sexta-feira, 31 de março de 2023

Uma nota

 Bolsonaro e Lula. Paulo Guedes e Hadad. Mais impostos e menos impostos.


Dizem os esquerdistas: "Responsabilidade social do governo: investir em programas sociais. Com que dinheiro?! Com o dinheiro dos impostos. Quanto mais dinheiro, via impostos, arrecadado, mais o governo investe em programas sociais."

Bolsonaro, e seu Posto Ipiranga, Paulo Guedes, reduzem a carga tributária. Resultado: aumento da arrecadação de impostos.

Molusco, e o tal de Andrade, aumentam a carga tributária. Resultado: redução da arrecadação de impostos.

Se mais impostos recolhe, mais o governo investe em programas sociais, para o benefício das camadas menos favorecidas da sociedade, então qual governo beneficia mais o povo?

quinta-feira, 30 de março de 2023

Um filme e quatro desenhos animados

 Dois filmes: Quantum Voyage (The Black Hole); e, Interstellar Wars.


Não sou íntimo do idioma de Shakespeare, e tampouco do de Mark Twain.

Com a intenção de aprender um pouco do idioma do qual pouco, melhor, quase nada, entendo, decidi, para saber ouvir o que dizem os falantes conterrâneos de Melville, e os de Dickens, e os de Walter Scott, e os de Joyce, e os de outras nações anglófonas, e associar as palavras por eles ditas com as respectivas palavras convertidas em alfabeto, assistir a filmes, no original falados em inglês, com as legendas também em inglês, e assim aprender, é o meu propósito, a associar estas àquelas - e unindo o útil ao agradável, assisti a filmes de ficção-científica (ou space-ópera, se assim o desejarem), gênero que muito aprecio, embora eu o tenha negligenciado ultimamente. E assim fiz. Os dois filmes, que estão no título desta resenha, que não sei se é apropriado chamar-se resenha, Quantum Voyage (The Black Hole) e Interstellar Wars - deixo no original os títulos porque aos filmes assisti em inglês -, são, ambos, antecipo a informação, desprovidos de atrativos, o segundo, inexplicavelmente menos atraente do que o primeiro.

É sofrível, tenho de reconhecer, o meu conhecimento da língua inglesa; a minha ignorância, todavia, não me impediu de compreender as falas dos personagens. E umas cinquenta palavras anotei numa folha de rascunhos, e os seus respectivos significados disse-me quais são mister Michaelis, o father of donkeys. E algumas expressões idiomáticas, poucas, presumo, se me escaparam ao entendimento. Tenho a obrigação de informar: o mister Michaelis não soube me dizer o significado de algumas palavras, o que me obrigou a recorrer a sites de traduções.

Deixando de lado o blablabla, e de Quantum Voyage (The Black Hole) digo: é um filme sem atrativos, que trata da viagem, os viajantes espaciais-temporais-dimensionais a dobrarem o tecido do cosmos, entre as dimensões, em sua infinitesimal estrutura quântica, desordenada porque sob a inescapável influência de sentimentos poderosos de dois deles, as amigas Mattie Carver (Izzie Steele) e Jess Silvy (Natalie Distler), esta, hospitalizada, a odiar aquela após um acidente de carro que aquela, ao volante, negligente, provocara. A viagem quântica a empreendem, sem que a queiram, sem que a entendam, as duas personagens e alguns coadjuvantes, poucos, sempre que se ouve o vibrar do som de um violino, o instrumento que provoca a ruptura entre os tempos, as dimensões, amedrontando as personagens, que não compreendem os inusitados, singulares, inéditos fenômenos que se passam com elas.

Já Interstellar Wars conta a aventura de uma espécie extra-terrestre que, a bordo de uma espaçonave, após atravessar um portal espaço-temporal-dimensional localizado no lado oculto da Lua, um buraco de minhoca, chega à Terra, e dispara contra os humanos raios de uma certa frequência, que ativa, nos humanos que abduzira há décadas, vírus inativos que neles, sem que eles soubessem, inoculara, tranformando-os em zumbis. 

É o filme pobre de recursos, desprovido de atrativos, um filme, eu diria, B, melhor, Z. Um trash. Um lixo cinematográfico trash.

Quantum Voyage (The Black Hole) conta com uma produção razoável; Interstellar Wars, não. Este é um bem acabado filme mal feito. Mas tem a sua graça. E ajudou-me, tal qual o outro, a enriquecer o meu vocabulário e a aprender a ouvir os falantes da língua do Tio Sam.


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Bicudo - o Lobisomen - O Desastre (Fangface - The Film Fiasco of Director Disastro) - desenho animado


É o desenho animado, além de animado, bobo, direi. Melhor: bobinho. Bobinho, divertido, engraçado. Uns poucos minutos de entretenimento. Quem o assiste ocupa seu tempo com um desenho animado, animado e tosco, que oferece diversão, e humor disparatado. A diversão, garantida. É bobo, melhor, bobinho, o desenho animado? É. E não é primorosa a produção, que é, na falta de expressão melhor, tosca. O enredo - se assim se pode referir à trama deste episódio, O Desastre, é complexo, sofisticado, que embasbacaria os maiores escritores de romance e de ficção científica. Dúvidas de mim, querido leitor?! Então, leia o resumo, de minha autoria, de O Desastre, desenho animado de uns sete minutos estrelado pelos heróicos Bicudo (cujo nome de batismo é Sherman Fangswort), Bicudinho, Kim, Bill e Gordinho (Puggy, para os gringos): Bicudo, nascido numa família que a cada quatrocentos anos dá à luz um lobisomen, e seus amigos, enfrentam dois alienígenas - e o líder destes é Desastro - que, em uma nave espacial chegam à Terra para gravar cenas para um filme "O Dia em Que a Terra Explodiu." A bordo de um avião, Bicudo e Bicudinho, a salivarem de desejo de, com seu único dente triangular, ostensivo, saliente, fatiar Gordinho, e devorarem-lo, contendo-se ambos em seu irrefreável desejo, chegam a bom termo, e deixam Gordinho em paz, sem se esquecerem dele, no entanto, e dão fim à erupção de um vulcão - que, atingido por um raio que os alienígenas lhe haviam disparado, chorava magma e lava - ao arremessarem-lhe na boca, tampando-a, uma pedra gigantesca. Na sequência desta fantástica aventura, um périplo para figurar nos anais da história universal, Bicudo e Bicudinho e Gordinho correm de um ciclone (que os alienígenas criaram para destruir a maior cidade da Terra), que lhes vai no encalço, pelos subterrâneos da cidade, e do qual eles se livram ao tamparem o bueiro, no subterrâneo prendendo-o; e impedem que o meteoro que os alienígenas dispararam contra a Terra, para destruí-la, a atingisse - uma cena digna dos super-heróis, Bicudinho a desempenhar, nela, o papel principal, com desenvoltura superior à do último filho de Kryton se ele se visse em situação idêntica -; e prendem os alienígenas; e assistem, numa sala de cinema, ao filme que Bicudo, durante a ação no interior da nave alienígena, gravara com a maestria de Steven Spielberg: "O Dia em que os Lobisomens Salvaram a Terra. Fim. E todos viveram felizes para sempre - excetuados a dupla de alienígenas, claro.

Querido, leitor, se tu és fã, e dos de carteirinha, de histórias híbridas de literatura gótica e de de ficção científica - ou space-ópera, se és das antigas -, apreciador de Bram Stoker e Arthur Charles Clark, não perca este emocionante desenho animado, que é tosco, e, embora tosco, animado, bem animado. Tu dificilmente assistirás desenho animado tosco de equivalente teor hilário. Divirta-se, querido leitor. E não se vexe de confessar, e para ti mesmo, que tu amas desenhos animados toscos.

Antes de dar por encerrada esta resenha, que não é, assim a entendo, tosca, digo: neste desenho animado tu aprenderás, querido leitor, as leis da física as mais sofisticadas e complexas; para tanto, basta atentares para a sucessão de eventos que a aventura animada, e animadamente tosca, apresenta.


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Mosquito, Mosquete e Moscardo - Os Voluntários (Yippee, Yappee and Yahooey - The Volunteers) - desenho animado.


Numa era, a medieval, suponho, considerando, com o meu extraordinário conhecimento da história e da arquitetura européias, com o propósito de montar um exército de soldados exemplarmente bem treinados e preparados, de elite, para proteger o seu castelo, que conta com anacrônicos rádio e autofalante, o irascível e resmungão rei, a majestade plenipotente, diz à senhorita Godofreda, um nome bem medieval, que convocasse todos os soldados do reino ao castelo, para treinamento sob as ordens do sargento, e à ordem real atendem os três mosqueteiros - que, suponho, são os únicos soldados do reino (e precisaria de outros soldados, se podia o rei contar com tais heróis, bravos e destemidos e donos de sabedoria invejável e inigualável destreza no manejo das armas e desenvoltura corporal sem par?!) -, todos cães, um cor de laranja, um azul e um branco (e não sei qual deles é o Mosquito, qual é o Mosquete e qual é o Moscardo - e não tratei de saber, pois ri, o tempo todo, enquanto assistia ao desenho animado, tosco, mas animado, e ri tanto, que não atentei, mesmo que tenha me esforçado para atentar, em tais detalhes, e nem com todo meu perspicaz talento para a observação de tipos humanos, melhor, caninos, pude associar o nome à respectiva criatura -, e enquanto escrevo esta exemplarmente bem desenvolvida resenha estou a rir a bandeiras despregadas). E os três mosqueteiros revelam-se, sob as lições do sargento, soldados mais desclassificados do que os do Exército de Brancaleone: para derrubar uma porta de madeira maciça usam de aríete o sargento; ao disparar os mosquetes, espetam o sargento, na madeira, no alvo; ao treinar o resgate de mulher indefesa - o sargento a fazer-se de mulher - atrapalham-se, e pôem o sargento em penduricalhos; enfim, ao dispararem canhões, numa salva de vinte e um tiros, alvejam o rei, que, chamuscado, e de vestes reais em tiras, sai-lhes no encalço, e dispara-lhes um canhonaço, atingindo-os. Esta, a derradeira cena do episódio, fecha-o com chave-de-ouro.

Se tu estás, querido leitor, disposto a assistir a um desenho animado, que é curto, e animado, e tosco, perfeitamente tosco, e além de tosco, divertido, que assista, ao telefone esperto, sem perda de tempo, ao Os Voluntários, estrelado pelos heróicos Mosquito, Mosquete e Moscardo, três cães mosqueteiros, êmulos de Athos, Portos e Aramis, e do Dartagnan também, três mosqueteiros, que são quatro, humanos, e se possível durante o expediente de trabalho, quando o teu chefe estiver, furibundo, a te ralhar, a te soltar os cachorros em cima, despertando-lhe a curiosidade, para que ele, curioso, e querendo saber ao que tu assiste, ignorando-o, exija-te que lhe mostre o que te prende a atenção, e vindo a contigo assistir ao desenho animado, que, repito, é tosco, alegre-se, e ria, e gargalhe, e animado esqueça porque te admoestava furiosamente.


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Recruta Zero - Até tu, Otto (Mort Walker's Beetle Bailey - et tu otto) - desenho animado.


São o Recruta Zero e o Sargento Tainha popularíssimos, modelos bem acabados de militares em perfeito estado físico, preparados para toda obra. Neste episódio, após, seguindo ordem do capitão Durindana, dispensar os recrutas molengas (bando de recrutas de asilo feminino, diz o sargento Tainha) para que eles descansassem durante o final de semana, e à fuga de Otto, que vai ao encontro de uma charmosa fêmea de sua espécie, a canina, vendo-se solitário, só, enfim só, no Camp Swampy, o Sargento Tainha entristece-se, e para escapar à solidão em busca de conselhos, e bons conselhos, que lhe arrefeçam a angústia que o acomete, recorre ao capelão, e indaga-lhe por que não é ele, Sargento Tainha, amado por ninguém, e do capelão ouve sábias palavras: que ele, Sargento Tainha, abandone a sua cara de poucos amigos e se faça de amável aos recrutas, para com eles estabelecer uma relação fraternal. Que ele aprenda a sorrir. Que ele sorria. Prudente, decidiu seguir o conselho do capelão o sargento infortunado, desamado, que vai, cabisbaixo, de ombros caídos, mas animando-se, até os recrutas, já encerrados os dias de descanso, então a cavarem trincheiras, e fala-lhes com voz melíflua, encantadoramente simpático, a exibir-lhes, no seu inconfundível rosto, além de sorriso exuberante, seu único dente, que reluz ao Sol. Para a sua surpresa, todavia, contrariando-lhe as expectarivas, os recrutas, que lhe estranham o inédito comportamento, acreditam estar ele possuído de algum mal, e correm-lhe no encalço. E até Otto, com ele irritado, persegue-o.

Leitor querido, se tu és um militar, ou uma pessoa que se interessa pela arte bélica, assista este episódio de um dos mais populares desenhos animados de todos os tempos, e conheças a rotina de um posto militar avançado descrita à perfeição. E divirta-se, porque ninguém é de ferro.


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A Polícia Desmontada - Alberto, o Esperto (Posse Impossible - Roger the Dodger) - desenho animado.

