sábado, 29 de agosto de 2020

Espancadores

 Em Junho, antifas e supostos torcedores do Corinthians espancaram bolsonaristas. Não poucos anti-bolsonaristas, então, ofereceram-lhes apoio irrestrito. Não passou pela cabeça de tal gente que de um espancamento pode resultar morte da pessoa espancada?! Se tal possibilidade não lhes passou pela cabeça, sou obrigado a concluir que tal gente é desmiolada, pior que os espancadores aos quais ofereceu apoio; se lhes passou, concluo, então, que é de um tipo que merece todo o desprezo dos seres humanos.

Vários

 Vidas negras importam

- Vidas negras importam.

- Vidas negras importam o que e de qual país?

*

Discussão entre um armamentista e um desarmamentista.

Ontem:

José: "As armas matam."

João: "Errado. A pessoa que empunha a arma é que mata."

Hoje:

José: "O policial matou, com uma arma, um suspeito."

João: "Errado. Foi a arma que o matou."

*

Os homens são superiores às mulheres. Ou: Discussão entre pai e filha. Ou ainda: Machismo versus feminismo.

O pai: "Os homens são melhores do que as mulheres."

A filha: "Deixe de bobagem."

O pai: "Não é bobagem. E eu digo, certo de que o que eu digo é certo: as mulheres são insensatas; os homens, sensatos."

A filha: "Vou fingir que acredito."

O pai: "E provo a certeza do que digo."

A filha: "Prove, então."

O pai: "Eu, um homem, portanto ser humano sensato por natureza, casei-me com sua mãe; e sua mãe, uma mulher, portanto por natureza ser humano insensato, casou-se comigo."

Sucesso

Uma vida de sucesso está repleta de fracassos.

*

Os socialistas querem que os socialistas explorem os trabalhadores

Da perspectiva dos socialistas, todos os capitalistas são eternos exploradores da mão-de-obra dos trabalhadores. Agora, com o magnífico aprimoramento da robótica, os capitalistas dispensam os trabalhadores, assim não mais lhes explorando a mão-de-obra; e os socialistas lutam, enraivecidos, exibindo simulada indignação, contra os capitalistas, e exigem-lhes que eles não demitam os trabalhadores, isto é, que continuem a explorar-lhes a mão-de-obra.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

O homem que valoriza os índios - entrevista. Por Zeca Quinha. Para o Zeca Quinha Nius.

 Pindamonhangaba, a quinta maior metrópole do Vale do Paraíba, a quarta maior metrópole do Estado de São Paulo, a terceira maior metrópole do Brasil, a segunda maior metrópole das Américas, a maior metrópole do orbe terrestre, sendo uma metrópole, e não cinco, foi o palco de uma entrevista fértil e enriquecedora, que muitos bens imateriais, que redundarão na produção de bens materiais, fornece ao Brasil, enriquecendo o universo intelectual nacional, e, quiçá, o internacional, e, ainda mais quiçá, o interplanetário, ao se disseminar, de geração após geração, uma geração após a outra, até o final dos tempos, que se dará quando, e se, todos os tempos, os pretéritos, os presentes e os futuros, convergirem para um mesmo tempo, que será o tempo derradeiro dos tempos que, existentes até então, não mais existirão.

No desejo de não nos prolongarmos neste intróito, que, servindo de prolegômeno, introduz o leitor na leitura da entrevista que ora publicamos no Zeca Quinha Nius, o nosso renomado hebdomadário digital, cujos jornalistas, todos providos de diplomas universitários, provas da alta qualidade intelectual e mental de sua equipe, que o equipa com recursos jornalísticos de monta e imensuráveis, abreviamos o prefácio. Para não adiar o prazer da leitura, que será imensuravelmente prazerosa, encerramos, por ora, os prolegômenos, e, nesta introdução, apresentamos aos nossos leitores, inúmeros, existentes em todo o orbe terrestre, a personalidade cativante e superior, e sui generis, do doutor Jurandir Iracemo Lindóyo Paraguaçu da Silva Bezta Kuadradha, estudioso, dono de muitos títulos, reconhecido internacionalmente e nacionalmente, aqui no Brasil e em outros países, como um dos melhores e mais bem preparados intelectuais modernos - e os diplomas universitários, de valor incalculável, que ele possui, e os quais ostenta com o devido e justo orgulho são as provas de sua inigualável e incomparável força e qualidade intelectuais, cognitivas e mnemônicas que não têm igual, e nenhuma que se lhe compare, em todo o orbe terretre. Sem mais delongas, oferecemos aos leitores do Zeca Quinha Nius, hebdomadário digital cujos artigos são de autoria de autores dotados de diplomas universitários e cujas entrevistas são conduzidas por seus jornalistas, os mesmos que escrevem os artigos que neste hebdomadário digital se publica, um bosquejo biográfico do valoroso, requintado, sofisticado, nobre e estimado entrevistado.

O doutor Jurandir Iracemo Lindóyo Paraguaçu da Silva Bezta Kuadradha é brasileiro nato, nascido, há quarenta anos, num hospital situado no município de Pindamonhangaba do Oeste, cidade situada no noroeste do Estado de Pindamonhangaba do Norte, localizado no sul do país. É filho de pais putativos, cujas reputações são as de lendários nobiliarcas herdeiros de dinastias dinásticas oriundas de nações estrangeiras. A sua formação intelectual inicial foi primorosa. Estudou nas melhores entidades de ensino de seu tempo. Recebeu o fluxo e o refluxo do sabor adocicado do saber agridoce de seus mestres, todos estes donos de inúmeros diplomas universitários e intelectuais renomados. Na fase adulta de sua vida de sucessos, conquistou o título de Graduação, pela Universidade Federal do Município de Pindamonhangaba do Sul, em Astrologia Piramidal, e, dois anos depois, pela Universidade Federal do Município de Pindamonhangaba do Nordeste, o título de Doutor em Psicologia Quântica Aeroespacial, e o de Mestre, em Parapsicologia Antropológica Automobilística, pela Universidade Federal do Município de Pindamonhangaba. Todos os seus títulos o engrandecem, e agigantam o nosso país, que, agigantado e engrandecido, assume a figura, ao ter o doutor Jurandir Iracemo Lindóyo Paraguaçu da Silva Bezta Kuadradha na lista de seus heróis nacionais, de um gigante gigantesco.

É o doutorJurandir Iracemo Lindóyo Paraguaçu da Silva Bezta Kuadradha o nosso entrevistado desta edição, que ora publicamos, do nosso mundialmente famoso hebdomadário digital Zeca Quinha Nius.

O tema da entrevista é: "O índio, sua origem, sua história, sua cultura, sua religião."

