segunda-feira, 22 de março de 2021

Resenha

 Resenha do livro A Teoria dos Pensamentos Randômicos, de José Carlos da Silva Quinha - por Joaquim Beltrano da Silva Fulano Cicrano de Souza - publicada no Zeca Quinha Nius.


O Zeca Quinha Nius, o maior e melhor, mais famoso e mais popular, hebdomadário digital do orbe terrestre - astro celeste que orbita o Sol, estrela que, além de iluminá-lo, ilumina outros oito planetas, e separa da noite o dia, - tem o prazer de publicar, hoje, especialmente hoje, e não ontem, e nem amanhã, uma resenha de um livro, A Teoria dos Pensamentos Randômicos, de autoria de José Carlos da Silva Quinha, para os íntimos Zeca Quinha, nosso querido e amado, primeiro e único fundador do Zeca Quinha Nius, e seu editor-chefe e chefe do seu editor.

São proverbiais, sabem os leitores do nosso bem reputado hebdomadário digital, Zeca Quinha Nius, a sabedoria e a primorosa formação intelectual de José Carlos da Silva Quinha - para os íntimos, Zeca Quinha -, seu primeiro e único fundador e editor-chefe, homem que, dotado de inúmeros e incontáveis diplomas universitários, prova de sua insígne constituição mental, psicológica, literária, filosófica, histórica, geográfica, gramatical, metafísica, sociológica, etnológica, antropológica, astronômica, cosmonáutica, biológica, química, venatória, astrológica, física e astrofísica, aritmética, geométrica e algébrica, exibe, magistralmente, nos artigos de sua autoria, todos extraordinariamente excepcionais, recheados de erudição, escritos em estilo primoroso, ático e barroco, parnasiano e clássico, romântico e gótico, numa retórica soberba, de estética impecável, todos os ingredientes, formidáveis, que lhe compreendem a personalidade, de ânimo imarcescível, de espírito aguerrido, de um valente e destemido guerreiro, de um altivo lutador da liberdade de imprensa e da de opinião. As suas fama e popularidade, popularmente famosas, desobriga-nos de escrever um bosquejo histórico minucioso, contando sua vida desde o dia em que veio ao mundo no dia que ao mundo veio do ventre de sua mãe, da sua biografia, já mundialmente conhecida, e reconhecida como uma das mais meritórias da atualidade de hoje em dia, nestas palavras de introdução à resenha do seu livro A Teoria dos Pensamentos Randômicos, obra de valor incalculável, de inestimável contribuição à valiosa cultura filosófica brasileira, desta ampliando exponencialmente o valor.

Na sua primeira obra-prima - e que não será a última, desejamos - à qual se dedicou, durante vários dias consecutivos, num labor diário extraordinariamente desgastante e simultaneamente prazeroso e gratificante, José Carlos da Silva Quinha, o nosso querido e amado Zeca Quinha, primeiro e único fundador do Zeca Quinha Nius, hebdomadário digital de enorme popularidade em todo o orbe terrestre, cujos artigos são de autoria de jornalistas dotados de vários diplomas universitários, presenteia-nos um pensamento que, de tão original e sofisticado, derruba o queixo de todas as pessoas que, de olhos esgazeados durante a leitura, tem-lhe contato ao lê-la. É um exercício intelectual valiosíssimo o seu A Teoria dos Pensamentos Randômicos.

Consiste tão intelectualmente bem formulada teoria, uma obra intelectual que representa o auge do poder criativo da espécie humana, na detecção de coerência e incoerência, conexão e desconexão, de pensamentos associados e dissociados que seguem sem seguir uma trilha racional e irracional destituída de lógica intrínseca adaptada à ilogicidade extrínseca à essência da lógica em sua formulação abstrata racional em cuja cerebrina elucubração metafísica não está incluída a racionalidade de raiz dialética do transcendentalismo imanente ao pensamento-em-si-e-por-ele-mesmo, pensamento, aqui, no singular, pensamento que, em síntese resumida, sintetiza, e resume, o pensamento-em-si dos pensamentos plurais, que se encadeiam num encadeamento que se origina no primeiro pensamento que lhe dá origem e origem aos pensamentos encadeados, e encerra-se, terminante e concludentemente, no pensamento que dá fim ao raciocínio, conquanto inexista o elo dialético que os encadeiam num pensamento coeso. Assim apresentada em tão poucas palavras, a teoria que José Carlos da Silva Quinha - o primeiro e único fundador e editor-chefe do hebdomadário digital Zeca Quinha Nius, o maior e mais popular hebdomadário digital do orbe terrestre, o único orbe terrestre de todos os tempos - concebeu apresenta elementos paradoxais, que, sendo e não sendo seus, revelam-se apropriados e inapropriados ao exame detido e aprofundado da realidade que nos cerca e na qual estamos, sem de tal nos conscientizarmos, imersos - dos pés à cabeça aqueles que nela penetrou primeiro os pés, e da cabeça aos pés aqueles que nela mergulhou primeiro a cabeça. Não transparece tal aspecto da teoria à mente dos desavisados, que, desprovidos de formação intelectual requintada comum às pessoas providas de diplomas universitários, são incapazes de apreendê-lo; e se lhes aflora à cabeça o desconforto que a estranheza intrínseca à imanência ontológica da teoria lhes inspira. E nesta confusão, compreensível, mas não justificável, os de formação intelectual aquém do exigido pela Teoria dos Pensamentos Randômicos, não a compreendendo em sua inteireza, tampouco uma parcela ínfima do seu teor, concluem que José Carlos da Silva Quinha, a mente privilegiada que a concebeu, é homem de inteligência superior, um espírito irrivalizado, um gênio universal e cósmico, não porque lhe compreende o talento, o gênio, mas porque, incapaz de compreendê-lo, simula compreensão, no desejo, reprovável, de não se revelar um asnático ignorante, um azêmola intelectualmente desqualificado, um alarve despudorado, um javardo ridículo.

Para desfazer confusões voluntárias e involuntárias, ilustra o autor desta resenha ao A Teoria dos Pensamentos Randômicos, do ilustre José Carlos da Silva Quinha, Zeca Quinha para os íntimos e admiradores (e muitos de seus admiradores são seus íntimos e muitos de seus íntimos são seus admiradores), com um exemplo, esclarecedor, clarificante e ilustrativo, no parágrafo subsequente a este.

Há, numa casa, além das duas pessoas que nela residem, em um aquário (com água ou sem água, não vem ao caso), um tatu, e, no galinheiro, um pato; há, portanto, em tal casa, quatro animais, dois seres vivos humanos e dois seres vivos não-humanos. E no quintal há uma pedra. Há, na casa, portanto, desconsiderando todos os outros dados - que não são dados, e tampouco dados - que não são úteis para este exemplo, cinco objetos (quatro seres vivos: dois humanos, um tatu e um pato) e um ser, a pedra, que não é um ser vivo, mas um ser, para efeito de explicação, morto. Dadas estas informações, concluí-se: as girafas não sabem ler os livros de Shakespeare e o Taj Mahal não está dentro de um formigueiro.

Lendo-se o parágrafo anterior, que ilustra a Teoria dos Pensamentos Randômicos, ilumina-se o cérebro do leitor, que, até o momento envolvido em trevas, apreende a essência do pensamento de José Carlos da Silva Quinha, nosso querido e adorado Zeca Quinha, o primeiro e único fundador do Zeca Quinha Nius, o mais popular e respeitável hebdomadário digital do orbe terrestre, a mente privilegiada que a concebeu, ao detectar-lhe a constituição da sua lógica ilógica e a sua dialética escalafobética, diabólica de tão singular e simplesmente complexa.

Nas derradeiras palavras desta resenha, reproduzimos a frase, que está gravada no frontispício do livro A Teoria dos Pensamentos Randômicos, de autoria de José Carlos da Silva Quinha, - Zeca Quinha, para os íntimos -, frase que lhe serve de epígrafe e de cuja substância é o livro uma paráfrase: "Há angu neste caroço."

domingo, 21 de março de 2021

Alpiste

 Comprando alpiste - Mensagem do Barnabé Varejeira


Cérjim, depois da chuvarada dos úrtimo dia, hoje, ansim que o galo cantô, o sór despertô, e com vontade, muinta vontade. E tá de rachá a cabeça de todo fio de Deus, e até cabeça de tatu. E tatu tamém é fio de Deus, ora bolas! Tá um sór bonito, que só veno. A chuvarada troce vento (ou os vento troce a chuvarada, não sei), que derrubô duas arvre, e das grande. Sorte que não caíro as árvre em arriba da casa de ninguém; uma delas atingiu a casa dos cupim, mas casa de cupim, forte, aguentô a pancada.

Saí hoje cedo, bem cedo, pá í à cidade. Antes de saí de sob o teto que me guarda à noite enquanto gozo do sono dos justo, com a mia consorte ao meu lado, e os meu fio nos otro quarto, bebi do leite com café que a patroa me preparô com todo o carinho do mundo e comi de um pedaço de bengala, que tava uma gostosura. Com o meu primo Bernardo, fui à cidade, de carro. Meu primo dirigiu a geringonça, que tá caino aos pedaço. Eu já falei, inúmeras veiz, pa ele trocá de carro, mas ele não qué nem pensá em tar idéia; ele me disse inúmeras veiz que há de morrê com aquela geringonça, vái levá ela po túmulo. Que ansim seja. A decisão é dele; minha não. Ele é que vai gastá uma dinheirama pá fazê um caixão que caiba ele e o tatu-gasolina. Eu, por mim, dava fim àquele calhambeque; mas o Bernardo é quem decide; o carro é dele.