Em algum ano do tempo das diligências, no Velho Oeste, de uma prisão escapa, acorrentado, pelos pés, a uma bola de ferro imensa, pesadíssima, o criminoso, o ladino Alberto, o Esperto, por antonomásia assim alcunhado, ao arremessar por sobre o muro, que é alto, que o conserva confinado ao perímetro da prisão, a bola de ferro, após girá-la, segurando-lhe a corrente, por sobre a cabeça. Para surpresa do diretor da prisão, que acreditava, seguro de si, que da prisão desta vez Alberto, o Esperto, não escaparia, ele escapa. Livre, o criminoso fugido encontra Sabino, o seu sorridente cavalo, a relinchar hienamente. E com sua potente estrutura dentária, Sabino, com uma poderosa dentada, rompe a corrente que prendia à bola de ferro Alberto, o Esperto, libertando-o. E para impedir que o diretor da prisão comunique a sua fuga à cidade de Sela Frouxa, o vilão arremessa para o alto a bola de ferro, que, atingindo os fios telegráficos, arrebenta-os. Para contatar a Polícia Desmontada, o diretor da prisão da qual escapou o famigerado criminoso envia-lhe um pombo-xerife. Informados do episódio correm no encalço de Alberto, o Esperto, o xerife Tiro Certo, homem charmoso e bonitão, de dentes lácteos, e de covinha sensual no queixo robusto e quadrado, másculo, montado num fabuloso e lendário cavalo branco, de crina exuberante, portentoso, e os seus três auxiliares, todos os três de bravura indômita, destemidos e arrojados, Valentino, Vareta e Chorão. E é tão esperto o Alberto, o meliante fugido da prisão, que, após capturado, pela Polícia Desmontada, numa armadilha que o xerife Tiro Certo, com esperteza equivalente à de Odisseu, lhe armara, e trancafiado, numa jaula da delegacia de Sela Frouxa, rouba toda a comida da Mother Lode Cafe, assim impedindo o xerife Tiro Certo e os seus três heróicos e destemidos auxiliares de se refestelarem despreocupadamente após tão ingente caçada.
Se estás, querido leitor, interessado em conhecer a história do Velho Oeste, o costume de seu povo, suas lendas e suas peripécias, assistas a Alberto, o Esperto, um capítulo emblemático, não apenas da história da cidade de Sela Frouxa, mas de toda a terra dos pistoleiros rápidos no gatilho.

nota

 O trabalho mais difícil das enfermeiras.


O trabalho mais difícil das enfermeiras: decifrar o garrancho dos médicos.

terça-feira, 28 de março de 2023

Uma resenha

 Passaporte para uma outra terra - de Cláudio Pena.


Abordou-me, há poucas semanas, em Pindamonhangaba, meu berço, o peregrino escritor de Taubaté, a carregar mochila às costas e a oferecer-me à venda um livro de sua autoria. Comprei-lho. E guardei-o na minha estante de livros, justaposto a outros que eu comprara dias antes; e há cinco dias dela eu o tirei, disposto a lê-lo.

Nas poucas vezes em que me ocupei com a leitura de livros de escritores brasileiros contemporâneos meus, deles esperando algo de bom, frustrei-me. Frustrar-me-ia Cláudio Pena?! Comprei-lhe o livro na esperança de ler-lhe uma história bem narrada, bem escrita. O livro corresponderia às minhas expectativas?

Pedi que não me desiludisse, digo assim, na falta de uma expressão - que não encontro -, que eu poderia entender mais apropriada, Cláudio Pena - o autor de Passaporte Para Uma Outra Terra -, que decidiu pôr no papel as recordações de Tonho Nazareno Sidéreo, homem de uma biografia errática, bandida, a buscar, nos escaninhos de sua memória, obscuros, o que o tempo lhe tirava, para remir, numa reminiscência sincera, feita no silêncio de sua alma pecadora ávida por conforto espiritual, os seus pecados. As suas recordações, fugazes, as cenas de sua vida por ele a não se deixarem agarrar. É o relato memorialístico misto de realismo chão, rasteiro, fescenino, e simbolismo poético, vazado num estilo a transcender a crueza do relato.

É Tonho Nazareno Sidéreo, nas palavras do autor, um tipo de peregrino mercador ambulante de sonhos, que nos anos 1970 principia a sua errática peregrinação, ele, então, um jovem dissimulado, mentiroso, a chafurdar-se nas drogas, a envolver-se com os tipos mais desprezíveis de gente, a engravidar uma jovem, cujo filho ele, que não se dizia feito para ser pai, não assume. E vai-se de Taubaté para São Sebastião. E a Taubaté regressa, e entra em um seminário, que abandona ao saber-se desprovido de vocação para a vida de seminarista, e emprega-se numa repartição pública, que ele, devido ao seu temperamento impulsivo a impeli-lo a incorrer em atos impensados, irrefletidos, tem, para evitar escândalos, de abandonar.

Transcorre o tempo, de movimento inexorável.

Vive Tonho Nazareno Sidéreo em Lorena, e em Itatiaia, e no Sul de Minas Gerais. Lê muitos livros: de Pietro Ubaldi, de Rimbaud, de Alighieri. Ouve músicas clássicas. Escreve contos eróticos, e os vende de porta em porta. E esculpe a Bailarina, e um presépio, este, de gravetos, a sua obra-prima, dizia. Envolve-se com muitas mulheres. Enfim, no epílogo de sua jornada interminável, regressa a Taubaté, à casa de sua mãe.

Arrependido de seus atos, para não vir a enlouquecer, e não permitir que de si escape sua história, confessando-se ao Pai, procura em si mesmo a cura para a sua doença anímica, o lenitivo às suas dores espirituais. Esforço vão; sincero, mas vão. E porque inglória a sua vã batalha, e tal ele não ignora, após dar cabo de sua obra sacrílega, abandona-se às chamas que a consomem, chamas que, também consumindo-lhe o corpo, não se extinguem.

Cuidasse de classificar o livro que estou a resenhar, e inseri-lo numa escola literária, teria eu de desdobrar-me para encaixá-lo em uma delas, e o faria a contragosto, talvez pela obrigação tola de acreditar que toda obra literária tem de ser classificada nesta ou naquela. Digo, portanto, não me cobrando tal incumbência, que é Passaporte Para Uma Outra Terra um livro escrito por um brasileiro. E com tais palavras o que eu digo?! Nada.

Desiludiu-me o livro?! Frustrou-me as expectativas que, por alguma razão, que ignoro, acerca dele criei?! Não. E não. Surpreendeu-me o livro. Agradou-me. 

Notei, logo nas primeiras linhas, o estilo suave, que permite leitura fácil, e o bom vocabulário. E logo vi que conta o narrador a história de um homem cuja reputação cobra um relato cru, de vida bandida, e antevi - foi o que as primeiras páginas do livro me inspiraram, eu a me antecipar às duzentas páginas que se seguiriam - cenas e mais cenas de alcova à Marquês de Sade. E não foi o que eu li, para o meu agrado - não entendo criminosas tais cenas, pois subscrevo as palavras do sábio grego: tudo o que é humano não me é estranho. Não me agradaria ler tais cenas, no entanto, no livro à cuja leitura eu me dedicava, pois sei que em não raros casos os escritores ocupam páginas e mais páginas com grosserias pornográficas para ocultar dos leitores a, deles, escritores, escassez de talento literário.

Predestinado a cumprir o seu destino, numa luta inglória - é correto assim adjetivá-la?! -, vã, Tonho Nazareno Sidéreo procura conciliar os seus instintos carnais, aos quais ele se submete, incapaz de sobrepujá-los com sua vontade simultaneamente férrea e frágil, com o desejo de sublimá-los, um ideal, que se revela inalcalçável, que ele busca durante toda a vida. Queria transcender a matéria, e por meio da matéria. Luta vã, que não tem ele recursos para vencer. Enganam-lo suas reminiscências, ele a desejar, ávido para remir seus pecados, ao reconstituir a sua história errática, emprestar-se a si mesmo motivações que não possuía, a crer que tinha ele de cumprir, sob as leis rígidas do livre-arbítrio, um destino.

Desgarrado do mundo, e no mundo perdido, e só, contra o mundo a lutar diutirnamente, Tonho Nazareno Sidéreo, modelo de vadio, e sonhador inconsequente, e idealista de ares místicos, está certo de que o mundo o oprime, e dele em vão esforça-se para se livrar, certo, reconhece, a contragosto, que da matéria é incapaz de escapar, e que está, em sua forma corporal, à matéria umbilicalmente unido; sabe que é um dos ingredientes de seu ser a matéria, o corpo, do qual não pode se desconectar, mas, vãmente, para escapar à perturbação que tal idéia lhe provoca, e a alimentar as suas idiossincrasias, que o agradam, sublima, por meio de sonhos, decodificados num vocabulário poético, a desejar empreender as suas aspirações místicas, veleidades de uma alma exilada na Terra, atormentada em sua condição material, os seus atos mais corriqueiros, mais rasteiros, inclusive os seus pecados. Ele sabe, inconscientemente, ser incapaz de concretizar o seu propósito idílico: do corpo libertando-se, regressar ao seu útero espiritual. Não se compreende, vive a bater-se em si mesmo, daí as suas ações erráticas, tresloucadas. E não é esta a condição humana?!

O relato, pungente, da vida de tal homem, não se perde em descrições naturalistas, que se dedica, única e exclusivamente, a descrever as manifestações fisiológicas dos humanos, destes negando trancendência, valores nobres, sonhos. São vívidas as suas recordações - e com elas o leitor conecta-se. O relato não é o de um fatalista empedernido, de um determinista intolerante emasculado que desistiu de lutar pelos seus sonhos - ciente de sua baixeza, de sua hediondez - e que acredita que toda ação humana é vã. O autor cuida, ciente da vida bandida de seu herói, e da crueza do mundo, de emprestar poesia à prosa, de penetrar no espírito de seu personagem, de extrair, dele, a essência, sem o julgar, e a descrever-lhe o espírito, o que dele há de sublime na sua condição de pecador.

Está em Passaporte Para Uma Outra Terra o relato da vida de um homem sozinho no mundo, humano demasiadamente humano.

quarta-feira, 15 de março de 2023

crônica

 Parece coisa de loucos. E é.


Dizem por aí e por aqui os atilados observadores da conduta humana que há, hoje, loucos de três costados em quantidade superior à que se via ontem. Se procede tal afirmação, nada posso dizer. Neca de pitibiribas entendo das fórmulas que os doutos estatísticos usaram para chegar à conclusão de que os loucos multiplicaram-se a olhos vistos. Posso declarar que eles se reproduzem à velocidade geométrica, enquanto os homens sãos à aritmética, o que vem a redundar no aumento proporcional de loucos em nossa sociedade. Um dia, quem sabe, haverá mais loucos do que sãos. Há quem diga que tal dia já chegou.

Não sei o que se passa em outros planetas; sei o que se passa em meu entorno. Persuadido de que seja eu um homem são, digo, melhor, escrevo: ultimamente tenho visto muitos loucos, doido-varridos, lelés, dodóis-da-cabeça, malucos-beleza, desparafusados, circulando por ai, e por aqui, alguns a assustar-me. Dia destes, a palestrar com meu amigo imaginário - amizade antiga, que eu estimo há quarenta e seis anos - a passear, pelo centro daqui de Pindamonhangaba, tranquilamente, pela Praça da Cascata - assim alcunhamos os do povo a Praça Monsenhor Marcondes -, encerrei a animada conversa com o meu amável interlocutor assim que à minha direita um doido-de-pedra emitiu ao meu ouvido, a ponto de ensurdecer-me, um sonoro grunhido rascante, que enfiou-se-me, pela cabeça adentro, até o meu cérebro, quase me desmiolando. É louco, o homem; e ele quase me pôs louco.

Mas não é de tal louco, e de outros loucos de igual têmpera, loucos, digamos a verdade, que, embora nos incomodem, têm a sua graça, que eu pretendo falar. Quero falar de outros loucos, loucos, estes, muito loucos, malucos de marca-maior, os loucos moderninhos, que - ao contrários dos loucos, os clássicos, com os quais já aprendemos os sãos a viver harmoniosamente - os agentes do outro mundo melhor entendem ser os salvadores da Terra. Um dos grupos de loucos - e irei neles me concentrar, e a eles conceder poucas palavras, pois não quero enlouquecer-me - formam uma seita, uma seita de... De quê?! De loucos. De loucos, sim, mas dizem que eles loucos não são. É um grupo de pessoas que, para salvar a Terra, mantêm com ela relações sexuais. Entendem os tipos que, como eu diria?! com a Terra mantendo uma relação... - carnal?! -, conjugando com a Terra o corpo, numa conjugação carnal, estão, acreditam os carinhas, a purificá-la, a removerem-lhe as imundícies que nela os humanos inserimos. Assisti... Ora, em um vídeo há uma bela donzela desnuda a se... a se... Esforço-me para não descer à vulgaridade. Entenda-me, leitor, a minha prosa tatibitate. Entenda: as reticências, em rápida sequência, têm razão de ser. A donzela, uma ninfa dos bosques, deitou-se na terra, e... e... E em outro trecho do vídeo, um homem... um homem, assim, sabe, leitor?! a montar à cavalo, sobre um tronco de não sei qual árvore, e desta a puxar os galhos e a arrancar as folhas como se estivesse a agarrar e arrancar cabelos, moveu-se, e... e... gritou. Depois, curvou-se para... E uma grandalhona enxundiosa, elefantina aproximou-se de uma árvore, e enlaçou-lhe sedutoramente o tronco, e... e... E uma pequena mocinha, bonitinha, reconheço, foi até uma árvore florida, lambeu-lhe as flores, e... Aí, um... Depois, apareceu uma... E... e...