Desejamos aos nossos leitores, fiéis e assíduos leitores, uma leitura proveitosa. Fiquem, a partir de agora, com o nosso querido e renomado doutor Jurandir Iracemo Lindóyo Paraguaçu da Silva Bezta Kuadradha.

- Doutor Jurandir Iracemo Lindóyo Paraguaçu da Silva Bezta Kuadradha, por que o senhor decidiu se dedicar ao estudo dos índios?

- Eu não decidi, e não me decidi, a estudar os índios; os índios, decididos a se deixarem estudar, atraíram-me a atenção, obrigando-me, logicamente, a estudá-los, e eu, então, movido por tal força, a de estudá-los, irresistível, os estudei, e, estudando-os, aprendi a valorizá-los.

- E quando e como se deu o seu primeiro contato com eles?

- Eu nunca os contatei. E jamais vi um índio; e tampouco li um livro de autoria de índios. O que sei dos índios é matéria infusa. Veio-me, naturalmente, por meios artificiais, assim que, nas aulas de Parapsicologia Antropológica Automobilística, entendi, ao absorver, sem grandes esforços, e consumindo quase nenhuma energia, a sabedoria milenar da natureza, que o conhecimento chega-nos por si só, dispensando-nos o dispêndio de tempo com leituras de livros tediosos e enervantes. O máximo que se deve fazer de esforço, para se acumular conhecimento, é ingerir algum inebriante, que nos abre a mente para as coisas essenciais da existência; um estupefaciente que alarga a consciência humana, que, amplificada, tem o poder de assumir a condução da ação de obtenção e acúmulo de conhecimento independentemente de o ser que a possua ter, ou não, consciência dos fenômenos que naturalmente lhe governam a existência.

- O que o senhor aprendeu, por este admirável e infalível processo de estudos, acerca da cosmogonia e cosmologia dos índios?

- Para se aprender seja o que for é indispensável que a pessoa deseje aprender o que quer aprender e ame o seu objeto de aprendizado. Esta foi a primeira lição que assimilei durante os anos que me dediquei, na Universidade Federal do Município de Pindamonhangaba do Nordeste, ao estudo de Psicologia Quântica Aeroespacial. Dito isso, aprendi, ao estudar os índios, a valorizá-lo, e só após aprender a valorizá-los, eu pude apreender o valor deles, em especial o das suas cosmogonia e cosmologia, que se fundem, e se confundem, de tal maneira, e de muitos modos, que é impossível separá-las. Conquanto vão o esforço de separar da cosmogonia indígena a sua cosmologia, e desta aquela, pude, todavia, entender que, se humilde, eu entenderia o que eu poderia entender, e nada mais eu entenderia. Sem a pretensão, portanto, de querer entender o que eu sabia que eu não entenderia, executei rituais, no interior das salas-de-aulas e nos campus universitários, que me foram inspirados por entidades, que se corporificaram dentro de meu cérebro assim que ingeri a dose apropriada de estupefaciente, que me estimulou o poder mental, e grandemente, e consideravelmente, e enormemente. E vim, então, a saber que Kuala Lumpur, o deus dos deuses indígenas, tem poderes celestiais; é onipresente, omnissapiente; é o Alfa e o Ômega do Cosmos Celestial. Está num confronto eterno com Zânzibar, seu irmão siamês, o Ômega e o Alfa do Cosmos Celestial, o oposto do oposto, o negativo do positivo, o parasita do universo. Do embate sempiterno entre os dois deuses gêmeos siameses, romperam-se as portas do reino da natureza transcendente da floresta amazônica, o das profundezas das culminâncias da Epistemologia, realidade quântica da metafísica fenomenológica existencialista, onde vivem, em espírito fantasmagórico e quimérico, a Mãe Gaia e o Pai Gaio; e de tal reino emergiram à realidade Telêmaco, Poincaré e Pancha Tantra, criaturas demoníacas bestiais, que estimulam a luxúria, a comilança e o pecado da gula espiritual. Kuala Lumpur é identificado com um objeto que tem sempre às mãos e com o qual penteia os cabelos, infalivelmente, e sempre, ao amanhecer e ao entardecer, para conservar o universo em constante, uniforme e ininterrupto equilíbrio, impedindo que Zânzibar, seu irmão siamês, destrua o Cosmos Celestial: um pente cujo eixo principal, grosso, é confeccionado de talo de penas de orangotango, e cujos dentes, perpendiculares ao eixo grosso, finos, são afiadas espinhas de espinafre, uma espécie de batráquio que vive nas águas cristalinas do Rio São Francisco. Esta é a síntese da cosmogonia, que se confunde com a cosmologia, e esta com aquela, dos índios. O assunto, demasiadamente complexo, mal se pode resumir em uma entrevista.

- O senhor disse que o pente, que identifica Kuala Lumpur, o deus dos deuses indígenas, é composto de penas e espinhas. Os índios confeccionam muitos objetos com penas e espinhas. Seguem o modelo do adorno principal de Kuala Lumpur, não?

- Sim. E é interessante tal questão. Interessantíssima. Mais interessante do que as questões que lhe são menos interessantes, questões, estas, que porventura despertem nos interessados algum interesse, ou nenhum. Os índios, sob o exemplo do deus de seus deuses, usam penas, nos seus adornos, de animais de diversas espécies, penas que vão desde as de aves até as de pássaros, passando pelas de répteis, de mamíferos e de anfíbios.

- Quais tribos indígenas o senhor, em suas viagens sob influencia de estupefacientes, contatou?

