, prepare a mesa. Vamos encher o bucho, taoquei!?"

E foi assim que o presidente Jair Messias Bolsonaro evitou a terceira guerra mundial. Que a Academia Sueca dê ao presidente brasileiro o Nobel da Paz, neste ano de 2.022.


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Notas breves

 Cristofobia. Go, Brandon. Biden, o educadíssimo Biden. Trudeau, o herói invernal. Passaporte sanitário, ou passaporte para o sanatório? Caminhoneiros de todo o mundo, uni-vos. Notas breves.


Enquanto divulga-se, com alarmismo, a inexistente islamofobia, na Europa, e nos Estados Unidos, e, em menor escala, no Brasil, a cristofobia encorpa-se, atreve-se a expor-se publicamente, sem recear punição, seja esta em conformidade com as leis, seja moral, pois conta com apoio irrestrito da mídia, de intelectuais, de políticos, e de homens das leis, e até de religiosos, de cristãos (ou supostos cristãos) e de representantes da Igreja. É de triste memória o espetáculo grotesco que anticristãos exibiram, em praça pública, durante a visita do Papa Francisco, há uns oito, dez anos, ao Brasil; foi na Jornada Mundial da Juventude - estou a retirar tais detalhes dos escaninhos da minha memória, e peço ao leitor desculpas se erro - que uns estúpidos seres das trevas promoveram, e diante de olhos inocentes de crianças, suas indecências de constranger Calígula e Marquês de Sade; fizeram, inclusive, uso inusitado de um crucifixo (a decência impede-me de escrever o que se viu então; dispenso-me de escrever, minuciosamente, o ato executado por um sujeito desprovido dos mínimos requisitos da educação, para não conspurcar a folha em que escrevo, à lápis, estas linhas). A simples alusão ao fato ruboriza-me. Não foi este o único ato que os anticristãos promoveram, em público, contra o cristianismo, a Igreja, Nosso Senhor Jesus Cristo e os cristãos. É este apenas um deles; pertence aos milhares que nos quatro cantos do mundo olhos humanos testemunham, e contra tal movimento ainda não se agiu adequadamente. E dias atrás outro ato, supostamente de denúncia ao brutal assassinato, no Brasil, de um congolês, Moïse, políticos e militantes e agregados, numa igreja, em Curitiba, descarregaram, contra a Igreja, seu ódio, acusando-a de racista; não surpreende ninguém o que se viu. Para muitos, foi tal protesto apenas um exercício democrático. Ingênuos. Foi o ato político, orquestrado para dar combustível às massas de militantes estúpidos e grosseiros atacarem a Igreja e aterrorizarem os fiéis; apenas um detalhe, e dos bem pequenos, de um mosaico anti-cristão.

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Contou-me um passarinho a história: Durante uma transmissão, ao vivo, por uma tevê americana, de uma corrida da Nascar, o apresentador, a falar para a câmara, e imagens da corrida ao fundo, assim que se ouviu, em alto e bom som, do público na arquibancada, o grito de guerra "F..k you, Biden.", saiu-se com a história, em outras palavras "O público grita: "Go, Brandon."" Ora, naquele momento liderava a corrida Brandon. Foi tal episódio tão grotesco, tão ridículo, que os americanos, a partir de então, passaram a dizer que é o presidente dos Estados Unidos da América o Brandon, e não o Biden, presidente impopular, que, consta, recebeu, dos americanos, em 2.020, mais votos do que Obama em 2.008. E assim nasceu a lenda de Brandon. Foi esta a história que o passarinho me contou.

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Biden, o verdadeiro presidente dos Estados Unidos da América, o mais popular presidente da história americana, herói do universo, à desfaçatez de um jornalista, que lhe ousou perguntar acerca da inflação, replicou, educadamente, nomeando-o filho-de-uma-égua. Não foram estas as palavras que lhe saíram da boca, é claro, afinal, ele falou em inglês, e não em português; e eu faço uso de um eufemismo - que não é elegante, eu sei - para reproduzir, em vernáculo de Camões, o que ele disse no de Shakespeare. É a tradução livre.
