Uma palavra tem inúmeros signifcados, e, dependendo do contexto, pode assumir um significado oposto ao que está dicionarizado. Quando se usa da ironia, por exemplo, "lindo" pode signifcar feio, e "inteligente", burro. Exemplo: Duas moças vêem um homem feio, e uma delas, sorrindo, exclama: "Lindo!"; e um homem, ao tomar conhecimento de um ato alheio de inegável burrice, diz: "Inteligente". Tais interjeições irônicas são muito comuns, e todos os que as ouvem as entendem. Do mesmo modo, um palavrão, dependendo do contexto, pode não ser uma ofensa, mas um elogio; e uma expressão grosseira, uma crítica, ou um elogio. Exemplos: num grupo de jovens ocupados em resolver um problema complexo um deles, surpreendo os outros, o resolve, e, solicitado a explicá-lo, o faz, e os outros jovens, impressionados, exclamam: "Cara, você é filho-da-puta!"; um homem assiste a um jogo de futebol, e num certo momento um jogador pisa na bola, literalmente, e cai, e o homem grita: "Cagada!", e em outro momento do jogo, outro jogador, numa cobrança de falta, faz um gol de placa, e o homem exclama: "Cagada!".
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Dá-se às palavras uso criminoso os políticos e intelectuais, deturpando-lhes, conscientes de o fazerem, o significado. Muitos, ao expressarem amor pela liberdade do povo, têm o propósito de oprimi-los; muitos, ao tecerem loas à liberdade de expressão, criam um ambiente favorável à supressão da liberdade. Usam da palavra "liberdade" num contexto que, se bem entendido, quer dizer opressão. Não é raro, também, ouvir profissionais da imprensa, em peroracões favoráveis à liberdade de imprensa, justificar a supressão da liberdade daqueles profissionais da imprensa que pensam diferente, e o fazem dando-se como legítimos paladinos da liberdade, e justificando a supressão da liberdade alheia com discursos de justiça, horror ao "discurso de ódio" daqueles que deles divergem. E o que é o tão reprovado "discurso de ódio"? Em muitos casos, verdades inconvenientes, as quais representam consideráveis ameaças aos donos de poder.
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E quando se usa da palavra "crítica", ou de "senso crítico", ou "pensamento crítico", então, nem se fala. Por exemplo: Para os socialistas têm pensamento crítico, senso crítico, quem critica idéias que se opõem ao socialismo, mas não têm, nem senso crítico, nem pensamento crítico, quem crítica o socialismo - neste caso, a crítica feita é dada como ausência de pensamento crítico, é atitude acrítica, dizem os socialistas, de gente que já sofreu lavagem cerebral capitalista. Crítica, aqui, não é crítica: é submissão à ideologia socialista.
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Muitos intelectuais, discorrendo acerca da liberdade, têm em mente realizar o seu propósito inconfessado: a opressão. Li, recentemente, de Herbert Marcuse, o livro Eros e Civilização. Em tal livro o autor, evocando Freud, Nietzsche, Hegel, e até Platão, exibe-se como um profundo amante da liberdade, uma liberdade sem freios. Ora, ao defender a liberdade como o fez, com certo requinte vernacular e uso do jargão da psiquiatria, Marcuse aponta a civilização (patriarcal), a religião e a razão como as fontes de repressão dos instintos naturais. Não é difícil identificar, nesta tese, a aversão de Marcuse à religião cristã e à civilização ocidental. E com a liberdade sem freios não se obtém a liberdade, e, consequentemente, a felicidade, supostamente desejada, e sim a necesssidade de se instalar um governo totalitário para conter as pessoas, que, sem freios, não têm limites em suas ações. Em nome da liberdade, então, está a se defender a opressão.
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E nestes dias viu-se, após o assassinato de Marielle Franco, do PSOL, o mal uso da palavra "investigação".
Os militantes psolistas exigem, da Polícia, investigação rigorosa do crime. Na verdade, eles não querem uma investigação, tampouco uma que seja rigorosa; eles querem que a Polícia seja acusada pelo crime, eles querem impedir uma investigação, pois já indicaram um culpado: a Polícia. "Investigação", aqui, quer dizer, "a polícia é culpada". Eles estão fazendo uso político da tragédia antes mesmo de o cadáver esfriar; e antes de qualquer investigação, já apontaram o culpado, a polícia, e discorreram em favor da extinção da polícia militar e do encerramento da intervenção militar no Rio de Janeiro.
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