- Inúmeras. Muitas. Várias. Inumeráveis. Empreendi expedições transcendentais ao âmago do núcleo da essência do espírito da alma dos índios e deles apreendi as sabedoria e sapiência milenares cujas origens se perdem na gênese criadora dos tempos. Com os índios tupinambás, itaquaquecetubas, estadunidenses, caiapós e amendoins, aprendi a valorizar a essência do essencial da existência natural panteísta sob a égide da sapiência oracular do deus Krakatoa, ser abismal e abissal, insaciável devorador de maquinismos construídos pelos seres humanos, que devastam as florestas derrubando-lhes as árvores. E com os índios tupiniquins, urucubacas, pindamonhangabas e moçambiques, aprendi a valorizar os artefatos ecologicamente sustentáveis feitos de madeira e plástico reciclados, e não de penas de urubus, canários, lhamas, abutres, equidnas, araras, flamingos e salamandras - ao não se arrancar as penas de tais animais, isto é, ao não se os depenar, evita-se que eles involuam, e, consequentemente, não se lhes promove o genocídio, impedindo-os de se transformarem em aracnídeos, répteis e anfíbios. E com os índios aimorés, anhangabaús, periquitos, araras, itamaracás, tucunarés e salamaleques, adquiri a consciência da importância dos rituais de iniciação, integração e comunicação para a constituição das constituições indígenas e a consequente formulação de leis consuetudinárias da constituição da identidade comum que aos índios propiciam a harmonia ingênita, que lhes é inata. E com os índios pangarés, cupins, cateretês e rebimbocas, aprendi um ritual que consiste em andar em círculos, bater os pés, firmemente, em terra batida, e gritar, ininterruptamente, "Hu-hu! Hu-hu! Hu-hu!", tendo, na cabeça, cobrindo-a, uma cuia de casca de côco. Após estas minhas valiosas experências, aprendi a valorizar os índios. E de tão alto valor eu lhes concedo, que toda minha ação contempla, como fim único, o bem-estar deles, pois se assenhoreou de meu espírito o amor por eles. E sou, hoje, um diligente estudioso das coisas dos índios. Eu valorizo os índios e tudo o que eles criam. Tenho, nos meus braços, duas tatuagens, uma em cada um, no esquerdo os dízeres "Viva o índio" e no direito "Morte ao invasor!" E uso, para prender meus longos cabelos, uma tiara de penas de plástico, multicoloridas, que imitam penas de pássaros e aves nativas da Amazônia, e estou, quase que todo dia, com o tronco coberto com uma camisa em cuja estampa frontal se lê: "O índio é o verdadeiro dono destas terras sem dono." Eu valorizo os índios, e muito. E tanto os valorizo que alterei meu nome ao adicionar-lhe três nomes de guerreiros indígenas, Iracemo, Lindóyo e Paraguaçu, cada um destes nomes pertencente a um índio nobre, valente e destemido.

- Fale-nos, para encerrarmos a entrevista, proveitosa e fértil, e muito ilustrativa, da importância dos índios para o Brasil.

- A importância dos índios para o Brasil é muito importante, daí falarmos, sempre, ao nos referirmos aos índios, da importância deles para o Brasil, e não apenas à sua formação, mas, também, e principalmente, à constituição de sua gênese e à gênese de sua constituição culturais, religiosas, intelectuais, artísticas, étnicas e científicas. A inserção dos índios no espectro mental brasileiro é de suma importância e tem de ser devidamente registrada para que não suma dos registros que não a registram. Eu valorizo os índios, e espero que todos os meus compatriotas, para o bem do Brasil, também os valorizem.

sábado, 22 de agosto de 2020

O homem que evitou o divórcio

 - Você não me acreditará, Nelson. Você, após ouvir-me a história, me dirá que sou um mentiroso, um mentiroso inescrupuloso, malvado, um mau-caráter, um mentiroso compulsivo, um rematado mentiroso, um mentiroso incorrigível, um caso perdido, o pai da mentira, o mentiroso dos mentirosos, o gênio da mentira. Não me interrompa, Nelson; não me interrompa. Deixe-me contar para você o que me aconteceu há uns trinta minutos; ou há uma hora, ou há duas horas, não sei. Estou desnorteado. Ainda não me recuperei do desgaste físico e mental da minha mais recente aventura conjugal, um drama, que só não descambou numa tragédia porque fiz bom uso da minha lábia de vendedor tarimbado, de um homem de quarenta anos de experiência no comércio. Minhas mãs, trêmulas; meu peito, incha e desincha, afobado; minhas têmporas, porejadas. Se eu não tivesse feito bom uso da minha oratória de vendedor eu já estaria no olho da rua; a minha patroa teria me demitido; e sem pensar duas vezes teria me dado um belo de um pontapé, e me chutado para fora da casa, arremessando-me na sarjeta. É, Nelson! O coronavírus veio para destruir a vida de todos. O coronavírus é um bicho danado de ruim, criatura nefasta, cruel, muito cruel, uma praga destruidora de lares, promotora de brigas e desentendimentos. O bicho desgraçado obriga todo filho de Deus que deseja sair de casa da casa sair de máscara. E eu cumpro a minha obrigação ao pé da letra, e não saio de casa sem uma das quatro máscaras que minha patroa me comprou há uns dois meses. Temos de nos resguardar ela e eu, mais ela do que eu, afinal ela tem umas complicações no coração, que nunca foi lá grande coisa, e é diabética; e tenho, mesmo sendo forte, de contribuir para a segurança dela, e para a minha também, e para a de meus filhos, e a de meus pais, e a de meus sogros, pessoas bondosas e generosas. E de máscara a cobrir-me a cara, saí de casa, logo após o café-da-manhã, e fui à lotérica; e, trinta minutos depois, saído, já, da lotérica, fui ao banco. Tive de enfrentar duas filas de dar voltas no quarteirão. A para o banco tinha o dobro da para a lotérica. Perdi, calculo, duas horas do dia nas filas. Fazer o que, Nelson!? Eu tinha de pagar contas e depositar dinheiro na conta de meus pais e na do Carlinho, o Carlinho do açougue do Campo Alegre. Assim que saí do banco, irritado, fui à lanchonete... à lanchonete... Esqueci-lhe o nome. Comprei uma coxinha e um refrigerante. Não podendo sentar-me à mesa, fui à Praça Monsenhor Marcondes, e sentei-me em um dos bancos. Abaixei a máscara, ajeitei-me no banco, olhei ao redor, e dei uma boa mordida na coxinha, que estava uma delícia, diga-se de passagem. E destampei a garrafa de refri, e quase a esvaziei em um gole, de tão gelada estava. Refrescou-me o refri. E acertei mais uma dentada na coxinha, arrancando-lhe um bom naco, quase a reduzindo à nada. E degustava eu do refrigerante e da coxinha quando vi, aproximando-se de mim, uma mulher que, pensei assim que a vi, não era de se jogar fora, não; não era uma sereia, e tambêm não era uma baranga. E sentou-se ao meu lado, a atrevida. Eu sou casado. "Ela não me viu a aliança!?", perguntei-me. Há, na praça, uns vinte bancos; e uns oito deles estavam desocupados; e aquela mulher sentou-se ao meu lado, a um palmo de mim, se muito. "Que atrevimento!", pensei. E a mulher me olhou, e deteve em mim o olhar. Os olhos dela, castanhos. Disfarcei, olhei para ela, e tão logo meus olhos viram os olhos dela, virei-me para o outro lado, cocei o nariz, e pensei comigo: "O que esta mulher quer comigo? Deve ser uma encalhada à caça de um bom partido. E me escolheu para marido, a maldita. Não me parece feia; e também não é bonita. Havendo tanto homem no mundo, por que ela veio até mim? Está desesperada, com medo de ficar pra titia; só pode ser isso." Eu não sou um bonitão de novela, Nelson, e nunca atrai mulher nenhuma. Só a Cátia, e com muita dificuldade. Você sabe. Você foi um dos cupidos que me ajudou a conquistá-la. Não sou o Robinho, aquele felizardo, que nasceu mais bonito do que o Tom Cruise. Mulher sempre choveu na horta dele. Mas eu!? Coitado de mim! Só a Cátia, e olhe lá! Mas hoje, aquela mulher, na Praça Monsenhor Marcondes... "Quem é a bandida!?", pensei, e me perguntei. "O que a dona viu em mim?", perguntei-me ao sentir o olhar dela pousado em mim. E com insistência ela me fitava. Constrangido, e discretamente, fui um pouco para o lado, afastando-me da moça, que, não muito discretamente, aproximou-se de mim. E eu, com a mesma discrição anterior, mexi-me até a beirada do banco; e a moça, sem esperar-me ajeitar a garrafa de refri ao lado, no chão, achegou-se, e colou-se, em mim, e, sem que eu dela esperasse qualquer outro movimento, levou a mão à minha boca, para dela me remover um pequeno pedaço, que me ficara um pouco acima da comissura direita, da coxinha que eu comia. E tão logo senti os dedos da mulher em mim, movi a cabeça, e exclamei: "Ei!", e fitei a mulher, e ela me fitou, ambos supresos, eu com o gesto dela, atrevido, e ela, com a minha reação, inesperada e, penso, segundo ela, exagerada. E pensei: "Já passou da hora de dar um basta nesta história." Dei tratos à bola, e disse, carrancudo, à moça, um tanto quanto mal-educado, rude, grosseiro, em desrespeito às lições que eu trouxe do berço, lições que meus pais me ensinaram acerca do tratamento que um homem deve conceder, sempre, independentemente das circunstâncias, às mulheres: "Não me leve à mal, não, minha senhora, mas você não faz o meu tipo." E foi só eu concluir a fala, que senti, na cara, um tapa, um tapa daqueles, bem dado, que me sacudiu o cérebro, um tapa de arrancar os dentes e revirar os olhos. Surpreso, e muito surpreso, movi a cabeça, e conservei-me sentado, no banco, de modo a manter-me distante das garras daquela mulher que, desprezada por mim, despeitada, ferida em seu orgulho mulheril, estava, eu sabia, enraivecida, muito enraivecida. E a mulher esbravejou: "Imbecil! Idiota! Estúpido! Vagabundo! Bandido! Salafrário! Canalha! Patife!" Fitei-a, espantado. "Que tempestade em copo d'água.", pensei. E bufando de raiva a mulher removeu de si a máscara. E o céu desabou-me sobre a cabeça! Era a Cátia. Puxa vida! Nelson, você consegue imaginar a cara dela!? Chispava ódio. Levantou-se do banco a Cátia; e afastou-se de mim, a passos apressados. E eu, lá, na praça, no banco, sentado, apalermado, tentando, em vão, concatenar as idéias, rearranjar os pensamentos, esperando os neurônios reocuparem cada um deles o seu lugar original. Macacos me mordam, Nelson! Era a patroa! E assim que me recuperei da surpresa, levantei-me do banco, e corri atrás da Cátia, e cheguei até ela; e ela não desacelerava os passos; e pedi-lhe desculpas; e ela não quis prosa comigo. As minha palavras caíram em ouvidos moucos. A Cátia nem sequer se dignou a me olhar. Pensando, agora, em retrospectiva, surpreende-me ela não haver descarregado em mim uma catadupa ainda maior de impropérios. Ela soube, bem, ou mal, não sei, controlar os nervos. E foi a muito custo que, já em casa, usando da minha lábia de vendedor tarimbado, eu consegui amansar a fera, que, ferida em sua vaidade, me disparava olhares ferinos e me alvejava com rosnados e grunhidos que assustariam um homem mais pacato. Enfim, arranquei-lhe do rosto um sorriso. E nos divertimos com a confusão. Que o coronavírus regresse à China, e logo. Já me causou muitos dissabores, e quase me arranjou um divórcio indesejado.

