quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Anedota

 Devo respeitar o Luciano Hang?


Se levasse ao pé da letra as lições que recebi de meus pais e avós, eu jamais respeitaria o Luciano Hang: "Sergio, respeite, sempre, quem tem mais cabelos brancos do que você."

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Vírus

 O que eu sei de vírus!? O suficiente para entender que os vírus não seguem orientações da Organização Mundial da Saúde, e tampouco respeitam decretos de presidentes, governadores e prefeitos.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Dois filmes

 O Tigre de Bengala (Der Tiger von Eschnapur - 1959) - de Fritz Lang


Ambientada na Índia, a aventura que Harald Berger (Paul Hubschmid), alemão, engenheiro, protagoniza, é uma trama que, além de envolvê-lo, conta com a participação da mulher pela qual ele se apaixona, a dançarina Seetha (Debra Paget), do marajá de Bengala, Chandra (Walter Reyer), do irmão mais velho deste, Ramigani (René Deltgen), do príncipe Padhu (Jochen Brockmann), e de coadjuvantes, que não estão no núcleo do enredo, mas têm papel importante no desenrolar dos eventos.

Numa certa cidade da Índia, cidade cujo povo é aterrorizado por um tigre que já havia ceifado a vida de alguns de seus habitantes, vivem Harald Berger, Seetha e a serva desta, Baharani (Luciana Paluzzi). Estes três personagens seguem em comitiva para Bengala; ataca-a, no caminho, o tigre tão temido, que vem a ter próximo de suas garras e dentes Seetha; Harald Berger, sem titubear, a manusear uma tocha, de posse de inata valentia, vai em socorro da bela dançarina, e salva-a, ao afugentar o terrível felino. Recompostos do susto, retomam viagem rumo a Bengala.

Acolhida pelo marajá de Bengala, viúvo, que por ela se apaixona ao admirá-la durante evoluções numa dança, Seetha, na companhia de Harald Berger, que foi visitá-la, sentada à margem de uma fonte, evoca uma canção, de cuja letra não se lembrava, e Harald Berger diz ser a canção irlandesa e canta-a, e dela a dançarina recorda-se. Suspeita Harald Berger, então, que é o pai de Seetha irlandês; e o violão, instrumento musical ocidental, que Seetha tem consigo, uma herança deixada pelo pai dela, reforça-lhe as suspeitas. Inspira os sentimentos de Seetha a nostalgia de um tempo, sua infância, do qual ela, além da canção que, agora ela sabe, é de origem irlandesa, nada guarda nos escaninhos de sua memória.

Segue paralela à aventura de amor entre Harald Berger e Seetha e do marajá Chandra pela dançarina, a de Ramigani, que planeja a perdição de seu irmão; almeja Ramigani o trono que ora seu irmão ocupa, mas tem seus planos atrapalhados pelo príncipe Padhu, irmão de Marani, falecida, anterior esposa de Chandra. O príncipe Padhu não tem a pretensão de pôr-se entre Ramigani e seu objetivo, mas incomoda-o, e pode pôr-lhe a perder o que ele ambiciona, ao ir em prejuízo do relacionamento entre Chandra e Seetha, pois não admitia que o marajá substituísse Marani por uma dançarina, enquanto Ramigani queria que se consumasse o casamento entre eles, para poder desmoralizar Chandra e alijá-lo do trono.

São muitos os episódios da aventura em terras indianas: o sequestro de Seetha; a morte de Baharani; a luta entre Harald Berger e um tigre; e outros.

E todos vivem felizes para... Não. Não vivem. Conta O Tigre de Bengala a primeira metade da aventura de Harald Berger e Seetha, e do Tigre de Bengala, Chandra, aventura que se encerra em O Sepulcro Indiano.

Para encerrar esta resenha, duas observações: o estranhamento entre a cultura indiana e a ocidental; e a arquitetura da obra de Harald Berger, apresentada, em maquete, arquitetura moderna, desprovida de beleza, inferior à indiana, exuberante, esplendorosa, magnífica.