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E os caminhoneiros canadenses, após o heróico, apolíneo e hercúleo Justin Trudeau exigir, deles, passaporte sanitário, para que eles, de posse do famigerado papelzinho, possam circular pelas estradas congeladas do Canadá, rumaram, em comboio, aos milhares, ao coração do governo do país de outro Justin, o Bieber. E escafedeu-se o Trudeau, herói que saiu do frio e entrou numa fria. Algum poderoso mago, ou feiticeiro, ou bruxo, ou prestidigitador, fê-lo desaparecer, num piscar de olhos, num estalar de dedos, num passe de mágica. E ninguém conhece-lhe o paradeiro. É mais fácil achar Wally do que Justin Trudeau.
Nota de rodapé: As más línguas dizem que o sangue do Fidel Castro corre pelas terras canadenses.
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Por que estão governos a exigirem das pessoas o passaporte sanitário para que elas possam ter acesso a supermercados, ônibus, farmácias, salas-de-cinema, e outros estabelecimentos, se já é de domínio público que vacinados - uno-vacinados, bi-vacinados, tri-vacinados, tetra-vacinados -, além de serem infectados por aquele bichinho invisivel, desgracioso, o bode expiatório de todos os males que os políticos causam aos homens comuns, podem transmiti-lo para outras pessoas? Quanto mais as pessoas se submetem, servis, às insanidades dos políticos mais se revelam merecedoras do passaporte para o sanatório.
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Os caminhoneiros canadenses, aliados aos caminhoneiros americanos, principiaram, tudo indica, um movimento global contra governantes que, a pretexto de cuidarem da saúde coletiva, do bem-estar dos povos, estão a oprimi-los, a segregá-los. E o Justin Trudeau, o reizinho mimado, faz pirraça. Solta o berreiro, e os acusa de atos anti-democráticos, e lhes imputa desejos os mais reprováveis. É o povo que, oprimido, sentindo, na carne, o chicote dos opressores, que lhe preparam os grilhões, revolta-se, em defesa da Liberdade. E não se ouve a voz libertária da turminha da esquerda, aguerridos defensores dos povos oprimidos, bravos heróis da liberdade, denodados guerreiros que estão sempre a enaltecer os povos em revolta contra os opressores.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Brasil

Presidente Bolsonaro e o 7 de Setembro de 2.021.

As manifestações democráticas, e populares, de milhões de pessoas pedindo liberdade, justiça, paz, e as ações do presidente Jair Messias Bolsonaro surpreenderam gregos e troianos. Não há, em todo o universo, excetuados o presidente do Brasil e um seu reduzido círculo de aliados, quem saiba o que de fato se deu nos meses que antecederam o já histórico 7 de Setembro de 2.021 e nos dias que logo se lhe seguiram. São incontáveis as teorias que intelectuais, de direita e de esquerda, conservadores e revolucionários, bolsonaristas e anti-bolsonaristas, apresentaram, todos, ouso dizer, certos cada qual de que a que apresenta, sendo a correta, explica o que ocorreu antes, durante e depois da efeméride. Sabe-se que as manifestações do presidente e de seus apoiadores não corresponderam às narrativas que acerca delas aos quatro ventos os anti-bolsonaristas espalharam; não representaram um movimento de golpe às instituições democráticas capitaneado pelo presidente Jair Messias Bolsonaro, cuja personalidade é hostil ao autoritarismo de qualquer espécie, como ele deixou claro em não poucas declarações e em atos inúmeros - o que se viu foi, única e exclusivamente, a exibição de irrivalizado apoio popular ao presidente, que, conquanto a mídia diga o contrário, conserva a sua popularidade intacta e é o político mais influente do Brasil. Muitos formadores de opinião, que, pelo visto, de ninguém forma a opinião, insistiram, todavia, em emprestar-lhes - e insistem em tão reprovável postura, suas interpretações sob influência de idéias que dão o presidente brasileiro um personagem vilanesco, crudelíssimo - ingredientes que elas não possuem, a má-fé, que lhes recheia o espírito, a movê-los, pois eles, embora observem os fatos, e, pode-se supor, os compreendam, bostejam, desavergonhadamente, mal-intencionados, para explicá-los, narrativas mentirosas, que apontam o presidente como um ditador iníquo, um político inescrupuloso, sem jamais ilustrá-las com dados que as corroborem, e as repetem, durante trinta horas por dia, dez dias por semana. Não se vexam os detratores do presidente em mentir descaradamente, mesmo que, e principalmente se, flagrados em pecado. E não foram as manifestações impopulares, a contarem com a participação de, se muito, meia dúzia de gatos pingados - é esta a história que a imprensa insiste em, negando a realidade, e desejando impôr suas narrativas, propagar, o que, aliás, ela faz, despudoradamente, sempre que os bolsonaristas - bolsominions, para os íntimos - se manifestam, e em número imensurável, em apoio ao presidente, cobrindo avenidas inteiras, num espetáculo de espontaneidade inegável, trajados com os indefectíveis verde e amarelo, numa ordem admirável, que jamais desanda em grosserias, ataques aos policiais, quebradeira generalizada de patrimônio público e particular, ações gêmeas dos atos violentos dos anti-bolsonaristas sempre que estes saem à rua, aos punhados. E a imprensa insiste em rotular anti-democráticas e golpistas, de robôs fascistas e nazistas, as manifestações ordeiras e pacíficas dos bolsonaristas, e democráticas, espontâneas, de um povo que pede por liberdade, as barbaridades orquestradas pelos anti-bolsonaristas.

Do ano de 2.021, o ato político emblemático é o da Carta à Nação. Há quem jure, e de pés juntos, que redigiu-a o ex-presidente Michel Temer. É tal carta sua obra-prima. E há quem diga que a escreveram quatro mãos, as do presidente Jair Messias Bolsonaro e as do já mencionado ex-presidente. E chegou-me ao conhecimento que há quem pense que a redigiram as mãos do ex-presidente e as de Alexandre de Moraes, ministro do STF. E para alguns sagazes espécimes do espírito humano, redigiram-la os três protagonistas, acima citados, de nossa aventura, não após o 7 de Setembro, mas antes do primeiro ato deste capítulo da história brasileira ser executado. Não sei quem a redigiu. Conta-se acerca da confeção dela estas quatro versões - e talvez algumas outras, que a imaginação fértil de alguém tenha concebido e não me vieram ao conhecimento.

E acerca de qual foi o papel que cada um dos principais personagens da trama, que se começou a dedenhar meses antes, representou podemos aventar hipóteses. Envolvem-nos conjecturas: o presidente Jair Messias Bolsonaro, após intensificar, no dia 7 de Setembro, ao ministro Alexandre de Moraes as críticas, se viu numa arapuca, e, sem meios de cumprir as ameaças, recorreu ao ex-presidente Michel Temer, suplicando-lhe, humilde, e constrangedoramente, socorro, de cabeça baixa, prosternando-se diante dele, e com zumbais grotescas revelou-se-lhe submisso; o ministro Alexandre de Moraes, vendo-se em maus lençóis, e certo de que o presidente cumpriria as ameaças, que tinham destinatário certo, trêmulo, e apavorado, ao passar as noites anteriores em claro, solicitou ao ex-presidente cujo nome encontra-se, neste artigo, duas vezes, linhas acima, intervenção, um diálogo com o presidente, este, enfurecido, com a faca e o queijo na mão, pronto para cortar o queijo, e entregar a cabeça do ministro, numa bandeja, ao povo brasileiro, ou a este entregá-lo de corpo inteiro, e que o povo lhe concedesse o destino que entendesse lhe fosse merecido, que seria, provavelmente, o escalpelamento, seguido da imolação, em praça pública, numa exibição de selvageria e barbarismo inéditos nos anais da história da civilização; eram muitos os ministros do STF, e senadores e deputados federais, e governadores, e inúmeros outros personagens da política nacional, todos preocupados com o recrudescimento das tensões entre o