terça-feira, 30 de maio de 2023

Cinco notas

 O homem servil e autoritário


Uma parcela considerável da população adora autoritarismo, e desde sempre. E tal gente tem mentalidade servil e autoritária. Servilidade e autoritarismo numa só pessoa?! E não é o que vemos? O homem servil bajula o homem autoritário e, imitando-o, rouba à liberdade o homem livre. 


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Governo ataca o Agro.


Quem pensa que cuidar de uma propriedade rural é fácil que mantenha no quintal de sua casa uma horta ou um pomar, e veja no que dá. Dá erva daninha e praga e caramujo a três por dois - um dia de descuido, e lá se vai toda a plantação. Infelizmente, estamos a ver políticos, que deveriam ter a responsabilidade de cuidar da coisa pública, e da particular, respeitando, desta, os direitos do proprietário, a pôr lenha na fogueira de um movimento criminoso a financiar invasões de terras, sob o pretexto, inadmissível, de justiça social. Não são poucas as pessoas, e refiro-me ao cidadão comum, que vê justiça em tal política, e que está a coonestar os atos criminosos. O que vemos? Presidente a chamar o Agro de fascista. E com qual propósito? E vice-presidente a se reunir com ditos movimentos sociais de sem terra? E no mesmo dia, ou em intervalos pequenos de dias. Qual mensagem estão a transmitir à sociedade?! Conflitos no campo e ação legal a favorecer invasores e prejudicar proprietários de terras geram violência e insegurança jurídica, e, consequentemente, desincentivo aos investimentos, e, enfim, desabastecimento e aumento do preço dos alimentos. E de quem é a culpa?! Do produtor rural, do Agro e dos donos dos supermercados, claro!


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Frango, peru, fígado, filemignon, abóbora e picanha


Hoje em dia, no Brasil come-se frango, e arrota-se peru. Tal ditado não é apropriado à atual conjuntura política e econômica brasileira. Então, outro: come-se fígado, e arrota-se filemignon. Também não é este apropriado. Quero dizer que muitos brasileiros, desmazelados, vivem, à margem do córregos fétidos, em tugúrios, e acreditam que o Castelo de Windsor está a um passo. Achei um ditado, este apropriado: Come-se abóbora, e arrota-se picanha. 


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Dos ativistas ambientais e sociais


Uma vez, fui arrumar o quarto, e levantei tanta poeira, que espirrei a ponto de jorrar fora um pedaço de meu cérebro, e um punhado de ranho, que se me pendurou pelas bordas das fossas nasais. Fui obrigado a interromper a varreção, para limpar-me. A vida é mais complicada do que parece. E fecho com o Peterson. No jardim da praça mais próxima da casa de muitos ativistas há ninhos de animais os mais peçonhentos e sujidade sem conta, mas o importante é brandir um cartaz com o dizer "Salve a Amazônia."


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Sejamos loucos! - A insana incorreção do Politicamente correto


Estamos num mundo de gente doida, muito doida. Ora se faz de tudo para definir o sexo (lembremos da "presidentA"; ora insiste-se num tal de pronome neutro. Numa hora, fala-se em "x" a substituir a última letra de substantivos e pronomes (alunx, elx); noutra, inventa-se substantivos neutros. Num dia, diz-se que a criança em seu estágio embrionário não é um ser vivo; no dia seguinte, diz-se que dentro de um ovo de tartaruga há um ser vivo. É de enlouquecer todo cristão!

domingo, 28 de maio de 2023

Duas notas

 

Apertem os cintos: a Skynet o controle assumiu.

O título desta crônica parece de filme de comédia; não o é, entretanto: é o de um texto sério, intensamente sério, um drama, presume-se, ou uma tragédia, alguém porventura assim o entenda, ou uma epopéia, talvez, se se considerar os ingredientes heróicos da narrativa, o Homem - assim, mesmo, em maiúscula - a se bater contra a Máquina - que também merece a maiúscula -, numa guerra pela existência da vida na Terra; quiçá em todo ou universo. Não sejamos apocalipticamente melodramáticos.

O maior de todos os fisioculturistas - que só encontra rival no hercúleo Ferrigno, um monstro que muitas vezes esverdeou-se de tanta raiva -, Arnold, que já representou, numa famosa película, a mais popular criatura de Robert E. Howard, Conan, o Cimério, bárbaro cuja história se tornou mundialmente conhecida pelas penas de Roy Thomas e pelas tintas de Barry Windsor-Smith e John Buscema e Alfredo Alcala, sabe, mais do que ninguém, os perigos que as máquinas, se independentes da vontade humana, representam para a humanidade. Do futuro o tal andróide veio para matar o salvador dos humanos, mas acaba, não me lembro porquê, por salvá-lo. Independentemente de quais tenham sido as razões que impeliram a musculosa máquina a salvar a pele de quem tinha ela de matar, ela é um emblema da insensatez dos homens, que delegaram muitas de suas responsabilidades à assim chamada Inteligência Artificial, que, muitos estão a ver, no tocante à inteligência, não é lá grande coisa: é apenas uma acéfala criatura de inteligência maquinal.