*

O Sepulcro Indiano (Das Indische Grabmail - 1959) - de Fritz Lang

Nesta segunda e última parte do romance do arquiteto alemão Harald Berger (Paul Hubschmid) com a dançarina Seetha (Debra Paget) há uma sucessão de episódios de estontear, e prender a atenção de, quem acompanha a aventura, que se desenrola em capítulos alternados de dois cenários, que se cruzam: os protagonizados por Harald Berger e Seetha e os que ocorrem no palácio do marajá Chandra (Walter Reyer), capítulos, estes, divididos entre os animados por Chandra e o casal Rhode, Walter (Claus Holm) e Irene (Sabine Bethmann), e os que envolvem Ramigani (René Deltgen) e o príncipe Padhu (Jochen Brockmann).
Chandra, enraivecido, insiste em exigir de Walter Rhode a construção de um sepulcro, que serviria, era seu desejo, de túmulo para Seetha, mas o arquiteto não tinha a intenção de construí-lo, todavia, prisioneiro no palácio do marajá e desejoso de saber o destino de Harald Berger, seu cunhado, resigna-se, não a cumprir a ordem de Chandra, mas a conservar-se em Bengala para descobrir que fim levara o irmão de sua esposa. Enquanto os Rhodes, com o talento que fez a fama de Sherlock Holmes, investigam o caso que muito os intriga, e colhem informações que os deixam apreensivos, e tiram de um esquivo e amedrontado Asagara (Jochen Blume), que se via num dilema enervante - ou dedicava lealdade ao marajá, seu senhor, ou a Harald Berger, seu amigo - alguns dados que lhe aumentam as suspeitas acerca das intenções de Chandra, Ramigani, o irmão mais velho do marajá, trama a remoção de seu irmão do trono de Bengala, com a ajuda, indispensável, do príncipe Padhu, que, orgulhoso, não queria ver uma dançarina ocupando uma posição, a de esposa de Chandra, que outrora pertencia à sua falecida irmã, Marani. Harald Berger e Seetha viviam numa vila, em fuga, caçando-os Ramigani, e vem a serem por ele capturados. Seetha é levada ao Palácio de Chandra; e Harald Berger ao calabouço. Sucedem-se os episódios; desenrola-se a trama. A apreensão de Ramigani é visível; e ele se ocupa de criar o ambiente apropriado ao casamento de Chandra e Seetha, e para executar o seu plano precisaria do apoio do príncipe Padhu, o que ele teria se persuadisse Chandra a desposar Seetha, mas Chandra não pretendia casar-se com ela, pois sabia que ela, ao contrário do que ouvia de Ramigani, fugira com Harald Berger sem que este a coagisse à fuga. É interessante o cinismo de Ramigani, que, ao mesmo tempo que planeja a perdição de seu irmão, fá-lo acreditar que ele, Ramigani, o ama e quer-lhe a felicidade ao lado de Seetha. E Harald Berger, acorrentado, no calabouço, só, luta pela sobrevivência, e é bem-sucedido em seu ingente esforço, em nenhum momento, embora adversa a sua situação, seu ânimo vindo a esmorecer. E a história, enfim, chega ao episódio derradeiro, o do ritual de casamento de Chandra e Seetha, quando se dá a intervenção do sacerdote Yama (Valéry Inkijinoff), que se opunha ao enlace matrimonial entre o marajá e a dançarina e não apoiava a ação traiçoeira de Ramigani e Padhu, mas que, ao opor-se a Chandra, foi de auxílio imenso aos dois ladinos inimigos dele. E entra em cena o general Dagh (Guido Celano). E todos vivem felizes para sempre. Todos, não; o arquiteto alemão e a dançarina, sim - o que não surpreende ninguém; e não estou, aqui, a revelar nenhum segredo escondido a sete chaves, afinal, os heróis, em romance de tal gênero, o destino sempre os presenteia com a felicidade.
E adiciono dois pontos, que me chamaram a atenção: o destino de Chandra, para mim inusitado, que muito me surpreendeu; e a ausência de uma explicação para a origem de Seetha, se era ela de pai irlandês - tal suspeita em suspenso em O Tigre de Bengala.
É O Sepulcro Indiano uma aventura com reviravoltas verossímeis, todas a formar uma arquitetura dramática muito bem elaborada.

domingo, 26 de setembro de 2021

Dois textos. Notas breves.

 Persiste o presidente Jair Messias Bolsonaro em falar das ações do Governo Federal durante o um ano e quatro meses do que se convencionou chamar Pandemia (ou Epidemia) do coronavírus (ou Covid-19), evento, este, profetizaram renomados médicos e cientistas, cataclísmico, que culminaria na extinção da civilização se medidas drásticas de contenção da disseminação do vírus não fossem implementadas. E o que se viu? Que os países que as implementaram colheram os mesmos frutos que os que não as implementaram - para tristeza de muitos, não foi o fim-do-mundo - e enfrentam crises social e econômica significativas, a antecipar recrudescimento das que as antecediam e a abrir caminho para a ereção de estados totalitários (o que já se vê em alguns países devido às revoltas populares - em especial nos países que decretaram rigorosas medidas restritivas) - os, lentos em uns, acelerados, em outros, movimentos nesta direção estão explícitos nos decretos governamentais de cerceamento das liberdades básicas, um deles o da exigência de Passaporte Sanitário, que rouba aos cidadãos o direito ao livre exercício das suas liberdades elementares.