presidente e, do STF, os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, principalmente agora que o presidente deu ao mundo uma demonstração de assustadora força popular, obrigando-os a reconhecê-lo o personagem mais poderoso da trama, e a brandirem a bandeira branca, ostensivamente, para que ninguém a ignorasse, e a pedirem por um diálogo com o presidente, e o ex-presidente Michel Temer eles o nomearam o interlocutor entre eles e o presidente; os políticos jogaram a toalha, derrotados, humilhados, ao reconhecerem, rendidos à verdade, que sagrou-se vitorioso do embate o presidente, que lhes exigiu a rendição unilateral, incondicional; todos os personagens envolvidos na trama se viram num ponto de inflexão: ou todos recuavam, cada qual de sua posição, ou o conflito será inevitável, e em tal momento estavam, todos, em pé de igualdade, e se fossem para o confronto este seria duradouro e sangrento, e seu fim apenas Deus conhecia, mas nenhum deles quis arcar com as consequências do recrudescimento das agressões mútuas, abrir a caixa de Pandora, e decidiram resolver o imbróglio confabulando amigavel, e diplomaticamente, até chegarem a um denominador comum; o presidente acovardou-se, recuou, de golpista, bruto, acanalhado, de espírito ditatorial, converteu-se em arregão, frouxo, covarde, afinal, tinha, em suas mãos, o poder de decidir sobre a vida e a morte de seus inimigos, mas, não querendo usá-lo, contemporizou; o ministro Alexandre de Moraes e o presidente, aliados, simularam hostilidade recíproca, o ministro a representar o papel de inimigo dos brasileiros, para estimular os bolsonaristas e outros brasileiros, todos indignados com a postura do ministro, a irem em favor do presidente, fortalecendo-o, para que ele simulasse a postura de quem pretendia romper de vez a corda, e assim obter concessões de seus inimigos sem que necessitasse ir às últimas consequências, o que faria, se o desejasse, agora com amplo e irrestrito apoio popular; o presidente pretendia, dentro das quatro linhas da constituição, destituir ministros do STF e punir senadores, deputados e governadores, mas recuou, no último instante, porque não contava com apoio dos militares; o presidente blefou, orquestrou seus movimentos desde o início, em acordo com uma ou duas pessoas. São muitas as hipóteses que dão as razões que levaram o presidente à publicação da Carta à Nação. Qual explica o que de fato se deu? Acredito que, além do presidente, apenas um (talvez dois) personagem conheça a história.

Após a publicação da Carta à Nação, testemunhou-se atos inusitados de agentes públicos, jornalistas, opositores do presidente, apoiadores dele, e supostos apoiadores dele, dentre estes os conservadores revolucionários (que são, na opinião deles mesmos, os mais esclarecidos e ilustrados e intelectualizados homens do universo - e que ninguém ouse emulá-los!), intelectuais que lhe descarregam, sem critério algum, críticas construtivas, pessoas que ambicionam governar o Brasil, mas sem o ônus da responsabilidade que o cargo de presidente cobra, e têm o desplante de sugerirem ao presidente a nomeação deste e daquele personagem para este e aquele cargo da burocracia federal, e atrabiliários, esbravejam, exibindo caras e bocas grotescas, e rodam a baiana, sempre que ele não lhes atende as sugestões, que soam como mandamentos divinos, e tampouco as demandas deles, muitas delas pessoais. Li, de um dos conservadores revolucionários - e não vejo razão para citar-lhe, aqui, o nome, pois entendo que é importante o tipo, e não o indíviduo -, um texto, curto, e risível, que dele exibe orgulhoso desdém pelos bolsonaristas e pelo presidente. Declara o distinto intelectual que são otárias as pessoas que foram às manifestações do dia 7 de Setembro; e em outro texto seu, recria a cena da Independência ou Morte, às margens do Ipiranga, imortalizada na famosa pintura de Pedro Américo, o presidente Jair Messias Bolsonaro fazendo a