Estamos sob o governo de uma Skynet?! As máquinas dos filmes de ficção científica saíram das telas, e entraram na realidade?! As máquinas senscientes não são, como se pensava até há pouco tempo, coisas malucas de nerdes magricelas espinhentos e asmáticos cujos olhos estão indefectivelmente protegidos por óculos-fundo-de-garrafa?! E não é benéfica para os homens a presença de máquinas evoluídas em seu meio, a executar, se não todas, a maioria das atividades que conservam em pleno funcionamento - com os seus gargalos comuns - a civilização?! Escrevi 'presença'; não seria mais apropriado falar em 'onipresença'?! Há quem pense que sim; há quem pense que não. Uma das pessoas que não vê com muito bons olhos a onipresença - assim fica melhor - das máquinas no destino dos homens é Maurício Alves, que, em dois podcast - e ele já prometeu gravar um terceiro (enquanto digito estas linhas, no dia 1 de Maio, talvez ele já o tenha feito) - alertou para os perigos que o mundo digital aos humanos representa. São os podcast, dois, ambos publicados, neste final de Abril, em seu canal no Substack, Maurício Alves News, o primeiro, dia 29, e, dia 30, o segundo, "Cyberwar. Sim, Você Está Vivendo Uma Guerra Cibernética.", e "O Futuro Não é Digital. É Analógico.", nos quais ele esposa uma idéia deveras inimaginável: as máquinas estão no controle da civilização. Se Maurício Alves seguir nesta trilha, a de chamar das pessoas a atenção para os perigos que as máquinas representam para os humanos, logo, logo, após, na velocidade dos táquions, atravessar um buraco de minhoca, aportará em Belo Horizonte um T-1000 dois ponto zero, que irá em perseguição a ele.

Há quem diga que é a tese de Maurício Alves mirabolante, de um nerde mutio lôco, que vive de ingerir, no café-da-manhã, uma boa dose de chá de cogumelo mágico e, à noite, a sorrir, tolamente, de orelha à orelha, a tragar, de um narguilé, substâncias estupefacientes altamente poderosas. Mas é a tese dele do balacobaco?! É uma doideira do cão?! Pergunto-me se se tem de desconsiderá-la, assim, sem mais nem menos, de antemão, antes de se ponderar a respeito de suas premissas, dos fundamentos da idéia que lhe dá origem, antes, mesmo, de compreendê-la, e o fazer porque não se vai com a cara do seu autor, e porque não se está preparado para, tampouco disposto a, conhecer uma teoria - uma explicação, uma tese - que não é convencional, que não respeita a ortodoxia, o pacto convencionado entre as partes que participam do debate público, que é rigidamente controlado e no qual os participantes permitidos não admitem que dele participe um estranho qualquer, que não foi convidado, alguém que ignora o estatuto que estabelece o bom tom da conversa. É assim: as academias, a imprensa, os chamados formadores de opinião estabelecem, tacitamente, o tema para o debate público, e em tal debate concentram a atenção de todos, e só admitem duas, é o ideal - ou três, se o controle obtido não é tão rígido - pontos de vista distintos, e todos os outros são de antemão excluídos - e prevendo-se que um ou outro possa ser apresentado por este ou aquele personagem, que se recusa a respeitar as regras impostas sem seu prévio consentimento, tratam de maldizê-lo, a ele, sujeito indesejado, difamá-lo, ridicularizá-lo, desclassificá-lo, dá-lo como uma pessoa nociva ao bem-estar social, assim, consequentemente, a apresentar dele as idéias tais quais coisas de loucos, doidos-varridos, despirulitados, lelés.

Estão as pessoas tão habituadas ao convencional, tão seguras de si num debate público de cartas marcadas, que rejeitam, terminantemente, todo e qualquer comentário que lhes cheira estranho, antes mesmo de conhecê-lo.

Estariam as máquinas a conduzirem as ações humanas, a empurrarem os humanos para esta e para aquela direção, sem que eles o saibam?! É tal fenômeno impossível numa civilização conservada, em tese, por máquinas que, autônomas, prescindem de orientação humana?! Se se sabe que máquinas, dotadas de programas que lhes permitem, informações a lhe transbordarem do cérebro positrônico, decidir assumir esta ou aquela postura, por si mesmas, independentemente do que delas pensam, e querem, os humanos, então o fenômeno, o das máquinas autônomas, não pode ser de antemão descartada: tem de ser considerada, julgada em seus fundamentos, em seus alicerces. Tal idéia seria absurda num texto de Aristóteles, de Marco Aurélio, de Alighieri, homens de uma outra era, uma era, direi, convencional. Mas não vivemos numa era convencional.

O mundo da ficção científica saiu dos livros e das telas de cinema e entrou no mundo real, tudo indica.

Cá entre nós: muito do mundo da ficção-cientifica estava, antes, no mundo real.

Que tal tese - a das máquinas dotadas de Inteligência Artificial a determinarem o destino do homens - esteja além da imaginação, está, não há dúvida; e que é incômoda, também é, ninguém há de negar. E é assustadora, perturbadora. Declarei que tal tese está além da imaginação humana. Corrijo-me: além da imaginação humana ela não está. A imaginação humana a concebe, mas limita-se a considerá-la possível, e existente, em obras de ficção científicas, e não no mundo real.

O filósofo Olavo de Carvalho falava de horizonte de consciência, da capacidade das pessoas, a usarem cada qual de sua imaginação, pensarem o mundo; ora, a tese da autonomia das máquinas está além do horizonte de consciência de muita gente, gente, esta, pobre de imaginação.

Citei Olavo de Carvalho, então algumas palavras acerca dele: ele foi um dos personagens que excluíram do debate público; compreensível: ele não aprisionava as pessoas numa jaula mental de dimensões minúsculas; ele as libertava.

E que venha o John Connor!

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Lula, e o cartão corporativo. E Bolsonaro.