E fomos, então, meu primo e eu à cidade comprá lâmpa, e, pô trator, óio díser. Távamos meu primo e eu passano à frente dum açogue quando me alembrei de que não tinha eu em casa arpiste pô canarinho, canarinho-da-terra. "Eu tô na cidade, mermo, então vô aproveitá a oportunidade e comprá arpiste.", pensei comigo. E entrei no açogue. Acheguei-me ao ómi que tava atendeno as pessoa, e preguntei pa ele: "Moço, quar é o preço do arpiste?" Ele me oiô com óios de quem não entendeu o que eu lhe disse, meio arregalado e meio fechado, e me disse: "Senhor, nós não vendemo arpiste." Senti uma ponta de desdém na voz dele, mas não fiz caso, e preguntei pá ele: "Não preguntei po cê se oceis vende arpiste. Preguntei quar é o preço do arpiste.", e insisti: "Quar é o preço do arpiste?" "Senhor, aqui é um açougue.", disse-me ele. Aí, Cérjim, me enfezei, virei bicho do mato. "Só pruque sô véio, o ómi da cidade me destrata. Ele vai vê o que é bão pa tosse.", pensei cos meu grilo, controlano meus nervo. O cê não imagina, Cérjim, a quentura do meu sangue que corre nas minha veia. Tava ferveno; se eu não controlasse meus nervo, eu ia dá uma sova naquele azêmola. E eu retruquei: "Sei que aqui é um açogue. Eu não preguntei se aqui é um açogue. Preguntei quar é o preço do arpiste. O cê sabe quar é o preço do arpiste?" E aí o ómi me arrespondeu, de mal humor: "Dez real o quilo." E eu, mais enfezado um poco, retruquei, oiano paquele paquiderme desmiolado que tava me tirano dos nervo: "Ô, fio de Deus, eu não preguntei quar é o preço do arpiste. Preguntei se o cê sabe quar é o preço do arpiste." E o cê sabe, Cérjim, o que aquele gambá fez? Ele riu, e riu de mim, e na mia cara. Enfezei-me de vez. E espaventei o bichano, que recuô uns três passo, fugino do meu punho, que pus bem no meio do nariz dele. E então veio me atendê otro ómi, que pediu pa o que falava comigo í pá dentro. Fez bem a criatura sumi da frente dos meu óio. Eu não quis mais conversa, e saí do açogue. Cérjim, com toda a siceridade, o ceis da cidade são uns desmiolado; não sabe arrespondê às pregunta que a gente faz, e separa todas as coisa, cada coisa em uma loja. Aí na cidade, açogue, me disse meu primo Bernardo, vende carne, e carne, só carne. Aqui, não; aqui, o Seu Tóinho, que já pesa oitenta e dois ano de vida bem e mal vivida, vende, no açogue dele, carne, sorvete, manteiga, bolacha, pneu, rapadura, relójo, pé-de-moleque, pipa, pião e arpiste, e otras coisa. E as pessoa da cidade, repito, Cérjim, não sabe arrespondê às pregunta.

Preguntei po ómi do açogue quar é o preço do arpiste, e ele me disse que não vende arpiste; mas eu, Cérjim, não lhe preguntara se ele vendia arpiste; preguntara-lhe o preço do arpiste. Em seguida, preguntei pa ele, de novo e uma vez mais, quar é o preço do arpiste; e ele, raios! me disse que lá era um açogue. Bolas! Eu sabia que era um açogue. Diabos! Mas eu não lhe preguntara se era um açogue; prerguntara-lhe quar era o preço do arpiste. Depois, preguntei pa ele se ele sabia quar é o preço do arpiste. E o que aquele bestaião me arrespondeu?Que um quilo de arpiste custa dez barão. Que diacho! Eu lhe preguntara se ele sabia o preço do arpiste, e não quar era o preço do arpiste. Quano eu lhe preguntara quar era o preço do arpiste, ele não me dissera; agora, quano eu lhe perguntara se ele sabia quar era o preço do arpiste, ele me diz o preço do arpiste. O cêis da cidade têm os miolo desparafusado.

O lado bom desta instória, Cérjim, é que o canarinho não ficô sem arpiste, que eu comprei no açogue do Seu Tóinho, por oito barão o quilo. Saí no lucro.

Té mais, Cérjim. Que Deus te abençoe, e tamém a sua famia.

Inté.

sábado, 20 de março de 2021

Capitão dos Andes

 O Capitão dos Andes (História Pitoresca de um Caudilho) - de Raymundo Magalhães Júnior


Prendeu-me este livro a atenção, e desde a primeira página. E com a leitura, interrompida poucas vezes para a execução de algumas atividades, e para dormir uma noite, aumentava o meu apreço pelo livro, que me surpreendeu favoravelmente, e pelo autor, que se me revelou um escritor primoroso, dotado de recursos literários que lhe permitem o controle da narrativa, a correta exposição da trama, e a exibição das personagens, que se revelam em sua integridade. Pediu-me, melhor, exigiu-me, o livro leitura dedicada, atenta, o que nenhum esforço me custou, afinal, além de escrito com esmero, não descarrega informações que em nada o enriquecem. E não moveu o autor a pretensão de escrever uma obra imorredoura; ele se limitou a romancear um fato histórico sucedido, em meados do século XIX, na Bolívia.

É O Capitão dos Andes (Histórica Pitoresca de um Caudilho) um romance histórico. É pitoresca, e patética, ridícula, tragicômica, a história de Dom Manuel Mariano Melgarejo, que é identificado ora como Dom Mariano, ora como General Melgarejo. A aventura se deu em meados do século XIX, o Brasil então sob o Império de Dom Pedro II. Político aventureiro, de mentalidade totalitária, bate-se Dom Manuel Mariano Melgarejo, numa guerra caudilhista, com Isidoro Belzu e é por ele derrotado. Seu inimigo não era flor que se cheirasse. E Dom Manuel Mariano Melgarejo não se lhe sobressaía em virtudes. Embora suplantado em combate pelo seu rival, acaba por eliminá-lo numa ação arriscada, temerária, surpreendentemente bem-sucedida: o da invasão do Palácio do Governo, em La Paz, empregando artifícios grosseiros que se lhe revelaram favoráveis.

Após assumir o poder na Bolívia, Dom Manuel Mariano Melgarejo empreende ações que lhe satisfazem as ambicões totalitárias. Conhece Juanita Sanchez, moça de atrativos que o seduzem, e ele, mesmerizado pela beleza de tal moça, pobre, órfã de pai, vivendo com a mãe, na companhia de um irmão e uma irmã, e que vivia da pouca renda que auferia de um botequim, adota-a como a sua preferida, convertendo-a na Dona Juanita Sanchez, a única pessoa que tem o poder de lhe impor a vontade e impeli-lo a reconsiderar algumas de suas ações assassinas. Não demora muito tempo, enfrenta sedições, que nascem da urdidura conspiratória de Castro Arguedas (e de outros aventureiros), que o confronta em batalha sangrenta, e o derrota.

À medida que amplia-se o seu poder com a eliminação de seus adversários e com a subjugação da aristocracia de La Paz, Dom Manuel Mariano Melgarejo intensifica a política plenipotenciária, massacra os dissidentes, rouba aos nativos suas terras, deporta os insubmissos, dissipa os recursos públicos, humilha o povo; todavia, na mesma proporção do seu ganho de poder aumenta o descontentamento da população, que deseja alijá-lo do Palácio do Governo, mas que, sem os meios para empreender a ação que resultará em tal ato, resigna-se. E sucedem-se as expropriações de propriedades e de terras, sob a responsabilidade do General Antezana, que, na sua caça aos índios, invade território peruano, criando um incidente diplomático com o governo peruano. No uso da força, conquista Dom Manuel Mariano Melgarejo a lealdade da imprensa. E seguem-se as orgias, as bebedeiras, no Palácio do Governo. E para agradar Dona Juanita Sanchez, que deseja brilhar na alta sociedade, aritocrática, de La Paz e comprar-lhe jóias e vestidos suntuosos, confisca propriedades e arquiteta uma tama, que consiste numa falsa acusação de conspiração contra os aristocratas de La Paz que não se lhe haviam curvado, submissos. E tão bem urdida, que os subjuga. Após ameaçar matá-los, finge atender às súplicas das esposas deles, e liberta-os.

Tem, agora, Dom Manuel Mariano Melgarejo, os aristocratas sob sua vontade, todos a se genuflexionarem diante dele, reverentes e amedrontados, e de Dona Juanita Sanchez, que passa a ser admirada pelas aristocratas, que antes a desdenhavam. E seguem-se as deportações dos inimigos do governo. E os massacres. E os fuzilamentos.