Leitor, paro por aqui. Não quero despertar os seus instintos mais recônditos, animalescos, primitivos, antediluvianos.

Saiba, leitor, que o que eu vi parece coisa de loucos. E é.

conto

 O Mal do Meu avô está no DNA.


- Bom dia, Rafa. Beleza?!

- Beleza, Chave-Mestra.

- Joinha?!

- Joinha.

- Tudo nos trinques?! De boas?!

- Quase.

- A tua cara me diz que algo não te cheira bem.

- Cheirar-me bem... bem... não cheira, não. Feder-me também não fede.

- Ou algo em ti não cheira bem.

- Não uso desodorante; perfume, tampouco.

- Tu não tens ascendência francesa.

- Certamente.

- Tu 'tás jururu.

- Tenho um motivo.

- Qual?!

- Meu avô.

- Que tem ele?!

- Preocupa-me.

- Doença?! Qual é o mal dele?

- O mal dele... Qual é? Não sei. Sei que 'tá o mal dele no DNA.

- No DNA?! Não tem cura, então?!

- Vá saber.

- É séria a coisa?!

- É.

- Mas o que é que tem o DNA dele que não possa ser remediado?!

- Ora, o DNA dele dá-nos a entender a nós todos da família que 'tá o velho para bater as botas daqui sabe-se lá quantos dias, que serão poucos.

- Meu Deus!

- ' tá no DNA do meu vô. Sabes o que é DNA, não sabes?!

- Saber, saber, não sei. Não é a minha praia a biologia. Mas posso dizer que tenho uma vaga idéia do que seja.

- É biológico, mesmo. Digo-te para que entendas o mal do meu avô: DNA: Data de Nascimento Antiga.

crônica

 Que é do governo Lula?


Eu querendo saber das coisas boas, e muitas coisas boas há, que o tal "L" está a fazer pelo Brasil, e a imprensa brasileira a falar do Bolsonaro, e do Bolsonaro, e do Bolsonaro, exclusivamente, a enervar-me. Que a imprensa fale das coisas boas que o governo "L" está a fazer. Que nos faça tal favor. Sei que é pedir muito. Sei que estão ocupadíssimos os da imprensa nacional. Sei. Mas desdobrando-se, e desdobrando-se, e desdobrando-se, encontrarão as coisas boas - e é fácil esta tarefa -, que o governo do tal "L" já fez e as que está a fazer, e delas, então, poderão dar-nos notícia. Não há mais desmatamentos na Amazônia, afinal é o governo do tal "L" ambientalmente correto e responsável. Fome, no Brasil?! Não há mais. Aqueles cento e vinte milhões de brasileiros que, no dia 31 de dezembro de 2.022, passavam fome, contam, hoje, todo santo dia, no almoço e na janta, com um farto banquete, banquete recheado com picanha, que 'tá baratinha. Desemprego?! No Brasil?! Acabou. Desigualdade de renda?! Não há mais. Assassinatos?! Onde?! Onde, em todo o imenso território nacional, há assassinatos?! Não os há. E a Educação, como está? Ora, os estudantes brasileiros, agora, sob a atual gestão, e bem alimentados, educados com os melhores métodos pedagógicos já concebidos pela inteligência humana, estarão aptos, todos eles, ao final deste ano letivo, a, submetendo-se ao Mensa, consagrar-se com a nota máxima. São tantas as coisas boas que o governo do tal "L" está a fazer pelo Brasil, e a imprensa a ignorá-las! Incompreensível a postura da imprensa. Corrupção?! Inexiste. Crise econômica aqui, agora, sob governo "L", não vinga. A saúde do brasileiro?! Melhor, impossível. Não há excassez de recursos, e de profissionais qualificados tampouco, no serviço público de saúde. Estamos no paraíso. E a imprensa a, surpreendentemente, ocupar-se do Bolsonaro. Surpreendemente, e incompreensivelmente.

Frase

 No açougue perto de casa, o preço de um quilo de picanha 'tá obsceno: R$ 69,00.

terça-feira, 14 de março de 2023

Três notas

 ... e dá-lhe picanha!


Fui, hoje, às compras, em quatro supermercados. E pesquisei o preço da picanha. O preço mais em conta, e ao alcance do bolso do pobre brasileiro, de um quilo da desejada picanha eu o encontrei, dos quatro supermercados que visitei, naquele mais distante de casa: míseros R$ 69,00. Preço obsceno!


*


Nada me tira da cabeça que o tal "L" fez uma besteira das grossas ao prometer picanha para o povo. Ora, um quilo de picanha 'tá custando os olhos da cara: R$ 69,00! O brasileiro que todo mês recebe salário de fome, que mal dá para comprar o arroz e feijão de todo dia, vai empatar, arredondando, setenta pilulas, num quilo de carne que o mantêm em pé apenas um dia?! Nem morto! Fosse eu o tal "L", ao povo teria prometido acém, que é vendido, em qualquer açougue, por menos da metade do preço da carne prometida: R$ 32,00, o quilo. Assim, seria menos difícil agradar os pobres brasileiros.


*


E 'tá a mídia a enaltecer o tal "L": caiu o preço da carne! Agora o povo pode comprar carne! Caiu o preço da carne um pouco mais de um cento. Qual era o preço de um quilo de picanha?! R$ 69,90. E agora? R$ 69,00. Agora os pobres podem com a desejada picanha encher o carrinho-de-compras.

Na quaresma milhões de brasileiros abstêm-se de comer carne. E a China suspendeu a compra de carne produzida na Brasil. Consequência: excesso de carne no mercado brasileiro. E entra em ação a Lei da Oferta e da Procura. Aumento da oferta de carne, e diminuição da procura, pelos brasileiros, por carne, desta cai o preço. E a nossa imprensa a dar a entender que é a queda do preço da carne fruto de política do tal "L". Além da redução do preço da carne ser ínfima, e que em nada interfere no bolso dos brasileiros, ela não é obra do governo brasileiro. Mas a imprensa... Tão logo chegue a primeira segunda-feira após a Páscoa e a China volte a comprar carne brasileira, e os produtores brasileiros de carne não aumentem a oferta na mesma proporção do aumento da procura, o preço da carne aumentando, a imprensa brasileira dará destaque ao penteado de algum jogador de futebol, ou aos escabrosos casos amorosos de alguma estrela do showbizz.

segunda-feira, 13 de março de 2023

Crônica

 Pelados de todo o mundo, uni-vos!


O flagelo, o flagelo universal, ronda a Terra: a ignorância do homem moderno! Sacrifiquemo-nos, pelados, pelo outro mundo possível, pela sociedade igualitária, pelo mundo sem fronteiras, pela justiça social! Sacrifiquemo-nos! De nós, pelados, depende o mundo! De nós depende a Amazônia! Pelados somos! Da nossa peladeza nos orgulhamos! Pelados venceremos! Em frente, pelados! Pelados para sempre! Avante, pelados! Está o mundo a se destruir pela ação humana! Pelados, temos de nos mobilizar! E pelados nos mobilizaremos! Manifestemo-nos, pelados! Pelademos contra a sociedade patriarcal! Conscientizamo-nos, pelados, da nossa força: a peladeza! Pelados unidos jamais seremos vencidos! Contra a sociedade desigual, racista, o nosso maior argumento, que a classe média não pode ignorar: a nossa peladeza! A nossa peladeza é a nossa força! É uma beleza! A nossa peladeza é o mais poderoso argumento contra a sociedade machista! O flagelo ronda a Terra! O flagelo da ignorância dos homens! Não percamos tempo a palestrar contra os inimigos do planeta! Vamos, direto ao ponto: mostrar ao mundo a nossa insatisfação com as cruezas e injustiças da socidade: Peladando-nos! Irmãos nossos, pelados, pelados pedalam, pelas ruas de Paris, para conscientizar todo homem dos males que os homens causam no planeta ao arremessar, de seus carros, toneladas de ceódois na atmosfera! Pelademos, pelados! Ninguém pode ignorar o mais poderoso argumento já concebido pelo homem: a peladeza! Pelados, temos de, pelados, nos fazer entender por todos! Que a nossa mensagem chegue a todos os cantos do mundo! Pelademo-nos! Ninguém ignorará os pelados! Avante, pelados! Irmãos nossos, pelados, chamam, pelados pelas ruas de Berlim, a atenção, com a sua, deles, peladeza, de todas as pessoas para um mal moderno: o preconceito contra as pessoas de orelhas de abano! Ninguém pode ignorá-los, pelados! Pelados, estamos conscientes da nossa importância! E da nossa força: a peladeza! A nossa peladeza, uma força incontível! O nosso poder está em nossa peladeza! Temos consciência da força da peladeza e da nossa mensagem, que tem de chegar ao conhecimento de todos! Pelademos, pois, pelados contra a injustiça social! Pelademos contra a fome! Pelademos contra o machismo! Pelademos contra a desigualdade de renda! Pelademos contra o preconceito! Pelademos contra os terremotos! Pelademos contra o degelo dos polos! Pelademos, pelados! A peladeza é a nossa força! Pelademos, pelados! Pelados de todo o mundo, uni-vos! Pelados lutaremos contra a ignorância! Avante, pelados!

domingo, 12 de março de 2023

Uma crônica

 Parem a Terra! Quero descer! É cada doidice, que Deus me livre!


- Você soube da última?

- Da última, última; ou da última mais nova?

- Da última, que é a mais nova, você soube?

- Não chegou a tal ao meu conhecimento, não. Que eu saiba, não. Talvez tenha a tal me chegado, mas lhe não tenha eu dedicado atenção.

- Agora, não sei em que parte do planeta, não se pode usar mais carro porque o uso de carro prejudica os negros.

- Que papo é esse, Willis?!

- É uma coisa de doido, de um doido desmiolado. Coisa que vem engarrafada; e na garrafa, que a contêm, há um selo, o selo com a assinatura de um especialista qualquer, de um doutor não sei das quantas, graduado e mestrado, reconhecido internacionalmente a maior autoridade em seu campo de atuação, um senhor...

- Deixe de lero-lero, Rolando. Vá direto aos finalmentes.

- É assim: a pessoa não pode de sua casa sair de carro para ir ao trabalho, à casa dos amigos, à padaria, e a outros locais, sejam todos os locais quais forem, que estejam longe de sua casa. Tem de se deslocar num perímetro, e a pé, que possa cobrir em apenas quinze minutos.

- Que idéia doida! Meu pai mora lá pros cafundó do Judas. De baique, da minha casa até a dele, uns vinte minutos. De carro, se bom o trânsito, uns cinco. Imagine à pé!

- Danou-se. Você não poderá visitar mais o seu velhote; todo dia, não.

- Quem foi o jegue que inventou essa idéia.

- Sei lá. Não sei. Não quero saber. E tenho raiva de quem sabe.

- Não entendi o papel dos negros na história.

- Ah! Sim. Um não-sei-quem cujo nome não sei qual é, um doutor sociólogo, antropólogo, paleontólogo, biólogo, criptólogo, sei lá de que espécie ele é, um filho-da-pátria que fala pelos cotovelos, disse, num linguajar de maluco-beleza, que quem usa carro prejudica os negros porque estes não têm carro.

- Que besteira!

- O argumento do jeca diplomado é mais ou menos assim: se muita gente usa carro, e sabendo-se que o carro solta ceódois na atmosfera, o que diminui a quantidade de oxigênio à disposição dos humanos, cada humano tendo menos oxigênio para respirar, as pessoas negras morrem sufocadas.

- E as pessoas brancas não respiram, não?!

- E eu sei?! O mundo 'tá de pernas para o ar, que não entendo mais nada.

- Besteira da grossas!

- E a última...

- E tem outra última?!

- Tem. E é mais nova do que a outra.

- Diga qual é.

- Alguma inteligência banânica, no uso de sua extraordinária, fenomenal inteligência, entende que, para o bem das mulheres, é ótima uma de suas brilhantes idéias. Você imagina qual seja?

- Inventaram uma tecnologia para estocar vento?

- Antes fosse.

- Qual é, então.

- A inteligência em pessoa diz que para diminuir a desigualda entre homens e mulheres as empresas têm de, por lei, reservar uma cota de empregos para mulheres espancadas pelo marido...

- Que papo é esse, Willis?!

- Coisa de doido!

- Quem foi o besta que teve tal idéia?!

- Não sei. Só sei que é ele um homem sério.

- Sério?! Imagine... Todo marido vagabundo, que não quer saber de trabalhar; que só quer saber de sombra e água fresca; que tem uma esposa submissa; que... Pelo amor de Deus!

- Já imaginou?! E a mulher que... Já imaginou?! A mulher pede para um homem qualquer surrá-la até dizer chega, e...

- É cada uma!

- Você 'tá bem alterado com as notícias...

- E não é para estar?! É cada uma, que, contando, ninguém acredita.

- E eu nem falei da última.

- Chega de últimas, por hoje. Pegue um copo na prateleira, torça o pescoço da loira, e encharque-se, esponja.