Mensagem do meu amigo Barnabé Varejeira - O Dodó Doido e a rã.

 Cérjim, meu amigo, ôje conto p'ocê uma instória do Dodó Doido. Ocê asselembra dele? O Dodó Doido é aquele doido-varrido que vive de caçá sapo no cemitério. E agora, Cérjim, alembrôusse dele? Pois saiba que agora aquele doido-de-pedra, além de caçá sapo, deu-se na cachola, e no bestunto, a mania de caçar rã. Ônte ele correu pelas rua do bairro, de um lado pr'ôtro, berrando, como um endoidecido: "Achei rã que voa! Achei rã que voa! Achei rã que voa!" Só fartava anunciá a notícia no jornal. E ele carregava com ele um bicho, bicho que ele mostrava pá todo mundo. E eu, o Gumercindo, o Tião e o Mané Marreco 'tava na praça, jogando truco, e veio até nós cuatro o Dodó Doido, que, enquanto nos exibia, pá nós vê, o bicho que tinha consigo, berrava, ferindo-nos os tímpano: "Achei rã que voa! Achei rã que voa! Achei rã que voa!" Olhamos bem po bicho, po bicho, que fique bem entendido, que o Dodó Doido trazia nas mão, e não po Dodó Doido, que também é um bicho, um bicho bem doido; então, prossigo, olhamos po bicho, e olhamos bem, e não ficamos espantado com o que vimos; e olhamos nós cuatro cada um de nós pá os ôtro três, mas pá cada um dos ôtro três de cada vez e não pá os três de uma vez só, e sorrimos. E falamos todos de uma vez, como se fosse combinado de antemão, po Dodó: "Dodó, esse bicho nas sua mão não é uma rã; é um morcego." E o Dodó Doido, doido que só ele, saiu como quem não qué nada e quem nada tinha ovido, com o refrão: "Achei a rã que voa! Achei a rã que voa! Achei a rã que voa!" E o Mané Marreco observô: "Daqui a pôco o Dodó vai cacá perereca, pegá uma, e dizê que é um tamanduá." Pois é, Cérjim, o Dodó 'tá cada dia mais doido. Vãmo rezá p'alma dele.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Café Pelé e Diamante Negro

 Sorte nossa que na época em que criaram o chocolate Diamante Negro e o café Café Pelé não havia militantes, perfeitas bestas-dos-infernos, que vivem de torrar a paciência do homem comum.

Poesia brasileira

 Apresentação da Poesia Brasileira, de Manuel Bandeira, é uma ótima porta de entrada à leitura da poesia nacional.