Os fazuélles - ou fazuéles, ou fasuéles, ou fazoéles (não sei qual é a ortografia correta deste substantivo - já incorporado ao vocabulário nacional - há poucos meses concebido pela fértil, e impressionante, e admirável, imaginação do brasileiro comum, que ainda conserva, e milagrosamente, viva, a sua sarcástica inteligência telúrica; e os dicionários ainda não o incluíram, entre outros verbetes, em suas centenas - de alguns milhares - de páginas, como alguns já fazem com "Pelé", que está a provocar, entre professores de português, celeumas acaloradas, e que é o epicentro de uma controvérsia que está a afetar a estrutura da Língua Portuguesa, na sua vertente brasileira); os fazoéles, prossigo (e prossigo com a ortografia, que, usando de minha liberdade literária, dela a abusar, e abusar descomedidamente, imoderadamente, a dela usar desabusadamente, e ela a descer-me redondo, enquanto não dicionarizarem o subtantivo "fazoéle", ou fasuéle, ou "phazuélle", e etecétera e tal, com a ortografia que entendo apropriada, até o dia em que os dicionaristas dêem-lhe uma certidão de nascimento, dispensando-se da ingente, e ingrata, e infrutífera tarefa de lhe nomearem os genitores - os fazoéles, prossigo uma vez mais, hoje, em pleno desgoverno do tal "L", insistem em falar - e falar mal, sempre - do presidente Jair Messias Bolsonaro, e exclusivamente dele, e dos pecados dele, e dos crimes que lhe atribuem, enquanto do tal "L" não falam nem sequer um pingo. Compreensível. O que dele, do tal "L", têm a dizer, além do ramerrão encomiástico de sempre, abstraídos da realidade, a pintarem-lo com as cores que não são dele, as mais vívidas, as mais chamativas, as mais elegantes?!

Recordo-me de que, antes da era fazoelística da história do Brasil, capítulo, este, que será de triste memória, mesmo que os historiadores o cantem em prosa e verso, e dele o povo não venha a guardar memória, nem boa, nem má, e do seu principal personagem digam louvores, dizia-se, em tom acusatório, a dar Jair Messias Bolsonaro o tipo humano mais asqueroso da história da humanidade, e desde que o primeiro homem pisou na face da Terra, numa era em que, antediluviana, a memória dos homens alcança, antes da ereção da primeira caverna, que ele torrava, usando de um cartão, o corporativo, em um ano, trilhões de Reais que o pobre, miserável povo brasileiro imprimia com sangue, suor e lágrimas. O que digo?! O que digo eu digo mal! Os fazóeles fazem do presidente Jair Messias Bolsonaro o mais asqueroso tipo humano?! Foi o que eu disse; e o que eu disse, repito, eu disse mal, afinal, para os fazoéles, seres de moral ilibada, de alma imaculada, o presidente Jair Messias Bolsonaro nem humano é. Roubaram-lhe - e com a autoridade que eles se atribuíram - a condição humana.

Falava-se até há pouco tempo, e ainda se fala aqui e ali, desde que se possa vilipendiar a pessoa de Jair Messias Bolsonaro, do cartão corporativo do presidente da república; mas não do do atual mandatário da nação, homem que no Brasil está a mandar e a desmandar, sempre que lhe dá na telha; fala-se, única e exclusivamente, do do seu antecessor, o Jair Messias Bolsonaro, que alcunham dissipador irresponsável do patrimônio dos brasileiros, do rico dinheirinho que os brasileiros recolhem, de livre e espontânea vontade, aos cofres públicos. E está na casa dos dezessete, ou quinze, os milhões de Reais que no ano passado, o de 2.022, o senhor Jair Messias Bolsonaro jogou pelo ralo, desperdiçando-os sabe-se lá com o que. E não se perguntam os fazoéles se o tal "L" usa um cartão corporativo, e, se usa, quantos Reais do cartão já debitou e que destino deu ao dinheiro debitado.

Hoje, aventurosamente hoje, por vias acidentais, chegou-me ao conhecimento: o tal "L" já torrou, no primeiro trimestre deste ano de 2.023, uns insignificantes doze milhões de Reais. Se a notícia procede, não sei. Independentemente de sua procedência, o caso é para se pensar: se o presidente brasileiro, seja ele quem for, tem à disposição um cartão, que é de seu uso por direito, por que os fazoéles insistem em ignorar a existência do cartão que o tal "L" tem nas suas mãos e concentram-se no que estava nas mãos do presidente Jair Messias Bolsonaro? Não estou a insinuar, tampouco a declarar, que está o tal "L" a desviar dinheiro público, a desperdiçá-lo, a dissipá-lo com jóias, sofás, hotéis luxuosos, e banquetes que, além de encherem o bucho, alimentam os olhos; estou, única, e exclusivamente, a perguntar-me por que os fazoéles ignoram o uso que o tal "L" dá aos recursos públicos, via cartão corporativo (que seja outro o nome que se dá a tal cartão - destaco este ponto, pois, prevejo, algum fazoéle, fingindo ignorar, ou ignorando deveras, a questão que apresento neste artigo, irá chamar a atenção para o nome "cartão corporativo" como se tal detalhe fosse relevante, assim querendo desmerecer-me e considerar nula a questão que aqui proponho) e falam de Jair Messias Bolsonaro, e dele, unicamente, em tom acusatório, condenando-o ao fogo do inferno, sem lhe conceder o direito à defesa.

No tribunal revolucionário, em justiçamentos, os condenados voltados para o paredón: para os fazoéles é ato civilizatório a expurgar a civilização dos elementos nocivos, para a ereção do mundo melhor, o outro, que é possível, o perfeito, o que a mentalidade revolucionária em imaginação concebeu. Jair Messias Bolsonaro, antes mesmo de vir à luz, está condenado à prisão, à morte, à inexistência, por todos os crimes que lhe atribuem.

A questão é, e que fique bem claro: que se passe um pente-fino no cartão corporativo (tenha este cartão o nome que tiver) que estava nas mãos de Jair Messias Bolsonaro e no que está nas do tal "L".

Afinal, os tais fazoéles têm interesse em, e o desejo de, saber se o tal "L" está a fazer bom uso do dinheiro público?

domingo, 21 de maio de 2023

Frase

 

Todo homem é estuprador e toda gente branca é racista.