Ao mesmo tempo que se dedica às negociações com o Conselheiro Lopes Neto, representante do Império do Brasil, acerca das demarcações fronteiriças entre a Bolívia e o Brasil, Dom Manuel Mariano Melgarejo, antes de convocar uma Assembléia Constituinte e votar nova constituição (que perderia validade logo após promulgada, pois ele considerava-a um empecilho à sua ambição de exercer plenos poderes), eliminou da vida pública, com exílio ao Chile e ao Peru, e à morte, seus adversários. Promulgada a Nova Constituição, que ele revogou após um louco atacá-lo, aproveitou, sem titubear, do incidente, e gritou aos quatro ventos que havia contra seu governo uma conspiração, que ele cuidou abortá-la em seu nascedouro. E seguiram-se massacres, fuzilamentos, expropriações de terras. E sublevações de índios. E sedições.

O povo, massacrado, humilhado, na iminência de ser dizimado, encontra forças, que se acreditava inexistentes, para reagir contra Dom Manuel Mariano Melgarejo, o homem que o maltratava com crueldade diabólica e de quem a imprensa local escrevia hagiografias.

A história do caudilho boliviano revela o que há de mais tétrico, de mais asqueroso, de mais repulsivo, de mais condenável, de mais insano, de mais doentio, na alma dos homens dotados de mentalidade revolucionária, totalitária. Narra a vida de um homem que, na presunção de entender-se um ser superior, uma entidade privilegiada provida de poderes divinos, dotado do poder de governar o mundo, revela-se, não o ser supremo que ele pensa ser, mas um sujeito reles, minúsculo, desprezível, patético, ridículo, o suprassumo da animalidade humana. É Dom Manuel Mariano Melgarejo um emblema do caudilho e de todos os homens que almejam o poder absoluto.

Merece O Capitão dos Andes (História Pitoresca de um Caudilho), de Raymundo Magalhães Júnior, leitura atenta e divulgação. É livro de escritor consciencioso. De leitura agradável. E instrutivo.

Quo Vadis?

 Quo Vadis? - de Henryk Sienkiewicz


As primeiras páginas deste livro não me prenderam a atenção; persisti, no entanto, na leitura da aventura de amor entre Marco Vinício, cônsul romano, sobrinho de Petrônio, autor de Satiricon, e Lígia, cristã, filha do rei dos lígios, capturada pelos romanos, e serviçal de Pompônia Grecina cujo filho, Aulo, estava sob seus cuidados.

O autor inicia o relato dos desencontros entre o cônsul romano e a filha do rei dos lígios, com a descrição de um panorama da sociedade romana, de sua cúpula de poder, do imperador Nero e de quem lhe é próximo, de seu círculo político circunvizinho. Ao ter diante de seus olhos a bela Lígia, Marco Vinício apaixona-se por ela de imediato, e, recorrendo ao seu tio, Petrônio, obtêm, de Pompônia Grecina, o direito de fazer da filha do rei dos lígios sua mulher. Lígia, no entanto, foge, protegida por Ursus, um lígio de força descomunal, inigualável, um Hércules lígio.

Estamos nos tempos do imperador Nero, tempo em que ainda caminham pela Terra os apóstolos Pedro e Paulo de Tarso, não muitos anos, portanto, após a crucificação, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Para raptar Lígia, Marco Vinício recorre a Chilon Chilonides, um grego perspicaz e interesseiro, que, no decorrer do relato, revela sua personalidade traiçoeira e covarde. Após inúmeros contratempos, consegue para si Lígia, perturbado ao compreender as diferenças, que não podem ser extintas, entre as duas crenças, a dele, pagã, romana, herdeira do politeismo grego, e a de sua amada, Lígia, cristã, que convive com os apóstolos Pedro e Paulo de Tarso. Para o sucesso de seu empreendimento, tem de pisar em ovos, pois é sua querida e adorada Lígia cristã. Viviam ambos numa época em que os cristãos não gozavam de nenhum direito civil em Roma; eram párias; a condição humana deles não era respeitado pelos romanos, principalmente por aqueles que detinham o poder em Roma; eram malvistos. Eram, enfim, inimigos do império romano.

Durante o decurso de sua ação para tirar Lígia de sob os cuidados dos cristãos e da proteção de Ursus, Marco Vinício, sob influência da personalidade amável dela, do ambiente, vivendo em meio aos cristãos, que recendia à bondade, o amor pelas pessoas, vêm a reconsiderar suas idéias. Queria Lígia consigo, mas sem forçá-la a ir com ele; que ela o amasse, e só assim se decidisse viver com ele sob o mesmo teto. A conduta de Lígia, e, também, a de Ursus, seu fiel e leal protetor, e a dos apóstolos movem o senador romano a acolher Jesus Cristo em seu seio.

Nas primeiras linhas desta resenha, declarei que a obra Quo Vadis? não me prendeu a atenção. E não ma prendeu, de fato; o que me levou a fazer do livro uma leitura descuidada - mas não até a última de suas linhas -, espaçada; deixei o livro, fechado, durante vários dias, sem tirá-lo de sobre a escrivaninha, sem a ele dedicar nenhum interesse; assim, acabei por perder o fio da meada, conquanto algumas cenas estivessem bem gravadas em minha memória; e quando retomei a leitura após a interromper vários dias antes - duas semanas, talvez - o fiz disposto a ir até o final, mas, neste tempo, de mim já se me havia escapado da cabeça alguns detalhes, que, no entanto, não prejudicaram a leitura, que se arrastou até o capítulo que narra o imperador Nero a atear fogo em Roma. Aqui, a leitura esquentou - e que me perdõem o trocadilho infame. O relato, até então insosso, assumiu outro tom, não se prendeu, em seu primeiro plano, nos desencontros e encontros de Marco Vinício e Lígia, caso, este, que, agora, se reduz a um dado irrelevante, desimportante. A narrativa assume ares épicos, trágicos, heróicos. Lê-se Nero a atear fogo em Roma e a iniciar uma caçada aos cristãos, indicados, por ele, como os culpados pela destruição de Roma. E seguem-se cenas grandiosas dos eventos que se dão na arena, os cristãos martirizados, encontrando a morte nas garras e dentes de feras selvagens, que lhes rasgam o ventre, lhes fazem em tiras, para a diversão do populacho, que se entretêm com espetáculos sangrentos indescritíveis, animalescos - e animalescos, aqui, não foram apenas as ações selvagens das feras, mas, também, a selvageria dos romanos, tanto a do povatéu, quanto a dos das classes dominantes. Prendeu-me a atenção as páginas que trazem o relato da tragédia dos romanos, e, mais do que a destes, a dos cristãos. São as trezentas, aproximadamente, páginas que compõem a segunda parte do livro, que tem - na edição que li, um pouco menos de setecentas páginas de leitura cativante. 
Da leitura do livro de Henryk Sienkiewicz tiramos uma idéia do tipo humano que foi Nero, homem cruel, insano, sanguinário, e da mentalidade dos romanos, e de sua cultura - civilizada? ou bárbara?
E nas páginas finais do livro, revela-se que Pedro, o apóstolo, é a pedra inaugural, angular, da Igreja. Ele ouve, do próprio Cristo, palavras, poucas, que o obrigam a cumprir o destino que Deus lhe reservara: o de Pai da Santa Igreja.

sexta-feira, 19 de março de 2021

Um diálogo e um conto

 - E aí, bolsominion! O seu mito, o Bozonazi genocida está destruindo o Brasil. Você viu os índices de desemprego? Nunca se viu tanta gente desempregada no Brasil. E subiu o preço do combustível, e os dos alimentos. Você sabe qual é o preço de um quilo de carne? Nem com todo o ouro do mundo se pode comprar um grama de alcatra. Aumentou pacas! E o do quilo de arroz você sabe qual é? O povão tem de gastar meio salário para comprar um pacote de cinco quilo de arroz. E um litro de gasolina custa os olhos da cara. O que você tem a dizer, gado?!

- Ô, coronalover, desde há um ano você bosteja "O importante é a vida; a economia a gente vê depois." dando a entender que, enquanto durar a pandemia temos de nos preocupar com a vida das pessoas, e não com a condição econômica nacional, e com o das pessoas tampouco; segundo você, tais questões são secundárias, irrelevantes, mesmo, frente à questão maior, a vida das pessoas. Ora, o aumento do desemprego e a elevação dos preços dos alimentos e dos combustível são questões econômicas; portanto, não se preocupe; ocupe-se com a vida, a sua e a de todos; a economia a gente vê depois, afinal ainda estamos numa pandemia; e no seu momento mais crítico, é o que dizem.

- Deixe de lero-lero, bozominion. Desempregadas, as pessoas se desesperam; e com o aumento do preço dos alimentos e dos combustíveis, todos perdemos poder aquisitivo. Os preços aumentaram; os salários, não. E a vida piorou, né, gado!? Você sabia disso?

- Coronalover, você reconhece, então, o elo umbilical entre a vida e a economia. E desde quando? Desde sempre você vê os efeitos negativos das restrições às atividades comerciais, ou só agora porque agora você está sentindo o impacto deles no seu bolso? Se você sabia desde o início da fraudemia, há um ano, e fez pouco caso porque tinha a garantia de seu emprego e não sentia seu poder aquisitivo se reduzir, e reprovou quem alertou a todos para a questão, então você é um patife; se você, com a sua excelsa inteligência, não via a conexão entre vida e economia, então você é burro. Nos dois casos, seja qual for o seu, você foi egoísta, insensível, indiferente ao destino alheio. E não era você que dizia que quem perdeu o emprego não tinha com o que se preocupar, e do que reclamar, pois, estando vivo, poderia conseguir um novo emprego após o fim da fraudemia, que você chama pandemia?! Então, pandemaricas, o que mudou desde então? Você, hoje, com o aumento do preço do combustível e dos alimentos, vê o seu rico dinheirinho escoar, fora de seu controle, por entre os seus dedos? E agora você teme perder seu emprego? A perspectiva não é das melhores, não é, mesmo, coronalover? Você tem olhos para o seu umbigo, unicamente. Aperte o cinto, reduza a sua ração diária, e não se preocupe. "Importante é a vida; a economia a gente vê depois."