- Sorte nossa que ninguém nos ouve.

- Por quê?!

- E você me pergunta porquê?! Se alguém escuta você dizer-me para torcer o pescoço da loira...

sexta-feira, 10 de março de 2023

crônica

 A Calvície Bandeirante, Missionária e Paraquedista.


Dentre a variedade inesgotável de calvícies que a natureza oferece aos seres humanos, há uma que, de tão inusitada, tão singular, merece estudo detalhado, que eu, por falta de conhecimento na área à tal questão associada, não empreendi, mas que pretendo, em me sobrando tempo, realizar, e de muito boa vontade, para o meu prazer e para a alegria da humanidade, que poderá entender o que se dá, no corpo dos machos da espécie humana, na superfície da estrutura blindada que lhes protege o apetrecho pensante. Trata-se daquela calvície que se concretiza com a ação lenta, e constante, e duradoura, de bandeirantes, de missionários e de paraquedistas.

É a cabeça dos machos da espécie humana uma floresta a se desbravar, e para desbravá-la, o que denota certo tempo, é indispensável a ação de pessoas bravas, muito bravas, dotadas de bravura indômita, de fereza psicológica, de resistências física e emocional incomparáveis, de pessoas, enfim, dispostas a encarar, e com denodo incomum, desafios incontáveis, inéditos, e ninguém melhor para executar tão desafiadora tarefa do que os homens habituados à refeição frugal, à escassez de comodidades, à vida dura, insuportável, de sacrifícios sem fim, habituados a comer o pão que o diabo amassou, a viver ao relento, sob sol escaldante e tempestades tais quais as que forçaram Noé a construir uma Arca, a afligi-los muriçocas, sapos, ratazanas, felinos, répteis, feras antediluvianas e monstros do Antigo Testamento. Contornando as frontes da floresta que é a cabeça do homem, avançam, pela direita, os missionários, e os bandeirantes pela esquerda; e simultaneamente, os paraquedistas saltam na, dela, coroa, e avançam a partir deste ponto, alargando-o. Não encontram obstáculos os bravos, bravíssimos heróis. Após décadas de avanço contínuo, ininterrupto, aos olhos de todos a devastação, a terra arrasada, e expostos os acidentes geográficos, alguns insuspeitos.

Se o leitor desconhecia a Calvície Bandeirante, Missionária e Paraquedista, a partir de agora, encerrada a leitura desta crônica, jamais poderá alegar ignorância a respeito.

quinta-feira, 9 de março de 2023

Um texto

 Artigo: A Nacionalidade Nacional da Política Nacional Sob à Luz da Perspicácia de um Universitário Perspicaz - antecedido de uma Nota Introdutória Esclarecedora, de autoria de Zeca Quinha - publicados aquele e esta no Zeca Quinha Nius


Nota Introdutória Esclarecedora - por Zeca Quinha.

O Zeca Quinha Nius, o maior e mais popular hebdomadário digital do orbe terrestre e de todos os outros orbes conhecidos e desconhecidos deste e de outros universos existentes e inexistentes, tem a honra de apresentar um artigo, cujo autor, que o escreveu, é um universitário perspicaz, aos seus oito bilhões de leitores, que, dedicados à leitura do artigo aqui dado a público, irão ler, e com muito agrado, o que nele o seu autor, que o escreveu, escreveu, artigo que apresentamos aqui, nesta Nota Introdutória Esclarecedora, que esclarece o teor do artigo em cujo interior introduzimos os nossos oito bilhões de leitores, mesmo que o artigo em questão, tão claro, vazado num estilo tão límpido, transparente, ático, cristalino, espartano, conquanto jamais tenha o seu autor pisado, e descalço, em Esparta, dispense esclarecimentos, pois, repetindo, com outras palavras, diferentes das já usadas, o dito acima, não está o artigo num estilo obscuro, desgracioso, hermético, codificado, inacessível aos leitores que o queiram ler, e, lendo-o, entendê-lo e compreendê-lo.

Diante do cenário político nacional complexamente confuso e confusamente complexo, e sabendo-se, conscientemente, e intuitivamente, que estão os brasileiros tão confusos, mas tão confusos, mas tão confusos, que estão a ponto de, confusos, confundirem alhos com bugalhos, e palhaçada com palha assada, e água-que-passarinho-não-bebe com o pão-que-o-diabo-amassou, decidimos, nós, do Zeca Quinha Nius, o maior e mais popular hebdomadário digital do orbe terrestre e de todos os outros orbes conhecidos e desconhecidos deste e de outros universos existentes e inexistentes, encomendar a um universitário brasileiro perspicaz, o Senhor Doutor Mestre Arlindo Raciocínio Mental Da Elucubração Gonçalves Ribeiro Estrogonofre de Massachussetes Tarântula das Quatro Patas Basilisco Arcaico da Silva Empírico, que há pouco a Universidade Federal do Município de Pindamonhangaba do Sul laureou com o título de Mestre Doutor Graduado e Pós-Graduado em Metafísica Parapsicológica e Antropológica Elementar e Sofisticada Pós-Moderna e Ultra-Vanguardista Associada à Evolução da Mentalidade Da Inteligência Artificial Dissociada da Transcendentalidade Natural dos Processos Cósmicos da Espiritualidade de Quinta Geração e da Quarta Dimensão Tridimensional, um artigo, de sua autoria, com reflexões, que sejam as suas, e perspicazes, acerca do atual momento, que momentaneamente vivemos, da nação, que passa por um momento, que exige, para a compreensão de suas peculiaridades pelos brasileiros, observações e comentários de pessoas que tenham a formação intelectual adequadamente apropriada e apropriadamente adequada para entendê-lo e compreendê-lo, e para traduzir para a linguagem comum, dos leigos, as suas observações, e fazer-se por eles entender e compreender. Assim pensando, e refletindo, matutamos com a nossa cabeça, e decidimos encomendar um artigo, esclarecedor, repetimos nesta Nota Introdutória Esclarecedora, que aos brasileiros esclareça o que se passa e o que se repassa no Brasil, e o que o transpassa, a um dos mais perspicazes - senão o mais perspicaz - universitários nacionais, cujo nome, tão grandioso, repetimos, o Senhor Doutor Mestre Arlindo Raciocínio Mental Da Elucubração Gonçalves Ribeiro Estrogonofre de Massachussetes Tarântula das Quatro Patas Basilisco Arcaico da Silva Empírico, um intelectual renomado, e duplamente, intelectual que, de muito, louvável, boa-vontade, comprometeu-se a nos escrever um artigo, de sua autoria, a esposar, com sua incomparável perspicácia, as suas reflexões, que são perspicazes, que lhe refletem a perspicácia do intelecto admirável e invejável e brilhantemente perspicaz. E o artigo de sua autoria encontra-se, nesta edição do Zeca Quinha Nius, o maior e mais popular hebdomadário digital do orbe terrestre e de todos os outros orbes conhecidos e desconhecidos deste e de outros universos existentes e inexistentes, logo após o encerramento desta Nota Introdutória Esclarecedora, cujas palavras finais, que a encerram, estão no próximo parágrafo, que será, dela, o último.

A perspicácia do Senhor Doutor Mestre Arlindo Raciocínio Mental Da Elucubração Gonçalves Ribeiro Estrogonofre de Massachussetes Tarântula das Quatro Patas Basilisco Arcaico da Silva Empírico, um universitário modelo, indica ser ele um universitário perspicaz; portanto, são dele, um universitário perspicaz, perspicazes as reflexões, que dele indicam, e comprovam, a perspicácia, que a ele pertencendo, pertencem-lhe, e igualmente às reflexões dele, que são dele e de nenhuma outra pessoa, reflexões, todavia, que porventura possam vir a ser confundidas com as reflexões, desde que perspicazes, de outros universitários, caso eles sejam perspicazes, e perspicaz a perspicácia deles. Sabem os homens perspicazes que é a perspicácia um dom, e dos maiores e mais estimados, das pessoas perspicazes, cuja perspicácia é de embasbacar as pessoas de tal dom desprovidas. E ninguém melhor para apresentar as reflexões perspicazes do Senhor Doutor Mestre Arlindo Raciocínio Mental Da Elucubração Gonçalves Ribeiro Estrogonofre de Massachussetes Tarântula das Quatro Patas Basilisco Arcaico da Silva Empírico, Mestre Doutor Graduado e Pós-Graduado em Metafísica Parapsicológica e Antropológica Elementar e Sofisticada Pós-Moderna e Ultra-Vanguardista Associada à Evolução da Mentalidade Da Inteligência Artificial Dissociada da Transcendentalidade Natural dos Processos Cósmicos da Espiritualidade de Quinta Geração e da Quarta Dimensão Tridimensional pela Universidade Federal do Município de Pindamonhangaba do Sul do que ele mesmo, pois ele tem a perspicácia que lhe pertence, e sendo as reflexões dele perspicazes ele, e só ele, pode perspicazmente expô-las. Estamos certos de que os oito bilhões de leitores do Zeca Quinha Nius, o maior e mais popular hebdomadário digital do orbe terrestre e de todos os outros orbes conhecidos e desconhecidos deste e de outros universos existentes e inexistentes, ao fim da leitura de tão perspicaz artigo, que reproduz as acerca da política nacional reflexões perspicazes de um universitário nacional perspicaz, se regozijarão com os conhecimentos inestimáveis que assimilaram ao lê-lo.

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A Nacionalidade Nacional da Política Nacional Sob à Luz da Perspicácia de um Universitário Perspicaz - do Senhor Doutor Mestre Arlindo Raciocínio Mental Da Elucubração Gonçalves Ribeiro Estrogonofre de Massachussetes Tarântula das Quatro Patas Basilisco Arcaico da Silva Empírico.

Fui um estudante universitário perspicaz, e dos mais perspicazes que já se sentou nos bancos universitários. É perspicaz a minha perspicácia. E perspicazes as minhas reflexões, que, de tão perspicazes, permitem-me esclarecer qualquer assunto, dos mais obscuros aos mais escuros.

Após cinco anos a ler todos os livros que os meus professores universitários me obrigaram a ler, usando do senso crítico, que meus professores me ensinaram, aprendi, criticamente, a concordar com tudo o que eles me ensinaram e com tudo o que está nos livros que eles me obrigaram a ler, e cheguei à conclusão de que estou apto para ensinar todas as pessoas que não têm formação universitária a aprenderem a ter senso crítico, pois tenho senso crítico, e é o meu senso crítico porque aprendi a concordar com o que todas as pessoas perspicazes obrigatoriamente concordam e discordar do que elas discordam, certo de que, ao assimilar o relativismo, e entender que a verdade é verdade e mentira, e a mentira mentira e verdade, posso, com propriedade, detectar, nas coisas da vida, o que é verdadeiro e o que é falso, e verdadeiramente falso e falsamente verdadeiro, sob, infalivelmente, as diretrizes das lições - que me guiarão pela vida afora - que meus perspicazes professores me ensinaram, as quais deles aprendi - e as lições que deles aprendi ensinaram-me que os conhecimentos que os professores transmitem aos alunos são aos dos alunos superiores, e os dos alunos aos dos professores inferiores, e que não é o papel dos professores aos alunos transmitir conhecimentos, e que não cabe aos alunos apreendê-los, mas aceitar dos professores, pessoas que, mesmo não vivendo a vida deles, e desconhecendo-lhes as experiências de vida, estão na posição de pessoas que, sendo-lhes superiores, são-lhes iguais, embora a igualdade vigente entre professores e alunos contemplem, paradoxalmente, a desigualde entre eles.

Hoje, posso, com a minha humilde perspicácia, entendendo o que se passa no Brasil, entender o que no Brasil se passa, e declarar, categoricamente, sem titubear, sem meias palavras, um truismo, que poucas pessoas, unicamente as dotadas de perspicácia, apreendem ao encarar a realidade nacional: está o Brasil numa situação tipicamente brasileira, inédita: os eventos que ora se desenrolam em terras brasileiras antes de se desenrolarem enrolaram-se, e enrolaram-se de tal modo que hoje os brasileiros se desdobram, e se desdobram porque, antes, dobraram-se, para desenrolá-los.

Que as palavras deste meu perspicaz artigo não impeçam que os seus leitores se desdobrem para desenrolar os eventos que se desenrolam no Brasil. 

*

Glossário

Neste Glossário, reunimos todos os vocábulos obscuros que o Senhor Doutor Mestre Arlindo Raciocínio Mental Da Elucubração Gonçalves Ribeiro Estrogonofre de Massachussetes Tarântula das Quatro Patas Basilisco Arcaico da Silva Empírico registrou no seu artigo, que publicamos nesta edição do Zeca Quinha Nius, o maior e mais popular hebdomadário digital do orbe terrestre e de todos os outros orbes conhecidos e desconhecidos deste e de outros universos existentes e inexistentes.

Cuidamos esclarecer que o autor, sendo um universitário, e universitário perspicaz, e perspicazes as suas reflexões, que dele refletem a natural perspicácia, usa, para expor, e naturalmente, a sua natural perspicácia, um vocabulário, em vernáculo, que está, naturalmente, e compreensivelmente, além do entendimento de todas as pessoas que não têm formação universitária, pessoas, portanto, ainda situadas num estado de deformação intelectual, e, cientes de que o vocabulário dele conta com muitos vocábulos desconhecidos de seus leitores, os que não têm formação universitária, optamos, e corretamente, por incluir, ao fim do artigo, para esclarecer o que tem de, e merece ser, esclarecido, este Glossário.