Do que dizem dos índios

 Ensina a lenda que, antes da chegada do homem branco nestas plagas que ora ocupamos, os povos que aqui perambulavam gozavam de vida sem conflitos, harmoniosa, paradisíaca, enfim. Não é o que nos conta o autor do Tratado Descritivo do Brasil. Gabriel Soares de Sousa nos diz que os tupinambás, tupinaês, amoipiras, ubirajaras, tapuias e maracás viviam em pé de guerra.

O ministro Tarcísio, o bilionário e o incrédulo

 Um bilionário brasileiro anuncia: "Investirei toda a minha fortuna de quarenta bilhões na construção de uma ponte que ligará o Brasil a Portugal." "Vai jogar seu dinheiro fora, imbecil.", censura-o alguém, que encerra: "É impossível a construção de tal obra." E o bilionário, tranquilo, retruca: "O gerente da obra será o ministro Tarcísio." "Ah! Por que não disse antes?! Mãos à obra!", comenta o mesmo alguém.

Bolsonaro e Moro

 ... e o majestoso juiz Sérgio Moro, o popularíssimo e respeitabilíssimo Marreco de Maringá, ainda não apresentou as provas dos crimes que o nosso querido e amado presidente Jair Messias Bolsonaro cometeu. E já se foram quatro meses.

Eu não esqueci

 Assim que Roberto regressou, da casa de sua sogra, à sua casa, sua esposa, Ludmila, perguntou:

- Roberto, você trouxe os chinelos dos meninos e a jarra da Camila?

- Não.

- Não!? Mas, Roberto, eu pedi para você me trazer os chinelos e a jarra.

- Eu sei.

- Sabe!? E por que você não os trouxe?! Esqueceu?

- Não esqueci.

- Então, por que você não os trouxe?

- Eu não me lembrei de trazê-los.

Brevíssimos comentários acerca do livro Dom Quixote

Cá entre nós, Sancho Pança é mais doido que o Dom Quixote. Ele sabe que o Cavaleiro da Triste Figura é doido-de-pedra, e segue-o. Pura doidice.

A fruta e o bicho. Ou: De uma observação perspicaz.

A maçã é a única fruta que tem o bicho-da-maçã.


domingo, 16 de agosto de 2020

Siga as orientações médicas, sempre.

Foi numa segunda-feira.

Sentindo fortes dores no peito, e temendo vir a falecer de um ataque cardíaco fulminante, João Carlos, inveterado banqueteador, amante do prato a transbordar carne mal-passada e gordurosa, e de lasanha e de pizza, foi ao doutor Paulo Correia, médico cardiologista, consultá-lo. Inteirou-o das dores que havia sofrido e de seus hábitos alimentares, e dele ouviu:

- Senhor João Carlos, evite comidas pesadas, e garanta uma vida saudável.

- Sim, doutor.

E encerrou-se a consulta.

Uma semana depois, regressou João Carlos ao consultório do doutor Paulo Correia, e queixou-se de fortes dores no peito, tais quais as que sentira uma semana antes.

- O que o senhor comeu, recentemente? - perguntou-lhe o doutor Paulo Correia.

- Sábado, uma pizza e lasanha; e, ontem, domingo, enquanto assistíamos meus irmãos, uns parentes, alguns amigos-do-peito e eu, na casa do Vincenzo, meu vizinho da direita, ao jogo do Curíntia, churrasco e lasanha...

- Senhor João Carlos, eu disse ao senhor que evitasse comidas pesadas - interrompeu-o o doutor Paulo Correia.

- Eu me lembro, doutor. E respeitando as suas orientações, comi, sábado, só uma pizza, de um quilo, se muito, e, ontem, na casa do Vincenzo, um quilo e meio, talvez dois, de churrasco. Comida leve, doutor. Um quilo, sábado, e dois quilos, domingo. Um quilo e dois quilos não pesam no estômago.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Seal Team (série de televisão) - temporada 2; episódios 6, 7, 8 9 e 10.

Para empreender uma caçada a Andres Doza (Yul Vazquez), poderoso e influente narcotraficante que aterroriza os mexicanos e mantêm muitos homens sob sua folha de pagamentos, inclusive funcionários do Estado mexicano, que lhe comem nas mãos, o governo mexicano recorre ao governo americano.

Andres Doza tem um poder tão avassalador que intimida o governo mexicano. Dono de uma fortuna de fazer inveja aos faraós, controla o submundo do México, conserva sob seu domínio pessoas insuspeitas, muitas delas lhe obedecem sob chantagens e ameaças. É uma entidade onipresente, onipotente, no imaginário do povo da Cidade do México. O governo americano, atendendo ao pedido do seu congênere asteca, envia ao México, para uma operação militar secreta em associação com militares mexicanos, uma equipe de fuzileiros navais, Seals, a Equipe Bravo - capitaneada por Jason Hayes (David Boreanaz), que é secundado por Raymond "Ray" Perry (Cornelius C. Brown Jr.), seu braço direito, e coadjuvado por Clay Spenser (Max Thieriot), Sonny Quinn (A. J. Buckley), Eric Blackturn (Judd Lormand), e alguns outros homens, poucos - cujas incursões, muitas delas empreendidas em território de países que não o dos Estados Unidos, contam com a preparação política de Amanda "Mandy" Ellis (Jessica Paré), analista da CIA, e Lisa David (Toni Trucks), diretora de logística.

Em território mexicano, reúne-se a Equipe Bravo com uma equipe de fuzileiros navais mexicanos. É visível o desconforto inicial entre os fuzileiros das duas nações. E sucedem-se os atritos entre os membros da equipe americana e os da equipe mexicana. E dá-se rusgas entre os integrantes da Equipe Bravo durante as controvérsias que envolvem a operação de caça a Andres Doza. E não são poucos os contratempos que os fuzileiros enfrentam durante empresa tão arriscada; enfrentavam, eles sabiam, um homem que possuía o poder de um exército, um homem que intimidava o governo de um país de mais de cem milhões de habitantes.

Após longas e tensas jornadas pelas ruelas de cidades mexicanas; após embrenharem-se numa floresta; após a morte de um militar mexicano, num capítulo trágico; e após a revelação de um traidor no seio da equipe mexicana, os seals da Equipe Bravo chegam, enfim, ao quartel-general de Andres Doza, uma suntuosa mansão, onde o encontram. Enfrentam os fuzileiros americanos, auxiliados por um fuzileiro mexicano, Tenente Juan Lopez (Bobby Daniel Rodriguez), os criminosos à mando de Andres Doza. E dá-se o inevitável.