*
Meu irmão morreu - Uma história do tempo do coronavírus

Encontraram-se, às onze horas da manhã de hoje, nas proximidades da igreja Nossa Senhora de Fátima, no entroncamento das avenidas José Bonifácio e Joaquim Nabuco, na calçada à frente de uma loja de cosméticos, João Carlos e Roberto Carlos, colegas de trabalho que há alguns dias não se viam. João Carlos gozava, havia dez dias, de férias. Retirara-se havia um minuto da igreja Nossa Senhora de Fátima, e caminhava, lentamente, cabisbaixo. Roberto Carlos saíra do escritório minutos antes, e rumava para um restaurante, distante uns cem metros de onde ele e João Carlos encontravam-se. Saudaram-se. E Roberto Carlos não precisou de mais de um segundo para notar a tristeza estampada nos olhos do seu colega.
- O que se passa contigo, João?! - perguntou-lhe. - As férias não te fazem bem?! Por que a cara tristonha?! O que houve?! Que bicho te mordeu, homem?!
João Carlos não lhe respondeu de imediato; tremeram-lhe os lábios. Fitou Roberto Carlos, que estava ciente de que dele não ouviria boa notícia. E respondeu-lhe:
- Saímos da igreja há pouco meus pais, minha irmã e eu. Eles foram para a casa deles. Eu lhes disse que eu iria caminhar um pouco. Assistimos à missa de sétimo dia da morte de meu irmão.
- Meu Deus! - exclamou Roberto Carlos, sinceramente condoído. - Aceite meus pêsames, João. Seu irmão é mais uma vítima do covid, este maldito vírus.
- Covid!? Não. Meu irmão não morreu de covid.
- Não!? De que mais ele poderia morrer?! - perguntou Roberto Carlos, visivelmente surpreso. As suas palavras incomodaram João Carlos, que tratou de lhe responder.
- Ele não morreu de covid. Ele foi assassinado. Dois ladrões invadiram-lhe a casa. Renderam-lo. Amarraram-lo. Espancaram-lo. Cortaram-lhe, à faca, as mãos e os pés, e a língua, e as orelhas; e esmigalharam-lhe, à marreta, os joelhos, e a cabeça. Mataram-lo.
- Assassinado!? Ele foi assassinado!? Ufa! Que alívio! Alegro-me saber que ele não morreu de covid.


quarta-feira, 17 de março de 2021

Fraudemia 2

 Em Março de 2.020, declararam, em tom alarmista, que o sistema de saúde brasileiro estava na iminência de colapsar. Morriam, então, de gripe provocada pelo covid, por dia, trinta pessoas. O que justificava a quarentena. Estamos em Março de 2.021. Os apocalípticos, em tom alarmista que supera em milhões de decibéis o que usaram em Março do ano passado, declaram que, para evitar o colapso do sistema de saúde, se faz indispensável o o lockdown. E hoje, informam, morrem, de gripe provocada pelo covid, por dia, quase três mil pessoas. Ora, se o sistema de saúde nacional, há doze meses, com trinta mortes diárias, estava para colapsar, por que, agora, morrendo, por dia, o cêntuplo que se morria então, e sabendo-se que quase nenhuma providência se tomou para melhorar o sistema de saúde, este ainda não colapsou?

terça-feira, 16 de março de 2021

Fraudemia

 Desde há um ano ouvimos dizer que o sistema de saúde brasileiro irá colapsar. E ele ainda não colapsou. Ou os dados acerca das mortes anunciadas, aos quatro ventos, em tom alarmista e apocalíptico, são falsos, ou verdadeiros, refletindo, portanto, uma realidade preocupante; neste secundo caso, sou obrigado a concluir que o sistema nacional de saúde não está em situação tão calamitosa que dizem estar: estivesse, já teria colapsado.

E desde o ano passado ouvimos falar que neste ano, com a vinda da segunda onda de infecção, enfrentaríamos problemas maiores do que no ano que já se encerrou. Se tal já se sabia por que não se tomaram as providências indispensáveis para se evitar a situação caótica que dizem estarmos enfrentando nos hospitais, em especial nas UTIs? E cientes de que enfrentamos uma aceleração da infecção e um aumento de mortes, por que ainda não providenciaram a construção de hospitais de campanha? No ano passado, nos meses de Março e Abril, quando a situação não era tão preocupante quanto a atual, construíram hospitais de campanha. Por que agora não tomam a mesma providência? Será que é porque no ano passado os hospitais de campanha ficaram às moscas, e assim constrangeram-se políticos, governadores e prefeitos que neles empataram uma boa dose de dinheiro público, ao deles cobrarem explicações a respeito? Imagens de hospitais de campanha vazios escancaram a farsa. E não demorou muito tempo, os desativaram por falta de uso. Erro se entender que agora querem prefeitos e governadores evitar outro constrangimento? Constróem hospitais de campanhas; e depois, aparecem, deles, imagens, mostrando-os vazios, sem uso...

Não posso encerrar este artigo sem falar da terra do Tio Sam. Assim que se deu a troca do comando na casa dos americanos, Biden substituindo Trump, caíram abrupta, e consideravelmente, os casos de morte por coronavírus. E intriga-me o aumento, neste período, repentino, intenso, preocupante, no Brasil, de mortes pelo vírus que tanto nos atormenta. Queda de mortes por covid nos Estados Unidos da América, após Biden assumir o poder, e aumento de mortes no Brasil!? Causa-me estranheza o comportamento do vírus. Dá-me o que pensar. Será que o vírus, que, dizem, é chinês - e até algumas semanas atrás eu acreditava que era, mas agora tenho as minhas dúvidas -, e, além de chinês, produzido em laboratório - se é, não sei (e suspeito que a origem artificial dele seja uma história arquitetada por quem deseja vender a idéia de que o vírus, não sendo natural, é mais perigoso do que se possa imaginar e não podemos fazer nada contra ele) -, tem interesses políticos? Nos Estados Unidos da América, a derrubada do Trump; no Brasil a do Bolsonaro, lá justificando a maciça votação via correios, aqui a quebradeira econômica, obra dos adversários do presidente brasileiro - e quem ousa dizer que prefeitos e governadores são responsáveis pela crise econômica?! A culpa é do covid.

Com a queda do Trump, que resistia à ereção da Nova Ordem Mundial, agora restam dois governantes, ambos de países grandes e poderosos, o da Rússia e o do Brasil, respectivamente, Putin e Bolsonaro, que se opõem à Nova Ordem Mundial. E o vírus veio ao Brasil para dar a sua contribuição à derrubada do presidente brasileiro. Ora, e por que ele não foi a Rússia? Não sei. Mas suspeito que seja porque na terra de Tolstói há um tal de Vladimir Putin, ex-agente da KGB, homem que tem a chave de um arsenal nuclear capaz de destruir meio mundo - ou o mundo todo, não sei.

Apelo

 O carinha diz "Eu sigo a ciência.", dando-se ares de estudioso, profundo conhecedor do que ele diz conhecer, insinuando, explicitamente, que quem não concorda com ele é um, como se diz? negacionista. E quais argumentos científicos ele usa para convencer as pessoas da importância da vacina, do uso de máscara, do distanciamento social, do cárcere privado, que ele chama de isolamento? Argumentos? Nenhum argumento ele usa; tampouco um que seja científico. Apela à chantagem emocional, para, consciente ou não - e o mais provável é que não seja consciente, pois, trucidado pelo maquinismo midiático de tortura psicológica, já foi ao chão da histeria -, reduzí-las à irracionalidade animalesca à qual ele já está reduzido.

Uma resenha e um conto

 Na Noite do Crime (Woman on the run - 1950) - estrelando Ann Sheridan e Dennis O'Keefe


Neste filme noir, em preto e branco, de 1950, o inspetor Ferris (Robert Keith) sai à caça de Frank Johnson (Ross Elliott), a única testemunha do assassinato de Joe Gordon (Tom Dillon), que iria testemunhar contra Freeman Fattened, um gangster.

O assassinato ocorre à noite, Joe Gordon, dentro de um carro, após saudar um homem, Danny Boy - e este nome, ao ser mencionado pela segunda vez, na metade do filme, revela a verdadeira identidade do assassino.

Frank Johnson, ilustrador, trabalha na loja Hart e Winston, do doutor Maibus (John Qualen). Passeava, com seu cachorro de estimação, Rembrandt; testemunha o crime, e o assassino dispara em sua direção dois tiros, errando ambos. À cena do crime chegam os policiais, e o inspetor Ferris, que pede a Frank Johnson informações acerca do ocorrido e lhe diz que ele, Frank Johnson, teria de testemunhar, descrever o assassino de Joe Gordon - e seria esta a única informação que teria a polícia numa investigação que tinha como alvo o gangster Freeman Fattened. Ao ouvir tais revelações, Frank Johnson decide, à distração dos policiais, e temendo pela sua vida, homiziar-se em qualquer lugar, para a sua segurança. Ao saber da ação de Frank Johnson, o inspetor Ferris principia a caçada a ele. Na sua ânsia de vir a efetuar a prisão de Freeman Fattened, e certo de que para chegar até ele teria de descobrir a identidade do assassino de Joe Gordon, e que para identificá-lo era imprescindível o testemunho de Frank Johnson, não mede esforços, aborda Eleanor Johnson (Ann Sheridan), esposa de Frank Johnson.