Aristóteles - criador da filosofia aristotélica.

Aristotelismo - filosofia criada por Aristóteles.

Badameco - um objeto.

Bonito - o contrário de feio.

Chá - bebida que, tal qual o café, em sua composição contêm água.

Chuva ácida - chuva cuja propriedade principal é a acidez.

Dom Pedro I - pai de Dom Pedro II

Dom Pedro II - filho de Dom Pedro I

Escalafobético - uma palavra esquisita.

Feio - o contrário de bonito.

Figueira - patronímico do vizinho do João Marreta, motorista da dona Leonor das Cascas de Cebola, prima do cunhado do chefe do sobrinho do gerente da Serralheira do Zé Pederneira.

Filosofia aristotélica - o mesmo que aristotelismo.

Grécia - país natural dos gregos.

Gregos - os nascidos na Grécia.

Machado de Assis - autor dos livros atribuídos ao Bruxo do Cosme Velho.

Paracelso - aglutinação de duas palavras, e suprimindo-se a vírgula, que constituem expressão de alerta, ou de reprovação. Exemplos: "Para, Celso! Ou o carro irá atropelar você."; e, "Para, Celso! Você fala mais do que sua boca."

Paradoxo de Banach-Tarski - um paradoxo.

Perífrase - frase que Peri escreveu.

Pessoa - se toda pessoa sabe o que a palavra pessoa significa, por que eu iria ocupar o meu tempo, que é precioso, escrevendo, aqui, o significado de pessoa?! Poupem-me!

Rocambole - o que tem propriedades rocambolescas.

Rocambolesco - propriedade do rocambole.

Teratológico - uma palavra monstruosa.

Travalíngua - gagueira lúdica.

Vanilóquio - palavra cujo significado desconheço. Que tal palavra tem um significado, tem, é líquido e certo, e sólido, e gasoso. Todavia, no entanto, por sua vez, de outro modo, desconheço-o porque em nenhum dos três dicionários que tenho, na minha casa, ao alcance de minhas mãos (e ao de meus pés também, pois, afinal, eu os deixo, na prateleira, na tábua debaixo de todas as que dela estâo acima, ao rés do chão), eu o encontrei. Um dos meus três dicionários - informo, para que me compreendam os meus leitores -, está sem as duas capaz, que se perderam em algum momento, em algum lugar, neste orbe, o terrestre; e está quase que inteiramente comido por traças, e traças daquelas insaciáveis, glutonas inveteradas, o outro; e do terceiro restam apenas quatro das suas oitocentas e oitenta e oito páginas originais.






Notas

 Os esquerdistas em maus lençóis, aqui e nos States. Tucker Carlson, e o 6 de janeiro de 2.021. Brasil, e o 8 de janeiro de 2.023. Governo Lula, natimorto. Bolsonaro, e Trump; e Lula, e Biden. E outras notas breves e brevíssimas.


Serei breve nas notas breves desta edição das minhas Notas Breves e Brevíssimas. E brevíssimo, em boa parte delas. Prometo. Infelizmente, sou obrigado a reconhecer, não sei se cumprirei a minha promessa.

*

Na Terra do Tio Sam, o circo 'tá pegando fogo. Em um certo comitê, congressistas republicanos pedem por investigação minuciosa sobre as origens do Covid e o destino dos Dólares americanos que a narrativa oficial conta ser a política sanitária e investimentos em pesquisas. E há congressista a pedir a cabeça do tal Fauci.

*

Tucker Carlson exibe vídeos, até ontem secretos, do que se deu, dia 6 de Janeiro de 2.021, no Capitólio. E as imagens provam que a invasão não foi uma invasão; que agentes do estado americano facilitaram o acesso de pessoas ao interior do prédio. E apontam o dedo para Nancy Pelosi. E o impressionante - impressionante para os ingênuos: a imprensa americana está, em peso, desmerecendo o teor da reportagem exibida por Tucker Carlson, e não raros são os seus profissionais que estão a afirmar, assim, sem mais nem menos, que devem as pessoas desconsiderar o que os vídeos exibem. Para todos os efeitos, é Tucker Carlson mentiroso, crápula, safado de marca-maior. O homem mexeu num vespeiro. Nenhum outro homo sapiens desejaria estar na pele dele.

E o Brasil nesta história?! O "Capitólio Brasileiro", uma false flag?? Arquitetaram - e quem arquitetaram?! -, aqui, em terras de Vaz de Caminha e de Anchieta, um espetáculo semelhante ao que urdiram na Terra do Tio Sam?! Se lá a verdade está para vim à tona, aqui a história, tenhamos a esperança, também está para ser contada em sua inteireza. E pergunto-me porque há gente a perder o sono como uma investigação do caso.

*

Quais foram as políticas, as efetivas, e não as narrativas papagueadas pela imprensa, do governo do tal "L" que redundaram em benefício dos brasileiros? Viu-se, até o presente momento, o governo aumentar impostos, e ministros a bateram cabeça e a defenderem políticas impopulares. E a imprensa, a grande imprensa, independente, sabemos, a falar de Bolsonaro, e de ema obesas, e a, com argumentos pra lá de estapafúrdios, justificar os desmandos governamentais. O governo vai de mal a pior. E da imprensa nacional exauriu-se, parece-me, o repertório de histórias cabeludas a envolverem os Bolsonaros. Além do mais, o povo brasileiro, incluído o bloco carnavalesco Fazuéle, já não acredita em nenhuma história antibolsonarística que a imprensa insiste em contar. Na verdade, e é tal verdade verdadeira, desde há muito tempo os Fazuéle nas histórias antibolsonarística não acreditam. Mas têm eles de manter a pose de gente socialmente responsável.

*

Bolsonaro aproxima-se de Trump - e dizem os antibolsonaristas que o Bozo vende o Brasil para os EUA.

Bolsonaro afasta-se de Biden - e dizem os antibolsonaristas que o Bozo põe o Brasil em rota de colisão com os EUA, o que pode ocasionar uma guerra entre os dois países, e dele pedem o impítima.

Lula aproxima-se do Biden - e dizem os Fazuéles que o Lula está recuperando a importância do Brasil no cenário internacional. E um navio militar iraniano atraca em porto brasileiro, e o governo americano protesta veementemente - e dizem os Fazuéle que Lula mostra força e autoridade.

*

Desde que o mundo é mundo, os esquerdistas promovem arruaças, quebradeiras que ao mundo exibem imagens de horror sem tamanho - e a imprensa e políticos e artistas e outros companheiros de jornada declaram que os esquerdistas promoveram atos pacíficos, ordeiros e democráticos.

Dia 8 de janeiro de 2.023, bolsonaristas - é a narrativa da imprensa - invadem, em atos anti-democráticos os Três Poderes, e são alcunhados terroristas.

Na próxima vez - e tal próxima vez se dará, fatalmente - em que os esquerdistas quebrarem patrimônio público e privado, matarem um cinegrafista ao atingirem-lo, na cabeça, com um rojão, quais serão os substantivos e adjetivos que a imprensa usará para descrever e qualificar o evento e os seus heróis revolucionários?!



quarta-feira, 8 de março de 2023

Cinco resenhas

 A Desejada das Gentes (Várias Histórias) - de Machado de Assis


Tem este conto uma estrutura distinta da dos outros quatro que já tratei (A Cartomante; Entre Santos; Uns Braços; e, Um Homem Célebre). Resume-se a um diálogo entre dois homens cujos respectivos nomes o autor não revela, sendo que um dos homens narra a história de Quintilia, bela moça, a desejada, que inspira paixão irresistível nos espécimes masculinos do homo sapiens, incapazes de lhe resistirem aos atrativos. É Quintilia celibatária, que, qual fortaleza inexpugnável - assim a ela se refere o autor, em um certo momento -, não sucumbe às abordagens de seus inúmeros pretendentes, sendo um deles o homem que narra a história dela para o seu, dele, interlocutor, este, sua curiosidade atiçada pela narrativa, interessado no desenrolar do drama.

O personagem que, tomando a palavra, conta o conto, e um seu conhecido, João Nóbrega, colega de escritório, chegam ao entendimento de, antagônicos um ao outro, concorrerem pela conquista da bela e desejada Quintilia, mulher pela qual ambos apaixonam-se, e, acirrada a competição entre eles, vem eles a se desentenderem, e, consequentemente, a romperem relações. E João Nóbrega transfere-se para os sertões da Bahia, a desincumbir-se de afazeres de juiz municipal, e em terras baianas vive o restante dos seus anos de vida, Quintilia a ocupar-lhe os pensamentos. Para o personagem - agora sem o seu rival - que conta a história da desejada das gentes, está livre o caminho ao coração da mulher cobiçada; todavia, ele não é bem sucedido em seu projeto: a fortaleza inexpugnável, Quintilia, resiste-lhe à abordagem. Em morrendo seu pai, o narrador permanece quatro meses em Itaboraí. E de Quintilia morre o tio com quem ela vivia. Pede o protagonista em casamento Quintilia, que não se revela interessada em se vincular, numa cerimônia nupcial, a ele. Ela lhe diz que dele quer ser amiga e que as suas relações com ele se resumam à amizade, e jura-lhe que jamais se casaria. Chega o dia, no entanto, em que ela se engraça com um diplomata austríaco, que, sob influência do protagonista, que urdira uma trama para dela afastá-lo, não lhe corresponde ao amor. E Quintilia adoece. E com ela estreita relações o personagem que dela conta a história. E Quintilia definha. Dá-se o enlace matrimonial entre Quintilia e ele, ela às portas da morte, dois dias antes de ela falecer, e só então ele a abraça. 

Interessantes estes pontos da história machadiana: Quintilia, que não queria se casar, rejeitava todos os homens que lhe propunham casamento, e seu tio não queria que ela se casasse; e, a referência ao fisiologismo pelo interlocutor do personagem que conta o drama da desejada das gentes. Pontos que me inspiraram duas interrogações: Qual era a natureza do relacionamento entre Quintilia e seu tio? Tinha Quintilia alguma ojeriza ao contato íntimo, o mais íntimo que o corpo de um homem e o de uma mulher podem realizar? A discrição, a sutileza de Machado de Assis, sempre reticente, contido, permite ao leitor aventar várias conjecturas para estas duas perguntas, ciente o leitor de que nenhuma certeza tem se dentre elas alguma seja a resposta correta, a que, estando na cabeça do Bruxo do Cosme Velho, encontra-se além do alcance dos humildes mortais.


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A Causa Secreta (Várias Histórias) - de Machado de Assis.


Não é Machado de Assis um escritor para leitores desatentos e apressados, destituídos de suspicácia. Ele pede leitores sagazes, capazes de captar as sutilezas das tramas por ele urdidas e paciência para acompanhar-lhe a descrição contida, discreta, do que vai na alma de seus personagens, os sentimentos que os movem, o que lhes vai, oculto nos escaninhos do espírito, inacessível a eles mesmos. Em A Causa Secreta, o sexto conto enfeixado no volume Várias Histórias, dá o Bruxo do Cosme Velho uma pequena amostra de seu talento, raro. Não é ele, neste conto, e nos cinco que o precederam, um psicólogo a analisar, detidamente, e com profundidade iluminadora, as suas criaturas, dissecando-lhes as taras, os traumas, expondo-as, por inteiro, aos seus leitores. Limita-se a descrevê-los, em rápidas pinceladas, e a narrar-lhes, num estilo todo seu, singular, as aventuras, com saudável dose de comentários irônicos, e sarcásticos, e menções a heróis da literatura e da história, sejam eles monarcas, músicos, dramaturgos, enfim, pessoas cujos nome e obra os livros registram. Não se perde nos inextricáveis labirintos psicológicos de seus personagens, pois ele não os adentra; não lhes envereda pelos domínios dantescos do subconsciente. Descreve, deles, o que está no rosto, na pele, iluminado pelas ações que eles empreendem.

São três os protagonistas deste conto, Fortunato Gomes da Silveira, e Maria Luiza, sua esposa, e Garcia, médico.

Dos três, é Fortunato o personagem que o Bruxo, nele concentrando sua atenção, descreve direta, e, por meio de Garcia, indiretamente. Maria Luiza descreve-a Machado de Assis não em função de si mesma, mas como um recurso do qual ele se apropria para inspirar ao leitor suspeitas acerca do caráter de Fortunato, reforçando, assim, as peculiaridades únicas do tipo que ele representa - descreve-a, para descrevê-lo.

Há, neste conto, e no A Cartomante, e no Uns Braços, um tema recorrente nas obras de Machado de Assis, caro a ele, o do adultério, o do homem seduzido por uma mulher casada. No A Cartomante a relação ilícita se consuma; em Uns Braços, há o amor platônico, num misto de ingenuidade, inocência, e luxúria. E neste A Causa Secreta, indica a narração, Garcia apaixona-se por Maria Luiza, e entre eles há um acordo tácito acerca dos sentimentos de ambos e das suspeitas mútuas: Maria Luiza não corresponde ao amor que Garcia lhe dedica, e lhe não realiza os sonhos idílicos.