A história da caçada a Andres Doza pela Equipe Bravo arrasta-se por cinco episódios; é, pode-se dizer, um longa-metragem de três horas. Desconsiderando as tramas secundárias, resíduos dos episódios anteriores ao sexto, revela o estado preocupante do México, país dominado por narcotraficantes, que estão a destruir a sociedade mexicana. Apresenta um retrato de uma sociedade de pessoas amedrontadas, aterrorizadas, inseguras, que mal podem contar com a ajuda do governo que supostamente existe para oferecer-lhes segurança.

Durante os confrontos entre os fuzileiros e os traficantes, destes são muitos os que tombam, mortos, alvejados por um ou mais tiros que aqueles lhes disparam com a frieza de homens treinados para matar.

É uma história emblemática a narrada nos episódios 6, 7, 8, 9 e 10 da segunda temporada de Seal Team, série de televisão que já presenteou com episódios memoráveis as pessoas que acompanham, desde seu episódio inaugural, as aventuras da equipe de fuzileiros americanos comandada por Jason Hayes.

Vida longa à Equipe Bravo.

*

Títulos originais dos cinco episódios:

6, Hold What You Got

7, Outside the Wire

8, Parallax

9, Santa Muerte

10, Prisioner`s Dilemma

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Médicos e cientistas renomados e suas previsões estapafúrdias

Sob as águas de Março, cientistas e médicos renomados alertavam o povo brasileiro para a rápida disseminação do Covid-19 (Coronavírus, para os íntimos; Vírus Chinês, para os dissidentes; Mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira), que infectaria, num curto intervalo de tempo, 60% da população brasileira, o que provocaria o colapso do sistema de saúde, matando, sabiam, no mínimo, até o fechamento do mês de Agosto, um milhão de pessoas. O tom usado por tais cientistas e médicos renomados, alarmista, foi, acreditou muita gente, apropriado para dissuadir os recalcitrantes de suas naturais incúria e irresponsabilidade, de seu desprezo pela consciência coletiva, e forçá-los a abandonar o inato egoísmo. E seguiram-se as notícias apocalípticas. Um milhão de cadáveres era um preço alto demais para se pagar. E com as informações que renomados médicos e cientistas divulgaram, todos entenderam: O Covid-19 (Coronavírus, para os íntimos; Vírus Chinês, para os dissidentes; Mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira) golpearia, em poucos dias, 60% - em números redondos, aproximadamente 120.000.000 (cento e vinte milhões) - dos descendentes dos tupis, matando um milhão deles, e o fluxo de pessoas que recorreriam, doentes, aos hospitais, que já estão em penduricalhos, de tão violento teria o poder destrutivo de vagalhões e derrubariam toda a já frágil estrutura do sistema de saúde nacional. E o caos se instalaria. Antevendo cenário tão aterrador, os políticos brasileiros, secundados por médicos e cientistas renomados, decretaram, sabiamente, impelidos pelos bons sentimentos que lhes animam o espírito, quarentenas, vindo a obrigar os brasileiros a se conservarem, por tempo indeterminado, no interior de suas humildes e aconchegantes residências, enquanto eles, dedicados ao bem-estar público, ocuparam-se-iam do problema que se abateria sobre o Brasil, e puniriam, com a prisão, ou cobrando-lhes multas, apoiados pela força da Lei, os indivíduos que, recusando-se a acolher os sensatos e ponderados decretos, retirando-se de suas casas, caminhavam, pelas amplas avenidas, e banharam-se, nas praias, ao sol escaldante. E os meios de comunicação executaram, brilhantemente, o laborioso e complexo trabalho de inteirar o povo da ameaça, representada pelo Covid-19 (Coronavírus, para os íntimos; Vírus Chinês, para os dissidentes; Mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira), que se avizinhava dos descendentes de Adão e Eva que vivem no território que se convencionou nomear Brasil. Os recalcitrantes, todavia, não se dignaram a acolher as diligentes políticas dos homens que detêm o poder de governo, neste país, e, dominados por uma imprudência incomum e inusitada, além de desobedecerem às corretas políticas, alegaram que os que a elas se submetiam o faziam porque estavam mesmerizadas pelas notícias, diariamente divulgadas, que tratavam do evento cataclísmico que deles recebeu o título de, por alguns, epidemia, e por outros de pandemia.

O objetivo dos políticos era o de achatar a curva da infecção, pelo povo, do Covid-19 (Coronavírus, para os íntimos; Vírus Chinês, para os dissidentes; Mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira), isto é, impedir que, num curto espaço de poucos dias milhões de brasileiros fossem infectados por criaturazinhas que, de tão minúscula, ninguêm vê. E qual foi o resultado? Foram os abnegados políticos, escudados por renomados médicos e cientistas, bem-sucedidos em suas políticas de combate às entidades de dimensões infinitesimais que tanto medo suscitam aos homens?!

Antes de escrever os dados que, agora, sob os primeiros raios causticantes, de rachar a cuca, de Agosto, cientistas e médicos renomados divulgam, tenho de adicionar à minha redação, que, acumulando boa quantidade de palavras, espalha-se por dezenas de linhas, uma informação, que ia se me escapando da memória - felizmente dela me acerquei, capturei-a, e a prendi na caneta que uso para escrever este artigo, e aqui a dou a público, um público de poucos, e bons, leitores: cientistas e médicos renomados, no alto da sabedoria deles, disseram, em alto e bom som, que o Covid-19 (Coronavírus, para os íntimos; Vírus Chinês, para os dissidentes; Mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira), espalhando-se, ao infectar os pouco mais de cem milhões de descendentes dos tupis, ocasionaria a imunidade natural - a imunidade de rebanho, assim comumente se diz - da sociedade brasileira. Cedo, ou tarde, tal se daria. Era inevitável. O propósito, ao se decretar quarentena e isolamento social, era evitar a acelerada disseminação da maldita, desgraçada criaturazinha. E não houve alma brasileira que não tenha compreendido a idéia.