- Que papo é esse, ô, desmiolado?! Todo homem, porque homem, é estuprador?! Todo branco, porque branco, é racista?! De onde tu tiraste estas duas sandices?! Tu, que és homem, e branco, estás a dar tiros em teus pés. Não percebes, bocaberta?! Por que tu dizes tais asneiras?! Para, ficando bem na foto, agradar a turminha que está a querer criar um mundo melhor, o outro?! Quantos quilos de farofa tu tens no interior de tua cachola, ô, cabeça oca?! Deixes de asnice, debilóide!

sábado, 20 de maio de 2023

Crônica

 Reescrever livros, para não ferir as suscetibilidades dos hipersensíveis floquinhos-de-neve. Ou: Fim aos livros desagradáveis. Ou: Livros indefinidamente reescritos.


Não há muitos dias, assistimos a uma aventura do balacobaco, real, verídica, que parece saída de algum filme de quinta categoria: alguns javardos acharam por bem reescrever de alguns livros os trechos que entendem discriminatórios, preconceituosos, que ferem os sentimentos deste e daquele espécime de duas patas descendentes dos homens das cavernas. E assim fizeram (ou, mesmo pretendendo fazer, não o fizeram - não sei que fim tomou tal história) com livros de Roald Dahl, de Agatha Christie, de Monteiro Lobato, e com os de James Bond, o mais charmoso espião do universo, alter-ego de Sean Connery, o mais charmoso escocês - e também reescreveram, aproveito para lembrar, na versão em película, o teor de O Senhor dos Anéis. Ou tudo não passou de estratégia de marketing?! Há quem diga que tal se deu. Não sei. Para desovar os exemplares, que estavam, às moscas, cobertos de poeira, teias de aranhas a envolvê-los, nas prateleiras das livrarias, das edições que os "reescritores", após a morte dos escritores originais, pais das crianças, não haviam guilhotinado, lançaram mão de uma estratégia de vendas suicida. Seja qual for a explicação para tal fenômeno; tenha sido ele uma estratégia mercadológica, ou não, sabe-se que não poucos são os espíritos-de-porco que sonham, para atender suas humildes consciências de heróis da humanidade a criarem um outro mundo, o melhor, ver, em versões reescritas, os livros de escritores que, porque já bateram as botas, abotoaram o paletó, foram desta para a melhor, e estão a viver, mortos, de pés juntos, sete palmos abaixo da terra, ignoram o estrago que toleirões imbecis de primeira ordem estão a, estupidamente, lhes promover nas obras que legaram à posteridade - sejam elas ou de ouro, ou de ouropel, não importa: se o autor não autorizou ninguém a reescrevê-las, que tenham elas a cara, feia, ou bonita, que tenham, e que todos as respeitem, e que ninguém ouse submetê-las à cirúrgia plástica, à injeção de botox, de silicone, do que quer que seja.

Os espíritos-de-porco não se vexam de se alçarem à posição, elevada, e inalcançada pelo comum dos homens, de sumidades heróicas, protagonistas de poemas épicos que põem no chinelo a Ilíada, e de tais alturas arremessar, furibundos, e indignados, raios mortais contra o coração dos insignificantes mortais. Estão a melhorar, dizem eles, as obras dos escritores mortos, reescrevendo-as ao bel prazer, sempre a declararem, de viva voz, e em cores, que estão a fazer um bem inestimável à humanidade ao suprimir dos livros que submetem a escrutínio os trechos ofensivos. Digamos a verdade, o que nos vêm à cabeça: "Gente chata pra caramba! Chata-de-galocha! Mala-sem-alça sem rodinhas! Não toma Semancol, não?! Não tem desconfiômetro, não?! Que nos permita a nós, simples mortais, conhecermos as obras dos nossos antepassados, com todos os defeitos que elas possuem! E que os deixe viverem, em paz, na vida após a morte!"