Em se tratando de um conto do criador de Capitu, tem o leitor de redobrar a cautela, e não se precipitar em conclusões apressadas.

Estreitando os laços de amizade e confiança, Garcia e Fortunato associam-se num empreendimento, uma Casa de Saúde, de cuja administração assume Fortunato a responsabilidade, desincumbindo-se de suas atividades com dedicação, desenvoltura e eficiência incomuns. E estuda Fortunato anatomia e fisiologia. E envenena gatos e ratos. E para horror de sua esposa e de Garcia, numa exibição de indiferença, sadismo, mutila, com uma tesoura, no gabinete de sua casa, um rato, levando-o ao fogo, provocando-lhe morte lenta e dolorosa.

Na cena derradeira, Fortunato exibe sua personalidade desprovida de nobreza, e traços de indiferença, insensibilidade, personalidade destituída de sentimentos, diremos, humanos. Revela-se um tipo frio, calculista, desumano, de quem tem em todo os seres vivos unicamente objetos inanimados que servem às suas veleidades científicas. Traços de personalidade que dele traduzem a desumanidade, fazendo-o dócil aos horrores que o ser humano já testemunhou, indiferente às dores e aos sentimentos alheios. É Fortunato uma criatura que apoiaria, para atender à sua curiosidade científica, assim direi, os mais horrendos experimentos promovidos pelos famosos doutor Frankenstein e doutor Moreau, e pelo célebre doutor Mengele. É Fortunato um emblema da crueldade humana. Pessoas de seu tipo favorecem o avanço de políticas desumanas, de extermínio, afinal, para elas todas as coisas são meros objetos de estudos.


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Trio em Lá Menor (Várias Histórias) - de Machado de Assis.


Conto dividido em quatro capítulos curtos (Adagio cantabile; Allegro ma non troppo; Allegro appassionato; e, Minuetto), narra a história de Maria Regina, que se enamora de dois homens, ambos enamorados dela; um deles, Maciel, moço de vinte e sete anos, bonito, nem culto, nem inteligente, dotado de bons sentimentos, temperamento generoso, simplório, conversador, amigo de miudezas, que, certa ocasião, em ação de inegável desprendimento de si mesmo, lançou-se à frente dos cavalos de uma carruagem em que iam Maria Regina e sua avó, para salvar um menino, caído, de um atropelamento, cena, esta, testemunhada pelas duas ocupantes da carruagem; e é o outro, Miranda, homem já na idade de cinquenta anos, taciturno, macambúzio, de coração de pedra, incapaz de um gesto de simpatia. De Maciel admira Maria Regina o ato heróico e a beleza e os bons sentimentos. Com Miranda tem ela afinidades espirituais e gostos comuns; ambos amam música; e ela admira-lhe o espírito de erudito, de homem agraciado com o gosto pela vida intelectual. Enamorada de Maciel e de Miranda, identificando em ambos virtudes admiráveis, naquele, a beleza e a espirituosidade, neste, a formação intelectual primorosa, não se decidia por nenhum deles. Admirava-os. Nenhum deles, todavia, atendia ao ideal de homem que ela, em sua imaginação ínfrene, concebia ao fundir as virtudes que identificava em ambos.

Conta o conto a sem-razão de uma alma dotada de imaginação desordenada, indisciplinada, perdida em fantasias que pecam pela impossibilidade de concretização delas, uma característica que, não sendo incomum aos homens, pode angustiá-los, ou pode satisfazer-lhes o espírito, mesmo que sejam elas irrealizáveis - e talvez por esta razão. É paradoxal: a pessoa, a viver no seu universo onírico particular, que a faz feliz, e cuja origem está além do seu entendimento, satisfeita com o ideal que sua mente, atendendo-lhe aos anseios da alma, engendra, sofre.


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Adão e Eva (Várias Histórias) - de Machado de Assis


Reunido, com outros quinze contos, no volume Várias Histórias, reforça este conto uma idéia, inspirada na leitura deste volume de contos, que me ocupa, desde que me pus a ler, melhor, reler, os contos do Bruxo do Cosme Velho: é Machado de Assis um escritor criativo, de fértil imaginação. Ao contrário dos escritores aos quais os críticos literários atribuem imaginação fértil e criatividade ímpar, escritores de narrativas de aventuras rocambolescas, de façanhas heróicas, de comédias, e de tragicomédias, que agradam os leitores, enfeitiçados pelo entrecho recheado de tramas instigantes, maquinações diabólicas, intrigas complexas, o criador do Simão Bacamarte, de temperamento contido, cerebrino, elabora tramas comuns, e não originais, dir-se-ia, e a elas dá um toque único, aqui, sim, original, todo seu, inconfundível. O estilo machadiano de fazer literatura não permite que o leitor se empolgue com a leitura, que ele dê asas à imaginação: o estilo do Bruxo exige leitor atento, perspicaz, sutil, irônico. Se o leitor  desvia, por um segundo que seja, da leitura, sem que a interrompa, a atenção, e perde-se, neste um segundo, em devaneios - é infalível -, de si escapa o fio da meada. Ao perceber que sua mente, durante a leitura - que leitura, na verdade, não foi -, escapuliu, contra a sua vontade, por um buraco-de-minhoca, para outra dimensão, o leitor, sua mente de regresso à nossa dimensão, se movido pelo desejo sincero de entender, saber o que lê, obriga-se, para que possa se reapossar do fio da meada perdida, a reler as linhas que, à primeira leitura empreendida, estiveram além do alcance de sua consciência. É este o fardo que os leitores do pai do Quincas Borba têm de carregar. E só os fortes sobrevivem ao final da jornada.

Neste Adão e Eva, estão reunidos, à mesa, na casa de D. Leonor, esta senhora, dona de engenho, e seus convidados, sendo os principais, dois, Frei Bento, carmelita, e Sr. Veloso, juiz-de-fora, este, espirituoso, bem-humorado. A anfitriã oferece aos seus convidados ilustres doces, que o Sr. Veloso degusta, cobiçoso deles. E é este senhor o centro das atenções. Ele principia a narração de uma história, cujos protagonistas são Adão e Eva, e com ela prende a atenção dos convivas. É a história, declara o Sr. Veloso, apócrifa. Para surpresa de seus amigos, diz ele que foi o Diabo quem criou o mundo, e não Deus, que se limitou a corrigir-lhe a obra. Na obra do Tinhoso, o homem e a mulher não tinham almas; Deus, então, não concordando com o que viu, presenteou-os com alma e bons sentimentos. E enfureceu-se o Diabo com tal ousadia; não podendo, no entanto, enfrentar Deus, mandou a serpente que fosse ao Eden, e seduzisse Adão e Eva, e, com voz melífluas, palavras cativantes, persuadisse-os a comer do fruto do Bem e do Mal, que a eles, por decisão divina, estava inacessível. A serpente, que odiava o casal de humanos, atendendo, prontamente, à ordem diabólica do Tinhoso, foi, prelibando de prazer imensurável, até Eva, e falou-lhe, insinuante, do fruto proibido, e profetizou-lhe, se ela o ingerisse, um futuro grandioso, mas ela resistiu à tentação. Aqui, vê-se, o caso não corresponde ao relato bíblico. E o Sr. Veloso não encerra a história. Dando-lhe sequência, informa que Deus envia ao paraíso o arcanjo Gabriel, incumbindo-o de conduzir o casal humano ao céu, para gozarem Adão e Eva da bem-aventurança eterna. E encerra seu conto o Sr. Veloso. Mas o conto que Machado de Assis conta ainda não se encerrou; para conhecer-lhe o desfecho, tem o leitor de ler mais algumas linhas; e se não as ler com a atenção e a sagacidade de espírito que o Bruxo do Cosme Velho lhe exige, não irá usufruir do prazer espiritual, intelectual, que as derradeiras palavras do Sr. Veloso oferecem.


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O enfermo (Várias Histórias) - de Machado de Assis


Neste conto, mergulha o pai da Academia Brasileira na confusão moral de Procópio José Gomes Valadares, seu herói. Após a morte do coronel Felisberto, que, na altura de seus sessenta anos, a flagelá-lo várias moléstias, dentre elas reumatismo e aneurisma, homem rabugento, e mau, que vivia a desancar os enfermeiros por ele contratado, Procópio, o último deles, o que lhe testemunhara o último suspiro, confuso, sem saber se ele, para usar uma expressão popular, que não é elegante, e que acredito imprópria no momento, batera as botas, quis reanimá-lo.

Está a narração do drama de Procópio em primeira pessoa - e é Procópio que está a narrá-lo para um personagem cujo nome o autor ao leitor não revela.

Durante os anos de convívio com Procópio o coronel Felisberto destrata-o, desanca-o, maltrata-o, ofende-o, arremessa-lhe tigelas, dá-lhe bengaladas no lombo, a ponto de, de tanto maltratá-lo, inspirar-lhe o desejo, e em não apenas uma ocasião, de ir-se embora; o desditoso, infortunado Procópio, todavia, conserva-se, na casa do coronel Felisberto, à solicitação deste e do padre de Niterói e do vigário, para cuidar dele.

Machado de Assis insere dois dados que inspiram ao leitor a antevisão do desenrolar da história e o seu desenlace: o coronel não tem herdeiros; e, após três meses de convivência com Procópio, deixa testamento.

O leitor que se precipita ao antecipar em imaginação o encerramento da trama surpreender-se-á com a cena da morte do coronel Felisberto, tragédia inesperada que se dá, num acesso de raiva dele, durante um embate físico entre ele e Procópio. E é esta cena que dá o tema do restante do conto. Procópio envolve-se em elucubrações, que o perseguem durante dias, mesmo após ele ir-se ao Rio de Janeiro, distante da vila onde vivera com o coronel Felisberto. Atormenta-se. Teme que lhe imputem o assassinato. Ameniza as censuras que se fazia ao ver no caso uma coincidência fortuíta entre a sua ação e a morte do coronel: o finado, independentemente do episódio que o levara desta para a melhor, tinha poucos dias de vida, estava com um pé na cova; portanto, ele, Procópio, nenhum papel tivera na morte dele. Culpa-se, e desculpa-se, Procópio. Esforça-se para não se dar como culpado pelo crime. Perturbam-no alucinações. E revela-se o teor do testamento do coronel Felisberto: É Procópio seu herdeiro universal. E mais razões há para ele se preocupar. Dias antes, desesperado, dera esmolas aos pedintes, espórtula à Igreja, pedira missa por intenção do finado, para desengano de consciência, quase subjugado pela culpa que carregava, pelos torvelinhos de pensamentos, que se lhe entrechocavam no espírito a ponto de lhe darem fim ao equilíbrio moral e roubarem-lo à sanidade. E para atenuar sua culpa elogia o coronel aos que o ouviam, o barbeiro, o boticário, o escrivão. E regozija-se com os relatos que do finado lhe dão, todos a apontá-lo como um tipo reles, execrável. Enfim, despede-se Procópio do destinatário de seu testemunho, pedindo-lhe, morrendo-lhe antes, um epitáfio que contenha uma emenda ao Sermão da Montanha.

Uma nota breve

 O silêncio dos Fazuéle. Sem chão, em que pé estão os esquerdistas!?


Multiplicam-se as notícias desfavoráveis ao governo do tal “L”, e os lulistas, do Fazuéle, bloco carnavalesco cujos componentes são os tipos mais patéticos e asnáticos e risíveis que já se viu por estas plagas brasílicas, fazem-se de surdos e de cegos. E de mudos. Nada ouvem e nada vêem. E nada falam. Para fugirem à realidade, optaram por enfiar, em vão, tais quais avestruzes, bichos desmiolados, a cabeça na terra, e pelo silêncio, presumo, na crença de que, nada falando do que vãmente se esforçam para não ver e não ouvir, ninguém irá falar do que ouvem e vêem. Enganam-se. E enganam-se redondamente. Há seres viventes que não alimentam a ilusão de que é o mundo o que do mundo os do bloco carnavalesco Fazuéle falam. O mundo é maior do que o umbigo dos Fazuéles, que acreditam que seus umbigos são o mundo. Ora é o Lira que declara que o tal "L" não tem apoio no Congresso; ora é o Pacheco - o longilíneo, êmulo do Marco Maciel -, que não aprecia a idéia, esposada pelo presidente, a de dar fim à independência do Banco Central, de cujo cofre tem a senha o neto do Roberto Campos; ora é a FIESP que dá um chega-pra-lá no tal "L", e com tal sutileza que poucos homens dedicados a comentar a política da terra dos papagaios e das pororocas e das jabuticabas captaram a referência (aqui, uma alusão ao Steve Rogers) - e um deles foi Maurício Alves, que projeta, para amanhã, eventos que os eventos que observou ontem lhe permitem antever, no podcast "Como e por que a FIESP vai depor Lula", publicado, dia 6 de Março, na newsletter Mauríco Alves News; ora dá-se a conhecer escândalos que envolvem ministros do governo; ora batem cabeça personagens governamentais. Ora, se em tão poucos dias de governo o tal "L" já tem de enfrentar contratempos sem fim, dores de cabeça insuportáveis, a imprensa a noticiar o que em outras circunstâncias jamais daria a público, então, conclui-se obrigatoriamente, não se vê o sucessor do Capitão em céu de marinheiro. Nos bastidores, o bicho 'tá pegando. E pegando feio. É a briga de foice.