Agora, sim, já encerrada à apresentação desta informação, que quase se me escapuliu por entre os neurônios, dou a conhecer ao meu público de poucos, e bons, e pacientes, leitores, o que se passa sob os primeiros raios do sol de Agosto. Notícias, para alguns surpreendentes; para outros esperadas. Cientistas e médicos renomados, compungidos, e preocupados com o destino de seus compatrícios, com o desembaraço habitual, no tom de voz se lhes revelando a tensão que lhes move os lábios, o rosto lhes transparecendo a hombridade e a nobreza de seus títulos nobiliárquicos, informam ao grande público, que ocupa um vasto território, que vai do Oiapoque ao Chuí: só 2% da população brasileira foram infectadas pelo vírus que muitos dissabores tem causado aos herdeiros de Cacambo e Lindoya. E chamam a atenção para um detalhe: tal dado está subnotificado; seriam, na verdade, os infectados o quintuplo, ou o décuplo, dos casos oficiais. E tais autoridades, ao tratar de tais números, revelam-se, para a surpresa dos mais atentos, faltos de memória e de raciocínio lógico. De memória, porque, sob as águas de Março, eles disseram que o ultraveloz Covid-19 (Coronavírus, para os íntimos; Vírus Chinês, para os dissidentes; Mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira) se espalharia, e rapidamente, por todo o Brasil; e de raciocínio, porque, se seria rápida a sua disseminação, então, nestes quatro meses, seriam infectados 60% da população brasileira, como o previsto. Parece, até, percebem os mais atentos, que os renomados médicos e cientistas que anunciaram aos quatro ventos suas profecias esqueceram-se de suas palavras de há cento e vinte dias, da previsão que fizeram, do cenário que desenharam. Agora dizem, e os dados oficiais corroboram suas declarações, que apenas 2% dos brasileiros foram infectados pela teratológica criaturazinha do mundo das alimárias invisíveis (ou seja, apenas quatro milhões dos herdeiros dos tupis); ou, então, como querem alguns, o quíntuplo (vinte milhões), ou o décuplo, como querem outros (quarenta milhões). Que sejam quarenta milhões os infectados. Reconheçamos como válido tal dado, que não pode ser auferido, por razões óbvias. Estão muito aquém dos cento e vinte milhões previstos. Impávidos colossos, cientistas e médicos renomados apresentam ao público tal informação, assenhoreados de uma aura de pureza angelical de intimidar toda alma imaculada que porventura vislumbre o desejo de lhes falar do erro que eles cometeram, sob as àguas de Março, ao preverem 60% da população brasileira infectadas. Que ninguém se atreva a pontuar a respeito! É intimidador o semblante das autoridades, não pelo que tem de grotesco, mas pelos títulos que o encobrem. São entidades celestiais, incorruptíveis, omnissapientes. Nota-se o tom monocórdio de tais divinos seres, prova de sua impassibilidade e frieza típicas de entidades dotadas de poderes sobrehumanos que tudo sabem e tudo vêm. E dá-se, agora, sob os primeiros raios solares de Agosto, em tom alarmista, a notícia, preocupante notícia: só 2% dos brasileiros (ou 10%, ou 20%) foram infectados pelo vírus que da China espalhou-se pelo universo. Qual a razão, pergunto, do tom alarmista?! Não há razão de existir o alarmismo, pois, se, enquanto caíam as águas de Março, dedicava-se ao dado, sustentado pelos estudiosos, que ensina que 60% da população seria infectada pelo mais poderoso e devastador soldado de Xi Jinping, e, inteirados de tal os brasileiros nos resignamos a sermos infectados, pois foi da boca de renomados médicos e cientistas que tal informação saiu, e participamos, conscientes, do esforço de achatar a curva da disseminação do vírus, e, assim, evitar o colapso do sistema de saúde, agora, cientes de que apenas 2% (ou 10%, ou 20%) foram infectadas, compreendemos que a curva foi tão achatada, que se evitou o colapso do sistema de saúde, e que outros milhões de brasileiros serão infectados até se atingir 60% da população para, então, se atingir a imunidade natural, de rebanho, que é o esperado, da população brasileira. Se todos entendemos que é inevitável que 60% dos brasileiros sejam infectadas pelo Covid-19 (Coronavírus, para os íntimos; Vírus Chinês, para os dissidentes; Mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira), entendemos, também, que um dia tal se dará, mais cedo ou mais tarde, não havendo, portanto, razões para tanto auê; os meios de comunicação, e os cientistas e médicos renomados, todavia, executam - brilhantemente, somos, a contragosto, obrigados a reconhecer - a tarefa de conservar em eterno estado de pânico os milhões de homens e mulheres que têm em suas veias e artérias correndo o sangue de Peri e Ceci.

Outro dado, que, aventado por cientistas e médicos renomados enquanto caíam as águas de Março, e que, agora, sob o sol de Agosto, foram sumariamente suprimidos dos meios de comunicação é este: Um milhão dos viventes e sobreviventes da terra que os lusitanos conquistaram morreriam infectados pelo Covid-19 (Coronavírus, para os íntimos; Vírus Chinês, para os dissidentes; Mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira) até o derradeiro capítulo de Agosto. Sei que estamos nos primeiros capítulos de Agosto, e não no último; sei, também, que, até o presente momento, um pouco mais de cem mil compatriotas meus morreram após adoecerem do vírus que veio lá da longínqua terra de Wuhan; sei, também, que, de hoje até o dia 31 deste mês não irão morrer, do vírus que nos presenteou o governo da China, outros novecentos mil brasileiros; concluo, portanto, que não se concretizará a profecia apocalíptica, revelada por sapientes médicos e cientistas renomados. Eles, que se revelaram desprovidos do infalível dom oracular de Delfos, gozam, mesmo assim, surpreendentemente, da confiança irrestrita de muitos de nossos compatrícios; e os meios de comunicação insistem em contemplá-los com respeito que eles se revelaram imerecedores.







terça-feira, 4 de agosto de 2020

Bolsonaro, a cloroquina e o bife de fígado

Pensando, aqui, com os meus botões.
O nosso querido e amado presidente Jair Messias Bolsonaro falou bem da Cloroquina, e, pronto! os espíritos-de-porco, babando ódio, passaram a atacá-la dia após dia, noite após noite, sem cessar - e disseram, vejam só! que ela provoca, e quem imaginaria! efeitos colaterais em algumas pessoas - e proibiram-lhe a venda.
Espero que o nosso querido e amado presidente Jair Messias Bolsonaro nunca fale bem do Bife de Fígado.
EU GOSTO DE BIFE DE FÍGADO.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

A invenção maravilhosa

- Eu inventei um aparelho, mas não sei para o que ele serve.
- Você já o usou para abrir gavetas?
- Já. Mas não consegui abri-las.
- Você já o usou para derreter gelos?
- Já. Mas não consegui derretê-los.
- Você já o usou para descascar cebolas?
- Já. Mas não consegui descascá-las.
- Você já o usou para quebrar tijolos?
- Já. Mas não consegui quebrá-los.
- Você já o usou para produzir bolhas de sabão?
- Já. Mas não consegui produzi-las.
- Você já o usou para arrancar dentes?
- Já. Mas não consegui arrancá-los.
- Você já o usou para abrir portas de carros?
- Já. Mas não consegui abri-las.
- Para o que serve o aparelho que você inventou, afinal?!
- É o que eu quero descobrir.
- Tenho de ir ao médico. Amanhã, retomaremos a nossa conversa, e conversaremos até sabermos que fim dar à sua invenção.

Em tempos de epidemia, uma aventura assustadoramente emocionante.