Toda a investigação do inspetor Ferris concentra-se, o que é inusitado, na caçada, não ao assassino, tampouco ao gansgster, mas à testemunha do assassinato de Joe Gordon, Frank Johnson, a única pessoa que poderia adicionar alguma informação à investigação.

Eleanor Johnson é uma personagem cativante - e é ela a protagonista da aventura, e é seu coadjuvante Dan Legget (Dennis O'Keefe), repórter do Graphic. Ácida e sarcástica, nos seus diálogos com o inspetor Ferris e nos com Dan Legget, além de revelar traços de sua personalidade multiforme, sua inteligência fina, de uma pessoa de língua afiada, exibe sua indiferença pelo marido e a si mesma; suas primeiras palavras a respeito do homem com quem vivia sob o mesmo teto são desdenhosas, de desprezo por ele.

Atormentada com a abordagem, que lhe restringe os movimentos, do inspetor Ferris, driba-lhe a vigilância, e inicia, coadjuvada pelo onipresente Dan Legget, uma aventura emocionante e tensa à procura de seu marido. Na sucessão dos capítulos que contam a sua aventura, ouve contarem-lhe episódios da vida dele, episódios que ela, esposa distante, ignorava, e surpreende-se com o que lhe dão a conhecer. Tal aspecto do enredo, que segue concomitante à perseguição que o inspetor Ferris empreende a ela e ao esposo dela e a investigação que ela e Dan Legget executam, para chegarem até Frank Johnson, é uma trama envolvente que revela, aos poucos, a consciência que Eleanor Johnson adquire de seus sentimentos pelo marido, os quais dela até então estavam ocultos.
São muitos os episódios da saga de Eleanor Johnson: o do clube chinês Jardins do Oriente; o do consultório do doutor Hohler; o da loja Hart e Winston; o do Sullivan's Grotto; o do cais; o do consultório do veterinário; o do necrotério; e, enfim, o derradeiro, o do parque, na praia, sob as instalações da montanha-russa.
A partir do episódio ocorrido na loja Hart e Winston, intrigada com mensagem cifrada, que seu marido lhe enviara numa carta, "Estarei em um grande dia, sob o Sol, como no dia que lhe perdi pela primeira vez.", Eleanor Johnson esforça-se para encontrar-lhe o paradeiro - e para ir até ele teria de decifrar a mensagem, o que ela conseguiria a duras penas.
Na metade do filme, repito, a identidade do assassino, alcunhado Danny Boy, no início da trama, por Joe Gordon, é revelada durante um diálogo entre Eleanor e Dan Legget; a partir deste momento, fica-se na expectativa, ansioso para se saber se Eleanor Johnson encontraria seu marido e o ajudaria a safar-se de seu perseguidor, ou se, sem o saber, conduziria o assassino até ele.
*

Pedaço de pudim

João e José Carlos, seu filho, foram à doçaria. José Carlos pediu ao seu pai que comprasse um pudim de caramelo. E ele lhe atendeu ao pedido. O pudim às suas mãos, José Carlos virou-se para seu pai, e disse-lhe: "Pai, lá em casa o senhor corta o pudim pela metade e dá o pedaço maior pra mim."

Saúde

 Parece piada, mas não é.

Há médicos que não querem que os médicos tenham liberdade para receitar aos seus pacientes acometidos da gripe provocada pelo coronga os remédios apropriados para o tratamento. Querem que se proiba os médicos de usarem de sua liberdade de consciência no exercício de sua profissão. Querem que se ministre às pessoas a vacina, unicamente a vacina.

É uma piada de mal gosto, muito mal gosto.

*

Os anti-bolsonaristas dizem que o Capitão Bonoro, nosso querido e amado presidente, tem de nomear um médico para o Ministério da Saúde, e não um militar. E agora que ele lhes atende ao pedido, eles o elogiam e se alegraram. Ou não? Pelo visto, não, pois o Queiroga, que está para ser nomeado Ministro da Saúde, não segue, tudo indica, a cartilha dos inimigos do Capitão Bonoro, não é um adepto no vacinismo, esta religião insana, entende que cabe aos médicos a liberdade de ministrar aos seus pacientes tais e tais remédios e tratamentos, tem consciência de que deve respeito à hierarquia, e tampouco pertence à turminha que quer alimentar a histeria coletiva.

segunda-feira, 15 de março de 2021

Quatro mais um conto

 Os Fiquem em Casa, sejam eles funcionários públicos, sejam da iniciativa privada, desde há um ano, no início da fraudemia, sacrificando, corajosamente, seu lazer, dispuseram-se a conservarem-se em suas casas, onde usufruem de bens materiais, conforto e luxo que o capitalismo oferece. E estamos certos de que eles, seres abnegados, cuja empatia pelas pessoas que, agora desempregadas devido ao fechamento do comércio, recebendo, cada uma, todo mês, R$ 600,00, dispõem-se, com generosidade inspiradora, a entregar, de sua renda mensal, a parcela que exceda R$ 600,00 aos governadores e prefeitos, para que eles, administradores conscienciosos, a distribuam ao povo reduzido à miséria.

*

Esta é a hora certa para os socialistas, esquerdistas, comunistas, anti-capitalistas, lídimos defensores da igualdade de renda, praticarem as suas valiosas teorias. Os que têm renda mensal superior a R$ 600,00 que reservem cada um para si mesmo, todo mês, R$ 600,00, e distribuam o restante às pessoas reduzidas à miséria. Que não percam tal oportunidade, que é imperdível, de provarem para todo o mundo, principalmente aos ímpios, que o belo ideal, o socialismo, que tão árdua, e apaixonadamente, defendem, produz, praticado no mundo real, a justiça social e a extinção das desigualdades apregoadas em seus nobres postulados.

*

Os Fique em Casa sempre tiveram, para unir o útil ao agradável - impedir a disseminação do corongavírus e usufruírem, em suas casas, de todo o conforto material que o capitalismo oferece -, a opção de estocar comida enlatada e tambores de oxigênio que os sustentem durante dois anos, trancar, à chave todas as portas, e vedá-las, e vedar, também, as janelas, e arremessar as chaves na privada e apertar a descarga; todavia, irresponsáveis e imprevidentes, não providenciaram tais recursos, saíram de suas casas quando os calças apertadas e os calcinhas apertadinhas afrouxaram as restrições e permitiram a abertura do comércio, e foram às compras, ao shopping, ao clube, ao parque, passear ao ar livre, à academia; e fizeram mais, e pior!: efetuaram compras, via dispositivos móveis, de alimentos, produtos de primeira necessidade, bugigangas eletrônicas, e guloseimas, que não podem faltar nas prateleiras e geladeiras de seres tão destemidos, e os receberam, nas portas de suas casas, das mãos de motoboys e outros trabalhadores, pessoas de quem tanto dependeram e que tanto desprezam. Providenciassem as comidas enlatadas e os tambores de oxigênios e vedassem suas casas, hoje estariam tranquilos, despreocupados, aconchegados nos seus lares, humildes lares. Não gozam de paz e temem serem infectados pelo corongavírus porque foram insensatos. Portanto, se querem xingar alguém, que xinguem a si mesmos.

*

No dia em que os motoboys e outros entregadores cruzarem os braços e declararem "Retomaremos o nosso trabalho quando todo o comércio estiver aberto.", os Fique em Casa, lockdownistas, se borrarão, de medo, nas calças, e suplicarão aos calças apertadas e aos calcinhas apertadinhas a imediata suspensão do lockdown.

*

O sobrinho mais velho que o tio.


Estavam, na casa dos senhores Silva, Pedro e Maria, anciãos nonagenários, comemorando o aniversário natalício do patriarca, dezenas de familiares e amigos. O ambiente, animado, contagiante. Dentre os presentes, João, irmão de Pedro, idoso octogenário, de cabeça quase que inteiramente desprovida de cabelos, sendo brancos lácteos os poucos que lhe restavam, e Renato, filho de Pedro, de cinquenta e dois anos, dono de vasta cabeleira branca. Conversavam, na companhia de outros familiares, parentes e amigos, descontraidamente. Em um momento da conversa, Renato perguntou ao seu tio João: "Tio, o senhor tem oitenta e cinco anos, ou oitenta e seis?" E respondeu-lhe seu tio: "Oitenta e cinco." Renato, então, comentou, simulando constrangimento: "Oitenta e cinco. Puxa! Os homens da sua geração, tio, são mais bem conservados do que os da minha. Veja... Eu, por exemplo, sou vinte e três... trinta e três anos mais novo do que o senhor, e, agora, olhando para o senhor, sinto-me mais velho." Fez uma pausa; e um bom número de par de olhos o fitaram, na expectativa, esperando, dele, a conclusão do comentário. E assim que se deu por convencido de que criara o ambiente apropriado para arremetar seu discurso, disse Renato: "É verdade, tio. Sinto-me mais velho do que o senhor. Veja bem... Olhe para a minha cabeça: Eu tenho mais cabelos brancos do que o senhor." E todos caíram na gargalhada.

