sábado, 31 de dezembro de 2022

Pelé

 Pelé


Não sou um apaixonado por futebol. De esquemas táticos não entendo um pingo. Jogos de futebol assisti alguns, poucos. Os últimos que assisti, os da Copa de 2.018.

Recordo-me que de todos os jogadores que vi em campo, chamaram-me a atenção os que têm plasticidade corporal impressionante, certa maleabilidade física que lhes permite mover-se com elegância, com, digo, charme, numa evolução que mais parece dança. E dentre tais jogadores, evoco, e com admiração, o Pelé, o nosso Rei, o Bale, do País de Gales, se não me engano, o Giovane, que jogou no Santos e no São Paulo, o Romário, e o Hazard, o belga. Identifico em todos eles a elegância e a desenvoltura do corpo em movimento. Impressionam-me.

Independentemente de quantos títulos cada um deles tenha, de quantoa gols tenham cada um deles anotado ao longo da carreira, o talento para o ludopédio lhes é inegável, reconhecido em todo o universo.

E do Pelé, o nosso Rei Pelé, rei em nossa república, jogador excepcional que deixou os gramados anos antes de meu nascimento, trago à memória o gol que ele marcou, em 58, contra a Suécia, antológico, e outros dois atos, igualmente antológicos, nenhum deles a resultar em gols, ambos da Copa de 70: o drible que ele deu no goleiro do Uruguai, Mazurkiewicz; e, contra a Tchecoslováquia, o chute, de longa distância, do meio do campo, a surpreender o goleiro Viktor. São estas três cenas, icônicas. Estão para a história da cultura popular moderna como o estão a famosa cena de Chaplin em O Grande Ditador, e a do filme E. T., o Extraterrestre, de Spielberg, e a do vestido branco de Marylin Monroe, soprado por ventos brincalhões, do filme O Pecado Mora ao Lado.

Pelé é eterno.

Nota

 Depois de ler alguns, poucos, textos acerca da Teoria da Relatividade, de Einstein, e do Princípio da Incerteza, de Heisenberg, e dos Teoremas da Incompletude, de Göden, e certificar-me que a ciência não é tão cientificamente exata e que a matemática matematicamente exata não é, vejo o quão ridículas são as pessoas que, presunçosas, certas de que, jamais havendo se debruçado sobre um tratado científico, encarnam o que há de mais científico no universo, nomeiam-se Seguidoras da Ciência, entendendo ser esta alcunha um título que lhes atesta a infalibilidade de todas as declarações - assim entendem - científicas.

domingo, 25 de dezembro de 2022

Miniconto

 O neto, impaciente, à espera da permissão da avó para pôr pó de café no coador: "Vó, pó pô pó?" E a avó: "Pó pô."

um conto

 Um conto de fadas


- Tu conheces aquele conto de fadas que conta que certo dia encontraram-se, num reino encantado, um príncipe e uma princesa, que se apaixonaram, casaram-se, e foram viver num castelo encantado, que um dragão destruiu, matando-os?

- Não. Não o conheço.

- Queres que eu o conte para ti?

- Quero.

- Então, ouças: Certo dia encontraram-se, num reino encantado, um príncipe e uma princesa, que se apaixonaram, casaram-se, e foram viver num castelo encantado, que um dragão destruiu, matando-os. Fim.

- Bobo.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Uma crônica

 Drama tragi-cômico joco-sério em 17 atos.


A internacionalização da Amazônia.


Sobe o pano.


Ato 1

Longe dos holofotes, ongs e organizações internacionais, e o governo brasileiro acordam a internacionalização da Amazônia.


Ato 2

O cacique da etnia serelepe reivindica a independência da Nação Serelepe.


Ato 3

Esgoela-se o governo brasileiro, que jamais admitirá a independência da Nação Serelepe.


Ato 4

A imprensa internacional e a nacional defendem os índios em sua reivindicação.


Ato 5

Ongs apóiam os índios.


Ato 6

Organização global põe em votação da independência da Nação Serelepe.


Ato 7

Um país com poder de veto (país que enfrenta movimentos emancipatórios em seu território) veta a resolução que reconhece a independência da Nação Serelepe.


Ato 8

O cacique da etnia serelepe declara a independência da Nacão Serelepe.


Ato 9

O governo brasileiro não reconhece a independência da Nação Serelepe.


Ato 10

Revoltam-se os índios serelepes.


Ato 11

O governo brasileiro revolta-se contra os índios serelepes.


Ato 12

Em território serelepe, confrontam-se soldados brasileiros e guerreiros serelepes. Morre, alvejado por um projétil cuspido pela arma de um soldado brasileiro, um holandês (coberto de barro) que se passa por índio serelepe. Comoção internacional.


Ato 13

A imprensa internacional e a nacional bombarbeiam o governo brasileiro.


Ato 14

Ongs empreendem manifestações em todo o mundo. Multidões saem às ruas, contra o governo brasileiro, em defesa dos índios serelepes.


Ato 15

Organizações internacionais ameaçam o Brasil.


Ato 16

Imprensa nacional e ongs enaltecem os índios serelepes em sua guerra contra o governo brasileiro.


Ato 17

O governo brasileiro, encurralado, resignado, contrafeito, reconhece a independência da Nação Serelepe.


Cai o pano.