Em publicação, de 29/07/21, em sua conta no Facebook, o presidente, mais uma vez, insistindo em registrar as ações do seu governo, diz o que muitos estamos cansados de ouvir, mas que deve ser dito inúmeras vezes, para que as mentiras não prevaleçam. Há uma guerra de narrativas; e as narrativas mentirosas têm de ser confrontadas com as verdadeiras. Enviou o Governo Federal recursos aos governos estaduais e municipais - é esta uma informação que todo brasileiro tem de conhecer, muitos, todavia, decidiram ignorá-la porque preferem adotar como verdadeira a oposta, prejudicial à imagem do presidente Jair Messias Bolsonaro. E segue o presidente do Brasil: aeronaves da FAB transportaram remédios e vacinas, e pessoas, para o estado do Amazonas, e a outros estados; em auxílio às pequenas e micro empresas criou o Governo Federal o Pronampe, que, evitando a bancarrota de milhares de empresas, conservou milhões de empregos - diretos e indiretos -, preservando, assim, aquecida, a economia, apesar da perda do poder aquisitivo do brasileiro nestes dezesseis meses - e os mais tarimbados, talentosos, criativos, souberam usar, sabiamente, os poucos recursos que lhes chegaram às mãos em equipamentos e máquinas eficientes, e enveredaram por novos mercados, pouco explorados, preparando-se, agora, à retomada da economia, para conquistar novos clientes e progredirem rapidamente. Outro ponto importante do texto presidencial prende-se na absurda, irresponsável, postura, inconsequente, da mídia, que demonizou remédios que poderiam ser ministrados às pessoas que, infectadas pelo coronavírus, e encontrando-se no estágio inicial da doença, manifestaram os sintomas; e adicionou comentários acerca do direito do médico ao livre exercício da Medicina, o médico atuando, para o benefício dos seus pacientes, e com a aquiescência deles, prescrever-lhes remédios off-label (fora da bula), remédios que eles consideram apropriados ao tratamento, remédios que, sabe-se, hoje, são de uso disseminado pelos que adoecem (e por aqueles que querem se precaver caso venham a ser pelo vírus infectados) de gripe causada pelo vírus que, dizem, veio de Wuhan.

E insiste o presidente Jair Messias Bolsonaro em informar que o Supremo Tribunal Federal delegou a prefeitos e governadores a responsabilidade de decretar as políticas que eles entendessem apropriadas para o efetivo e correto enfrentamento do surto epidêmico do coronavírus; coube, portanto, a eles, e não ao presidente do Brasil, a decisão de decretar quarentenas e lockdowns; e não foram poucos prefeitos e governadores que determinaram pela obrigatoriedade do uso de máscaras, pelo fechamento do comércio, pela aplicação de multas a empresários que ousassem erguer as portas de seus estabelecimentos comerciais e trabalhar, pela prisão de pessoas que caminhassem, sós, em praças, avenidas, ao largo de praias, nas areias das praias, e pela imposição de toques de recolher, medidas, todas estas, que prejudicaram milhões de brasileiros. E não deixou de lembrar que o Governo Federal recorreu, em duas ocasiões, ao STF, solicitando aos seus ministros que reconhecessem inconstitucionais os decretos dos governadores, que, alegou o Governo Federal, desrespeitam o artigo quinto da Constituição Federal, e em tais pedidos o Governo Federal não foi atendido. E as últimas palavras do presidente Jair Messias Bolsonaro ele as usa para dizer que o seu governo respeitou a liberdade individual de ir e vir, e a de expressão - no que diz a verdade, mas os seus inimigos insistem em negar-lha, e a dá-lo ao público, que, tudo indica, não está comprando tal narrativa, como um sujeito autoritário.

Faz bem o presidente Jair Messias Bolsonaro vir a público expôr as ações do seu governo para confrontar as narrativas mentirosas que os seus inimigos, que são inimigos dos brasileiros, lhes assacam com virulência desmedida.

*

Em seu texto do dia 30/07/2021, publicado no Facebook, Flávio Lindolfo Sobral fala do mal que a lei que trata da violência psicológica contra a mulher pode vir a causar aos brasileiros. Li um outro texto, de outro autor (cujo nome não anotei), que acredita que tal lei, sancionada, e sem vetos, pelo presidente Jair Messias Bolsonaro, redundará numa guerra sexista no Brasil, afinal "violência psicológica" é algo extremamente subjetivo, de larga acepção, ilimitada, e qualquer coisa dada como violência psicológica, se assim entender o juiz de plantão, assim será a acusação entendida. Ai do homem que se atrever a chamar de feiosa um exemplar feminino da espécie humana desprovido de atributos que excitam a imaginação masculina, que é bem fértil em tal matéria. E que jamais o homem diga a uma feiosa que ela é uma baranga. Chamá-la de mocréia!? Nem pensar! Tribufu!? Prisão perpétua ao machista.

sábado, 25 de setembro de 2021

Prostituição

 Prostituição Já!


