terça-feira, 4 de julho de 2023

Notas breves

 Planet Unknown - curta-metragem - direção: Shawn Wang.


Numa era pós-apocalíptica, esgotados os recursos naturais da Terra - tema recorrente em muitas obras -, os humanos, à procura de um planeta habitável, a singrarem os sete mares cósmicos, chegam a lugares cada vez mais distantes, encontram trilhões de planetas, e para os que selecionam enviam robôs exploradores, que o solo deles avaliam a verificarem se eles admitem a existência da vida comum à Terra, para, na sequência, nos que a admitem, principiarem um processo de terraformação, que exige longo tempo de maturação, da terra sáfara, morta, a vida a brotar, a crescer, a dominar o planeta, criando, assim, as condições essenciais à vida humana e à de outros seres, plantas e animais, nativos da Terra.

Dois robôs estão em um certo planeta cujo solo examinam à procura de ingredientes que alimentem uma semente. E sucedem-se os fracassos. E meteoros bombardeiam o planeta; alvejam-lo com a potência destrutiva, apocalíptica, que tais astros siderais podem causar, obrigando os robôs exploradores a procurarem um abrigo. Acidentes advém de tal adversidade, com a qual não contavam os robôs, que, inadvertidamente, separam-se um do outro, e assim que percebem que não estão próximos um do outro, procuram-se, e reencontram-se, e, em meio ao ambiente caótico que nasce da tempestade de meteoros, um raio de esperança ilumina o espírito dos homens...


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Golden Shot - curta-metragem - por Gökalp Gönen.


É o cenário escuro, tétrico, silenciosamente opressivo. Num quartículo - claustrofóbico, dir-se-ia - quase inteiramente dominado pelas trevas, a lâmpada a bruxulear, até que, enfim, apaga-se de vez, um robô humanóide, de aparência retrofuturista, dedica-se a assistir, num dispositivo que evoca os comuns ao tempo dos primórdios dos desenhos animados, várias pinturas a sucederem-se rapidamente: uma animação que representa uma estrela, enorme, a ocupar todo o cenário, animação que, para o robô, exibe uma história onírica, que ele não pôde assistir do início ao fim porque as lâmpadas, de pouca, ou nenhuma, energia, apagavam-se, e ele tinha de substituí-las por outra, e por outra, e por outra. É angustiante a sua situação. Em certo momento, ele decide se retirar do cubículo em que se encontrava, para verificar um evento, para ele inusitado, que o surpreendera, e vai até o local em que o evento se dera, outro cubículo idêntico ao que ocupava, e lá encontra várias folhas com desenhos a contarem a história que ele assistia, e dentre os desenhos, em uma folha, a cena que, conclui, representa o epílogo da aventura que assistia, e logo viria a se saber que do epílogo não se tratava - ou, sim, o encerramento da história que assistia estava no desenho que ele encontrou, e não correspondia tal fim à história - que a engloba - que está a se narrar, a que o robô protagoniza. Ao regressar ao seu abrigo minúsculo, vê o robô, para o seu desgosto, que lhe furtaram, das prateleiras, todas as lâmpadas; e desaba - desesperançado, dir-se-ia; e logo se reergue: assim que lhe preenche todos os espaços do quartículo a luz; curioso, do quartículo sai, para conhecer o fenômeno que está a reproduzir a derradeira cena do desenho animado que as ilustrações das folhas lhe contaram.

É tal curta-metragem, assim eu o entendo, uma bem elaborada alegoria da existência dos homens, cujos sonhos sustentam-se em alicerces frágeis. Imprevidentemente, no desejo de torná-los realidade, para fugir às amarguras, às tristezas, às coisas desagradáveis da vida, os humanos se deixam conduzir, sem atentarem para a solidez dos sonhos que se lhes desenvolvem à luz dos desejos: a sonharem, mergulham, de cabeça, que está nas nuvens, no mar tempestuoso, sem perceberem os vagalhões que se aproximam, e os rodamoinhos que se formam no céu, que se escurece, e no mar, e do sonho só despertam quando jazem nas profundezas abissais do universo submarino. É esta a leitura que faço desta pequena obra-prima da animação.


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Uma estátua de Bernini e uma página do Facebook.


Nas redes sociais, há uma página que cuida de divulgar história da pintura, da escultura, da arquitetura, da música, Alta Cultura, na qual vi, em uma publicação do dia 11 de Junho de 2.021, uma reprodução de "Apolo e Dafne", estátua belíssima, de Bernini, acompanhada de um texto curto, que eu li, a relatar a história, que Ovídio narrou em As Metamorfoses, dos personagens mitológicos esculpidos.


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"Interior de um Harém", de 1.895, pintura à óleo, em tela, de Natale Attanaso.


Lendo-se o título da pintura, e antes de nela bater os olhos, para admirá-la, e atentamente observar-lhe os detalhes, imagina-se um cenário das Mil e Uma Noites, gravado na imaginação dos homens pelos contos orientais e pela idéia que de harém se popularizou: dezenas de mulheres lindíssimas, exuberantes, bem fornidas de atrativos, nuas, umas, seminuas, outras, em poses sensuais, num ambiente a trescalar erotismo. Frustra-se, deveras desiludido, e contrariado, quem antecipa, em imaginação, tal cenário: a pintura não lhe satisfaz o desejo que a imaginação lhe excitou. Que não se conclua que não tem a pintura atrativos. Atrativos, tem, mas não são os que se imaginou: no centro, uma bela adormecida, sua linda cabeça belamente aninhada em uma almofada, a mão esquerda sobre o peito, o braço e a mão direitos descansando ao lado de seu corpo, bem trajada, com vestes exuberantes (seus trajes consistem em uma saia branca e uma camisa esverdeada salpicada de preto e marrom) deitada, solta - a sonhar com anjos, direi -, pousada em um tapete belamente tecido.


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Cantores americanos: Sister Rosetta Tharpe; Lonnie Johnson; Henry Thomas; Nina Simone; e, Tracy Newman.


Dediquei-me a ouvir músicas escritas e cantadas, na terra de Walt Whitman, por falantes da língua de Abraham Lincoln.

Dentre as que me apresentou a rede social, o Youtube, depois de eu lhe solicitar músicas da terra do Tio Sam, ouvi "Didn't It Rain, Children.", na voz de Sister Rosetta Tharpe; "Another Night to Cry.", de Lonnie Johnson; "Going Up The Country.", de Henry Thomas; "Mississipi Goddam.", de Nina Simone; e, "Cripple Creek.", de Tracy Newman. Destaco Nina Simone, mulher de um vozeirão admirável, e Tracy Newman a dedilhar maravilhosamente bem um banjo de cinco cordas.

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