Sopram os ventos, e ventos violentos, de todas as direções, para o planalto central, das janelas de cujos prédios governamentais vislumbra-se, a acumularem-se nos céus daquelas vastas terras que Niemeyer enfeiou, nuvens agourentas, que, fundindo-se, encorpam-se. E avizinha-se a tempestade, ameaçadora.

Um artigo

 Estão certos os negacionistas, e errados os Seguidores da Ciência. Ou: fraudemia: Inúteis: máscaras e lockdowns. E as vacinas?!


Desde o início do ano de 2.020, sob a torrente de informações desencontradas que aterrorizaram bilhões de humanos, não foram poucos os seres perspicazes que, com uma pulga atrás da orelha, diziam que a tal epidemia não passava de uma operação psicológica a manipular as pessoas, a forçá-las a se submeterem a ordens insanas, e que o lockdown, a política de distanciamento social e o uso das máscaras eram inúteis, e que demonizar os remédios para uso em tratamento logo que as pessoas apresentassem os primeiros sintomas da gripe causada pelo que dizem ser um novo vírus era insensato e criminoso, e que o vírus saiu de um laboratório, e não de um morcego, o bode expiatório, e que a imunidade natural daria conta do recado. Tais pessoas alcunharam-las negacionistas. Elas também ganharam epiteto difamatório dedicado aos maiores assassinos da História: genocida. Enquanto isso, as pessoas que admitiram, sem pestanejar, sem que se lhes esboçasse à mente uma suspeita acerca da veracidade da narrativa pandêmica, todas as políticas apresentadas como apropriadas, indispensáveis ao combate ao vírus, todas cientificamente válidas, arvoraram-se cultas, dedicadas ao bem comum, moralmente superiores, abnegadas, e auto-intitularam-se Seguidores da Ciência, e sempre a sinalizarem virtudes apontaram o dedo acusador para toda pessoa que, não respeitando as políticas científicas, não se cobriam com a máscara, não cumpriam as regras do distanciamento social, e não se trancaram, por semanas, em casa, e diziam que não tomariam a vacina. O leitor atento entendeu que "políticas científicas" merece aspas.

Passaram-se os dias.

Decorreram-se semanas e meses.

Transcorreram-se três anos, três longos anos.

Li, hoje, 08 de março, um pouco antes das sete da manhã, duas reportagens, uma, a primeira que li, publicada na Veja, tem a assinatura de Vilma Gryzinksi; a outra, a de Karina Michelin, publicada em seu site. A primeira é "Teste da Realidade: vírus saiu de laboratório e máscaras foram inúteis."; a segunda "Os Chats Vazados do Ministro da Saúde Inglês e do Ministro da Saúde Italiano Revelam a Manipulação da Pandemia." Na primeira, conta-se, indica o título, que as máscaras não fizeram, assim se diz pela boca do povo, nem fu, nem fa, e também se pode dizer, usando a boca do povo, e com um vocabulário menos elegante, não federam, nem cheiraram, e que o vírus, aquele bichinho que serviu de bode expiatório às mazelas que os políticos promoveram de três anos para cá, escapou de um laboratório. E a segunda informa, está no título, que políticos investiram no lockdown, que nenhum fundamento científico possuía e que serviu única e exclusivamente para aterrorizar todo mundo em todo o mundo.

Chamo a atenção para a publicação de Vilma Gryzinski: está na Veja, uma das maiores revistas da imprensa brasileira. A grande imprensa, presumo, dá sinais de que irá publicar certas verdades inconvenientes que até ontem dava-se como inverdades convenientes. Pergunto-me com qual objetivo. Mas antes tarde que nunca. E pergunto quais serão, nos próximos dias, semanas, meses, os títulos das matérias jornalísticas dos principais jornais e revistas brasileiras. Antevejo-as: "A Verdade Revelada: o covid, arma biológica, foi Propositalmente Liberada."; "A Imunidade Natural é Melhor do que a Vacina."; "Entenda Porque o Tratamento Precoce Salvaria Milhões de Vidas."; "Efeitos Colaterais da Vacina: Saiba Como se Proteger."; "O Morcego Não Tem Culpa no Cartório: a Culpa é da Big Pharma."; "Mentimos para Você. O covid é uma gripe." e outras de igual quilate. Tal se dará. Ou estou a sonhar acordado?! Títulos semelhantes já estampam sites independentes. Logo chegarão à grande mídia. Não custa sonhar. De nossos sonhos os governos ainda não nos cobram impostos.

E cá entre nós: os negacionistas, que, sem que deles contassem com a astúcia, desde o princípio a suspeitaram das intenções daqueles que estavam a promover as políticas ditas sanitárias, não se deixando seduzir pelas anfibologias dos ditos cientistas e médicos renomados, revelaram-se, ao contrário dos Seguidores da Ciência, dotados de talento científico, que merece aprimoramento. Não são crédulos facilmente sugestionáveis.

segunda-feira, 6 de março de 2023

Um conto

 Às vezes tem razão quem nunca tem razão.


Marcelo, amigo meu de longa data - e ao dizer longa data estou a dizer que o conheço há uns trinta anos -, nunca foi reconhecido pela sensatez, que ele jamais revelou possuir, e menos ainda pela inteligência, da qual ele, direi a verdade, é desprovido. A vida não lhe foi generosa. E não digo por mal. Embora não conte com a graça da sensatez e com a da inteligência, é ele um homem boníssimo, extrovertido, espirituoso, de bom coração, mesmo que não seja seu coração perfeitamente são, sempre a estender as mãos, e não raro em seu prejuízo, às pessoas que a ele, nunca em vão, recorrem em busca de ajuda. Não é um espartano; nem estóico ele é. E também não é um liberal desmiolado. Estão nele, misteriosamente, e inexplicavelmente, fundidos, a parcimônia, a avareza e a liberalidade. É ele, inegavelmente, um tipo singular. Há quem, fazendo-o de bobo, ato reprovável mais fácil de se concretizar do que roubar pirulitos às crianças, cai em desgraça, fica em maus lençóis e come o pão que o diabo amassou, e não por um ato de vingança do meu amicíssimo Marcelo, mas devido à reação de quem vem a saber do ato maldoso praticado contra ele. É ele querido de todos. Nunca roda a baiana; nunca solta os cachorros para cima de ninguém. Dizem que ele tem sangue de barata. E sempre que entende, o que raramente acontece, pois é sua alma de uma inocência constrangedoramente admirável e incompreensível, que alguém o passara para trás, ri, gargalha, dá de ombros, e segue seu caminho. Distingue-se, e em muitos aspectos - e eu não erraria se dissesse em todos -, de seus irmãos e de seu pai, quatro homens maldosos, atrabiliários, rancorosos, vingativos, sempre a urdirem artimanhas para dar uma rasteira em alguém.

Hoje, ele veio ter comigo, em minha casa, um pouco antes das seis da tarde, a sorrir de uma orelha à outra, a felicidade em pessoa. E tão logo saudou-me, contou-me, no seu tom bonacheirão inconfundível, que nele os amigos tanto admiramos:

- Teotônio Lins da Natividade, meu velho amigo, vós estais bem?

- Melhor, impossível.

- Contar-vos-ei, meu caro, o que hoje me aconteceu, há umas duas horas. E vós não me acreditarás. Meus irmãos, ilustres em toda a cidade, e o senhor meu pai, cuja fama ultrapassa os limites do universo, meus irmãos e o senhor meu pai, meu Marcelo do coração, querido amigo, surpreenderam-me com palavras surpreendentemente amigáveis, simpáticas. Vós não acreditais?! Conto-vos, então, o que de inusitado me aconteceu. Vós sabeis que eles nunca se recusam a me alcunhar tolo, bobo, paspalho, azêmola, bocó e coió-de-argola. E de louco. Não o fazem por mal. Eles são geniosos, sei. Conheço-os há cinquenta e dois anos. E vós, que os conheceis, não tão bem quanto eu os conheço, é verdade, mas os conheceis, sabes que peças eles são. Figurinhas carimbadas, raras. Eles sempre divergem de mim, pois, eles dizem, eu digo bobagens, e apenas bobagens, asneiras das grossas, baboseiras, e groselhas, e abobrinhas, e nada mais. Da minha boca, e minha boca fala mais do que eu, dizem meus irmãos e o senhor meu pai, não sai nada de útil, de proveitoso. Só coisa de maluco-beleza. Que seja! Se eles dizem! E porque de mim pensam o que de mim pensam, eles jamais concordam com o que lhes digo; todavia, meu querido, hoje eles concordaram com o que eu lhes disse. Vós se surpreendeis com a notícia?! Ora, palestrávamos, animadamente, e ríamos, e gargalhávamos, e contávamos piadas e anedotas, e zombávamos uns dos outros, tais quais os bons irmãos que somos eu e meus irmãos e o bom pai e o melhor filho que somos o senhor meu pai e eu, seu filho amado, e eu lhes contava histórias, e eles, durante a contação, a me chamarem louco. E assim que eu lhes disse que eu, que me deixara ludibriar por um espertalhão espertinho, que me havia surrupiado uma caixa de fósforos e uma caneca de cerveja, sou um tolo sem tamanho, um bobão exemplar, eles, além de me chamarem louco, concordaram comigo. Às minhas palavras não apresentaram objeção, nenhuma ressalva. Chamam-me louco; e concordam comigo! E o louco sou eu?!

domingo, 5 de março de 2023

Uma nota

 - Os empresários, todos eles, sem exceção, vagabundos, egoístas, gananciosos, estão aumentando o preço dos alimentos.

- O governo aumentou os impostos, e tu não reclamas.

- Os impostos o governo os investe em programas sociais de ajuda às classes desfavorecidas, que os empresários oprimem, exploram.

- Os empresários, agora, obrigados a pagarem ao governo mais impostos, adicionam o custo representado pelos impostos que o governo lhes cobra ao preço final dos alimentos, encarecendo-os.

- Basta diminuir a margem de lucro.

- O lucro, não todo o lucro, mas uma parte considerável dele, os empresários o investem nas empresas, e...

- Não há justificativa para o aumento dos preços dos alimentos.

- Não?! Mas, se o custo aumentou!? E o governo já deu sinais de que irá aumentar a carga tributária ainda mais. Não está longe o dia em que os empresários abaixarão as portas das empresas, e...

- Os empresários, gananciosos, egoístas, corruptos, exploram, oprimem, os trabalhadores.

- Se o governo insistir em aumentar os impostos, dificultando a iniciativa privada, os empresários decretarão falência, e...

- Que decretem! Eles são gananciosos, egoístas!

- Se o fizeram, os trabalhadores perderão o emprego. Assim...

- O governo os manterá.

- Com que dinheiro?! Se as empresas estão quebradas?! Se estão quebradas, não há atividade econômica. De quem o governo cobrará impostos?

- Das pessoas.

- Quais pessoas?! Se ninguém terá, por falta de emprego, salário, de quem o governo cobrará impostos?!

- O governo não permitirá que os empresários demitam os trabalhadores.

- Os empresários não terão recursos para manter as empresas em atividade. Não haverá mais empresas; não havendo empresas, não há empregos.

- Os empresários têm de ser obrigados, pelo governo, a manter, por questões sociais, as empresas, e, empregados, os trabalhadores, que não podem ser demitidos. Infelizmente, eles exploram a mão-de-obra dos trabalhadores, escravizam os proletários.

- Se os empresários exploram os trabalhadores, se escravizam os proletários, então o melhor que eles podem fazer é, demitindo-os, libertá-los da escravidão, assim não mais lhes exploram a mão-de-obra.

- Que o governo obrigue os empresários a, para manter os empregos, conservar as empresas de portas abertas, e, em benefício das camadas mais pobres da sociedade, congelar os preços dos produtos.

- Quê?! Congelamento de preços?! E se o custo de um produto vier a superar o seu preço para o consumidor final?! O que os empresários têm de fazer em tal caso?!

- Que se ferrem os empresários! Que eles decretem falência! Que eles percam tudo! Que as empresas fechem! Os empresários são gananciosos, egoístas, exploradores da mão-de-obra dos trabalhadores!

- Mas... Mas... Carinha, neste caso, os trabalhadores perderão o emprego.

- Não. Não irão. O governo não admitirá injustiça social. O governo obrigará os empresários a lhes pagar salário digno.

- Mas... Mas... Se não mais existirem empresas, que, falidas, não...

- Os empresários são gananciosos! Que paguem impostos! E que não aumentem o preço dos alimentos!

Uma nota

 - Eu defendo e respeito os negros.

- Ontem, um homem invadiu a casa do João Martelo, homem honesto e trabalhador, ótimo pai, e melhor marido, e matou-o.

- Eu sei. Contaram-me. Mas... Por que estás a me contar tal história, que é do meu conhecimento, tu sabes?!

- João era negro; e igualmente negro o homem que o matou.

- E...

- Qual dos negros tu defendes? O assassino, ou a vítima do assassino?

- Ora... As armas-de-fogo...

- O João morreu sufocado, tu sabes. Seu assassino matou-o, envolvendo-lhe a cabeça com um saco-de-lixo.

- É... Eu soube...

- Se sabes, por que falaste de armas-de-fogo?

- É que... É...