Há poucos dias, uma bela atriz afirmou que, em decorrência das políticas culturais do governo Bolsonaro, restaria às atrizes a prostituição. Tal declaração é uma confissão, conquanto se queira com ela dar a entender o contrário, de que há tempos amealham os artistas fortuna, arrancando-se do bolso dos brasileiros um bom punhado de moedas, com trabalhos medíocres, e muitos deles destituídos de valor, que os brasileiros não compram; fosse diferente, os artistas promover-se-iam em atividades culturais privadas, aos brasileiros venderiam cada qual o seu peixe, e encheriam as burras de ouro; mas não é o que se vê; vivem de dinheiro público, que sai, sem controle, dos cofres públicos, pelo ladrão. Que o mecenato seja atividade louvável, ninguém há de negar, mas o que se discute é a distribuição de recursos públicos, que são escassos, aos artistas; sabe-se que quase toda a verba pública destinada à cultura escoa pelo ralo e vai desaguar nas contas bancárias de artistas milionários, e não nas mãos dos que, vivendo na rua da armagura, pedem um arrimo para alavancarem a carreira, que se encontra em seu estágio inicial.

A declaração da bela atriz me fez evocar um assunto que provocou, há um bom tempo, animada celeuma: a legalização dos serviços das mulheres de vida fácil, as que praticam a profissão mais antiga da civilização: a prostituição. Houve quem defendesse a legalização de tal serviço recebendo as rivais de Pompadour o direito a registro trabalhista, pois elas fazem a felicidade de garotos imberbes e de marmanjos barbudos, solteiros, uns, casados, outros, muitos dos quais, além de alguns poucos minutos, ou muitas horas, de ínfrene atividade lúdica, obtêm da contratada orientações psicológicas e espirituais e aconselhamentos conjugais, muitos varões, influenciados pelas carinhosas e maviosas palavras que delas ouvem, no himeneu clandestino, a renovarem seu amor pela esposa tão negligenciada. Pensando com os meus botões, pergunto-me como se daria a relação das beldades que fazem a felicidade dos homens carentes de afeto com o fisco, com a legislação trabalhista, com a Receita Federal, com os seus clientes e com os seus patrões. É um tema sério, demasiadamente sério, que desperta risos, comentários jocosos, e maldosos, e irônicos, e sarcásticos. É extraordinariamente complexo. Penso, agora, na relação das mulheres que exercem a mesma atividade de uma que recebeu, de Nosso Senhor Jesus Cristo, o perdão, com seus patrões, os cafetões. Imagino um ma cena: Uma mulher de vida fácil e o seu senhor, à mesa, a discutirem direitos trabalhistas: salário-hora, horas extras, adicional noturno, adicional periculosidade, décimo terceiro, filiação sindical, direito à greve, férias remuneradas, aposentadoria, e outras coisinhas mais. E ao fim da negociação vai o cafetão aos órgãos públicos competentes, federais, estaduais e municipais, registrar a sua empresa, obter o CNPJ e o alvará de funcionamento do estabelecimento comercial, localizado, este, em bairro nobre, numa rua de fácil acesso, e a contratar serviços de empresa de marketing e a divulgar sua empresa em revistas, jornais, emissoras de televisão e de rádio, e em sites. Agora, ao imaginar a relação de uma atraente e exuberante prestadora de serviços espirituais em negociação com seu cliente, vem-me à cabeça: a dedicada e responsável profissional apresenta-lhe documentos que lhe provam que ela não possui doenças venéreas, e compromete-se a, encerrado o serviço, emitir nota fiscal - com o valor que dele recebeu para ele abatê-lo do imposto de renda - de serviços de orientação psicológica, ou de aconselhamento conjugal, ou de terapia espiritual, ou de medicina ayurvédica, ou de serviços de massagem. Se o seu cliente é casado, assim ela insisite em fazer, mesmo que ele não o queira - afinal está ela a pensar, preocupada, no bem-estar físico, espiritual e psicológico dele - para que ele não se veja em maus lençóis, sob o risco de ter de se aborrecer com uma batalha judicial com sua querida e adorada consorte, que dele desejará arrancar a metade do patrimônio que ele arduamente acumulou.