vez de Dom Pedro I e encerrando sua participação em tal episódio curvando-se, desavergonhada e covardemente, aos lusitanos. Além destes dois textos, li um terceiro, de outro conservador revolucionário - cujo nome dispenso-me de registrar, pelas razões expostas acima - que, aludindo a Winston Churchill, apequena o presidente brasileiro, que, tal qual Nevil Chamberlain, de constrangedora biografia, preferindo à guerra a vergonha, teria a guerra e a vergonha. O que se percebe em tais textos é o uso, por seus autores, de um verniz de erudição; comparam personagens de momentos históricos distintos, mirando um objetivo: difamar o presidente Jair Messias Bolsonaro. Desconsideraram os contextos, caso os conheçam, para emprestar um ar de seriedade às críticas que teceram ao presidente brasileiro, e de autoridade, autoridade de pessoas cultas, superiores porque capazes de evocar personagens e eventos históricos - críticas que, desataviadas de seus paramentos retóricos, revelam-se tão rasas e boçais quanto as que fazem ao presidente os inimigos dele -, e deles transparecem, não frustração e desilução, que pretendem exibir, porque suas sábias exortações não foram contempladas com a atenção presidencial, mas a raiva, que não conseguem conter sempre que contrariados em seus desejos. Entendo que tais conservadores revolucionários - e os conservadores revolucionários são uma legião - querem que o presidente realize o sonho deles, o de pôr abaixo o estamento burocrático, e que ele assuma - só, nu, e com a mão no bolso - as consequências de seu ato intemerato, supostamente heróico, e, ansioso, tenso, amedrontado, viva à espera da reação dos oponentes dele - não são intelectuais abnegados, que se limitam a observar e analisar os eventos; fosse assim, eles não esbravejariam tanto, com tanta raiva, que se esforçam, em vão, para conter, sempre que o presidente assume uma postura que não corresponde à que eles consideram a correta e toma uma decisão que não está em acordo com as diretrizes do manual deles. A postura deles, cômica. Eles se fazem de aliados e apoiadores do presidente, mas estão sempre constrangendo-o com  críticas construtivas, que não têm efeito prático, e teorias que a realidade da política brasileira do dia-a-dia rejeita.

E o que dizer dos inimigos do presidente? Até a véspera da publicação da Carta à Nação, eles declaravam aos quatro ventos que era ele um ditador, um golpista, que iria, agora, com a sua exibição de força popular (o que contrastava com a narrativa midiática que indicava que fôra pouca, minúscula, ou nenhuma, a adesão popular às manifestações, e, portanto, ao presidente, e com a que, há meses imprensa, institutos de pesquisa e políticos de oposição publicavam, a de que ele perdia apoio popular e aumentava-lhe a rejeição), exibindo suas garras anti-democráticas, autoritárias, golpistas, ditatoriais, totalitárias, encerrar, em definitivo, as atividades do STF, do Senado e da Câmara dos Deputados, e assumir plenos poderes, a sustentar-lhe a autoridade absoluta as Forças Armadas. A imprensa nacional e a internacional já tinham prontos os discursos de condenação às ações disruptivas do ditador brasileiro, para os inimigos dele um ser híbrido de Hitler e Mussolini, pior que ambos. A campanha difamatória estava pronta. Aguardavam os inimigos do presidente, ansiosos, a lamber os beiços de prazer, a prelibar a conquista, o presidente decidir pela prisão de algum ministro do STF, ou de algum governador; ele, todavia, se lhes opôs às expectativas, silenciando-os. Diante da inesperada, imprevisível decisão presidencial, restou-lhes alcunhá-lo covarde, frouxo, arregão, e difamá-lo. Era-lhes visível a frustração. Agora, não tinham eles o crime, o de atentado à Democracia, a imputar ao presidente Jair Messias Bolsonaro. E encerrou-se o capítulo 7 de Setembro de 2.021, cujo ato derradeiro foi o da Carta à Nação. E dá-se continuidade à história, agora em um novo capítulo.
