domingo, 2 de junho de 2024

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 Piruás e Farelos - volume 41.


Biblioteca Nacional Digital de Portugal


O site Biblioteca Nacional Digital de Portugal é um baú de tesouros. Tem obras clássicas da literatura portuguesa e de outras literaturas em pdf, edição facsimilar de edições antigas, de dois, três, quatro séculos. Nele encontrei, baixei, e li obras de Diogo do Couto, Alexandre de Gusmão, Gabriel Soares de Sousa, João de Barros, Damião de Goes, Padre Antonio Francisco Cardim, Fernão Lopes de Castanheda, Ruy de Pina, Sebastião da Rocha Pita, e outros clássicos e algumas obras curiosas.


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Mais livros, menos armas.


- Mais livros, menos armas.

- É fácil falar "Mais livros, menos armas". Difícil é ler livros, e bons livros. Vai um Machado de Assis, aí?! E um Dostoiévski?! Quer um Platão?! Ou prefere Camões?! Dante?! Você já ouviu falar de Sófocles?! E de Cervantes?! Que tal o Balzac?! Aceita uma dica?! Ésquilo. Mais uma?! Shakespeare. Outra?! Santo Agostinho. Mais uma, a última: Santo Tomás de Aquino.


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O fim do homem de princípios.


Qual é o fim do homem de princípios?!


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A receita de patê de cebola.


Li, numa tampa de um pote de creme de ricota: "No verso, receita de patê de cebola." "Legal!" - pensei, eufórico - "Uma receita de patê de cebola!" Gosto de patê. E mais ainda de cebola. E de patê de cebola, então, não sei o que dizer. Só de pensar em patê de cebola, dá-me água na boca. Meu sorriso foi de orelha à orelha. Era eu a alegria em pessoa. Todavia... No entanto... Alegria tão breve... Frustrei-me logo. E desanimei, e cabisbaixo estou até agora, pois não havia na tampa do pote outra informação, a que eu procurava, a que respondia à pergunta que eu me fazia: "No verso de qual estrofe da poesia de qual poeta a receita de patê de cebola está?"


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Pensar com a própria cabeça, ou macaquear coisas sem pé nem cabeça saídas de outras cabeças.


É fácil saber se uma pessoa está a pensar com a própria cabeça ou a macaquear certas verdades sem pé nem cabeça: basta contar-lhe histórias, e ouvir-lhe, atentamente, os comentários.

Uma história: Confrontaram-se, em Belo Horizonte, policiais e bandidos, e um dos policiais matou um dos bandidos.

Outra história: Durante um tiroteio, em São Paulo, um bandido matou um policial.

E quais comentários se ouve após se contar estas histórias?

Algumas pessoas choram a morte do bandido, condenam o policial que o matou, e diz que o bandido que, em São Paulo, matou o policial é uma vítima da sociedade e que o policial assassinado é um agente da opressão capitalista burguesa de um governo fascista e genocida. Outras pessoas, tergiversando, fazendo-se de isentos, e moral, e intelectualmente, superiores, apresentando, assim dão a entender, uma análise objetiva, desapaixonada, dos fatos, evocam renomados pensadores, para, ao final, declararem, orgulhosos da sofisticada evolução dos argumentos que apresentaram, que os bandidos são vítimas da sociedade, e não bandidos, e que os policiais são seres abjetos, assassinos crudelíssimos, e que a letalidade policial é uma chaga social, e pedem pelo fim da polícia. E outras pessoas, as que para muita gente são retrógradas, preconceituosas, atrasadas, elogiam os policiais, lamentam a morte do policial assassinado, e oferecem condolências aos familiares dele, e afirmam, de viva voz, que bandido é bandido e porque bandido tem de ser tratado como tal.

Ouvindo-se tais comentários, sabe-se quais valores as pessoas que os emitem defendem.


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O anticapitalista quer ser oprimido pelo capitalista.


João, esquerdista, anti-capitalista, enaltece revolucionários comunistas, pede pelo fim da iniciativa privada. E à procura de emprego vai à uma empresa capitalista, onde lhe agendam uma entrevista com o capitalista, José. No dia e hora aprazados, reúnem-se João e José numa sala da empresa. E José principia a palestra com estas palavras:

- João, você é um esquerdista, um socialista, um anticapitalista. Você diz que todo capitalista é opressor, condena o lucro, defende o fim da iniciativa privada. Por que você veio à procura de emprego, se eu sou um capitalista?! Convença-me a contratar você. Eu sou um opressor, você diz; e você pede-me emprego. Ora, você quer que eu oprima você? Se você pede pelo fim da iniciativa privada e tem no lucro um mal a ser eliminado, eu concluo que você quer a minha destruição. Estou certo?! Então, por que eu contrataria você?! E não entendi porque você veio se me oferecer para ser por mim oprimido. Juro que não entendo a sua conduta.


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O primeiro escritor a me dar um soco no cérebro.


Crime e Castigo, de Dostoievski, foi o primeiro livro da literatura russa que, caindo-me às mãos, eu li. Uma aventura inesquecível a leitura, empreendida há uns trinta anos. Foi-me um soco no cérebro - e de tal golpe eu ainda não me recuperando, no ano passado reli o livro. Que insensatez! Ou sensatez, sei lá.

Depois deste capítulo da minha minguada biografia, além de outros livros de Dostoievski, li obras de Leon Tolstoi, Alexei Tolstoi, Gogol, Pushkin, Ievutchenko, Gorki, Pasternak, Saltykov Shchedrin, Tchekov, Turgueniev, e mais um punhado - e da maioria dos que compõem o punhado contos unicamente.

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