E não me escapa à sagaz inteligência o direito que os clientes das formosas beldades têm de recorrer ao Procon caso a contratada - ou as contratadas - não execute à perfeição o serviço combinado. Ensina-nos o ditado: O combinado não é roubado. Cabe às prestadoras de serviços respeitar o estabelecido em contrato e entregar aos seus clientes o prometido.

Pergunto-me se os cafetões e as Messalinas irão se dispor a percorrer a via-crucis burocrática para legalizar seus empreendimentos comerciais.

Não sei o que o futuro reserva para as atrizes que hoje lamentam a indiferença do presidente Jair Messias Bolsonaro, que, dizem, está a destruir a digna e valiosa cultura - cujas obras mais significativas são Macaquinhos e Golden Shower - que herdou dos que, antes dele, nos últimos quarenta anos, carregaram a faixa presidencial, mas, tendo-se aos olhos da minha imaginação a bela estampa de muitas delas, de fome, sei, elas não morrerão.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Universo

 Dois artigos de Lefteris Kaliambos e um texto de Mário Novello. Breves notas.


Li, ontem, 02/08/2021, de Lefteris Kaliambos, o artigo Einstein, publicado, no Wikia.org, dia 06/01/2019. Não ouso, nesta nota breve, resumir as idéias científicas esposadas pelo autor em seu artigo, razoavelmente extenso, vazado num vocabulário científico - todavia, acessível ao leigo, que, mesmo não apreendendo a essência das questões envolvidas, segue na leitura, pois está o artigo num estilo direto, simples, sem os atavios retóricos que enfeiam textos vazios. Está o artigo no idioma inglês. Embora eu não tenha intimidade com o vocabulário científico e não tenha compreendido muitas das idéias expostas pelo autor, o que apreendi permite-me, no entanto, saber que os cientistas são falíveis, inclusive o mais popular deles, Albert Einstein. Tal infomação é de causar espanto aos,  boquiabrir e queixocair os, e arrepiar os cabelos dos crédulos, que vêem nos cientistas deuses. Lefteris Kaliambos informa que alguns de seus experimentos rejeitam a teoria da relatividade, de Einstein, pois este folclórico, icônico cientista, cuja estampa inspira a tese que ensina que são doidos varridos os cientistas, baseou-se em teses equivocadas de Maxwell, a do conceito de campo eletromagnético, e torcia o nariz para a ciência antiga, a de Isaac Newton, confirmada a veracidade desta pelo experimento de Michelson-Morley.

Além de abordar o erro de Einstein, que foi levado pelo erro de Maxwell e de alguns outros cientistas, o autor dá uma breve biografia, ilustrativa, do personagem que é o tema do seu artigo e cujo nome está no título dele, e, digo, uma aula de história da ciência; além dos cientistas mencionados linhas acima, Lefteris Kaliambos apresenta ao leitor Lorentz, Euclides, Faraday, Ampere, Coulomb, Galileo, Planck, Bohr, Schrodinger, Lavoisier, Poincaré, Ptolomeu, Huygens, Minkowski, Hubble e outros cientistas de menor fama.

Em tal artigo irá o leitor ler sobre propriedade gravitacional da luz segundo Isaac Newton, contração do comprimento do quantum, dilatação do tempo do quantum, interações eletromagnéticas e gravitacionais, massa inercial segundo a lei de Newton, lei de interação fóton-matéria, éter, ondas de luz, princípio da relatividade na lei da indução de Galileo, efeito fotoelétrico, mecânica quântica, movimento browniano, lei da conservação de massa e energia, espaço quadridimensional.

E repito palavras que escrevi no início desta nota breve: " Não ouso, nesta nota breve, resumir as idéias científicas esposadas pelo autor em seu artigo...", o de Lefteris Kaliambos, Einstein. E não lhe resumi as idéias; não ousei fazê-lo; limitei-me a registrar alguns nomes, e mais uma coisa e outra. E se escrevi alguma asneira, que me desculpe o leitor; não tenho conhecimento científico; sou apenas um homem curioso, que não se nega o prazer da leitura de textos cujo teor põe para funcionar o cérebro de todo filho de Deus.

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Em Our Universe, Lefteris Kaliambos aponta as controvérsias científicas que envolvem um tema: a origem do universo e, dele, a história. É interessante ler Lefteris Kaliambos - e outros cientistas que, inteligentes, humildes e honestos, buscam compreender os seus objetos de estudos - porque além de ele apresentar o confronto entre, penso, as principais correntes de pensamento, manifesta conhecimento da história da ciência, no seu caso, da Física e da Cosmologia, e, principalmente, porque, lendo-os, entende-se que se faz ciência confrontando-se hipóteses, teorias, avaliando-as, pondo-as à luz de experimentos, análise crítica ponderada, severa, e não esculpindo-se bustos dos cientistas icônicos, dispondo-os num altar, e diante deles genuflexionando-se, todo santo dia, suplicando-lhes milagres e iluminação intelectual. É esta uma lição, e tanto, indispensável, que todo ignorante em ciências apreende lendo os artigos deste cientista grego.