Qual foi o ato inicial do capítulo que se encerrou com a publicação da Carta à Nação? Não sei. Em retrospectiva, observo os atos que recheiam tal capítulo, e vou retrocedendo até os estertores do mês de março do seminal ano de 2.021, ano emocionante, repleto de reviravoltas, fenômenos fantásticos, ano de vibrar de entusiasmo o coração dos homens, e vejo um ato: o da substituição, pelo presidente, do comando das três Forças Armadas. E, após retirar duas folhas do calendário, no mês de maio, dia 7, vejo o passeio, de moto, do presidente, este a levar a tiracolo o ministro da Infra-estrutura, Tarcísio Gomes de Freitas (Tarcisão do Asfalto, para os íntimos; Thorcísio, para os fãs de histórias em quadrinhos), na ponte de Abunã, sobre o Rio Madeira, fronteira do estado do Acre com o de Rondônia. Após estes dois atos, nota-se uma alteração na postura do presidente. Dias depois, a inspirá-los o que se viu sobre o Rio Madeira, apoiadores e admiradores do presidente o convidaram para um passeio de moto pelas largas e extensas avenidas de Brasília - e ele não se fez de rogado. Esta é a narrativa oficial. Pergunto-me, no entanto, se os apoiadores do presidente haviam, de antemão, confabulado, amistosamente, com membros da equipe presidencial a respeito do passeio em Brasília e dos outros que se lhe seguiriam, e antes, mesmo, do ato que o presidente e seu popular ministro protagonizaram na ponte que conecta o Acre à Rondônia (e não é tolice pensar que muitos motoqueiros pertencem à equipe do presidente). Emprestaram aos passeios de moto, fenômenos de popularidade, cores de ações espontâneas, a trama assumindo ares de iniciativa popular, e não de uma orquestração minuciosa de uma atividade política de grande envergadura, que ia em favor do presidente, sem que o indigitassem o seu patrocinador. Apenas os personagens que participaram da confecção da trama podem, dela, dar testemunhos fidedignos. Que tenham sido os passeios de moto ação política orquestrada pela equipe do presidente; que tenham sido atos de iniciativa popular de apoiadores e admiradores dele, o resultado o conhecemos, ou acreditamos conhecê-lo. 
Seguiu-se ao passeio de moto na ponte de Abunã o pelas avenidas do Distrito Federal, o na cidade do Rio de Janeiro, e outros, em outras capitais estaduais, e, enfim, o na cidade de São Paulo, o que mais contou com participantes. E os meios de comunicação - na verdade, de subversão - a declararem que foram os passeios de moto fracassos retumbantes e a apontarem, com o apoio de institutos de pesquisas, que perdia o presidente apoio popular e a alcunharem os bolsonaristas com os epitetos mais depreciativos que a maledicência humana jamais concebeu. Sucedendo-se os passeios de moto, o presidente intensifica as críticas, não ao STF, mas a dois de seus ministros neles concentrando-as, e sempre com mais vigor, criando, deles, no imaginário popular, a figura de criaturas repulsivas, e assim voltando para eles a atenção do povo, anula o discurso midiático, que lhe faz a caveira; e quanto mais ele eleva o tom de voz, quanto mais ele aumenta o engajamento popular nas manifestações a seu favor, mais a imprensa vende a idéia, que pouca gente compra, que ensina que é ele e os bolsonaristas anti-democráticos, e que está ele, com apoio deles, irrestrito, a preparar um golpe militar. O recrudescimento das tensões, os beligerantes a sinalizarem que não recuariam nem sequer um passo, a mídia o interpretava como ato de agressão exclusivo do presidente, ele, unicamente ele, a desrespeitar as instituições democráticas com o objetivo de provocar uma ruptura institucional, que faria da terra inferno.