Vejamos em que pé fica a brincadeira: hoje, uma pessoa - para efeito narrativo, batizemos a azêmola: Darci (assim ninguém saberá se é ou homem ou mulher) -, ao ler um certo livro - que nomeamos Aventuras Estapafúrdias e Desventuras Desarrazoadas de Juvenal de Aquitânia, o Estrupício - de um escritor (ao qual emprestamos o nome Amarildo Wanderlei Custódio Pires Salustiano) já morto - e ou enterrado, ou cremado - sente-se ferida(o) em seus sentimentos, em sua condição humana, sente-se ofendida(o) com os atributos que Amarildo emprestou a certo personagem, e constrangida(o) com certas cenas e com o vocabulário, reclama, e recorre a uma organização civil qualquer, e nela, para ver suas reivindicações atendidas, se socorre. E um auê se faz em torno do caso, e Darci, a chorar, deprimida(o), cabisbaixa(o), e a alegar que o livro lhe machuca os sentimentos, pede, melhor, exige, que nele se faça as devidas alterações - e as devidas alterações são as que ela(e) determina -, para assim se eliminar dele o que ele tem de prejudicial à sociedade. E atendem-lhe as demandas. Reescrevem "Aventuras Estapafúrdias e Desventuras Desarrazoadas de Juvenal de Aquitânia, o Estrupício", epicentro da catástrofe de grandes proporções. E nova edição, com as devidas alterações, de "Aventuras Estapafúrdias e Desventuras Desarrazoadas de Juvenal de Aquitânia, o Estrupício", é publicada. E Darci dá-se por satisfeita(o) com as alterações feitas. E transcorrem-se os anos. Em 2.028, uma certa pessoa - Darci, também esta - ao ler a nova edição, a com as alterações que a(o) outra(o) Darci solicitou, melhor, exigiu, de "Aventuras Estapafúrdias e Desventuras Desarrazoadas de Juvenal de Aquitânia, o Estrupício", incomoda-se ao ler um certo capítulo, e pede aos órgãos competentes que o capítulo em questão seja do livro suprimido, ou que tenha o vocabulário alterado para um que entende ela(e) apropriado - e atendem-lhe à demanda. E nova edição é publicada, com as devidas alterações. E Darci dá-se por satisfeita(o). E transcorrem-se os anos. Chegamos ao ano de 2.040: uma certa pessoa - Darci, a(o) terceira(o) desta história -, lê "Aventuras Estapafúrdias e Desventuras Desarrazoadas de Juvenal de Aquitânia, o Estrupício", em nova edição, publicada com as alterações que a(o)s outra(o)s Darcis exigiram, e tem pesadelos: a figura de uma certa personagem atormenta-lhe a consciência, e são-lhe perturbadoras as idéias esposadas por outra. E pede por alterações no livro. E atendem-lhe às exigências. E é publicada, com as devidas alterações, nova edição de "Aventuras Estapafúrdias e Desventuras Desarrazoadas de Juvenal de Aquitânia, o Estrupício". E Darci dá-se por sarisfeita(o). E transcorrem-se os anos. Chegamos a 2.060. E uma certa pessoa - Darci, a(o) quarta(o) desta história - lê "Aventuras Estapafúrdias e Desventuras Desarrazoadas de Juvenal de Aquitânia, o Estrupício", em edição melhorada com as alterações que a(o)s outra(o)s três Darcis exigiram, e cai em prantos, e recorre aos representantes da sociedade civil, que atendem-lhe as exigências: alterar do livro o vocabulário, que atormenta Darci, e suprimir o personagem tal, e adicionar uma cena, que é do gosto dela, e modificar o tipo físico de certa personagem, e substituir o narrador, antipático, por um simpático. E assim é feito. É publicada nova edição, com as alterações apropriadas, de "Aventuras Estapafúrdias e Desventuras Desarrazoadas de Juvenal de Aquitânia, o Estrupício". E Darci dá-se por satisfeita(o). E transcorrem-se os anos. E estamos a 2.077. A(o)s dua(oi)s primeira(o)s Darcis já partiram desta para a melhor. E uma pessoa, Darci - a(o) quinta(o) - lê, de "Aventuras Estapafúrdias e Desventuras Desarrazoadas de Juvenal de Aquitânia, o Estrupício", a edição melhorada, e tem um piripaque, e vai acamar-se num quarto de hospital: alvejaram-lhe, mortalmente, o peito, o teor de uma cena, as palavras ditas por certa personagem, a descrição de um prato de lentilhas e a presença de um porco dentro de um chiqueiro. E exige Darci mudanças no livro. E atendem-lhe as demandas. E chegamos ao novo século: 2.108. Darci - a(o) sexta(o), se não perdi a conta - lê o livro de Amarildo Wanderlei Custódio Pires Salustiano, e vai ter à UTI... E é publicada nova edição, melhorada, de "Aventuras Estapafúrdias e Desventuras Desarrazoadas de Juvenal de Aquitânia, o Estrupício"... E chegamos a 2.133... E Darci... E chegamos a 2.199. Uma certa pessoa, Darci... E em 2.999... E no ano 3.333, todos os exemplares de "Aventuras Estapafúrdias e Desventuras Desarrazoadas de Juvenal de Aquitânia, o Estrupício", cuja substância já não guarda nenhuma identidade com a primeira edição, publicada ainda em vida de Amarildo Wanderlei Custódio Pires Salustiano, desaparecem nas chamas de uma fogueira insaciável. E o nome de Amarildo Wanderlei Custódio Pires Salustiano é apagado de todos os livros de história.

 

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Nota

 Ao fogo, os livros que ferem os sentimentos das pessoas humanas.


Um livro (ainda sem título).

Personagens: quatro: um velho; um baixote gordo; uma senhora de bons costumes; e, um cavalo.

Entrecho: os quatro personagens lêem Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes Saavedra, e todos se sentem ofendidos: o velho, com o tratamento que Cervantes dedicou ao Dom Quixote; o baixote gordo, com o que ele dedicou ao Sancho Pança; a senhora de bons costumes, com o que ele dedicou à Dulcinea del Toboso; e, o cavalo, com o que ele dedicou a Rocinante.

Autor do livro: Ray Bradbury.

Artigo - Política

 

Politicamente Correto: a criatura devora o criador.

Não foi por falta de aviso: há uma década, no mínimo, ouço a profecia, que saiu da boca das sibilas, tal qual a de Cassandra: o monstro Politicamente Correto irá, mais cedo ou mais tarde, mais dia, menos dia, devorar, com voracidade animalesca, pantagruélica, insaciável, os tolos insensatos, imprevidentes, que estão a alimentá-lo.

Dito, e feito.

Por cegueira em alguns casos, miopia em outros, estupidez em todos, pelas razões as mais diversas, criaturas tolamente imprevidentes, estupidamente inconsequentes, altivamente presunçosas, arrogantemente egocêntricas, idiotamente pernósticas, petulantemente imbecis, que se arvoraram luminares da Sabedoria e lídimos arautos da Justiça, cuspiram tolices, bostejaram asnidades, defecaram ignorância e incultura, cerraram, a encorparem as hostes politicamente corretas, fileiras contra as vozes sensatas e previdentes, espécimes raras, que entendiam símbolos do atraso, emblemas de uma era de trevas, e as difamaram e ridicularizaram, e agora estão a enfrentar o ser monstruoso que alimentaram.

Contou-me um passarinho que, em algum lugar deste reino de povo gentil, e do jeitinho, e do cambalacho, e dos macunaímas, e dos marotos, do povo que não desiste nunca, após um juiz invocar certa lei e determinar que um certo humorista, que desconheço, e porque desconheço não sei se é engraçado, esteja proibido de contar piadas que machuquem os sentimentos das ditas minorias (e que se entenda por minoria o que bem se entender), estão a rodar a baiana um bom punhado dos outrora heróis que alimentaram, gostosamente, o Politicamente Correto.