Dois

 Quantos quilos de matéria fecal concentrada têm na cabeça a pessoa que acredita que os calças apertadas e os calcinhas apertadinhas decretam lockdown porque o povo, irresponsável, não respeita os protocolos sanitários?

*

"Resistência é sobrevivência.", sentença que a ostentaram pessoas que, simulando coragem, virtude da qual são desprovidas, fingiam lutar contra inimigos (inexistentes, sabe toda pessoa que não está anestesiada pela histeria) da liberdade, que elas identificam nos que alcunham fascistas e nazistas; e agora que os verdadeiros inimigos da liberdade, sob a justificativa de combater um vírus, massacram o povo com políticas que lhe roubam os meios de subsistência e suprimem-lhe direitos fundamentais, dobram-se sobre si mesmas, enfiam o rabo entre as pernas e recolhem-se ao conforto cada qual de seu umbigo.

domingo, 14 de março de 2021

Um

 Eu já vi anti-bolsonaristas baterem no peito e clamaram, destemidos: "Eu defendo a liberdade. Sou contra a ditadura. Fascistas não passarão! Defendo a democracia. Fora, Bozonazi. Ditador. Viva a democracia!" Mas nestes doze meses de fraudemia não vi sequer um deles a reprovar prefeitos e governadores que estão, com atos autoritários inéditos no Brasil, massacrando o povo brasileiro, tirando-lhe os direitos básicos, principalmente o de trabalhar para obter recursos à própria subsistência e à de sua família.

Mais dois

 Os bolsonaristas, pessoas que os anti-bolsonaristas alcunham fascistas nazistas, autoritárias, condenam, veementes, os atos anti-democráticos, autoritoritários, de governadores e prefeitos.

Os anti-bolsonaristas, que se intitulam democráticos, anti-fascistas, defensores da democracia e da liberdade, fingem ignorar os atos autoritários de governadores e prefeitos, não dão um pio a respeito, e muitos - para não dizer todos - os apóiam.

*

Os anti-bolsonaristas, patriotas - ironia -, defensores da liberdade - ironia -, leais aos princípios democráticos - ironia -, têm nos militares criaturas de natureza autoritária. Crêem que governos civis são democráticos. E estão presenciando políticos, agentes da sociedade civil, e não da militar, erigindo, nas esferas estaduais e municipais, governos autoritários. E não os reprovam.

Dois textos

 Em nome de um bem maior, abstrato, a saúde coletiva (e saúde coletiva é o que dizem que ela é), muitas pessoas se dispõem a perder direitos fundamentais, essenciais à existência saudável dos humanos, arduamente conquistados pelos seus antepassados - e não foram poucos os que sacrificaram a própria vida em tal guerra. E assim acabam por suprimir de si mesmas a liberdade que ora gozam; e justificam tal postura, reprovável de toda perspectiva que se possa avaliá-la, simulando a crença no bem maior, e se auto-intitulam seres abnegados, heróis aguerridos, dispostos a sacrificarem alguns bens, assim ocultando de todos, e principalmente de si mesmas sua própria covardia.

*

Em 2.019, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu, em relação ao ano anterior, 1%, o suficiente, somado com outras medidas do Governo Federal, para gerar em torno de um milhão de empregos, melhorando, portanto, razoavelmente, a vida de milhões de brasileiros. Toda pessoa decente alegrou-se com tal notícia. Pequeno o crescimendo do PIB? Sim. Mas muitas pessoas melhoraram de vida. E para o ano de 2.020 a perspectiva era o crescimento de 3% do PIB, aproximadamente. Mas veio a fraudemia... Aqui é outra a história.

Alvissareira a notícia do crescimento, mesmo que pequeno, do PIB brasileiro. E alegraram-se os antibolsonaristas? Não. Eles debocharam. "Pibinho! Kkkkk. O Bozo é incompetente! É só um pibinho!" Tal deboche deles exibe a má-vontade, a crueza de seus sentimentos, sua mentalidade vil. Foi pequeno o crescimento do Brasil, em 2.019, em relação a 2.018? Sim. Foi. Dadas as circunstâncias políticas e econômicas vigentes, pode-se, sem exageros, afirmar que o sucesso do governo do presidente Jair Messias Bolsonaro foi estrondoso. Mas as almas penadas não lhe reconhecem o sucesso, não se alegraram ao ver a melhoria do padrão de vida de milhões de brasileiros. Mesquinhos, bostejam as suas proverbiais asnices, indiferentes à felicidade daqueles que se beneficiaram da eficiente administração, pelo Governo Federal, dos limitados recursos públicos.

Em 2.019, nos primeiros dias do governo do presidente Jair Messias Bolsonaro, a ministra Damares Regina Alves, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, falou de uma sua experiência, dolorosa, angustiante, sofrida, que se lhe deu ainda em sua infância: a da violência de que fôra vítima, resultando em seu estupro; e adicionou um detalhe: o de que ela, à sombra de uma goiabeira, vira Nosso Senhor Jesus Cristo. Muitas pessoas condoeram-se ao lhe ouvir tal testemunho, que lhes doeu no coração, profundamente. Muitas, emocionadas, deixaram lágrimas lhes escaparam dos olhos ao ouviram o relato da ministra Damares Regina Alves. E os anti-bolsonaristas?! Deles ouviram-se palavras de carinho, de respeito, de amor, de compaixão? Não. Deles ouviram-se deboche e risinhos de escárnio. "A crente, doente, da Idade Média. Evangélica fanática! Retardada! Viu Cristo no pé de goiaba. Kkkkkk." E outras sandices de igual teor.

Em 2.020, o presidente Jair Messias Bolsonaro inaugurou um trecho da obra de transposição das águas do Rio São Francisco. Felicitaram-se os brasileiros. Tal obra, estamos cientes os brasileiros, é indispensável para a melhoria do padrão de vida dos nordestinos, estes brasileiros feitos de capacho pelos potentados locais, políticos e empresários inescrupulosos, que os conservam dependentes da famigerada indústria-da-seca - para muitos seres iníquos e cínicos uma cultura que tem de ser preservada, a todo custo, pois é um patrimônio cultural nacional -, que lhes suga a energia e lhes rouba o sangue. E o que dizem os anti-bolsonaristas? Que o presidente Jair Messias Bolsonaro é incompetente, ladrão de obras alheias; que ele não constrói as próprias obras, e coisa e tal. A inauguração de tal trecho, e a de outros, subsequentemente, beneficiarão milhões de pessoas. Mas os antibolsonaristas não de alegram, pois, na cabeça deles, a obra pertence ao Lula, e ele, e apenas ele tem o direito de concluí-la.

Estes três exemplos, dois de sucesso do governo do presidente Jair Messias Bolsonaro, um da biografia da ministra Damares Regina Alves, acompanhados da reação dos antibolsonaristas são reveladores da mentalidade desprezível dos inimigos do presidente Jair Messias Bolsonaro. Três de inúmeros que podem ser adicionados à lista.
E não se pode deixar de dizer que os antibolsonaristas odeiam tudo aquilo que não corresponde à visão-de-mundo deles; que eles não têm amor pela vida; que eles instrumentalizam as pessoas almejando um fim político que as prejudica. E, principalmente, que eles odeiam Nosso Senhor Jesus Cristo, e a Igreja, e a cultura cristã - o deboche que eles cuspiram contra a ministra Damares Regina Alves prova que minhas palavras não são supérfluas.

Vários

 Bolsonaristas dão notícias de ações arbitrárias de agentes do estado, de muitos desmandos de homens públicos, e de casos de abusos de poder, e da violência contra o homem brasileiro que ousa - vejam só o crime! - trabalhar numa loja cuja atividade foi classificada, sabe-se lá por quem e usando sabe-se lá quais critérios, na categoria das não-essenciais. São inúmeros os casos que os bolsonaristas já deram a público. E os bolsonaristas condenam, veementemente, governadores e prefeitos que, durante a fraudemia, assumindo postura autoritária, estão a massacrar o povo brasileiro. E o que dizem os antibolsonaristas a respeito da política autoritária de governadores e prefeitos? Nada. Eles fazem de conta que a história não é com eles. Compreensível, afinal eles sempre justificaram tais atos, desde Março do ano passado; para eles, tudo é permitido em nome de um bem maior: a saúde coletiva - esta abstração. Eles não querem saber de notícias que tratam dos abusos cometidos por governadores e prefeitos; delas fogem como o diabo foge da cruz. E quando tomam conhecimento de algum caso, não podendo evitar que ele lhe chegue aos ouvidos e aos olhos, hostilizam o mensageiro, e se esforçam para esquecer o que ouviu e viu. Não dão, portanto, a conhecer a outra pessoa o que veio a saber. Não me surpreendem com tal postura, pois, se divulgam o caso têm de, obrigatoriamente, reconhecer que governadores e prefeitos têm outros interesses, muitos deles inconfessados, muitos à vista de todos, e não os divulgados; assim, terão de se expor; e lhe dirão que estiveram em erro desde o início ao acreditarem que tudo se resumia ao combate ao coronavírus. Mas o orgulho não lhes permite reconhecer que os enganaram médicos e cientistas renomados e políticos espertalhões.