Saí, hoje, antes de o relógio dar doze badaladas às onze horas - o relógio está desregulado -, de casa, sem máscara a cobrir-me a bela estampa, como de hábito, e principiei a minha caminhada matinal, sem pressa, a passos lentos, e nem bem eu havia percorrido cem metros, vislumbrei, ao horizonte, aproximando-se, e rapidamente, de mim, para a minha contrariedade, duas motos, a governá-las cada uma delas um policial, ambos devidamente encapacetados, e tenso, nervoso, pensei em girar sobre os calcanhares, receando a abordagem e, era certo, a minha condução, pelos dois agentes da lei, à delegacia, e regressar à origem da minha caminhada, isto é, à minha casa. E dos policiais desviei o olhar. E eles distavam de mim vinte metros, quando apontei-lhes, segunda vez, meus olhos, num misto de temor e tremor, e vi... e vi... e vi, limpas, as caras deles, limpas e livres de máscaras. E divisei-lhes olhos, nariz, boca, sobrancelhas. Respirei, aliviado, e segui o curso da minha caminhada matinal. E os policiais passaram por mim, indiferentes à minha humilde e obscura existência. E cobri trezentos metros, calmo, tranquilo. Ao passar ao largo da praça, vi, poucos metros à minha frente, assim que dobrei a esquina, parados, conversando, dois policiais, ambos com o rosto coberto com máscara preta, na mesma calçada pela qual eu andava. Pensei comigo: "Agora me ferrei!", em alto e bom som, meus pensamentos a me ricochetearem nos tímpanos vezes sem conta. E segui o trajeto, afugentando de minha já um pouco dilapidada cabeça de homem de quarenta e seis anos o pensamento que queria me impelir a atravessar a rua para que eu evitasse os policiais. Que fosse o que Deus quisesse. E pelos policiais passei. Eles, sem interromperem a conversa que lhes ocupava a atenção, se dignaram a me fitar com um olhar em que não se lia nada além do que nos olhares dos homens comuns está escrito. E segui, a passos lentos, a minha caminhada, sem interrompê-la. Minutos depois, regressei à minha casa, e tão logo adentrei em seus domínios, fui à sala de estudos, que serve, também, de quarto (e vice-versa), sentei-me à escrivaninha, peguei de uma caneta, e puxei de uma pilha de folhas de sulfite uma folha, e pus-me a escrever este relato da minha emocionante aventura matinal.

O Dia do Pico - Em tempos de epidemia, uma poesia em versos livres, leves e soltos.

O Dia do Pico
Hoje é o Dia do Pico.
Ontem foi o Dia do Pico.
Amanhã será o Dia do Pico.
Todo dia é o Dia do Pico.
De tanto pico daqui,
E pico de lá,
E pico dali,
e pico de acolá,
que todo mundo ficou picado.
*
Nota esclarecedora, pelo Editor:
"Picado", na poesia, tem duplo sentido: Quer dizer que ou todo mundo ficou picado de tão picado todo mundo foi, ou que todo mundo está picado porque picado foi todo mundo.

sábado, 1 de agosto de 2020

Qual é o valor da nota de R$ 200,00? Ou: Não se brinca com o chefe

- Chefe, eu tenho uma proposta para o senhor.
- Por favor, diga-me qual é. Quero ouvi-la.
- É a respeito do meu pagamento.
- Fique à vontade.
- Eu não quero, chefe, que o senhor aumente o meu salário.
- O quê!? Você enlouqueceu?! Não entendi. Explique-se.
- O senhor soube que o Bolsonaro criou a nota de R$ 200,00, não soube?
- Ouvi falar.
- Então, chefe... Todo mês o senhor me paga o salário com doze notas de R$ 100,00, certo?
- Certo.
- Eu estava pensando, chefe, com os meus botões... Eu ia pedir ao senhor um aumento de salário, mas não quero que o senhor o aumente, não.
- Você enlouqueceu?!
- Deixe-me explicar. Todo mês o senhor me paga o salário com doze notas de R$ 100,00. E eu não quero receber mais do que recebo todo mês, as doze notas que o senhor me dá. Mas, chefe, assim que o Bolsonaro soltar as notas de R$ 200,00, o senhor poderá me pagar, todo mês, o meu salário com doze, e só doze, notas, mas das de R$ 200,00, e não com as de R$ 100,00 costumeiras?
- Estou pensando em reestruturar a empresa, e reduzir custos com a folha de pagamentos...
- Foi só uma brincadeira, chefe. Já 'tou indo trabalhar.

O Remédio do Bolsonaro e a Nota do Bolsonaro

... e o nosso amado presidente Jair Messias Bolsonaro anunciou, a plenos pulmões, a boa nova: "Eis a Cloroquina! A nossa salvação." E os anti-bolsonaristas, antevendo a bem-aventurança propalada aos quatro ventos pelo por eles odiado Bozonaro, em favor do Covid-19 esgoelaram-se: "O Remédio do Bozonaro mata! Bozonaro é nazifascista!"
No parágrafo anterior, as palavras que encerram um triste capítulo da história nacional. Enquanto um homem digno e correto recita fórmulas de esperança, as vozes do além-túmulo, exalando desesperança, rejeitam o elixir da saúde pelo presidente brasileiro anunciado e batizam-no com o nome Remédio do Bolsonaro, revestindo-o com uma aura diabolicamente negativa, a de um produto letal, que rouba à vida todo ente humano que se prestar a ingeri-lo.
... e o nosso amado presidente Jair Messias Bolsonaro cria a nota de R$ 200,00. Que os empresários bolsonaristas a batizem com o carinhoso nome de Nota do Bolsonaro, em homenagem ao melhor presidente da história brasileira, e paguem seus funcionários anti-bolsonaristas, todo mês, só com notas de R$ 200,00, ou, melhor dizendo, com Notas do Bolsonaro. Os antibolsonaristas, que rejeitam o Remédio do Bolsonaro - e não há cristão capaz de chamá-los à razão - rejeitarão, é certo, as Notas do Bolsonaro. E o lucro será líquido e certo.

Ministério da Educação, e filme pornográfico

Do Ministério da Educação, campanha de incentivo à leitura.
Sempre que você for assistir a um filme pornográfico, faça a opção por um que seja legendado; e enquanto estiver assistindo ao filme, leia, atentamente, as legendas, para que você possa entender a história.

Qual é o preço do Sérgio Moro?

- Peixaria, bom dia.
- Bom dia. Por quanto vocês estão vendendo um quilo de Sérgio Moro?
- Quatorze reais.
- Manda aqui pra mim dois quilos.
- O senhor quer inteiro, ou em pedaços?
- Em pedaços.