Bons tempos o dos Trapalhões e do Chico Anysio.

Hoje em dia, é-se proibido contar piadas, pois sempre há quem se sinta ofendido com uma qualquer, por mais inocente que seja.

No andar da carruagem, não está longe o dia em que o ser humano não mais poderá emitir um "a" porque uma legião de criaturas de mal com a vida, floquinhos-de-neve hipersensíveis, se apresentará, indignada, a pedir punição, e rigorosa, contra o energúmeno que ousou falar "a", um anátema.

O humorista, que é o personagem desta história, perdeu o chão. E os outrora iluminados, que saíram em defesa dele, gentes que até outro dia cuspiam, presunçosas, coragem ao defenderem as minorias e pediam por leis que punissem com rigor quem as constrangesse com piadas de gosto duvidoso e de mal gosto, estão, agora, a se esgoelarem, impotentes, a espirrarem perdigotos de indignação e a acusarem censura na decisão do juiz - que invocou uma lei politicamente correta - que puniu o humorista que se atreveu a contar piadas politicamente incorretas. Alimentaram o monstro Politicamente Correto, que, agora, forte, tão monstruosamente poderoso que nem Hércules se dispõe a enfrentá-lo, não cederá um palmo do espaço que já conquistou, não sem luta feroz, sangrenta. E quem tem poder para sobrepujá-lo em luta renhida, franca?

Não foi por falta de aviso.

terça-feira, 16 de maio de 2023

Nota

 

Porquê não votei no Bolsonaro.

- Votar no Bozo, eu!? Eu, votar naquele ignorante?! O Bozo nunca leu um livro. É inculto! Qual é a escolaridade dele?! O cara nunca foi à escola. Votar nele?! Eu ainda não enlouqueci. Eu jamais votaria num cara tal qual o Bozo, inculto, ignorante, grosseiro, sem escolaridade. Jamais!

- Em quem você votou?

- [silêncio sepulcral]

Música

 Músicos Brasileiros: Manoel Joaquim de Macedo; Oscar Lorenzo Fernández; Dimitri Cervo; Carlos Gomes; Alberto Nepomuceno; Brasílio Itiberê; Chiquinha Gonzaga; Manoel Dias de Oliveira; e, José Joaquim Emérico Lobo de Mesquita.


Antes de qualquer outra coisa: Não errei o primeiro nome: É Manoel Joaquim de Macedo um músico brasileiro, de quem ouvi, ontem, domingo, 14 de Maio de 2.023, "Le ruisseau op. 142", a interpretá-la Adonhiram Reis e Katia Balloussier. O Joaquim Manuel de Macedo, nome que me veio à mente ao ler Manoel Joaquim de Macedo, é o nosso querido escritor, pai da moreninha mais famosa do Brasil.

Ditas as palavras que abrem esta crônica, empenho-me na tarefa de dizer, em poucas linhas: adquiri o bom hábito, salutar, de ouvir ótimas músicas brasileiras das quais só agora, às portas do meu quinquagésimo aniversário natalício, tive o prazer de ouvir, e de cujos autores em sua maioria eu, em meu prejuízo, jamais lhes ouvira os nomes.

Além de Manoel Joaquim de Macedo, nome que facilmente se confunde com o do autor de A Lanterna Mágica e que eu não, até há poucos dias, tinha ouvido, e tampouco visto impresso, eu soube de outros extraordinários músicos brasileiros: Oscar Lorenzo Fernández, de quem ouvi "Batuque"; Dimitri Cervo, de quem ouvi "Renova-te", sob a regência de Wagner Polistchuck; Brasílio Itiberê, de quem ouvi "A Sertaneja", Arthur Moreira Lima Jr. a interpretá-la ao piano; e dois músicos da arte sacra: Manoel Dias de Oliveira e José Joaquim Emérico Lobo de Mesquita - do primeiro ouvi "Magnificat", e do segundo "Salve Regina".

Além das músicas acima citadas dos seis músicos aqui já mencionados, ouvi músicas dos meus já conhecidos Carlos Gomes ("Sonata para Instrumentos de Corda"), Alberto Nepomuceno ("Prece", e "Galhofeira", ao piano por Arnaldo Estrella) e Chiquinha Gonzaga ("Saci-Pererê", Clara Sverner a interpretá-la ao piano).

Nos dois parágrafos que se seguem a este, ocupo-me a escrever algumas informações sobre as músicas, que ouvi, a de Carlos Gomes, no primeiro, e a de José Joaquim Emérico Lobo de Mesquita, no segundo, ambas acima citadas.

Interpreta a "Sonata para Instrumentos de Cordas" o Quarteto Bessler-Reis, sendo os dois violinos, o primeiro, Michel Bessler, e Marie-Christine Springuel, o segundo; e a viola, Alceu Reis; e há o violoncello (não sei às mãos de quem - não encontrei tal informação). Está a música em quatro partes: allegro animato; allegro scherzoso; adagio lento e calmo; e, burrico de pau (vivace).

De "Salve Regina" é a soprano Rosana Orsini; a mezzosoprano, Nerea Berraondo; Luciano Botelho, o tenor; Pedro Ometto, o baixo-barítono; e os violinos, dois, Dhenys Stetsenko e Meritxell Genis; e a viola, Nuria Pujobias, e o violoncello, Carlos Montesinos; e Bruno Forst, o continuista.

Ouvi, com muito agrado, encantado, todas as músicas que aqui citei. E pergunto-me porque tais preciosidades não estão aos ouvidos de todos os brasileiros.

domingo, 14 de maio de 2023

Crônica Política

 

Qual é a população do Brasil? 214.000.000 de brasileiros passam fome.