*

Li na página de um esquerdistinha qualquer que o Biden já vacinou não sei quantos milhões de americanos e que o Trump não tinha vacinado nenhum.

Pergunto: Passa pela cabeça da criatura das trevas, espírito-de-porco juramentado, que antes de se vacinar o povo tem de se inventar a vacina e produzi-la?

*

O carinha diz que não se importa com a opinião alheia, que para ele não tem valor, e se ofende quando alguém lhe diz que a opinião dele vale menos que nada.

*

"Belisque-me, por favor, quero acordar deste pesadelo. Não acredito no que estou vendo." "O que você está vendo, bolsominion?" pergunta-me meu amigo. E eu lhe respondo: "Eleitores do Geraldo Alckmin enaltecendo o Lula. Parece piada, mas não é. Alguns alckministas, ou devo dizer picolénistas? têm no Lulinha uma força política para derrotar o nosso querido e amado Capitão Bonoro nas eleicões de 2022. E estão tais criaturas do pântano felizes com tal perspectiva." "Você 'tá sonhando, Sérjão! Só pode!" "Tô não. E é pior do você pensa. Para eles o Lula é uma autoridade moral, uma autoridade respeitável, nobre, imaculada." "O cê 'tá de brinca comigo, né, Serginho?!" "Tô não. Ou o Lula passou por uma profunda metamorfose, ou os eleitores do Picolé vivenciaram uma iluminação espiritual de tal porte que fê-los ver no Lulinha Paz e Amor o que nenhum outro ser humano é capaz de ver." "O que ocê 'tá querendo dizer, ô, maluco?! Falou, e falou, e falou, e não disse nada que se aproveita." "Sei lá eu o que eu quero dizer. Só digo uma coisa: Há um bom tempo suspeito que os eleitores tucanos alimentam amor platônico sincero pelo homem de nove dedos. Agora eu tenho a prova de que minhas suspeitas procedem."


sábado, 13 de março de 2021

Um herói

 Um herói


Hoje, 12 de Março de 2.021, de manhã, um pouco depois das onze horas, fui ao centro daqui de Pindamonhangaba, às proximidades da Praça Monsenhor Marcondes.

Dia quente. Temperatura acima de vinte e cinco graus. Sol de rachar a cabeça.

Abordou-me um homem de idade avançada, miúdo - tem ele, se muito, um metro e sessenta -, magriço, de cabelos, poucos, totalmente brancos. Sua compleição, de cansaço. Andava lenta e cuidadosamente. Máscara não lhe cobria o rosto, de traços suaves, repleto de vincos. Falou-me num tom de voz que, de tão baixo, quase inaudível, obrigou-me a me aproximar dele, e curvar-me para ouvi-lo. Nossas cabeças quase se tocaram; não distavam uma da outra dez centímetros. E eu o ouvi dizer-me: "Moço, você viu um homem magrinho, de cabelo curto, e de olhos um pouco arregalados, e de camisa e calças sujas, pretas. Calças pretas; e camisa meio marrom e meio cinza?" "Não. Não vi", respondi-lhe. E observei-o, sem saber o que lhe dizer. "Na segunda-feira - prosseguiu o velhinho -, ele pediu-me... Foi ali, naquela esquina - e apontou-me o outro lado da rua. - Ele me pediu que eu lhe comprasse comida; estava com fome. Eu não trazia comigo nem sequer um tostão, eu lhe disse. E ele me olhou, sabe? triste, e disse-me que estava tudo bem e que eu fosse com Deus. Estava encostado na parede. Eu fui embora. E desde então estou pensando nele. Ele estava com fome. E eu não pude ajudá-lo. E terça, e quarta, e ontem, e hoje, vim encontrá-lo. Mas não o encontrei. Não sei quem ele é. E eu não o encontro." E calou-se, voz embargada, lábios trêmulos. Engoli em seco; fitei-o em silêncio, e o esperei retomar a palavra, o que ele não tardou a fazer: "Eu venho, desde aquele dia, pensando naquele homem, que precisou da minha ajuda; e eu não pude ajudá-lo. Que Deus me perdoe. Deus queira que ele tenha conseguido comida; que alguma alma cristã tenha-o ajudado." E calou-se, visivelmente constrangido, entristecido. Fitou-me, orvalhados seus olhos. E despediu-se de mim: "Que Deus te acompanhe, moço." E afastou-se de mim, lenta e cuidadosamente, detendo-se a curtos intervalos, sempre a olhar ao redor, à procura do homem que dias antes lhe pedira ajuda.

sexta-feira, 12 de março de 2021

Vírus

 "Você usa cuecas?" "Uso." "De pano?" "Sim." "Você usa máscara?" "Uso." "De pano?" "Sim." "Quando você peida, e não um peido qualquer, mas um senhor peido, um peido fedido, você, ou uma pessoa que está perto de você, sente o fedor do seu peido?" "Sim." "O pano da sua cuecas não protege você do fedor do seu peido, e você acredita que o pano da sua máscara protege você de vírus?"

*

2020. Em Março: O dia do pico será em Abril. Fique em casa. Em Abril: O dia do pico será em Maio. Fique em casa. Em Maio: O dia do pico será em Junho. Fique em casa. Em Junho: O dia do pico será...

2021. Em Janeiro: Estamos no momento mais crítico da pandemia. Fique em casa. Em Fevereiro: Estamos no momento mais crítico da pandemia. Fique em casa. Em Março: Estamos no momento mais crítico da pandemia. Fique em casa. Em Abril: Estamos no momento mais crítico...

*

Em 2020, Março: Alimente-se bem, caminhe ao ar livre, tome vitamina C e Zinco, exercite-se, exponha-se ao Sol, todo dia, durante, no mínimo, quinze minutos, para melhorar o seu sistema imunológico.

Em 2021: Vacina! Vacina! Só a vacina salva! Lockdown! Lockdown! Só o lockdown salva!

Nota de rodapé: O bom-senso e a racionalidade já foram pra cucuia. Vivemos na era dos insanos, histéricos e desmiolados.

*

Um parágrafo do o livro do tempo em que os homens tinham cérebro:

Boas noites de sono, boa alimentação, passeios ao ar livre, atividades saudáveis, enfim, melhoram o humor, e fazem com que o organismo humano seja resistente às doenças.

Um parágrafo do livro da era da histeria e insanidade:

Vacina salva! Lockdown salva! Vacina! Vacina! Vacina! Sem vacina eu não posso viver! Só a vacina salva! Lockdown! Lockdown! Lockdown!

Moderados e radicais

 Os políticos que dizem que não são nem da extrema-direita, nem da extrema-esquerda, isto é, que não são nem radicais de direita, nem radicais de esquerda, são do extremo-centro, isto é, são radicais do centro. Todos os políticos são radicais, pois lutam pelo poder, o poder absoluto, e para obtê-lo têm de eliminar os oponentes, o que lhes exigem ações radicais, extremistas.

A exibição pública de moderação, de ponderação, de condenação aos radicalismos, aos extremismos, é unicamente ato político calculado para dissimular o extremismo que move o político que assim se manifesta, apresentando-se ao povo como pessoa sensata, respeitável, dona de um temperamento equilibrado e de moral superior.

quarta-feira, 10 de março de 2021

Conto

 Aceita um cafezinho?


Eram sete horas da manhã de um sábado. Roberto e Maria, que acordaram às seis horas, preparavam o café-da-manhã. O dia acordara nublado; o clima, ligeiramente frio. Dormiam, a sono solto, os dois filhos do casal, um menino de nove anos, e a menina, de sete. Assim que Roberto pegou o telefone para contatar seu irmão, com quem iria, às dez horas, ao hospital, visitar o pai, Vinicius, internado, havia dois dias, devido os graves ferimentos que lhe resultaram de um acidente de carro em que se envolvera, soou a campainha, suavemente, uma vez. Abandonou Roberto o telefone e foi à porta; assim que a abriu, exibiu um largo sorriso; diante de si, a figura pequena, de Teresinha, sua tia-avó, irmã de seu avô paterno, mulher nonagenária, de fibra inesgotável. Trajava a idosa venerável um vestido simples, colorido, e tinha presos os cabelos com maria-chiqunha que uma sua bisneta lhe presenteara no aniversário natalício do ano anterior. Foi Roberto saudar sua tia-avó com um caloroso abraço e beijos carinhosos e afetuosos no rosto, e convidou-a para entrar à casa. Entraram. Queria Teresinha notícias de seu sobrinho, o pai de Roberto, e este lhas deu com todas as minúcias que sabia. Entrada na cozinha, a simpática idosa saudou, com todo o carinho do mundo, a esposa de seu sobrinho-neto, e ela lhe correspondeu com carinho equivalente. Havia dez anos não se encontravam para um dedo de prosa Teresinha com Roberto e Maria, desde que estes, recém-casados, deixaram a roça para irem morar na cidade.

- Tia Teresinha - falou-lhe, amavelmente, Maria -, a senhora aceita beber café conosco?

E a nonagenária, sorridente, respondeu-lhe:

- Agradeço o convite, querida. Mas café eu não quero, não. Bebi um bom dedo do pretinho na casa da minha Elizabeth. Não é desfeita. Mas se não for demais pedir, eu aceito um pedacinho de nosco.