- Qual dos dois negros, o assassino, ou a vítima dele, tu defendes e respeitas?!

cinco notas

 Tivesse notícias boas para contar do governo do tal "L", a imprensa brasileira não se ocuparia, um dia sim, e o outro também, a falar, e falar mal, de Bolsonaro e sua família. Ora ela nos conta a história das carpas obesas, ora a das moedas, ora a dos telefonemas da Michele, ora...

Por que não nos diz a imprensa nacional qual é a política educacional do governo, e a ambiental, e a econômica, e a internacional, e a...


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Toda pessoa que repetiu, irritantemente, o "Fique Em Casa; A Economia A Gente Vê Depois", sabia que, após a paralisação das atividades econômicas (Fique em casa), viria a crise econômica (a economia a gente vê depois). A crise veio em 2020, e persistiu até o início de 2022, e o Fique Em Casa culpou pela crise o Bolsonaro, que deu um jeito na economia, que melhorou consideravelmente no decorrer de 2.022 - e ele, Bolsonaro jamais recebeu dos Fique Em Casa os merecidos créditos. Agora, sob o governo do tal "L", não vai a economia nacional bem das pernas. Mas a culpa, claro, não é do tal "L", mas do mercado, que é muito histérico, da guerra na Ucrânia, cujo estopim ocorreu no dia 1 de janeiro deste 2023, sabemos, da epidemia, da crise econômica internacional, cujo início se deu assim que os relógios anotaram o primeiro segundo do dia 1 de janeiro da era do tal "L". Antes de o tal "L" vergar a faixa presidencial, o mundo, sabemos, ia bem, não havia guerra na Ucrânia, tampouco uma crise econômica internacional com ressonâncias no Brasil.


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Estou a assistir à destruição da economia brasileira, ao aumento da violência, ao aumento do custo de vida, à invasão, por militantes revolucionários, de propriedades privadas. Mas estou tranquilo. O Estado de São Paulo está sob comando do capitão Tarcísio Gomes de Freitas. Aqui, no Estado de São Paulo, invasores de terras não são bem-vindos; já em estados governados por esquerdosos...


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- Tal capitalista cobra preços abusivos pelos seus produtos.

- O que você quer dizer, carinha, com "preços abusivos"?! Você tem acesso à planilha de custos da empresa do tal capitalista?!


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- O empresário tal cometeu aumento abusivo do preço do produto A. No ano passado, ele vendia produto A por R$ 4,00. Agora, ele está a vendê-lo por R$ 5,00. Aumento de 25%. Abusivo. Se a inflação, em doze meses, foi de 5%, por que o empresário tal aumentou em 25% o preço do produto A?! Aumento abusivo.

- Carinha, o índice de inflação representa a média do aumento de preço de centenas de milhares de produtos e serviços, comercializados, aqueles e estes, numa determinada região, durante um certo período de tempo. Ou, eu diria melhor, indica a diminuição do poder aquisitivo da moeda?! O índice de inflação não indica, portanto, que todos os produtos e todos os serviços tiveram igual aumento. Há produto cujo preço aumentou 50%; o de outro, 0,1%. E há produto cujo preço caiu 10%. Entendeu?! Quer que eu desenhe?! Você não pode afirmar que o empresário tal aumentou, abusivamente, o preço do produto A, sem conhecer-lhe a planilha de custos. Além disso, o que você quer dizer com "aumento abusivo de preço"?! E quem tem autoridade para determinar o que é e o que não é preço abusivo?! Considerando a ciência econômica, e não a farofa militante igualitária anti-capitalista de justiça social, o que vem a ser "aumento abusivo de preços"?!

sexta-feira, 3 de março de 2023

Duas notas breves

 Lula, e a fome. Os gordinhos pagam o pato.


Ouvi - e não acredito que meus ouvidos permitiram que as palavras que a eles chegaram fossem ao meu cérebro - que o tal "L", o tal que desgoverna o Brasil, afirmou que no Brasil há muita gente passando fome porque há gente comendo por dois. Ele não se referiu aos gordos; mas pegaram os gordos pra Cristo. Sempre que se fala em comilança e em comilões vêm à mente de todos os tipos mais elefantinos que se possa imaginar.

Conheço pessoas magras, magérrimas umas, ossudas, esqueléticas, que mandam, todo santo dia, para o estômago, um boi inteiro, e conservam, para o meu espanto, a silhueta mais fina do que uma folha de sulfite, e conheço pessoas gordas, que, em um dia comem, no café-da-manhã, um grão-de-bico, no almoço, uma folha de alface, quatro grãos de arroz, um grão de feijão e uma fatia, de um milímetro de espessura, de tomate, e dispensam o jantar, e jamais perdem a formosura de elefante prenha de nove meses (não sei qual o tempo de gestação da fêmea dos efefantes, perdõe-me, leitor, a ignorância: sei que você entendeu a referência). Os gordinhos, coitados! já são apontados, nas ruas, nos bares, nas salas de cinema, como os culpados pela fome no Brasil, e alvos de chacotas! Culpa do tal "L", que inventou mais uma questão para a guerra de classes em nossa sociedade: depois do capitalista x socialista, do empregador x empregado, do pai x filho, do branco x negro, do homem x mulher, e etecétera, e etecétera, e etecétera, e tal, temos o magro x gordo. E nos próximos dias veremos - e eu não me surpreenderei - alguém da turma do amor-venceu declarar, a sinalizar virtudes, indignados com as injustiças que ainda perduram em nossa sociedade, que no Brasil há anões porque há jogadores de basquete, e que há cegos porque há pessoas que enxergam demais, e que há solteiros porque há homens casados que têm amantes, e que há... há... há... Não consigo imaginar outro antagonismo entre classes sociais que porventura venham os justiceiros sociais a conceber. É pobre a minha imaginação.

Num país em que há, segundo a magérrima tartaruga alienígena natureba, cento e vinte milhões de pessoas passando fome, das duas uma: ou o Brasil, ao contrário do que diz a lenda, não produz alimentos para dar e vender; ou, há no Brasil pessoas comendo por três, por quatro, ou por mais pessoas.


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Greta Thunberg presa, de novo.


Há poucas semanas, contou-me um passarinho, e daqueles, tão fofoqueiros, que não sabem deixar a língua dentro da boca, que a Greta Thunberg, que protestava, na companhia de gente desconhecida, contra a extração de carvão, na Alemanha, foi presa. A notícia correu o mundo. Hoje, para a minha surpresa, contou-me o passarinho, e logo ao Sol raiar, que ela, que se manifestava, na Noruega, contra os parques eólicos, foi presa. Dizem ambientalistas que no país escandinavo as turbinas eólicas estão prejudicando os Sami, povo nativo norueguês, e as renas. Há um bom tempo, passarinhos contaram-me que as hélices das torres eólicas produzem ruídos ensurdecedores, que prejudicam os animais, e que os painéis fotovoltaícos, ao refletirem a luz do Sol, matam, torrados, literalmente, em pleno vôo, os pássaros que lhes entram inadvertidamente, na trajetória da luz solar que refletem, e que, sob eles, tão intenso é o calor, que cobras, lebres e outros bichos morrem queimados. Dizia-se, então, que tais histórias eram ingredientes de uma teoria da conspiração cujos criadores almejavam favorecer a indústria petrolífera e prejudicar a incipiente indústria verde, ecologicamente correta.

Pergunto-me porque a Greta protestou contra os parques eólicos. As pessoas que a patrocinam estão a transmitir qual mensagem? Se não se pode usar petróleo, nem gás, e nem os ventos, estocados nas turbinas eólicas, vai-se usar o que para se produzir energia?!


quinta-feira, 2 de março de 2023

artigo

 Venezuelar-se-á o Brasil?


- E aí, bróder?! Belê?!

- Tudo na santa paz, mermão.

- 'ocê 'tá vendo?! Agora o Lula 'tá no comando da bagaça.

- Não me incomodo, nem me preocupo.

- Não?!

- Não.

- E por quê?!

- Porque o Tarcisão do Asfalto 'tá na área.

- O ministro Tarcísio é dos bão.

- Já 'baixou imposto; já arrumou estrada; já construiu pontes. 'tá fazendo aqui o capitão o que fazia sob as ordens do Capitão.

- O cara é fora de série.

- Tão bom, que irá desfazer a desgraça que o molusco de nove tentáculos tem preparada para o Brasil.

- 'cê acha que tem ele munição pra tanto?

- Pra tanto talvez não tenha; mas não tenho dúvidas de que para reduzir os estragos que o monstro marítimo vai fazer, tem.

- O cara é fera.

- Queria o quê?! Ele é amigo do Capitão.

- Falando no Biroliro, você acha que ele 'tá ferrado; que ele será preso se vier para o Brasil?

- Não. Pra mim, é tudo lorota.

- Agora, vi na tevê duas bobagens das grossas: O Tarcísio 'tá de amorico com o Lula; e se afastou do Bolsolord.

- Das grandes, a besteira. História da carochinha. Quem conta tal história, que não passa de asneira de quem não tem o que fazer, já entendeu que não vê, no Tarcisão, um senão para, expondo-o aos brasileiros, fazer-lhe a caveira; assim, tenta criar em nós bolsominions desconfiança. "Vejam, bolsonaristas: o Tarcísio traiu o Bolsonaro. Vejam, bolsonaristas: o Tarcísio 'tá junto com o Lula." Besteira! Cai quem quer. O Tarcisão do Asfalto é nosso.

Um artigo

 Uma imagem vale mais do que mil palavras?! Manipulação da história pelos comunistas.


- Tu disseste que os comunistas deturpam, e pra caramba, a realidade; que eles mentem à beça; que eles só provocam desgraças. Discordo de ti. Vi inúmeras fotos que desmentem o que tu disseste deles. Diz o ditado: uma imagem vale mais do que mil palavras.

- Não sejas ingênuo. As imagens, dentre elas as fotos, são manipuláveis. E as fotografias; e os daguerreótipos; e as pinturas. E as imagens em movimento, as de vídeo. E até as esculturas. Nunca ouviste falar das famosas fotos de Lênin, Trotsky e Stalin, e outros comunistas?! Numa foto, a original, ou a adulterada?! talvez a mais famosa dos soviéticos bolcheviques, tirada, em 1.920, diante do Teatro Bolshoi, vemos a figura do Lênin e a do Trotsky, na original, e, na manipulada, a do Lênin, e apenas a dele. E o Trotsky?! O que deu nele, que sumiu da foto, assim, plaft-pluft, num passe de mágica?! E daquela outra famosa foto, a à margem de um rio, na qual aparecem o inconfundível Josef Stalin, e o obscuro Nikolai Yezhov, ouviste algo?! Inexplicavelmente, o desgraçado Yezhov não aparece nas cópias posteriores de tal foto. Delas ele desapareceu, num golpe de feitiçaria. O que deu nele?! E daquela famosa foto, ou é uma pintura à óleo?! a exibir um majestoso Stálin, já ouviste a história? Sabias que não é a imagem a original?! A imagem original, uma foto, conta com quatro personagens: o onipresente Josef Stalin, e Nikolai Antipov, Sergei Kirov e Nikolai Shvernik. Na foto original, repito, os quatro amicíssimos camaradas estão presentes; na cópia que se publicou em seguida, o tal Antipov já não dá o ar de seu graça. Dele nela não se vê sequer o cheiro. Nela vê-se Stalin, e Shvernik e Kirov. E Antipov?! Pluft! Sumiu, num passe de mágica. E na cópia que se fez, e publicou-se, posteriormente, vê-se Stalin e Kirov. E qual é o paradeiro do Shvernik?! Ninguém sabe. Desapareceu o homem da face da Terra, e da foto. E a história não se encerra neste capítulo. Numa cópia posterior, dada a público pelos soviéticos comunistas, o tal Kirov não aparece. Sumiu, tais quais os seus dois camaradas desaparecidos, num inexplicável passe de mágica. Artes do Malazartes, provavelmente; de um Malazartes russo, mais grotesco e arabesco do que o de berço ibérico. E quem em tal foto aparece, se já desapareceram da face da Terra, e da foto, o Antipov, o Shvernik e o Kirov?! Puxes pela memória. Na foto, eram quatro os camaradas. Três sumiram. Resta um. Quem? Josef Stalin. Eu disse que nesta foto só ele aparece. Todavia, se não me falha a memória, não se trata de um foto a 'foto', mas de uma pintura a óleo, e nela vê-se só, enfim só, o Josef Stalin. Manipularam tantas vezes tal foto que dos quatro personagens que originalmente nela apareciam agora vê-se apenas um: Stalin. E por que os comunistas manipulam tanto as fotos?! Por gostosura?! Não. Para recontar a história. Se faziam tal arte quando tinham à disposição fotos, e fotos, e mais fotos, e nada mais do que fotos, imagina o que fazem hoje em dia, numa era de cinema, computador, holografia.

- Mas eles não são os únicos a manipularem as imagens.

- Se me dizes que eles não são os únicos a manipularem as imagens, então reconheces que imagens são manipuláveis e que os comunistas as manipulam. Não esqueças: os comunistas, e não apenas eles, é claro, eu sei, e seria eu um rematado tolo se não o soubesse, adulteram fotos, e pinturas, e vídeos, enfim, tudo, com um propósito: reescrever a história. Uma imagem não vale mais do que mil palavras, e tampouco mil palavras têm valor se contam mentiras. Não sejas ingênuo.