Há não muito tempo, numa corrente pra frente, noventa milhões de brasileiros, em ação, torciam pela seleção canarinho. Sabia-se, então, e dispensando-se estatísticas oficiais, que eram 90.000.000 os habitantes do Brasil, não exatamente, claro, assim arredondado, os noventa milhões de brasileiros a salvarem a seleção: eram noventa milhões, e mais um bom punhado, os nativos da terra de Cacambo e Lindóia. De lá pra cá, a população brasileira cresceu um bom tanto até atingir, hoje, a casa dos duzentos milhões, e superá-la em uns quatorze milhões. Não se sabe ao certo quantos são os brasileiros que todo santo dia trombam-se e estranham-se pelas ruas e avenidas e calçadas e praças deste vasto Brasil, afinal todo dia nasce e morre gente, e milhares, dos mais diversos credos, das mais variadas raças. Convencionou-se, para efeitos práticos, arredondar os números que indicam a população de um país tão populoso quanto o Brasil, sabidamente entendendo-se que é impraticável afixar-se, como se fazia em tempos não muito distantes, à entrada de uma cidade, uma placa a indicar-lhe população, e com todas as casas decimais. E dada tal convenção, tem o Brasil 214.000.000 de habitantes. Mas está correta a informação?

Antes de prosseguir, informo: dizia-se, há uns quatro anos, que tinha o Brasil uns 208.000.000 de habitantes. Era o que eu pensava, pois, acreditando honesto o governo, entendia correta a informação. E eu sabia que não eram exatamente quatrocentos e dezesseis milhões os pés, que pisavam o solo pátrio, de gente nascida no Brasil, afinal recém-nascidos em nenhum coisa pisam e é considerável o número de pessoas que por alguma razão amputaram uma ou duas de suas pernas, perdendo, consequentemente, os pés. Hoje, todavia, no entanto, porém, e entretanto, não sei se eu estava certo ao acreditar no governo, e se o governo merecia que nele eu depositasse o meu voto de confiança. Explico, no próximo parágrafo, o que estou a pensar.

Há pouco, ouvi o tal "L" declarar que no Brasil morreram, vitimados pelo vírus que é o bode expiatório perfeito a assumir a culpa pela desgraça que políticos e bilionários promoveram de quatro anos até a presente data, 700.000.000 de brasileiros. Você não leu errado, querido leitor: o tal "L" declarou que setecentos milhões de brasileiros morreram, coitados! vitimados por um bichinho que, de tão minúsculo, ninguém jamais o viu mais gordo. E podemos acreditar que tal informação está correta?! Mas é claro: a fonte é confiável.

E, encasquetado, a atanazar-me, a torrar-me a paciência, a gastar-me a beleza, a tirar-me do sério, a roubar-me a paciência, uma pulga homiziada atrás da minha orelha, não sei da direita, se da esquerda, está a me inspirar uma pergunta incômoda: "Eu estou vivo?" Se eram duzentos e oito milhões de brasileiros em ação, para salvar a nação, com amor no coração, e no peito muita paixão, e morreram setecentos milhões, então eu morri, e três vezes, e renasci uma única vez. E um adendo: eu e outros duzentos e sete milhões e novecentos e noventa e nove mil e noventos e noventa e nove brasileiros morremos três vezes e renascemos uma vez, o que explica o Brasil ter hoje duzentos e quatorze milhões de habitantes, ou tal não explica porcaria nenhuma.

E para encerrar este trecho deste meu artigo: de uns tempos para cá, inventaram os sábios de plantão uma nova matemática, que, não sendo eurocêntrica, e caucasiana tampouco, atende aos padrões da diversidade racial e étnica humana, o que permitiu que se suprimisse inúmeros preconceitos, não se sabe quantos deles até então de todos desconhecidos, o que explica as inconsistências, que me abismaram, e apalermaram-me, das informações referentes à população brasileira. Neca de pitibiriba entendendo da nova matemática, que está a erguer um mundo melhor, deixo o dito pelo não dito, e calo-me.

Agora, outro trecho do artigo, o segundo, e último, que será bem curto, e o principio com uma informação, que fará você, leitor, coçar a sua, e não a minha, cabeça, mas por pouco tempo, pois na sequência esclarecerei o caso: ontem, depois das duas da tarde, passei fome. Você não leu errado, leitor: ontem, depois das duas da tarde, passei fome. Ocupado com alguns afazeres profissionais, depois de, às oito da matina, beber, a emborcar um copo americano, uma boa dose de café bem preto adoçado com açúcar mascavo, e comer duas fatias de pão de fôrma recheadas de manteiga, meu estômago, a roncar havia duas horas, só foi sentir cheiro de comida às três da tarde. Tal caso, eu a pensá-lo com a minha cabeça, obrigou-me a concluir, a contragosto, confesso, que estava correta a tal "M" ao declarar que no Brasil cento e vinte milhões de pessoas passam fome - e todas essas pessoas, porque a passarem fome, não estão pra frente, a salvarem a nação. Explico o meu caso, no próximo parágrafo.

Assim que, meu estômago a reclamar feito doido, me dei conta de que eu estava a passar fome, uma lâmpada acendeu-se-me um palmo acima da cabeça, iluminando-me o espírito até então obnubilado pela má-vontade. Repeti comigo, em pensamento, e, creio, em voz alta, umas duas vezes: "Estou a passar fome! Estou a passar fome!" E então entendi as palavras da tal "M", mulher de sabedoria natureba, mulher de estreito vínculo com a Mãe Gaia, vínculo umbilical. Ora, todo brasileiro, sejamos sinceros, digamos a verdade, já passou fome, pelo menos uma vez na vida. Então, à tal "M" uma ressalva: 214.000.000 de brasileiros passam fome, se não todo dia, uma vez ou outra, ou uma vez na vida e uma na morte. Agora, sim, está a coisa no seu devido lugar. E que todo brasileiro tenha a boa-vontade de reconhecer a sabedoria ingênita da tal "M", mulher que está espiritualmente conectada com a natureza.