E chegamos ao fatídico dia 7 de Setembro de 2.021. Na antevéspera, o presidente Jair Messias Bolsonaro visita o estado de Pernambuco, berço do seu principal rival nas eleições de 2.022, e multidão em festa acolhe-o de braços abertos, alvoroçada, entusiasmada. Na véspera publica-se uma carta, assinada por mais de uma centena de sumidades, intelectuais, ex-presidentes, ex-primeiro-ministros, todos de esquerda, a alertar o mundo para a corrosão da democracia brasileira, para as ameaças anti-democráticas que o presidente brasileiro representava às liberdades, e manifestantes, à noite, em Brasília, removem das avenidas as barricadas que impediam veículos de se aproximarem da Esplanada dos Ministérios e da dos Três Poderes - o trovejante soar das buzinas de caminhões e carros, ensurdecedor, petrificou os inimigos do presidente, que previram que ele executaria uma ação de força, e com amplo e irrestrito apoio popular, a escudarem-lo as Forças Armadas e a Polícia Militar. O presidente iria, enfim, converter-se no ditador que seus inimigos tanto temiam. Foi esta a conclusão à qual chegaram antes de os relógios baterem as vinte e quatro horas do dia 6 de Setembro. E no dia 7 de Setembro, discursa o presidente duas vezes, primeiro, em Brasília, diante de multidão de apoiadores, e, segundo, em São Paulo, cidade, na Avenida Paulista, para multidão maior do que aquela que o ouvira em Brasília. O sucesso de seus discursos, retumbante, inegável. E concentra o presidente as críticas, nestas duas ocasiões, a um ministro do STF, Alexandre de Moraes. Encerrado o dia 7 de Setembro, ao alvorecer do dia 8, amigos e inimigos do presidente aguardaram, ansiosos, impacientes, dele, o anúncio de medidas de força - os amigos as desejavam porque as entendiam justas e corretas, os inimigos as repudiavam, mas queriam que ele as tomasse para alcunhá-lo ditador e mover contra ele as engrenagens de organizações políticas e midiáticas mundiais. E o presidente publica a Carta à Nação. E a história assume contornos inesperados. O que se viu foi o espanto inicial de todos os brasileiros e a multiplicação milagrosa de explicações de infinitas tendências, das mais inusitadas origens, uma cornucópia de comentários, que revelavam, não segurança, inexistente, que muitos desejavam manifestar, mas confusão.
As explicações que aventaram gregos e troianos para a redação da Carta à Nação, inúmeras; e ninguém sabe, mesmo que, de peito estufado, diga que sabe, o que fez o presidente dá-la a público em vez de executar as medidas de força que os brasileiros dele esperávamos. Muitos são os que presumem saber o que vai dentro da cabeça do presidente. Não há viva alma que lhe antevira a decisão; mente quem diz que sabia, ou intuía, que ele enviaria à nação uma carta.
Antes, alcunhavam o presidente autoritário, antidemocrático, ditador e golpista; agora, chamam-lo arregão, covarde e frouxo. Sonharia quem esperasse que os inimigos dele reconhecessem que sempre mentiram-lhe a respeito, que lhe criaram imagem que não corresponde à realidade apenas para, cuspindo na imagem que lhe criaram, atacarem-lo, sem que ele possa se defender, e destruí-lo. O presidente quebrou-lhes a espinha dorsal, no último instante.
O presidente Jair Messias Bolsonaro não atendeu os anseios dos seus inimigos declarados, e aos dos dissimulados, que lhe apertam as mãos, amicíssimos, e lhe declaram lealdade imarcescível: o de atuar com força, destituindo de seus cargos ministros do STF e governadores. A Carta à Nação, ducha de água fria sobre os inimigos do presidente, que estavam em posicão de ataque, prontos para cantar aos quatro ventos que é ele um político inescrupuloso, um ditador, um golpista, agora a ilustrar-lhes a narrativa algo de concreto (e nada me tira, nem à fórceps, da cabeça, que estavam os conservadores revolucionários prontos para cuspir na cara do presidente a responsabilidade exclusiva pelo caos que se seguiria à ação de força presidencial, e abandoná-lo às hienas, que o atacariam, de todos os lados, com tal voracidade que ao ataque ele não resistiria um dia sequer).
Não sei o que se conversa no círculo de homens de confiança do presidente. Não sei quantos são os personagens nele inscritos. São poucos, presumo. Além do presidente, o general Heleno, penso, e, talvez, mais um. A Laurinha Bolsonaro, acredito - ela não é um homem, mas é da confiança de Jair Messias Bolsonaro.
E inicia-se outro capítulo da história do Brasil.