Em Our Universe, chama o autor atenção para o antagonismo entre duas teses cosmológicas, a do universo cujo princípio se deu numa singularidade, o Big Bang, e a de que é ele eterno. Tece o autor críticas a Einstein, cuja teoria de conservação de massa e energia está invalidada por experimentos, e entende que ele chegou a elaborar tal equívoco ao se basear em teorias erradas de Maxwell e desprezar a lei natural de Isaac Newton. Fala o autor de uma teoria, a do Dark Flow, apresentada por Kashlinsky, teoria que dá a conhecer que há no universo região desconhecida, região que os equipamentos criados pelo homem não podem perscrutar o que se chama de horizonte de eventos, invisível, vou assim dizer, aos humanos. E além de apontar erros de Hawking, Penrose, Fermi, Weinberg, Higgs, French, Tessman, afirma que, coincidindo com experimentos baseados na lei natural, fundamental, de conservação de massa e energia, chegou-se à conclusão de que é o cosmos infinito, e eterno, nosso universo pela Lei Natural governado. E fala da idéia de Penrose e Hawking, idéia que aponta que há singularidade em que as leis da Física não atuam; e que Hawking e Harthe, em nova teoria, afirmam que não tem o universo fronteiras; e que a teoria do universo em expansão acelerada está inspirada na idéia, errônea, de energia escura; e que Hawking aceita a hipótese de um criador para o cosmos; e da Teoria Inflacionária, e de múltiplos universos paralelos, e muitos universos, cada um, singular, com sua história; e que Einstein compreendeu mal a Lei do Princípio da Equivalência, de Isaac Newton, lei que afirma que é a força centrífuga força inercial que se opõem à força centrípeta; e que, para Newton gravidade e inércia são duas propriedades da massa. E fala de neutrinos, anti-neutrinos, deutério, quantum, força gravitacional de longo alcance, partículas subatômicas, interação fóton-fóton, partículas, anti-partículas, positron, energia eletromagnética, emaranhado quântico, formação das estrelas, mesons, quarks, gluons, bósom, e Modelo Padrão, e Constante Cosmológica, e supernova. Para os nerds fãs de Jornada nas Estrelas e, por extensão, de ficção científica, é o artigo (que está em inglês) de Lefteris Kaliambos, um tesouro inesgotável, uma jazida infinita e eterna.

Não tenho conhecimento científico que me permita avaliar o teor do artigo. Não sei o que é emaranhado quântico, desconheço a teoria do campo eletromagnético, de Maxwell, e as teorias de Newton, Einstein, Hawking, e de outros cientistas que o autor menciona, mas o essencial do artigo, eu, um homem que de ciência não conhece sequer uma vírgula, apreendi: a ciência se faz confrontando-se hipóteses, teorias, e assim será, por todo o sempre, tenha o sempre um fim, ou não.

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É o texto "Diálogos sobre o começo do Mundo - reedição", publicado, dia 27/07/2021, no site Cosmos & Contexto, um trecho do livro Do Big Bang ao Universo Eterno, de Mário Novello. Apresenta o autor, no texto, um diálogo entre Evgeny, Maurizio e Vitaly, nomes fictícios para três cientistas que participaram, dia 24/08/2002, de um workshop do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas - CBPF. Discutem as três personagens se tem o universo um início, que se deu a partir de minúsculo ponto situado sabe-se lá onde (se nada havia, onde estava o "ponto" que explodiu? Se, não havendo universo, portanto, nada havendo, nem espaço, tampouco o tempo, o "ponto" podia estar, num tempo, em algum lugar? - pergunto-me), ou se é o universo eterno, que nunca teve um início, e jamais terá um fim. Evocam Hubble, e sua teoria do afastamento das galáxias umas das outras; e falam do espaço-tempo quadridimensional; da topologia do universo; e de Gödel; e de Lemaitre, e a idéia da singularidade da explosão de um átomo primordial; e de Lifshitz, que descobre universo na vizinhança da singularidade; de universo que passa por ciclos de expansão e contração, e de modificação de sua estrutura geométrica espacial; da lei da conservação de energia; e de Hawking, que descobriu que buracos negros podem irradiar energia; e perguntam qual é a origem do universo e se o universo, se eterno, é instável.