E para encerrar: prometo dedicar-me a estudar, diuturnamente, e com atenção inédita, a matemática que permitiu ao tal "L" chegar aos setecentos milhões de brasileiros que o bichinho infernal mandou desta para a melhor.

E vamos os duzentos e quatorze milhões de brasileiros, pra frente, numa corrente, a salvar a nação.

sábado, 13 de maio de 2023

Uma crônica

 

Homem tem útero e mulher tem próstata.

Há umas três décadas, se me lembre bem, e sei que bem a data eu não lembro, uma notícia escandalizou metade da população brasileira e indignou a outra metade: em certa prefeitura de não me recordo qual cidade da federação brasileira, descobriu-se que, dentre as notas de serviços que este e aquele funcionários apresentaram, havia os de despesas médicas com tratamento de câncer de próstata e cirurgias no útero. Até aqui, nada demais. O que de todos chamou a atenção foram os seguintes detalhes: algumas funcionárias haviam apresentado à prefeitura documentos que lhe comprovavam que elas haviam se submetido à cirurgia de próstata; e funcionários (homens, explico) à de útero. Que escândalo! Naquele tempo, de obscurantistas a dominarem o debate público, de curandeiros a cuidarem das questões médicas, naquele tempo, uma era de pessoas que ainda não haviam sido agraciadas com a luz da sabedoria, que viria a iluminar a mente humana neste princípio do século XXI, não houve quem, na sua santa ignorância, não bostejasse, despudoradamente, suas maledicências contra os visionários indivíduos que anteciparam, em décadas, duas, no mínimo, os conhecimentos científicos que pessoas de intelecto privilegiado apresentariam nos dias que vivemos, hoje, em plena década segunda do século XXI: homens podem ter útero e as mulheres próstata. E tão perspicazes são os sábios de intelecto infinitamente avantajado, raros seres que as entidades cósmicas celestiais privilegiaram com o dom da sabedoria universal, e dotados de mentalidade que está muito além do nosso tempo, que eles já entenderam que há homens capazes de botar ovos, mulheres dotadas do talento de darem à luz abacates, e homens e mulheres detentores do impressionante, e invejável, dom de, após o intercurso sexual com criaturas bovinas, presentearem, após nove meses de gratificante gestação, a mãe Gaia com bípedes ruminantes de cérebro de içá.

Que se arrependam do hediondo crime que há três décadas perpetraram os tolos e brutos e estúpidos sujeitos que vilipendiaram aqueles funcionários de não sei qual prefeitura de qual município brasileiro que, sendo, uns, mulheres, cuidaram, cada qual, da saúde de sua próstata, e, outros, sendo homens, zelaram pelo bem-estar, cada qual, de seu útero, para que possamos viver num mundo, o outro, que é melhor do que este. Oxalá não tarde tal mundo a se concretizar!

terça-feira, 9 de maio de 2023

Uma nota

 

Músicos Brasileiros: Anacleto de Medeiros; Joaquim Callado; Ernesto Nazareth; Chiquinha Gonzaga; e, Padre João de Deus de Castro Lobo.

Diz uma lenda que os brasileiros não valorizamos o nosso ouro e admiramos o ouropel estrangeiro. Diz outra lenda que os brasileiros dos estrangeiros copiamos o que há de pior. E tais lendas refletem a alma dos brasileiros, ou dela só um pedaço? Às vezes penso ser a resposta um sonoro, altissonante "Sim!" Mas por que somos os brasileiros assim? Por que somos um povo naturamente, e historicamente, atoleimado, de javardos, ou por que nos ensinam as otoridades (assim, mesmo, com esta ortografia pejorativa) a sermos os pascácios estúpidos que somos?! Fossêmos o que ensinam as lendas, teríamos do nosso sangue os homens cujos nomes estão no título desta crônica, que é curta? Ou eles são as pedras preciosas que milagrosamente brotaram em terra sáfara?! Que alguém a respeito dê a sua tese. Aqui, eu apenas estou a tecer, em poucas, quase nenhuma, palavras, comentários acerca das músicas que hoje, há minutos, ouvi, e que mos inspiraram.

De Anacleto de Medeiros, ouvi "Cabeça de Porco", e "Araribóia", um dobrado, pela Banda de Música de Ontem e de Sempre.

De Joaquim Callado, ouvi uma polca, "Querida por Todos".

De Ernesto Nazareth, ao som de piano dedilhado pelo maestro Marco Aurélio Xavier, "Bambino", "Sagaz", "Odeon", "Cutuba" e "Brejeiro".

De Chiquinha Gonzaga, "Lua Branca", ao piano por André Pédico.

De Padre João de Deus de Castro Lobo, "Matinas de Natal - Quinto Responsório - 1. O Magnum Mysterium", a trabalhá-la, sob a direção do maestro Ernani Aguiar, o Coral Porto Alegre e Orquestra.

Nenhuma das músicas acima citadas desagradou-me; muito pelo contrário: todas agradaram-me imensamente, principalmente "Araribóia" e "Matinas de Natal".

Se em uma época não muito distante, brasileiros criaram obras de tal envergadura, maravilhas da música, por que hoje em dia só se ouve, em terras de Peri e Ceci, imundícies auditivas?!

Não sou músico; não sei ler partituras; mas tenho tímpanos, que as sujeiras barulhentas machucam.

Dedicar-me-ei, nos próximos dias, a ouvir outras músicas dos cinco músicos brasileiros citados acima e músicas de outros talentosos músicos brasileiros, dentre eles Carlos Gomes, Villa-Lobos e Pixinguinha, e de outros, de cuja existência tomei conhecimento há pouco: Henrique Oswald; Alberto Nepomuceno; e Alexandre Levy.

Que a minha ignorância é das dimensões da Via-Láctea, eu sei. E pretendo ampliá-la.