Roberto e Maria de imediato entenderam a confusão que a tia-avó fizera; e Maria, antecipando-se a ele, foi à prateleira, desta abriu uma de suas quatro portas, e puxou um pote de vidro, vazio, e disse à Terezinha, mostrando-lhe o pote:

- Perdoe-me, tia. Esqueci que tinha acabado... Mas temos bolachinhas, biscoitinhos e bolinhos de laranja.

- Não se acanhe, menina - disse-lhe Teresinha. - Eu aceito uns biscoitinhos. São de nata?

- Temos de nata e de leite - respondeu Maria.

- Então eu comerei um de cada. Ou mais - disse Teresinha, que sorriu, divertida.

O café-da-manhã foi recheado de lembranças.

terça-feira, 9 de março de 2021

Em 2030

 Em 2.030, na escola...


Era o primeiro dia de aula na Escola Princesa Isabel, de ensino infantil. As crianças a invadiram em vagalhões destruidores, que não poderiam ser contidos nem por todo o maquinário construído pelo homem para a contenção de fenômenos naturais devastadores. A algazarra das crianças traduzia o ânimo delas, criaturas de almas angelicais. Abraçaram-se, espontâneas, expansivas; falaram-se; gargalharam. Sempre em alto e bom som, com toda a força de seus pequenos pulmões, que emitiam sons altissonantes, de fazer tremer o Everest. No rosto delas, o sorriso aberto; nos olhos, o brilho da inocência, da ínfrene alegria. Dominaram da escola o pátio e os corredores. Algumas, acompanhadas de seu pai, ou de sua mãe, logo das mãos deles, assim que viam um amigo, se desvencilhavam e iam alimentar a multidão turbilhonante que tomara conta do território escolar. O caos presente ocultava a ordem existente. Ao soar do sinal que indicou o início das aulas, as crianças rumaram cada uma delas para a sala-de-aula que frequentaria durante o ano letivo. E esvaziou-se o pátio, de onde saía o ruído do silêncio, e nada mais. Em uma das salas-de-aula, a de número 7, da quarta-série, além de vinte e oito crianças, entrou a professora Ludmila, mulher de trinta e dois anos, professora desde os vinte. De estatura mediana, cabelos pretos, lisos e compridos, esbelta, simpática, de espírito cativante, era querida por seus alunos.

Após alguns minutos de conversa descontraída com seus alunos, e assim que eles se silenciaram, disse a professora Ludmila:

- Vamos à chamada.

- Vamos - replicaram algumas crianças; e todas riram.

- Prestem atenção - pediu a professora Ludmila. - Álcoolgeorge.

- Presente.

- Álcoolgerson.

- Estou aqui no fundo.

E gargalhadas dominaram a sala.

- Engraçadinho - censurou-o a professora Ludmila, sorrindo. - Atenção! Álcoolgilson.

- Presente.

- Cloroquiniano.

- Presente.

- Covidiano.

- Presente.

- Distanciamentónio.

- Presente.

- Professora, a ponta do meu lápis 'tá quebrada - disse uma aluna.

- Você tem apontador? - perguntou-lhe a professora Ludmila.

- Não - respondeu a aluna. - Eu o esqueci, na minha casa, em cima da minha cama.

- Quem pode emprestar um apontador para ela? - perguntou a professora Ludmila a todos os alunos.

E três alunos oferecem à aluna um apontador, e ela pegou o que lhe ofereceu um aluno sentado à sua direita, e pôs-se a apontar o lápis.

- Vamos retomar a chamada - anunciou a professora Ludmila.

- Sim, professora - exclamaram os alunos.

- Imunidadenilson.

- Presente.

- Infecsálvio.

- Eu esqueci o presente, professora.

Os alunos riram. E a professora Ludmila pediu-lhes silêncio, e prosseguiu com a chamada:

- Isolamentobias.

- Presente, professora.

- Isolamentônio.

- Presente.

- Ivermectiago.

- Presente.

- Lockdowniel.

- Presente. Posso ir embora, professora? Ontem, eu não terminei a terceira fase do Game of Virus.

- Não!? - exclamou um aluno, surpreso. - Eu já. E estou na sexta fase.

- Legal! - exclamou outro aluno.

- Meninos, silêncio - censurou-os a professora Ludmila. - No recreio, vocês poderão falar do jogo; aqui na sala, não. Lockdowniel, você não pode ir embora. E comportem-se todos vocês. Atenção à chamada. Lockdownson.

- Presente.

- Pandemilton.

- Presente.

- Quarentênio.

- Presente, professora.

- Recuperadouglas.

- Presente.

- Vacinelson.

- Ele não veio, professora - disse Pandemilton. - Ele mora perto da minha casa. Ontem, ele e a mãe dele, a dona Amélia, que é muito chata, e muito, muito feia, disseram para a minha mãe que hoje ele iria ao médico.

- Tudo bem - disse a professora Ludmila. - À chamada. Vacinicius.

- Presente.

- Azitromisílvia.

- Presente.

- Cloroquiniana.

- Presente, professora.

- Coronádia.

- Presente, professora.

- Coronavilma.

- Presente.

- A Coronavilma é muito chata - disse Cloroquiniano.

- Chato é você! Bobão! - replicou Coronavilma.

- Silêncio, por favor - reprovou-os a professora Ludmila. - Atenção à chamada. Covidiana.

- Presente.

- Infecsílvia.

- Não veio - disse Lockdownson.

- Isolamentónia.

- Presente.

- Quarentenina.

- Presente.

- A Quarentenina também é chata - disse Cloroquiniano.
- E você é bobo - retrucou Quarentenina.
- Bobo e bocó - completou Coronavilma.
- A conversa não chegou no chiqueiro, nariz de porquinha - respondeu Cloroquiniano, dirigindo-se à Coronavilma.
- Professora, a senhora ouviu... - perguntava Coronavilma à professora Ludmila.
- Sim, Coronavilma, ouvi - respondeu-lhe a professora Ludmila antes que ela completasse a frase. - Silêncio, todos vocês. E você, Cloroquiniano, não me interrompa. E seja educado com as suas colegas.
- Sim, senhora - respondeu Cloroquiniano.
- Professora, mande o Cloroquiniano para a diretoria - sugeriu Coronavilma.
- À chamada - disse a professora Ludmila. - Eu ainda não a terminei. Quarentenívia.
- Presente, professora.
- Vacinúbia.
- Presente.
- Zincarla.
- Presente.
- Zincátia.
- Presente, professora.
- Agora - disse a professora Ludmila -, encerrada a chamada, à aula.

domingo, 7 de março de 2021

dois

 Mortos por covid?

Autopisiaram todos os corpos de pessoas dadas como mortas por covid? Não. Dizem por aí que não se deve autopisiá-los para evitar que o vírus se espalhe. Justificativa muito conveniente, que permite que se sustente a fraudemia. Sem autópsia dos cadáveres não se pode indicar o motivo da morte.

*

Racismo reverso e racismo implícito


Dizem por aí que não existe o tal de racismo reverso e que existe o tal de racismo implícito. O " reverso" e o "implícito" adicionados à "racismo" são apenas instrumentos de oratória para sustentar narrativas concebidas, em laboratórios de engenharia social, por intelectuais que desejam moldar a mentalidade de todo o mundo.

Intelectuais dizem que não há racismo reverso, indicando que negros não podem ser racistas porque não possuem poder estrutural em nossa sociedade, a ocidental, de matriz cristã, européia, branca. Ora, até há alguns anos racismo era entendido como o ódio de pessoas de uma raça por pessoas de outra raça, independentemente de qual raça era a da pessoa que odeia e qual a da odiada. Racista era, portanto, a pessoa que nutria sentimento de ódio, ódio visceral, por pessoas de raça que não a sua. Agora que vêm a público inúmeras manifestações de cunho racista de pessoas negras por pessoas brancas, acrescentam os intelectuais uma falácia, a do poder estrutural numa sociedade, para explicar a inexistência de racismo no comportamento dos negros que odeiam os brancos. E nesta diabólica artimanha, para condenar de antemão todos os brancos como racistas, inventaram o tal do racismo implícito. E só as pessoas brancas têm o sentimento racista implícito em si, em seu espírito, em seu DNA. Os brancos, neste discurso falacioso, são racistas por natureza, e todo os seus atos que envolvem raças racistas são inspirados em sentimentos racistas.

O que mais me chama a atenção nesta história, história sem pé nem cabeça, é a postura de gente branca que concorda, em tipo e grau, com tal discurso, que visa criminalizar o branco, que é, segundo tal mentalidade, racista simplesmente porque é branco. Não vê tal gente a arapuca na qual está caindo? Não percebem que estão a entregar ao carrasco o machado e a lhe oferecer o pescoço?

terça-feira, 2 de março de 2021

conto

 Uma vez, não me lembro quando, em algum lugar, não me lembro onde, uma pessoa, não me lembro quem, falou-me, não me lembro o que, a respeito não me lembro do que. Lembro-me apenas que tal pessoa, ou uma outra pessoa, naquele mesmo dia, ou em outro dia, disse-me que eu tenho memória fraca. Besteira. Se eu tivesse memória fraca eu não me lembraria que tal pessoa, seja ela quem for, disse-me que eu tenho memória fraca.

* Obs.: texto já publicado e corrigigo - com acréscimos

Televisão

 Hoje em dia a televisão é a parede do fundo da caverna.