Entre parênteses, linhas acima, eu me pergunto onde se localizava o "ponto" que explodiu, dando origem ao universo, se, antes, não havia o universo, nem, portanto o espaço e o tempo. E pergunto: se o universo nasceu, em algum momento, em algum lugar, então o espaço e o tempo existiam antes dele vir à luz - ou não? Podem existir o tempo antes do tempo e o espaço fora do tempo? A existência do tempo e a do espaço prescindem da existência do universo? O que são o tempo e o espaço, afinal? Particularidades de algo que existe antes do universo existir? E o que é tal "algo"? Um "universo" maior do que o "nosso universo"? Então, o "nosso universo" não está na origem de tudo? A sua criação é um fenômeno que ocorreu dentro de um "corpo" infinito? Apresentando-me tais perguntas, coço-me a cabeça, certo de que os cosmólogos têm muitas teorias para a origem de "tudo", mas nenhuma certeza do que aconteceu na origem de "tudo" (caso "tudo" tenha uma origem). Não quero ousar dizer, mas ouso: as teorias dos cosmólogos não se diferem, penso, na essência, das idéias sobre a origem (ou a eterna existência) de "tudo" exposta nos livros sagrados escritos nos primórdios da civilização. A verdade verdadeira é: a origem (ou a eterna existência) do universo é um mistério - um mistério eterno?

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Distopia

 Bolsonaro na ONU: sucesso retumbante.


Ontem, dia 21 de Setembro de 2021, o presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, no discurso de abertura da reunião anual da Organização das Nações Unidas, apresentou, assenhoreado pela ambição, nobre e humana, de um aguerrido, destemido, voluntarioso e abnegado combatente da Democracia, da Liberdade e da Justiça, em um pouco mais de dez minutos, numa oratória límpida, num estilo primoroso, com a dicção dos mestres helênicos da arte do bem falar, numa retórica vazada nos moldes clássicos do exercício correto e justo da exposição das idéias, as suas políticas, que se coadunam com as dos vanguardistas do espírito humano; e encerrado o seu discurso, ovacionaram-lo e o aplaudiram, estrondosamente, em pé, os chefes-de-estado presentes no prédio da Organização das Nações Unidas, todos eles, enquanto ele discursava, a ouvirem-lo, atentamente, embevecidos, alumbrados com a ínsigne postura do líder nato da nação mais rica e próspera da América do Sul; e os efusivos aplausos os congêneres do representante brasileiro os estenderam até se cansarem, durante quarenta e quatro minutos. Nas horas que se seguiram e no dia de hoje, jornais de todo o mundo e sites e emissoras de televisão estamparam a venerável figura do presidente da República Federativa do Brasil, acompanhada do discurso magistral que saira da boca dele, um estadista, o personagem de maior importância de toda a história da nação que se formou a partir da amálgama, em seus primórdios, de lusitanos, africanos e nativos ameríndios pré-colombianos, com a contribuição posterior de ingredientes étnicos e culturais de outros povos. Estas palavras, poucas, estão aqui inscritas para enaltecer o valoroso presidente do Brasil, um herói de escala universal. Não nos estenderemos, neste artigo, os louvores ao senhor Jair Messias Bolsonaro, coquanto ele mereça todos os concebíveis, e, esculpida em bronze, uma estátua titânica de sua portentosa, apolínea e hercúlea figura. Aqui encerrado o parágrafo que dá aos nossos leitores a conhecer a participação do lídimo e legítimo representante do povo brasileiro na reunião anual da Organização das Nações Unidas neste 2021, reproduzimos, no parágrafo subsequente, dele, o eloquente discurso, discurso, este, uma obra-prima da retórica política que merece atentas e reverentes leituras e releituras. Eis o discurso do ilustríssimo presidente da República Federativa do Brasil, Jair Messias Bolsonaro:

Amigues, hoje, eu, o presidente do Brasil, estou, aqui, para anunciar a todes as políticas politicamente corretas, comunistas, socialistas, de ideologia de gênero, marxistas e leninistas, que estou, eu, Jair Messias Bolsonaro, proponente da extinção das soberanias nacionais, a voz do Estado brasileiro, eu, Jair Messias Bolsonaro, o Estado, eu, Jair Messias Bolsonaro, a Opinião Pública Brasileira, obediente ao Governo Mundial, a implementar, em todo o território brasileiro, punindo todo cidadão brasileiro recalcitrante com o fuzilamento, as políticas que irão fazer do Brasil um paraíso socialista tecnocrata transhumano e cientificista. Fuzilei, fuzilo e fuzilarei ao paredão todo indivíduo hostil, de mentalidade fascista e nazista, de temperamento genocida, capitalista, ocidental, supremacista branco e cristão fundamentalista e intolerante. A religião é o ópio do povo. Deus é um personagem do tempo do nunca, do arco-da-velha, das histórias da carochinha de nossos avós brutos e asselvajados, adorado pelos energúmenos medievalistas, preconceituosos e fanáticos crentes que estão sempre a sobraçar o livro, que eles têm na conta de sagrado, recheado de baboseiras folclóricas, lendárias, de um povo rude, bárbaro, inculto e ignaro. A família, esta instituição opressora, burguesa, capitalista, favorece o exercício autoritário, ditatorial, totalitário do patriarcado sexista e machista, e dela tira seu poder máximo o homem cristão, ocidental, branco, loiro e de olhos azuis. A religião é o ópio do povo. O Grande Satã tem de ser aniquilado. Todo o poder aos proletários! Abaixo a burguesia! Eu odeio a classe média! Há lógica no assalto. Proletários de todo o mundo, uni-vos! Vivas à revolução! Para salvarmos a Terra urge extirpar-lhe o tumor cancerígeno maligno que muito mal lhe faze: a espécie humana. Vivas à Mãe Gaia! O Estado sou eu! A opinião pública sou eu! Iniciemos o processo de renovação da natureza removendo do útero das fêmeas da espécie humana o amontoado de células, coisa inerte e sem vida, bizarra e anômala, que, no interior dele, os homens inserem numa quantidade que elas ignoram. Todo o poder às mulheres empoderadas! Às pessoas sem vagina, dotadas de masculinidade tóxica, o paredão, destino reservado a todos os seres que não sabem qual é o seu papel na história, papel que o partido lhes reserva. Salvemos as baleias! Salvemos os pandas! Salvemos as tartarugas marinhas! Regulamentemos a mídia e a internet para que elas não disseminem dos conservadores fascistas e nazistas e genocidas fakes news e discursos de ódio. Exterminemos o gabinete do ódio conservador! Todo poder aos soviétes e aos chins! Fidel Castro e Che Guevara, olhai por nós! Marx e Engels, orai por nós! Lênin e Stalin, olhai por nós! Mao e Pol Pot, orai por nós! Não há dois sexos. Há setecentos e noventa e quatro gêneros, ensinam-nos os heróis do movimento. Abaixo a ditadura dos capitalistas opressores! Que os filhos libertem-se dos grilhões com que seus pais lhes manietam os movimentos! Fim aos tabus! Enalteçamos o amor intergeracional! Louvemos os novos tipos de família! Abaixo a família tradicional, arcaica, opressora, liberticida, pecadora! Vivas ao amor com os animais, com as plantas, com os objetos, com os cadáveres! Que aos inúteis à paz socialista seja oferecida a morte digna via injeção letal, ou por envenenamento, ou enforcamento, ou fuzilamento. Enviemos os inimigos da paz universal aos campos de reeducação, instrução e treinamento. Que as crianças não vivam na companhia de seus pais, seres opressores, que as maltratam durante sessões diárias de tortura psicológica de inspiração cristã! Que nenhuma pessoa tenha direito à legítima defesa! Que a educação e a segurança fiquem a cargo do Estado, exclusicamente do Estado. Fiquemos em casa; a economia veremos depois. Que ninguém se retire, à rua, de sua casa, até segunda ordem. Prisão aos refratários aos decretos estatais. Internacionalizemos a Amazônia, e o Pantanal, e o Mangue, e a Chapada Diamantina, e os Lençóis Maranhenses, e Fernando de Noronha, e a ilha de Marajó, e Parintins, e o Recôncavo Bahiano. O homem branco é racista; é racista de espírito; é mal; é iníquo. Amigues, sei que estas minhas palavras, poucas, ecoam no espírito de todes vocês. Unidos, iluminaremos, guiados por cientistas renomados, a mente dos humanos; e aos que optarem por permanecerem à escuridão oferecemos um paredão e um cárcere e lhes daremos o direito de escolher o que entenderem que lhes seja a melhor das duas opções, que lhes deixaremos à disposição. Tenhamos um bom dia, amigues. Fidel Castro e Che Guevara, olhai por nós! Marx e Engels, orai por nós! Lênin e Stalin, olhai por nós! Mao e Pol Pot, orai por nós!

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Nota de rodapé: Inútil é dizer, digo, todavia: o discurso aqui apresentado é uma peça de ficção; e o Jair Messias Bolsonaro que o proferiu não existe - se existisse, cá entre nós, amá-lo-iam e o idolatrá-lo-iam onze de cada dez de seus inimigos.